Autoria de Celina Telma Hohmann
Ler seu relato nos transporta para dentro de um problema que não é mais seu, pois se tornou nosso. Aqui é um cantinho que meio sem querer transformou-se em nossa árvore, sob a qual, nas angústias, nós nos sentamos e choramos, sabendo que de alguma forma virá um pouco de alívio. Não vou me estender em tentar explicar o que você está sentindo, se é que conseguimos explicar algo, após um trauma que fez com que a vida, num repente, nos mostrasse um lado que julgávamos preparados para entender, mas que sabemos, nunca estivemos! Os sentimentos são ambíguos. Até culpa nós sentimos, como se fôssemos, de alguma forma, responsáveis pelo que ocorreu e transformou a vida de rotineira calma num aparente calabouço, onde se sabe que há saída, mas quando a encontraremos, nós não sabemos.
A nossa era é talvez uma das piores, pois enfrentamos desafios que não exigem somente coragem. Como somos humanos, e humanos são passíveis de tormentosas dores psíquicas e emocionais, descobrimos que não estamos livres de sermos a próxima presa dessa aniquilante apatia, medo e solidão, ainda que rodeados de pessoas. O mal-estar que derruba, o sono que some, os pesadelos que viram rotina… A gente passa grande parte da vida numa luta e enquanto estamos lutando, não há sentimento que se sobreponha exceto o de fazer o que devemos. O cérebro, e toda a química que nele contém, movimenta-nos. Um dia, porém, como aconteceu com você, vem o pior e a aparente coragem, o destemor, aquele sangue frio que sempre nos fez seguir, deixa-nos na mão. Cito aqui o pronome “nós”, aproveitando-me da condição de também, como você e tantos outros amigos, estar na luta contra um mal que tenta nos fazer sucumbir. Não é isso o que ocorrerá, eu lhe garanto, usando o conhecimento adquirido a longas e duras penas, de que tudo isso passa, graças a Deus!
Identifiquei-me com seu problema (e muitos também se identificaram), mesmo que os motivos sejam diversos, não tão dolorosos, mas traumatizante é tudo aquilo que vem forte demais, quando não se espera, quando nos falta o chão, quando mexe com nossa alma. E nesses dolorosos momentos nem mesmo a medicina ou conversas conseguem aliviar. Não de pronto, mas só com o tempo. Há um caminho, sempre haverá, mas até que cheguemos a ele passaremos por tantos penhascos, que depois, olhando de volta, veremos que conseguimos transpô-los, nesse ímpeto maravilhoso que é a luta pela vida. Hoje, tudo o que você consegue é sentir-se um enigma, inclusive para si próprio. Imagina não ser mais o pai, o profissional, o amigo, o “cara”. É comum esse tipo de julgamento partir de nós próprios em certos momentos de nossa vida. Na verdade, nada disso mudou. Houve uma ruptura, uma atormentada incapacidade em mudar o rumo da própria vida. Naquele instante, por motivos que desconhecemos, você foi poupado e isso, amigo, por vezes nos faz mal, paradoxalmente, pois trata-se de um bem que julgamos não merecer, não é assim?
Alessandro, você não deixou de ser pai, tampouco esposo, menos ainda amigo, nada disso! Você vive, por ora, num redemoinho de emoções que o fazem sentir-se um papel em meio ao vendaval. Não sabe o rumo, não se rasga, mas é um papel à deriva. Diferente? Nem um pouco! Está vivendo o que muitos vivemos e que garantimos não ser bom, nem gostoso, nem fácil ou simples! É muito difícil e nos parece que jamais findará! Erramos ao achar que nada mais será como antes! Algumas coisas mudarão, e isso é um alívio para nossa alma, mas só perceberemos isso quando a tempestade realmente tiver passado. Deixará marcas, fez seu estrago, deixou o medo, mas como presente nos mostrou que se temos uma chance de viver – e você a teve – e isso, amigo, é o farol lá no meio da ilha que, se vista por quem está em alto mar sem conhecer o oceano, parece a anos luz de distância. Pode ser sofrido enxergá-lo e ver nele a possibilidade de desbravar todos os mares, mas sabemos, é a nossa luz! O nosso guia, a direção que nos mostra que estamos vivos! Que venham marés altas, águas que molham até os ossos, mas chegaremos ao destino que almejamos e o seu destino, hoje, é livrar-se dessa estagnação que o psiquismo nos impõe como limite – temporário – mas limitante!
Seu caminho, Alessandro, é o que muitos percorreram, percorrem e alguns ainda percorrerão. O caminho escuro que tira a visão, embaça a alma, desnorteia, freia nossa capacidade de raciocínio lógico, mas é hoje o seu caminho. Não foi você, por incapacidade ou vocação, quem o traçou. A vida o fez. Nós, os que nos perdemos em meio ao medo e que antes achávamos “frescura”, nos vemos incrustados nesse medo e sem saber como tirá-lo de nosso peito, pensamento e vida. Mas é necessário que o façamos. Não é fácil e a psiquiatria, psicologia e toda a emaranhada corrente que tenta desvendar os mistérios da mente ainda tropeça em tais possibilidades.
Confesso, os remédios, pela química que possuem, auxiliam. A conversa com o psiquiatra é o caminho para a condução de um tratamento medicamentoso e há mais para buscarmos. Contudo, amigo, a compreensão do outro e o nosso afeto para conosco são o que de melhor há. Olhe o rostinho de seus filhos, mesmo que lhe pareça não os ver, mas a alma enxerga melhor que os olhos. Ponha-se em pé e dispute consigo próprio o seu convalescimento, pois precisará muito de ajudar-se e essa capacidade você a tem! Não se culpe ou não julgue, pois há uma Mão Protetora (a mesma que o colocou em outra direção no dia da tragédia), protegendo-o. Dela emanam gotas de doçura, mansidão, paz e serenidade. Você receberá de volta o homem que sempre foi. Sua insegurança atual é fruto de sua capacidade de emocionar-se, quedar-se perante a partida de amigos diários e a sensibilidade tão própria dos seres do bem.
Amigo, cuide-se e escreva tudo o que lhe vai à alma. É bom desabafar, jogar as dores pelo caminho e, sem que perceba, o que hoje pesa, logo será somente uma lembrança. Lembranças não se apagam, mas doem menos quando as tomamos como ensinamentos. Seja sempre sábio e verá que nada é em vão, mesmo que pareça terrível! Se tivermos que passar pelo fogo, que passemos, mas que o chamuscado seja uma marca de uma história valorosa. Deixo um afago em seu coração e a doce certeza de que logo nos dirá: VENCI! Agradeço por ter conseguido, tão ricamente, expor-se e fazer-nos refletir que não somos uma única estrela no Planeta. Somos muitas e cada uma com seu valor e finalidade! Fique em paz! Liberte-se! Se cair, não ligue, é assim mesmo. Imagine-se o menininho lá do passado, nas suas primeiras tentativas de descobrir o mundo. Tropeçou muitas vezes, mas aprendeu. Agora não é mais o menininho, mas o homem a quem a vida concedeu o dom de VIVER!
Nota: a ilustração é uma obra de Vincent van Gogh
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Lu e todo(a)s
Por responsabilidade e respeito àqueles que se depararam com meu depoimento e angústia, retorno para manifestar-me sobre minha atual condição, passado quase 1 anos deste o início do meu grave quadro de TEPT.
Dia 3 deste mês completou-se 1 ano desde a queda da aeronave a qual ceifou a vida de 3 colegas de trabalho e mais o piloto, além de ter deixado um sobrevivente com sequelas gravíssimas para todo o sempre. Como relatei em minha primeira postagem, tive uma nova chance oferecida por Deus para continuar minha caminhada terrena.
Ainda faço uso do Frontal, porém há vários meses em dose baixa (0,25mg) a julgar que iniciei meu tratamento com 2 mg dia. O Efexor XR 75 de fato mostrou-se um grande aliado quanto a minha depressão e mantenho-me firme e forte com esta medicação por mais de 10 meses ininterruptos. Minha psiquiatra está muito feliz com minha evolução, e na realidade acho eu, tenho hoje uma vida mais feliz até mesmo que antes do acidente. Deixei a psicoterapia por conta de questões financeiras e decidi me dedicar ao esporte como aliado na busca pela cura completa da depressão e algumas taxas de colesterol e pressão cardíaca ruins.
