Tarsila – A NEGRA

Siga-nos nas Redes Socias:
FACEBOOK
Instagram

Autoria de Lu Dias Carvalho

Tarsila1   (Faça o curso gratuito de História da Arte, acessando: ÍNDICE – HISTÓRIA DA ARTE)

Se me perguntassem qual o filão original com que o Brasil contribuiu para este novo Renascimento que indica a renovação da própria vida, eu apontaria a arte de Tarsila. Ela criou a pintura “pau-brasil”. (Oswald de Andrade)

Sinto-me cada vez mais brasileira: quero ser a pintora da minha terra. Como agradeço por ter passado na fazenda a minha infância. (Tarsila do Amaral)

A composição A Negra, obra da pintora brasileira Tarsila do Amaral, pertence à sua fase “antropofágica”. Foi pintada quando ela estudava em Paris, como aluna de Fernand Léger e nasceu das recordações de sua infância, passada entre as fazendas de café dos pais — período em que vivia cercada de babás, amas de leite, mulheres negras que ali trabalhavam. Quando pintou este quadro, a artista vivia a descoberta da Arte Moderna.

A monumental personagem que se parece com uma escultura ocupa grande parte do plano pictórico. Encontra-se sentada no chão, com as pernas cruzadas e esparramadas, e mostra-se quieta e desalentada. A personagem apenas olha fixamente para o observador. Nua, com um grande seio a despencar-lhe sobre a perna direita, enquanto o outro jaz oculto sob seu roliço braço, a figura apresenta lábios grossos e cabeça desprovida de cabelos, mostrando uma dolorosa sujeição à vida.

As pinturas “Abaporu” e A Negra são parentes, levando em conta o estilo de ambas. As figuras fundem-se harmoniosamente no quadro Antropofagia, recebendo o mesmo tratamento no que diz respeito à cor, à superfície e ao fundo da tela, onde se projeta a flora comum à obra da artista, pertencente unicamente a ela.

Segundo depoimento da pintora, quando criança ela ouvia histórias contadas pelas mulheres que trabalhavam nas fazendas, sobre as escravas que levavam os filhos às costas, enquanto trabalhavam. Para amamentá-los, elas amarravam pedras nos bicos dos seios, de modo a torná-los alongados e passá-los sobre os ombros, pois não tinham o direito de parar o trabalho que faziam. Ao fundo também existe a presença de elementos cubistas, como a folha de bananeira em diagonal semicurvada.

Tarsila fala em entrevista sobre sua pintura A Negra:

Um dos meus quadros que fez muito sucesso, quando eu o expus na Europa se chama “A Negra”. Porque eu tenho reminiscências de ter conhecido uma daquelas antigas escravas, quando eu era menina de cinco ou seis anos, na nossa fazenda, e ela tinha os lábios caídos e os seios enormes. Contaram-me depois que naquele tempo as negras amarravam pedras nos seios para ficarem compridos, e elas jogarem para trás e amamentarem a criança presa nas costas. Num quadro que pintei para o IV Centenário de São Paulo, eu fiz uma procissão com uma negra em último plano e uma igreja barroca, era uma lembrança daquela negra da minha infância, eu acho. Eu invento tudo na minha pintura. E o que eu vi ou senti, como um belo pôr do sol ou essa negra, eu estilizo.

Como é possível perceber, a presença do negro foi uma constante na infância da talentosa Tarsila, de modo que foi muito fácil para ela introduzi-la no seu universo artístico. Foi a primeira artista a apresentar um indivíduo negro em sua obra, como tema principal, com grande pujança e beleza.

Sobre a tela escreve Aracy M. Amaral: “Esse trabalho de Tarsila, pela sua ousadia de deformação e composição, pelo seu relacionamento ecológico direto, e pela sua mensagem de autenticidade, já bastaria para colocar a artista em primeiro plano da pintura feita no Brasil”.

Ficha técnica
Ano: 1923
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 100 x 81,3 cm
Localização: Acervo do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de S. Paulo, São Paulo, Brasil

Fontes de pesquisa
Tarsila do Amaral/ Coleção Folha
Tarsila – sua obra e seu tempo/ Aracy A. do Amaral
Brazilian Art VII

Views: 180

3 comentaram em “Tarsila – A NEGRA

    1. LuDiasBH Autor do post

      Mariana

      Agradeço a sua presença no site e o seu comentário. Será um grande prazer contar sempre com sua presença.

      Abraços,

      Lu

      Responder

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *