CONHECE-TE A TI MESMO

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Autoria do Prof. Hermógenes

O Professor Hermógenes, um dos precursores da ioga no Brasil, escreveu mais de 30 livros sobre a saúde física e mental.  Neste texto retirado de seu livro “Yoga para Nervosos”*, ele fala da importância da autoanálise.

“Conhece-te a ti mesmo” era o dístico que tendo achado no pórtico do templo de Delfos, Sócrates ensinava a seus discípulos. Autoanalisa-te, diríamos hoje. Pratica vichara (a autoanálise), ensina o Yoga. Em outras palavras, eu sugeriria: desilude-te em relação a ti mesmo. Tal sugestão soa como um conselho pessimista. Não é? Desiludir-se não é negativismo. É libertar-se. É melhorar.

Ninguém é tão bom como orgulhosamente se acredita, nem tão inferior quanto pessimistamente pensa ser. Tanto a primeira ilusão quanto a segunda devem ceder à judiciosa e redentora autognose, isto é, o conhecimento (gnose) real de si mesmo. Cada um de nós é – quando livre da ilusão – a própria realidade. O homem foi feito à imagem e semelhança de Deus. Não é o que se sabe?! – Pois bem, vamos procurar Deus através de conhecer aquilo que somos, descartando-nos, para isto, dos falsos juízos que de nós fazemos. Simples, não é? Pois lhe digo que é a obra ciclópica que quase ninguém consegue realizar. No entanto, o pouco que conseguirmos na procura de nosso verdadeiro eu já pode nos melhorar.

O verdadeiro EU está escondido daqueles (pessimistas ou negativistas) que se consideram inferiores, imperfeitos, fracos, degradados e filhos do erro. Está também fora do alcance do orgulhoso que se considera o melhor do mundo. Está iludido quem se julga arrasado e perdido. Também o está o que se analisa, mas imbuído de vaidade. Tanto o sentimento de inferioridade como seu oposto são produtos do egoísmo.

Os obstáculos que mais dificultam o julgamento de nós mesmos são: autocomplacência, autopiedade, autoseveridade. Pela autocomplacência, o indivíduo, desejando uma agradável visão de si mesmo, obscurece os defeitos e enfatiza tudo o que considera perfeição. Pela autopiedade, ele, desejando sentir-se um coitado, uma vítima, um perseguido, exagera tudo o que o faça sofrer mais um pouco. A autoseveridade é a atitude oposta à primeira. Por ela, o perfeccionista de si mesmo se fixa sobre o que precisa ser corrigido em seu caráter, temperamento ou personalidade e não se interessa por saber o que ele tem de positivo e de bom.

Qualquer uma das três atitudes é fonte de egoísmo, e do egoísmo nasce. Qualquer uma delas impede o autoconhecimento, além de servir como amplificador das emoções e, consequentemente, do “estresse”. Discernimento requer uma atitude de isenção. Quem quer chegar à conclusão de que é uma peste de ruim, ou, ao contrário, uma santa criatura, ou um infeliz esquecido de Deus, está cometendo o absurdo de iniciar a pesquisa já procurando confirmar um diagnóstico prévio e, assim, não chega a conhecer quem realmente é. Quem teme descobrir suas próprias inferioridades e mesmo anormalidades, bem como quem deseja cada vez mais orgulhar-se do perfeito que é, não realiza vichara (discernimento).

É preciso serena coragem e perfeita isenção para conseguir a salvadora desilusão que permite o conhecer-se. Somente quando serena e corajosamente, sem temor ou vergonha, sem severidade ou piedade, descobrirmos que somos mentirosos, mentirosos deixamos de ser. Mentirosos, continuamos a ser enquanto só nos outros vemos a mentira. A condição de curar-se da burrice é chegar, com isenção, ao diagnóstico da própria burrice. Na opinião de algumas escolas de pensamento, nós nos libertamos da vaidade assim que nos reconhecemos vaidosos. Até mesmo comportamentos obsessivos, tiques nervosos, hábitos errados e vícios não são vencidos sem a conscientização dos mesmos.