Há cerca de 3 meses comecei a correr na esteira da academia do meu prédio, 1 hora ininterrupta, todos os dias. Tenho dormido melhor, minha pressão, apesar de estar fazendo uso de medicação específica para tanto, nunca mais ultrapassou os 13/9. Minhas taxas de gordura no sangue caíram vertiginosamente, mesmo também fazendo uso de medicação específica. Meu humor melhorou, ânimo e força de vontade e hoje depois de perdidos 7 kg neste 3 meses, estou a míseros 4 quilos de sair do sobrepeso, o que tem me oportunizado este objetivo bem saudável.
Estou assistido por uma nutricionista que tem me direcionado para uma alimentação mais saudável com forte apelo a alimentos e suplementos naturais como reforço para a cura da depressão e insônia. Enfim, não esmaeci um minuto sequer, não deixando a chance que me foi dada sair por entre meus dedos. Acreditei, confiei e mirei à frente sempre com pensamento positivo.O somatório disso tudo é que estou dando adeus à doença de forma completa e permanente, apesar de muito consciente que o adeus final será dado por minha psiquiatra a quem tanto devo pelo empenho e amizade.
Grande abraço a todos.
Alessandro
Seu comentário traz grande alegria a todos nós que acompanhamos o seu caminhar durante esse ano que passou. Saber que conseguiu superar tudo aquilo é um grande incentivo para todos aqueles que lutam contra os transtornos mentais. Alguns há que, ainda sem uma motivação verdadeira e crença no tratamento, queixam-se bastante. Se acompanhassem um quinto do que você passou saberiam o que é ser guerreiro. Compreenderiam que o “querer ficar bem” é o passo mais importante de todo o tratamento, sendo todo o resto consequência da busca.
Amiguinho, dentre todos aqueles que trouxeram seu caso a este blog, o seu foi, sem dúvida alguma, o mais severo. É com grande orgulho que hoje me rejubilo com o seu empenho e com os resultados de seu tratamento. A sua força de vontade, a sua coragem, o seu otimismo, a sua crença na cura e a sua fé foram o divisor de água entre a derrota e a vitória. Todos nós, seus amigos, sentimo-nos orgulhosos de você que será sempre um exemplo a ser seguido.
Continue em contato conosco, dando forças aos que se encontram na caminhada (ainda que menos angustiante), pois tem muito a ensinar-nos.
Abraços,
Lu
Carissimo(a)s!
Estou aqui mais uma vez no intuito de relatar mais um episódio do meu longo trilhar em busca da cura do TEPT.
Minha psiquiatra e eu demos início, a uma semana atrás, na retirada do Alprazolam (Frontal) pelo zolpidem (em tese mais fraco). Tenho usado o antidepressivo EFEXOR 75mg consorciado com o Frontal por mais de 5 meses. Contudo, a retirada, ou melhor, a substituição do Alprazolam pelo Zolpidem não se deu da forma mais pensada possível e colhi sérias consequências face à abstinência medicamentosa. Fiquei acamado por três dias com uma forte miastenia nos membros inferiores, vômitos, dor de cabeça fortíssima e espasmos musculares.
Minha médica interviu rapidamente e retornamos à estaca zero fazendo novamente uso dos 0,5mg do Frontal, cortando o zolpidem. Meu organismo se mostrou muito sensível às medicações psicoterapeutas e não se esperava tão fortes efeitos da abstinência medicamentosa. Muito medo disso tudo, pois apesar de estar me sentindo melhor com o uso do EFEXOR durante o dia, fato é que sem uso do benzodiazepinico não consigo mais dormir. Esta sensação de dependência e assistir minha vida “estar” controlada por estas drogas não me agradam em nada. Continuo com a psicoterapia semanal e idas mensais à minha psiquiatra e este recuo talvez se equipare a uma velha militar…”estou perdendo uma batalha para ganhar uma guerra”!
