Em seu novo país (Brasil), Xandeco procurou saber como funcionava sua governança. Tomou conhecimento de que o Poder Legislativo é exercido pelo Congresso Nacional, em sistema bicameral, ou seja, constituído por duas Casas: o Senado Federal (81 representantes) e a Câmara dos Deputados (513 membros). Os representantes do Senado e da Câmara possuem funções comuns, como a elaboração das leis e a fiscalização dos atos do Executivo. Senadores e deputados também cumprem (pelo menos deveriam) atribuições específicas. E foi ao Congresso Nacional que o marciano direcionou a sua primeira visita, certo de que os deputados federais estavam a abafar a banca no que diz respeito ao Brasil, mas não perderia por esperar o abraço de tamanduá que ali recebe sua nova pátria.
Ao chegar à Câmara dos Deputados Federais, Xandeco já se encontrava botando a alma pela boca, pois não tinha sido moleza andar pela vastidão de Brasília. Aboletou-se numa das cadeiras da galeria e ali ficou, ansioso, aguardando os “nobres” deputados botarem a conversa em dia no que tange aos assuntos brasileiros. Contudo, o que viu foi um bate-boca sem fim, cada um querendo botar a bunda na janela, sem que o presidente da casa fosse capaz de chamá-los a botar a cabeça no lugar. Num determinado momento, pensou que a casa fosse ser botada abaixo, pois ninguém parecia querer botar a mão na massa, mas tão somente botar areia no falatório um do outro, na tentativa de botar fogo na fogueira. Havia também os que trabalhavam botando panos quentes, quando a rixa dizia respeito aos seus correligionários.
Aquela gente é capaz de botar bode na chuva sem titubear – concluiu Xandeco. Está sempre a botar fogo pelas ventas e a botar merda no ventilador, mas botar no bolso seus altos salários e outros ganhos inconfessáveis isso lá faz muito bem, pois sabe que a Justiça não a botará no cepo. Quem haverá de botá-la no eixo? Quem botará ordem naquela suruba? A Justiça faz de conta que nada vê, sob a ameaça de ser botada no ventilador, o que torna impossível botar os pingos nos ii/is. Além disso, botar os quartos de banda é muito menos comprometedor. Sabe dona Justa que o povo brasileiro não tem pulso para botar para quebrar, apenas bota tudo nas mãos de Deus, o que muito agrada aos Podres Poderes, botando verde para colher maduro.
Xandeco compreendeu o porquê de o povo botar a boca no trombone em relação ao mau funcionamento do Congresso Nacional. O melhor mesmo é botar a boca no mundo, uma vez que não é possível botar tudo abaixo, botando o pau para quebrar. O brasileiro já está cansado de ser botado no chinelo e ver a maioria daquela gente botando a mão nas riquezas do país, revalidando seu repasse a estrangeiros, botando suas afiadas unhas de fora em tudo que lhe traga ganhos, em detrimento da nação. Ali não é possível botar a mão no fogo por quase ninguém. E pior, aquela gente bota tudo na conta do povo e espera que, quando vierem as eleições, esse mesmo povo bote uma pedra em cima de seu (deles) vergonhoso passado.
O marciano vai aos poucos compreendendo que é preciso botar as barbas de molho. Não escolheu um país sério para viver e agora se encontra em palpos de aranha. Sentiu vontade de botar as tripas para fora diante de tanta hipocrisia vista. Agora que sua nave zarpara de volta a Marte, só lhe resta botar a vergonha de lado e reconhecer que fez uma péssima escolha. Nada em seu novo país parece ser botado em pratos limpos. A maioria dos governantes é capaz de dar nó em pingo d’água. Ele não bota fé em seus gestores. Tampouco irá botar o rabo entre as pernas e fingir que nada vê. Isso não faz parte de sua ética. Acha que o povo brasileiro deve botar os cachorros nos vendilhões da pátria. Ele, como novo cidadão deste país, compromete-se a ajudar a botar zebu ou não se chamará Xandeco, o marciano. Que o aguardem!
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