Faz vichara a pessoa que toma sábia iniciativa de (com isenção, sem medo, sem pena de si mesmo, sem alvoroço e mesmo sem ânsia de curar-se) assistir o desenvolver de um defeito ou o desenrolar de uma crise, procurando, acima de tudo, perceber-lhe os ocultos motivos, sem pretender sustar, sem se condenar, sem procurar explicar as coisas com racionalizações confortadoras. A psicanálise chama racionalização o ato de a mente engendrar convenientes, razoáveis e enganadoras explicações para os comportamentos impulsionados do inconsciente sobre os quais não tem domínio.

A racionalização é o oposto de vichara. Enquanto vichara desilude, libertando, a racionalização escraviza, por esconder a verdade. Quem quiser conhecer-se a si mesmo, fique alerta contra esta cilada da mente que é a racionalização. Da próxima vez que começar a sentir as primeiras emoções de uma crise, em vez de amedrontar-se e correr para os tranquilizantes, faça o oposto. Sente-se relaxado, sereno, corajoso, calmo, sem luta, e comece a conscientizar tudo que fora está acontecendo. Procure conhecer as causas. Perceba, sem medo, o aparecimento dos sintomas. Nada de pânico. Nada de apiedar-se de si mesmo. Nada de esforços para resistir e vencer. Comporte-se como um tranquilo observador, sem qualquer participação. Faça o mesmo com todo comportamento, impulso, compulsão, atitude, e verá que irá se tornando cada vez menos vulnerável e cada vez mais senhor de si.

*O livro “Yoga para Nervosos” encontra-se em PDF no Google.

Nota: Mulher em Frente ao Espelho, obra de Alfred Stevens

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Carpaccio – A VIRGEM LENDO

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Autoria de Lu Dias Carvalho

O pintor italiano Vittore Carpaccio (c.1465 – 1525/1526) foi um importante nome do Renascimento veneziano. Presume-se que tenha sido aluno de Gentile Bellini, uma vez que trabalhou em sua oficina como assistente. Também foi influenciado por Antonello da Messina. Carpaccio, para compor sua obra, misturava temas reais e lendários com a sua criatividade. Seu trabalho apresenta uma atmosfera cheia de luz e uma inovadora perspectiva.

O painel intitulado A Virgem Lendo é uma obra do artista. Ao que parece, este quadro faz parte de um painel maior, se tomarmos como base a parte da perna do Menino Jesus, antigamente vista na almofada, à esquerda da mulher. Ainda que seja um fragmento da obra original, pode-se admirar o trabalho rigoroso do pintor nas dobras da manga e a separação entre luz e sombra na balaustrada, assim como a combinação entre a serenidade da paisagem e a imobilidade da figura da mulher.

Uma bela figura feminina, imóvel, encontra-se sentada ao lado de um parapeito de mármore, lendo o seu livro de capa vermelha, provavelmente de orações. Ela veste um suntuoso vestido alaranjado e cor-de-rosa. Na cabeça traz um delicado turbante e, sobre ele, um fino véu que desce até seus ombros e costas. Um tênue halo é visto em torno de sua cabeça, o que nos leva a crer que se trata de uma santa, possivelmente Santa Catarina de Alexandria.

Ficha técnica

Ano: c.1500
Técnica: painel
Dimensões: 78 x 51 cm
Localização: Galeria Nacional de Art, Washington, EUA

Fontes de pesquisa:
Enciclopédia dos Museus/ Mirador
1000 obras-primas da pintura europeia/ Könemann

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EM BUSCA DA PESSOA DE ANTES

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Autoria de Matheus Silva

Minha história é um pouquinho complicada.

Tenho 20 anos e sou estudante de medicina. Quando criança, na casa de meus parentes, tinha o apelido de “Geladeira”, pois não conseguia ficar parado, indo olhar a cozinha de cinco em cinco minutos. Eu cresci e com 11 anos comecei a me sentir triste e angustiado com o passar do dia, mesmo em períodos de férias. Descobri que tinha hipotireoidismo e em questão de alguns meses a depressão foi corrigida. Quando fui para o Ensino Médio, a fama de disciplina rígida da minha escola fez-me sofrer muito por antecipação nas primeiras semanas, perdendo noites a fio simplesmente por medo, mesmo tendo notas muito boas. Essas cessaram com o passar do curso.