Alessandro
Sei que não tem sido fácil a sua caminhada, assim como sei que tem a força necessária para levá-la adiante. Venho acompanhando todos os seus passos através de seus sensíveis relatos e percebo como é uma pessoa de fibra, um exemplo para todos nós. Essas idas e vindas, ou seja, as reviravoltas no seu tratamento são normais, sendo tudo questão de tempo. É muito bom ter uma pessoa em quem confia, como a sua psiquiatra. E melhor ainda é ter a firme certeza de que não tardará a ganhar essa guerra. Considere os recuos como estratégias de guerra.
Abraços,
Lu
Olá Lu e demais.
O seu comentário em outro post me faz refletir muito quanto ao uso dos benzodiazepinicos, em especial o Alprozalam. De fato são “muletas” que não se devem prolongar no tempo.
Minhas consultas com minha querida psiquiatra nunca duraram menos de 1 a 1:30 com muita conversa. E talvez por isso, pela confiança transmitida, diferente de “outros profissionais” pelos quais passei, com consultas de no máximo 5 (cinco) minutos estou tranquilo mesmo ciente que ultrapassei em muito a faixa limite de uso do Alprazolam como descrito em sua bula. Sempre me preocupei mais com esta medicação do que com o antidepressivo (EFEXOR) e certamente o desmame já deu provas que deve ser mais comedido e com muita calma. Três próximas semanas com uso de 0,5mg e só a partir de então decairei para os 0,25mg.
Lição para todo o sempre é para aqueles que leiam este relato. Estas drogas psicoterapêuticas não devem ser utilizadas ou retiradas a seu bel prazer. São sérias as consequências em contrário. Passei muito mal com o uso de no máximo 1mg/dia… não quero nem imaginar o que poderia ser o uso prolongado na dose máxima de 10 mg/dia por mais de seis meses seguidos.
Alessandro
Faz toda a diferença ter encontrado uma psiquiatra em quem confia. Esse é um dos passos importantes no tratamento. Tenho a certeza que ela tomou seu caso nas mãos com o maior carinho, levando em conta os traumas e sofrimento pelos quais passou (e ainda não os sanou por completo, ainda se encontrando na caminhada). Além de profissional, ela me parece (pelo seu modo de referir-se a ela) uma pessoa extremamente generosa que anexa uma grande dose de humanidade ao saber. Tenho a certeza de que se encontra em boas mãos. Quanto ao desmame, em razão do longo tempo que tomou o referido medicamento, ele deve ser lento, mesmo. Siga em frente, guerreirinho POP!
Abraços,
Lu
Lu e amigo(a)s
Comecei ontem o uso do terceiro princípio ativo para meu TEPT. Tendo se em vista que o Zoloft não estava muito ajustado a meu organismo minha psiquiatra trocou a medicação para o EFEXOR XR 75 (venlafaxina) original.
Se eu sentia algum efeito colateral antes, agora sim estou penando com o enjoo e dores de cabeça. Os dias só estão sendo toleráveis com o Vonau Flash para alívio destas náuseas. Relataram-me que de fato esta medicação causa tais efeitos. Sinceramente espero que passe logo e meu organismo se adapte a ele. Sexta que vem minha psiquiatra quer me ver e juntos ponderarmos sobre os benefícios e malefícios desta nova droga e se realmente continuarei com ela. Como nunca fui acometido por nenhum aparente transtorno mental, estou muito assustado com estas medicações pois sei que este “jogo” de tentativa e erro faz parte do tratamento, onde, pelo visto, não são todas as drogas que servirão para mim. Aliás evito agora até ler as bulas, pois os detalhes de indução ao suicídio parece ser comum nestes remédios. Força na luta pois vou sair desta.
Alessandro
O início do tratamento é mesmo muito penoso, pois é feito via erros e acertos. Nosso organismo teima em se adequar a algumas drogas. E se ele manda, temos mais é que obedecer. Portanto não se preocupe, ao encontrar a droga ideal terá metade do caminho percorrido. Quanto ao alerta de suicídio, é comum a todos os antidepressivos. Também recomendo que não leia a bula, pois tendemos a ficar esperando os efeitos adversos e até mesmo os criando. Continue guerreiro como sempre. Força e garra, meu amiguinho.
