Autoria de Lu Dias Carvalho
Sem um homem ao seu lado, uma mulher não tem respeito na sociedade indiana. Isso é parte da cultura patriarcal. (Militante de movimento em favor das viúvas)
Vocês dizem que é seu costume incinerar as viúvas. Pois muito bem. Nós também temos um costume: quando homens queimam uma mulher viva, passamos uma corda em volta do pescoço deles e os enforcamos. Construam sua pira funerária; pois ao lado dela meus carpinteiros construirão um patíbulo. Vocês podem seguir seu costume. E nós seguiremos o nosso. ( Charles Napier, comandante em chefe do Exército britânico na Índia, diante das queixas do povo sobre a abolição do sati)
Ainda hoje, em muitas regiões da Índia, a viúva carrega um fardo doloroso, pois além de ser vista como um peso para a família, é também olhada como sexualmente perigosa. A família do marido morto usa de todas as artimanhas para tomar as propriedades deixadas por esse, sem assumir a responsabilidade de sustentar sua viúva, que, muitas vezes, é queimada para que possam roubar seus dotes.
Como é rodeada por uma gama de preconceitos e superstições, a viúva não consegue trabalho e acaba tendo que viver nas chamadas Casas de Viúvas, que nada mais são que velhos prédios despencando, onde são obrigadas a viver pelo resto da vida, uma vez que a absoluta maioria não é aceita dentro da família. Para se submeter à “purificação”, a viúva precisa deixar qualquer tipo de contato com os prazeres da vida e viver em sofrimento. Dentre as regras que deve seguir, estão:
- dormir no chão;
- repetir canções e orações durante 6 horas diárias;
- não comer frituras (consideradas alimentos quentes que induzem ao sexo);
- mendigar à beira do rio Ganges (onde se calcula que existam milhares delas).
- viver em completa pobreza; desempregada, sem acesso aos meios de produção, sem educação formal e sofrendo por superstições, que ainda estão bastante enraizadas, na cultura indiana.
Em razão das privações a que estão submetidas, a morte de mulheres viúvas chega a ser 85% maior que a das mulheres casadas. E o mundo nem se dá conta disso. Mesmo que um ato político, em 1956, tenha estabelecido, que as viúvas devem ser consideradas iguais a todas as mulheres, a tradição continua falando mais alto.
Quando se torna viúva, a mulher tem as pulseiras quebradas, o cabelo raspado, desfaz de suas roupas e é obrigada a usar um sári branco, para diferenciá-la das outras mulheres, uma vez que se tornou um pária (impura) e não pode ter contato com outras mulheres, que não sejam viúvas como ela, e tampouco com crianças.
Mesmo tendo que se sujeitar às péssimas condições das chamadas Casas de Viúvas, muitas preferem viver nelas, a ficar com a família do ex-marido, pois, quando aceitas, são constantemente violentadas sexualmente, além de serem humilhadas e maltratadas fisicamente pelos membros da família, tratadas como escravas.
As Casas de Viúvas tem sido um complicador para o governo indiano. Na verdade, não passam de empreendimentos mercenários, pois existem denúncias de que, apesar das mulheres viverem em completa miséria, os administradores ganham muito dinheiro, pedindo ajuda financeira e vendendo os serviços sexuais das jovens viúvas.
Antigamente, quando o marido morria, a viúva era obrigada a cometer o sati, ou seja, imolarem-se na mesma pira funerária do esposo. Isso ainda costuma existir em certos vilarejos indianos. Quando o governo inglês aboliu tal prática na Índia, ouviu muitas reclamações por parte dos homens. Leiam a resposta que Charles Napier, comandante-chefe do exército britânico na Índia deu aos reclamantes:
– Vocês dizem que é costume incinerar viúvas junto com seus maridos. Pois muito bem! Nós também temos um costume quando homens queimam uma mulher viva: passamos uma corda em volta ao pescoço deles e os enforcamos. Construam sua pira funerária ao lado dela e meus carpinteiros construirão um patíbulo. Vocês podem seguir seus costume. E nós seguiremos o nosso.
Não podemos estabelecer fronteiras para denunciar as mazelas da humanidade. As nossas preocupações devem ter um cunho humanista, de modo que cada indivíduo seja visto apenas como um elemento da raça humana, com seus direitos e deveres. Digno do respeito de todos. Portanto, na luta pelo cumprimento dos direitos humanos, não podemos deixar de inserir as viúvas indianas, vítimas do mais brutal preconceito.