Quando passei no vestibular, eu me mudei para outra cidade para fazer o curso com que sempre sonhei. Nas primeiras semanas sofri muito, mesmo já tendo ficado longe dos meus pais e lidado de certa forma bem com isso. Com o passar do tempo, eu me adaptei, porém, as manias de inquietação sempre permaneceram. Um litro de café na minha mão não durava mais que alguns minutos. Não conseguia comer como as outras pessoas, sempre muito rápido e compulsivamente (hoje já consegui manter meu peso e corpo em boa forma com academia e exercícios físicos). Além disso, qualquer prova em meu calendário já era motivo para virar a noite estudando, preocupado com o resultado, seguido de alguns dias de preocupação com a espera das notas.

Nos dias normais eu não me sentia triste, mas sentia que faltava aquele brilho e motivação que algumas pessoas trazem, já que tinha dificuldades para fazer amigos e falar em público, bem como motivação para ir a festas e interagir-me com pessoas (embora eu ficasse confortável nessa situação). Não demorou muito tempo e eu comecei a fumar maconha, o que me ajudou no sono, mas como um meu amigo disse, estava apenas colocando meus problemas debaixo do tapete, não estava a resolvê-los. Após cinco meses usando maconha todos os dias, resolvi dar um basta, parei e, quando retornei pra casa em um feriado, fui a um psiquiatra para tentar resolver isso.

O psiquiatra receitou-me escitalopram na primeira semana. Quando retornei para casa comecei a utilizar o genérico (a greve dos caminhoneiros zerou o estoque da marca que ele havia pedido). A primeira semana foi muito boa, lembro-me de que falei pro meu pai que “nunca estive tão bem na minha vida”, afinal, após sofrer muito, consegui passar em uma monitoria, ganhar bolsa da faculdade, além de ter pais maravilhosos que sempre me ajudaram. Na semana seguinte fui a uma festa em que bebi muito, coincidindo com o período em que aumentei a dosagem do antidepressivo, conforme prescrição do psiquiatra. Após três dias dessa mudança, caíram sobre mim efeitos colaterais terríveis que me fizeram perder pelo menos duas noites de sono seguidas. O psiquiatra acabou me receitando Alprazolam. Pensei: não quero isso pra minha vida, mais remédios e agora um tarja preta (tudo isso em meio a angústia, calafrios, inquietação, sudorese, turvidez na visão, taquicardia e palpitação). Parei com o escitalopram após mais ou menos 10 a 12 dias de uso.

Os sintomas melhoraram, porém nunca retornei a ser a pessoa de antes. Perdi motivação e sono. A angústia e a ansiedade continuaram e fiquei assim até o início dessa semana (fiquei um mês e meio nesse marasmo, sentindo em grau mais leve os mesmos efeitos do medicamento), quando resolvi retornar à medicação. Hoje é o terceiro dia. Durante o dia sinto-me um pouco melhor, mas à noite a angústia e o nó na garganta insistem em retornar de maneira mais severa. Ainda não sinto motivação para fazer as coisas. Amanhã vamos viajar para aproveitar um pouco as férias, tomara que isso me ajude a ocupar minha cabeça.

À vezes eu penso que entrei em uma enrascada, pois afinal eu não era tão triste assim, como minha mãe dizia eu era só “um pouco ansioso”. Isso me consome muito e me esgota. Passo boa parte do dia pensando, até o momento que chega a noite. Às vezes choro. No momento em que escrevo isto está de dia e sinto-me um pouco mais controlado, mas na certeza de que à noite vou sofrer, à medida que o sol vai embora (tomo Donarem, às vezes, para dormir melhor, mas ainda acordo muito cedo com o coração palpitando). Marquei com outro psiquiatra, desta vez na cidade em que estudo, para a qual vou retornar em três semanas. Espero ate lá estar me sentindo melhor.

Nota: O Enigma sem Fim, obra de Salvador Dalí

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Toulouse-Lautrec – CONDESSA DE…

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Autoria de Lu Dias Carvalho

Henri-Mari-Raimond de Toulouse-Lautrec (1864-1901) foi o primeiro filho do conde Alphonse de Toulouse-Lautrec e da condessa Adèle Tapié de Celeyran, primos em primeiro grau, família abastada e ilustre, nascido na cidade de Albi, no sudoeste francês. Henri cresceu num ambiente requintado. Desde pequeno gostava de desenhar, trazendo os primeiros indícios do que se tornaria no futuro. Quando tinha nove anos de idade, sua família mudou-se para Paris, onde foi matriculado numa das mais importantes instituições europeias.