Abraços,
Lu
Olá a todos e um dia radiante cheio de alegria a todo mundo.
Andei sumido por algumas semanas, encarando de frente os efeitos colaterais da sertralina (Zoloft) no meu novo encaminhamento dado junto a minha nova médica psiquiátrica.Realmente esta mudança de medicação vem atrelada a alguns efeitos orgânicos e psíquicos muito inôomodos. Nervosismo, agitação, isolamento, contudo a acertiva na prescrição do indutor ao sono, com meia vida mais longa me trouxe uma melhora física muito, mas muito satisfatória.
Fiquei praticamente quatro meses dormindo algo em torno de 2 horas por noite e isto vai minando nossa saúde geral. Hoje tenho dormido ininterruptamente minhas habituais 8 horas sem qualquer intercorrência. Apenas me vem à mente o quanto isto poderá me causar de dependência química, pois ainda nao me vejo em condições nem de sonhar em ficar sem o alprozalan. Mas agora na confiança redobrada com minha psiquiatra, sei que estou em boas mãos.
Transcorrido cerca de 15 dias, lançando mão do Zoloft em 1/2 dose por 3 dias e aumentando para 1 comprimido e verificando os efeitos colaterais, reduzindo a 1/2 por mais 3 dias e retornando a dose total, vi meu organismos se adaptando gradativamente a medicação e diminuindo os efeitos iniciais do tratamento.
Hoje, estou um pouco mais animado e buscando me sugestionar para a busca de melhores condições de vida. Ainda nao consegui retornar a praticar atividade física, mas ao menos tenho convivido com meu filhos numa condição mais prazerosa. Sinceramente sinto que minha vida está novamente tomando um rumo e com tudo nos trilhos a vitória será certa. Não dei início ao tratamento psicoterápico pois não tive disposição para procurar e sinceramente vi que a empatia com o profissional necessariamente deverá existir. E esta experimentação ainda mais causa um mix de desânimo em começar tudo novamente do zero.
Uma coisa de cada vez, um passo por vez e vou chegar lá. Ao menos sei das minhas metas e a primeira delas está aparentemente surtindo bom efeito (uso da sertralina).
Retorno em breve com boas notícias se Deus quiser (e ELE quer).
Alessandro
Realmente a nossa família encontrava-se preocupada, querendo ter notícias suas. E estas são ótimas. É muito bom saber que está levando com afinco o seu tratamento, certo de que dias melhores já estão começando a surgir. Trata-se da famosa luz no fim do túnil. O melhor é saber que encontrou uma profissional de gabarito, na qual confia. Já é meio caminho andado para o sucesso do tratamento. Estamos todos torcendo por você. Aguardaremos novas e boas notícias.
Um grande abraço,
Lu
Alessandro
Minha história é um pouco diferente da sua, mas muito parecida no sofrimento profundo.
Estava eu na praia com minha família de férias, no início do ano, e estava tudo lindo, mas ao sair do mar tive um ataque de pânico. Visão turva, falta de ar e a sensação de morte, porém isto não foi o pior, pois após o ataque veio aquilo que minha médica chama de ressaca pós a crise de pânico.
Senti um vazio imenso, um medo tremendo, lágrimas que não paravam de vir e uma vontade de não viver mais, uma coisa horrível. Corri para o psquiatra e ele me deu fluoxetina, mas ao aumentar a dose não me explicou como devia tomar e eu, leiga no assunto, fiz uma super dosagem. Neste dia passei-o dia todo na cama, a voz não saia direito, meu corpo tremia e meu pai que é meu melhor amigo, permanecia ao meu lado ouvindo da própria filha que a mesma queria morrer.