Nota: Imagem copiada de http://tudosuperinteressante.blogspot.com.br
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Bom dia, Lu Dias!
Estou adorando rever a novela Caminho das Índias, pois sou apaixonada por cultura, tradições e tudo que envolve um país seja ele indiano, muçulmano, etc. Adorava viajar através da tecnologia. A novela, creio que mostrou um pouco da cultura e tradições indianas, mas também ficou muita coisas para serem descobertas deste país grandioso.
Neste seu blog você trata sobre a vida das viúvas. Nossa, que horror e a situação delas, mas voltando para a novela, se as viúvas têm casas das viúvas, por que a personagem da mãe de Opash não estava nesta casa, e sim no convívio da família. Não sei você assistiu à novela. Outra pergunta por que quando os indianos vão sair de casa sempre tem que ver o que se passa na porta, pois dependendo disso ele sai ou não. Por exemplo, se passar uma viúva ele não sai, se passar a vaca ele sai, é verdade tudo isso? Adorei seu blog vou procurar ler mais e mais.
Beijos e aguardo uma mensagem sua.
Samyra
Primeiro quero agradecer a sua presença aqui no blog e o seu comentário. Muito obrigada! Será sempre um prazer tê-la conosco.
Amiguinha, eu acompanhei partes dessa novela quando passou pela primeira vez. À época, eu escrevia num outro blog, que não era meu. Fiz um artigo sobre as mulheres na cultura indiana, que obteve mais de 800 mil acessos. Foi quando passei a escrever sobre a cultura indiana. Só para ter ideia, o meu artigo sobre as viúvas na Índia teve ontem mais de mil acessos.
Uma novela sempre adocica certas partes da tradição do país para não magoar seu povo e também para agradar os espectadores. A viúva de que fala na novela pertence a uma casta alta, onde o tratamento recebido é diferente. A casa das viúvas é destinada às de castas baixas, pois elas passam a ser um peso para a família do marido morto. Portanto, livrar-se delas é livrar de mais uma boca para alimentar.
Lindinha, os indianos são extremamente supersticiosos e ligados à astrologia. Eles olham para a rua para evitar se encontrar com uma viúva mendigando ou um “dalit” (intocável), que segundo eles trazem má sorte, até mesmo a sombra desses. Se for uma vaca, consideram que o dia será “auspicioso”, ou seja, somente acontecerão coisas boas. Sim, é verdade tudo isso. Vou lhe passar uns links sobre o assunto, via e-mail.
Um grande beijo,
Lu
Isso é mesmo uma barbaridade, coitada das viúvas, terem que viver mendigando, passando necessidades, etc. As mulheres casadas e solteiras já sofrem descriminação, pois é perigoso mulheres andarem desacompanhadas nas ruas. Algumas não saem de casa sem um parente do sexo masculino.
Na novela Caminho das Índias é tudo “1.000 maravilhas”.
Luiza
As novelas floreiam a verdade e, muitas vezes, fazem parecer bela uma situação degradante. Mesmo que a Índia venha introduzindo mudanças em sua cultura, a condição da mulher, de modo geral, é muito triste. E uma cultura tão velha como a indiana, baseada no Hinduísmo, não muda tão facilmente. Para alguns comportamentos culturais são necessárias leis severas, principalmente no que diz respeito ao tratamento dado às mulheres na rua (há muito estupro), às viúvas, às mulheres de castas baixas e, principalmente escolas para as crianças “dalits”, etc. A divisão do país em castas, pregadas pelo Hinduísmo, é de um atraso de fazer dó. E pior, ainda há mulheres brasileiras tendo relações virtuais com indianos, sonhando em ir morar naquele país.
Amiguinha, obrigada pela sua visita e comentário.
Abraços,
Lu
Lu
Aqui onde eu moro teve um caso de uma brasileira que se apaixonou por um indiano e foi para a Índia. Dizem que ele a matou, mas não sei se é verdade.
Tenho dúvidas: se o marido morre tem como a família dele aceitar a viuva sem fazer mal algum a ela? Hoje em dia ainda existe aquela lei hindu que proíbe pessoas de castas diferentes de se casarem, como por exemplo um bramanê, que é a casta mais alta, que eles acreditam ter nascido da cabeça do deus Bhrama e uma Sudra, a casta mais baixa, que acreditam ter nascido dos pés dele?