Esta primorosa composição, intitulada Condessa de Toulouse-Lautrec, é uma das obras do artista que fazem parte do acervo do MASP desde 1952. O artista retrata sua mãe Adèle Zoë Marie Marquette Tapié de Céleyran, mulher de alta posição social, que nutria grande amor pelo filho torturado pela deformidade em razão de “osteogenesis imperfecta”.

A condessa encontra-se na intimidade de seu jardim, sentada na ponta de um banco de madeira, com ferro na base, pintado de azul. Ela está virada para a direita, como se observasse algo. Traz os cabelos presos em forma de coque. Veste uma comprida blusa branca e uma saia escura. Nas mãos carrega algo não identificável. Atrás dela há uma densa vegetação com flores brancas.

Ficha técnica
Ano: 1880/1882
Técnica: óleo sobre cartão
Dimensões: 46 x 55 cm
Localização: Museu de Arte, São Paulo, Brasil

Fontes de pesquisa
Enciclopédia dos Museus/ Mirador

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TRATAMENTO PSICOTERÁPICO

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Autoria do Prof. Hermógenes 

O Professor Hermógenes, um dos precursores da ioga no Brasil, intitulou um capítulo de seu livro “Ioga para Nervosos”* (década de 1960) com o nome de “A Coisa”. Naquela época, o Transtorno do Pânico ainda era pouco compreendido. Aqui ele mostra como se dá o tratamento psicoterápico.

Tratamento psicoterápico é o que procura sanear (tornar sã) a mente, fundamentando-se na tese de que as condições de desequilíbrio, desarmonia, impureza e inquietude mentais são responsáveis pelos transtornos físicos. As escolas de psicologia do inconsciente, principalmente a psicanálise e a autoanálise, têm sido as que melhor atendem aos fins psicoterápicos. Têm sido as mais utilizadas pelos especialistas de todo o mundo. Segundo elas, somos o que somos, fazemos o que fazemos, reagimos como reagimos, sofremos ou gozamos, temos nossas crises e nossos remansos e até mesmo pensamos e cremos, não de acordo com o nível conhecido da mente, mas, sim, movidos, manobrados, determinados pelas camadas mais profundas, das quais não temos conhecimento claro. Sendo a mente comparada a um iceberg, a parte aflorada, isto é, a mente consciente, é mínima e relativamente incapaz, enquanto que a parte submersa, o inconsciente, tem poder incomparavelmente maior.

A psicoterapia pela psicanálise e pela autoanálise – tão eficientes em linhas gerais – consiste em tornar conhecidos (passar para o consciente ou fazer aflorar) os conteúdos e condições inconscientes e profundos. Tais conteúdos e condições resultam de esquecidas experiências traumatizantes (predominantemente da infância) que, por sua natureza maléfica e poderosa, expressam-se através do anômalo comportamento dos nervos e das glândulas endócrinas.

Dizem os psiquiatras que a doença é a “somatização” dos conflitos e traumas escondidos, isto é, sua expressão orgânica. Feita uma faxina no inconsciente, isto é, expulsos de lá os conteúdos reconhecidos como deletéricos, já tendo eles perdido o anterior poder perturbador, concretiza-se a cura ou libertação do neurótico. Este processo de limpeza, vale dizer de desmascaramento do adversário escondido, de alívio de carga, de conscientização do ignoto, de extravasão, de elucidação, de catarse, muda a mente e, em consequência, rearmoniza, corrige, normaliza os mecanismos autorreguladores do organismo, daí imediatamente remitirem-se os sintomas. Em outras palavras desfaz-se a “somatização”.

Quem estuda Yoga em seus veneráveis textos originais surpreende, em seu aspecto psicológico, atualidade, riqueza e sutileza tão profundas que, não fora a linguagem velada, exótica e simbólica, pareceria obra dos mais refinados e modernos entendidos nos aspectos inconscientes da alma humana. Não tenho receio de concordar com autoridades no assunto e também afirmar que Yoga é o ancestral comum de todas as modernas escolas de psicologia profunda. Segundo a psicanalista Marise Choisy, o próprio Freud fundou a psicanálise em princípios yóguicos, que lhe teriam chegado através de A. Schopenhauer, o filósofo “ocidental que mais se inspirou nos clássicos do hinduísmo”. Não é diferente a opinião de Carl C. Jung, fundador de um dos mais importantes ramos da psicanálise que diz: “A própria psicanálise, bem como as diretrizes de pensamento às quais deu origem e que são, na verdade, um desenvolvimento ocidental, são uma tentativa de principiantes, comparados com o que, no Oriente, constitui uma arte imortal.”

