Pieter Bruegel, o Velho – O CASAMENTO CAMPONÊS

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Autoria de Lu Dias Carvalho

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A composição denominada O Casamento Camponês — também conhecida como O Banquete de Casamento ou Casamento Aldeão — é uma pintura de gênero do artista Pieter Bruegel, o Velho, que mostra a importância de ter sido um pintor de miniaturas, ao agregar numa única tela inúmeras figuras humanas, fato comum em suas obras. Bruegel tornou-se conhecido por suas pinturas retratando o cotidiano dos camponeses, tanto no trabalho quanto nos festejos. Ele nutria grande admiração por essa gente, encontrando-se sempre entre ela por ocasião de das festividades, o que levou muitos a imaginarem que fosse também um camponês.

Bruegel brinda-nos com um de seus maravilhosos e mais conhecidos quadros em que retrata o festejo decorrente de um casamento camponês na Idade Média. Dizem que essas festividades tornaram-se tão ruidosas à época que foi preciso um decreto imperial estabelecendo o número de convidados, de modo a impor ordem nos locais onde eram realizadas. Sua obra trata-se de uma verdadeira comédia humana que acontece num celeiro, como mostra a palha empilhada ao fundo. Inúmeras ações acontecem ao mesmo tempo, trazendo uma grande riqueza anedótica, gracejo e observação perspicaz. Ainda mais curioso é o modo como o artista colocou tantos personagens em sua obra, sem repassar a sensação de atulhamento.

Uma longa mesa de madeira feita com pranchas sobre cavaletes — no século XVI nem mesmo os ricos possuíam grandes mesas —, mostrada de forma oblíqua, ocupa grande parte do celeiro. Ela está circundada por toscos bancos também de madeira e forrada com um pano branco. O único banco com recosto está enfeitado com gravuras de festas religiosas ou romarias. O ambiente rústico é um celeiro de uma fazenda, conforme mostra a palha empilhada quase até o teto. Dois feixes de trigo e um ancinho pendurados na parede, à esquerda da noiva, podem estar representando a pequena parte da colheita a ser deixada nos campos pelos fazendeiros, para ser apanhada pelas viúvas, órfãos e pobres, ou, então, a difícil vida de trabalho dos camponeses.

Quase todos os presentes ao festejo trazem a cabeça coberta por gorros ou toucas, inclusive uma criança, orgulhosamente sentada à mesa, e outra no chão que lambe o dedo com seu enorme boné com uma pena de pavão. Todos estão bem agasalhados, levando a crer que a festividade acontece no inverno. Um cão encontra-se próximo a um homem de gibão preto, muito bem vestido, com uma espada na cintura, assentado numa tina virada de cabeça para baixo. Ele conversa com o monge que provavelmente foi o responsável por ter feito o casório. Seria esse homem bem vestido o fazendeiro, dono das terras, ou o próprio pintor?

Na porta ao fundo que leva ao ambiente festivo inúmeras pessoas aglomeram-se, esperando fazer parte da festa. Uma delas traz uma expressão patética no olhar, enquanto ao ver a comida transitar. Uma mulher com seu filhinho ao lado oferece uma caneca de cerveja a um homem com roupa vermelha e colete branco. À sua esquerda, um homem, de costas para a mesa, vira um caneco de cerveja na boca. Os convidados vestem roupas coloridas — com destaque para o vermelho e o branco que avivam a composição. A comilança é farta, com muita bebida e comida (panqueca, pão, mingau e sopa). As pessoas à mesa em sua maioria estão apenas preocupadas com o estômago.

A noiva encontra-se em destaque, usando uma grinalda enfeitada com pequenas penas de pavão sobre o cabelo, sentada na frente de uma colcha verde-escuro (ou seria azul?), onde se vê dependurada uma segunda coroa logo acima de sua cabeça. Ela tem uma expressão tola no rosto e traz as mãos entrelaçadas numa postura de recato, apenas acompanhando os acontecimentos. Os seus cabelos encontram-se à vista pela última vez, pois depois de casada passará a usar uma touca branca, como as demais mulheres presentes à festa. À sua esquerda estão, provavelmente, sua mãe e seu pai, este último assentado na única cadeira com espaldar, com seu boné preto, roupa escura e xale, o que mostra que é uma figura de destaque no ambiente. Esta figura pode ser também o notário, responsável pelo contrato nupcial. À direita dela estão duas mulheres com suas toucas brancas, conversando entre si.

O noivo não aparece ao lado da noiva, costume da época, quando também era vedada qualquer forma de carinho. Seria ele o homem que se encontra com uma colher na boca e olhos esbugalhados? Ou o homem de preto com uma caneca na mão, pedindo mais cerveja? Poderia ser também aquele que se encontra enchendo um caneco de cerveja, à esquerda, próximo de uma cesta cheia de jarros vazios — o que mostra que a festa acontece a mais tempo. Ou até mesmo o de touca vermelha na cabeceira da mesa, repassando os pratos para os convidados. Ele também poderia não se encontrar presente na festa. Este é um enigma que vem atravessando os séculos.

Dois gaiteiros animam a festa. O de camisa vermelha olha algo à sua direita. Talvez, faminto, aguarda ser servido pelos dois robustos homens que carregam uma enorme porta deitada, amarrada a dois pedaços de madeira, servindo de bandeja para os pratos. O de azul é o mais alto da festa, ocupando o centro do quadro. A colher de madeira no gorro de um deles mostra que se trata de uma pessoa pobre. Um homem, sentado à cabeceira da mesa à direita, pega um dos pratos e repassa-o para o vizinho, já com a mão num segundo. Chama a atenção o pé adicional que aparece debaixo da porta usada para servir os pratos. Mistério!

Como grande parte dos quadros de Bruegel trouxessem um ensinamento moral, presume-se que O Casamento Camponês — uma de suas obras mais conhecidas — ensine que se deve comer com moderação e nunca se esquecer dos necessitados, mas tudo não passa de suposições.

Ficha técnica
Ano: 1567
Técnica: óleo sobre painel
Dimensões: 124 x 164 cm
Localização: Museu, Kunsthistoriesches, Viena Áustria

Fontes de pesquisa
Bruegel/ Editora Cosac e Naify
Enciclopédia dos Museus/ Mirador
Los secretos de las obras de arte/ TaschenA história da arte/ E. H. Gombrich

4 comentaram em “Pieter Bruegel, o Velho – O CASAMENTO CAMPONÊS

  1. Leila Gomes

    Lu,

    Bela tela do Pieter Bruegel. Confesso que desconhecia o artista que retrata o luxo da simplicidade.

    Abraços,

    Leila

    Responder
    1. LuDiasBH Autor do post

      Leila

      Pieter Bruegel é um artista encantador. Conheça um pouco de sua vida pesquisando em ÍNDICE GERAL e depois em MESTRES DA PINTURA. Irei postar mais uma tela dele hoje. Tenho certeza de que gostará.

      Um grande abraço,

      Lu

      Responder

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