Luiza
Há muitos casos sobre desaparecimento de mulheres brasileiras após irem para a Índia. Ninguém mais dá notícias delas. Até mesmo turistas devem andar em grupos. O blog Indiagestão relata muitos casos.
Antigamente as leis eram muito severas com as viúvas. Até mesmo crianças casadas iam morar na Casa das Viúvas e mendigarem pelas ruas. A família do marido morto não aceitava a viúva, alegando que era mais uma boca para alimentar. Tampouco ela podia se casar com outro. Por sua vez, a família da própria viúva não a queria de volta, alegando que ela não a pertencia mais, além de já ter pago um dote por ela. Acredito que hoje a situação tenha melhorado um pouco, mas nas castas baixas não mudou muito.
Uma pessoa de uma casta alta não se casa com outra de uma casta baixa. E quando digo casta, não estou me referindo à riqueza, mas à família onde a pessoa nasceu, pois há brâmanes pobres e sudras ricos, por exemplo. Mas o dinheiro não vale nada. O que manda é a tradição da casta. Tanto é que pessoas de castas baixas, ao melhorarem de vida, escondem a própria origem, para não serem perseguidas. Isso continua sendo um grande atraso para a Índia. A gente daquele país é muito tradicionalista e a religião hinduísta é muito rigorosa na defesa das castas. Enganam-se as mulheres brasileiras que vão para aquele país, em busca de um príncipe encantado. Irão levar uma vida de grande sofrimento e humilhação, quando não desaparecem. Nós, ocidentais, somos tidas como “prostitutas” para os homens indianos.
Luiza, vejo que você gosta deste assunto. Convido-a a ler mais de 100 textos sobre esse tema. Veja como encontrar, aqui no blog:
1- Clique em ÍNDICE GERAL
2- Clique depois em JANELAS PARA O MUNDO
3- Escolha o texto que quiser e clique nele, para que se abra.
Beijos,
Lu
E as famílias das viúvas, no caso os pais delas, os irmãos, não podem acolhê-las?
Bárbara
Quando a mulher casa-se, ela passa a pertencer a família do marido e não mais a dos pais. Há um desligamento de sua família consanguínea. Ou seja, a sogra e o sogro é que passam a ser cuidados por ela. Os pais, passam a ser cuidados, por sua vez, pelas noras. Assim, há um corte dos laços familiares legítimos, em relação à mulher. Quando ela fica viúva, não mais pertence à família dos pais, portanto, ou é aceita pela família da sogra ou cai na Casa das Viúvas, tendo que mendigar. Como a família legítima já pagou um dote por ela, não se vê mais na obrigação de cuidar da coitada. Muito triste, não é mesmo?
Obrigada pela visita e pelo comentário. Volte sempre!
Abraços,
Lu
Muito grata pelos esclarecimentos, querida!
Muito triste mesmo a realidade das mulheres indianas. Adorei o site e voltarei sempre!
Bárbara
E eu adorei a sua presença.
Será sempre um prazer contar com a sua visita.
Abraços,
Lu
Realmente estas mulheres sofrem por serem casadas e sofrem mais por não o serem; que cultura mais estranha; eu pergunto até quando? Por que causam esse sofrimento a elas? Será que terão de sofrer toda a vida? Ps norte-americanos metem-se em tudo, por que não as protegem?
Abraços Lu
Rui Sofia
Rui
É assim mesmo.
Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come.
Essas mulheres sofrem de todo jeito.
Somente o governo do país pode mudar as coisas.
Nós, estrangeiros, temos que denunciar…
Abraços,
Lu
Esta cultura não existe mais nos grandes centros. No interior do país é até possível que ainda prevaleça esse horror. Acredito também que depende da casta.
Célia
O tratamento ruim dado às viúvas ainda continua nas grandes cidades, mas o sati ainda se vê no meio rural, mesmo sendo proibido. Basta ver o número de viúvas pedindo esmola nas margens do Ganges.
Beijos,
Lu
Lu,
Um absurdo! Essas “culturas e costumes” são verdadeiras barbáries!
André
Concordo com você!
Abraços,
Lu