O objetivo do processo psicanalítico é a cura de um enfermo. O do Yoga é a redenção humana ou libertação (moksha) da alma individual (jiva).

*O livro “Yoga para Nervosos” encontra-se em PDF no Google.

Nota: Estudante Russa, obra de Anita Malfatti

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Mantegna – SÃO JERÔNIMO NO DESERTO

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Autoria de Lu Dias Carvalho

O pintor e gravador Andrea Mantegna (1431 – 1506), filho do carpinteiro Biagio, é tido como um dos artistas mais importantes do Pré-Renascimento no norte da Itália. A sua aprendizagem teve início quando estava com 10 anos de idade, sob a tutela de Francesco Squariciona que o levou a conhecer a arte da antiguidade clássica. Squariciona tinha uma turma enorme de alunos, mas Mantegna era o seu predileto, contudo, inconformado por não receber comissões nas obras das quais participava, seu aluno deixou-o quando tinha 17 anos.

A composição denominada São Jerônimo no Deserto, painel sobre madeira, é obra do artista. Encontra-se em solo brasileiro, sendo um dos quadros mais importantes do MASP, tendo sido incorporado à sua coleção em maio de 1952. O painel é constituído de uma única prancha de choupo. São Jerônimo é normalmente representado na arte como asceta ou como um estudioso dos textos sagrados. Em seu trabalho, Mantegna funde as duas apresentações, ou seja, mostra-o como asceta e também estudioso.

O quadro apresenta São Jerônimo em meditação, sentado diante de sua caverna no deserto, com a cabeça voltada para a direita, mas tendo os olhos em direção ao chão. Detém um rosário na mão direita, debulhando suas contas, enquanto com a esquerda segura um livro encadernado, apoiado verticalmente em sua coxa esquerda. Dois outros livros encadernados estão sobre uma pedra em formato de mesa, onde também descansa um tinteiro com uma pena dentro. Atrás dos livros vê-se um rolo de pergaminho para sua escrita. Na parede direita da gruta são vistos dependurados: um crucifixo, uma lamparina e uma viga com dois martelos descansando nela, possivelmente numa referência à Paixão de Cristo.

A figura alongada do santo veste uma túnica de tênue azul-violeta, trazendo a cintura cingida por uma fina corda. Ele se encontra descalço, com o pé esquerdo transpondo o direito. No mesmo patamar, onde se encontram seus pés, está um de seus tamancos, encontrando-se o outro num plano mais abaixo. Seu chapéu cardinalício de cor vermelha jaz no chão, à sua direita, e o leão deitado, do qual é vista apenas a parte dianteira, encontra-se à esquerda. Ambos fazem parte da simbologia do santo. Um halo sobre sua cabeça indica a sua santidade.

A rocha que toma grande parte da tela apresenta uma abertura ao fundo, sendo possível divisar, além do deserto, uma paisagem aberta, com algumas árvores e uma estrada sinuosa que se perde no horizonte. À direita, para além da árvore com o tronco desfolhado, outras árvores são vistas, assim como um rio, rochedos, montanhas cobertas de neve e plantas. Um céu mais claro embaixo funde-se com um mais escuro, acima.

Na parte abaixo da gruta, por entre as rochas, vê-se água a correr. Ali se encontra um papagaio vermelho, cuja imagem mostra-se espelhada na água. Empoleirada sobre o rochedo, logo acima da entrada da gruta está uma coruja, ave tradicionalmente ligada à magia e à superstição, coisas contra as quais o santo lutava. Duas garças brancas são vistas à esquerda, como dois pequenos pontos. A luz da manhã apresenta uma claridade levemente azulada. Algumas nuvens são vistas no céu.

 Ficha técnica
Ano: c.1449/1450
Técnica: óleo sobre madeira
Dimensões: 48 x 36 cm
Localização: Museu de Arte, São Paulo, Brasil

Fontes de pesquisa
Enciclopédia dos Museus/ Mirador
http://www.unicamp.br/chaa/rhaa/downloads/Revista%2015%20-%20artigo%209.pdf

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