Troquei de psquiatra, troquei a medicação, comecei a terapia(que é um verdadeiro milagre pra mim), e hoje, amigo, posso dizer que minha vida começa a caminhar para frente. Tenho um filho lindo de 10 anos, fui sincera com ele e expliquei-lhe que eu tenho uma doença que não pode ser vista a olho nu, somente sentida, sendo que às vezes ele me veria chorar, mas que nestes dias eu precisaria de muitos abraços e carinho, pois esse seria nosso remédio. E assim foi feito. Ele entendeu, percebeu que a mamãe não chorava por causa dele e que ele, como parte de uma linda família, iria ajudá-la. Já se passaram 10 meses da crise mais forte da minha vida, mas posso dizer-lhe que não desejo esta dor a ninguém.
Mas para nossa esperança a vida continua, temos que ter forças nos momentos mais difíceis (sei que parece impossível) mas esta força nos ajuda a seguir em frente. Eu lhe garanto que isso nos torna seres humanos melhores e mais sensíveis aos outros seres. Falo para minha psicóloga que quando conheço alguém, que não tem vergonha de dizer que está passando por um problema psiquico, eu me solidarizo com ela, como se esta pessoa fosse da minha família e tenho um orgulho enorme dela, pois sei que está está lutando pela sua vida e está se fortalecendo e se transformando em alguém muito mais humano.
Tudo dará certo amigo, não conte os dias para a cura (pois todos fazemos isso), viva um dia após o outro, uns serão bons e outros ruins de dar medo, mas passam. Tenha fé em Deus, na sua família e principalmente em você, pois é capaz de vencer esta batalha. Por aqui a vida anda seguindo. Consegui um emprego novo onde estou feliz, vivendo um dia de cada vez, com pequenas angústias, mas isso é a vida. Tenho certeza que encontrará um caminho que lhe trará a paz. E o que precisar venha aqui no blog conversar conosco. Somos uma família POP e estamos sempre dispostos a ouvir e compartilhar.
Beijos Anna
Olá, Anna!
Sexta feira passada tive uma feliz consulta com uma maravilhosa psiquiátra, a qual pacientemente me ouviu por quase duas horas. Após tamanha atenção e incontestável predisposição em querer me ajudar, tomei enorme impulso a crer que enfim, achei o meu caminho. Sei que será galgando degrau após degrau, mas algo de efetivo na busca por meu restabelecimento foi feito.
Obrigado pelo carinho.
Abraço.
Alessandro
Gostaria de complementar o texto, dizendo-lhe que:
Os remédios, pela química que possuem,auxiliam. A conversa com o psiquiatra é o caminho para a condução de um tratamento medicamentoso. No extremismo do desconforto, nosso cérebro, onde várias substâncias que não cabem a mim descrevê-las, sofrem uma alteração, necessitando de reposição química e hoje a farmacologia adiantou-se muito. O resultado pode parecer que não está acontecendo, mas você sentirá que, com o passar da adaptação à medicação correta, e isso exige por vezes correções que só o médico pode adequar, surtirá o efeito necessário. Portanto, não se prive da medicação.
Algumas pessoas agem assim por perceberem que o alívio imediato não vem e quem está mal quer resultado rápido. Existe uma dor não aparente, mas é uma dor. Então, a necessidade da medicação existe. Não podemos – e fiz isso – julgar que conseguiremos, sozinhos, a resposta necessária. Não virá. A abstinência é tão dolorosa que passar por ela é auto-impor-se uma punição. Não deixe de medicar-se, por favor! Não será para sempre, mas terá que ser enquanto for necessária. Dê-se o tempo necessário e perceberá resultados.
Abraços
Bom-dia Celi!
Quanto prazer em ler um texto de tamanha profundidade e compreensão.
Neste exato momento de insônia, como nos diversos dias que se seguiram, acabei tendo um minuto de alento e paz. Minha dor psicológica e orgânica, querendo crer ser proveniente da minha total ignorância quando subitamente interrompi minha medicação, às vezes me remete a possibilidade de estar de alguma forma sendo “chacoalhado” para que eu passe a compreender que existe, sim, uma vida feliz a ser plenamente vivida.Não tenho sido o pai ou marido amável, o filho ou amigo querido, mas sei que conscientemente esta condição retornará, pois não mereço viver assim.
Ganhei uma nova chance e apesar de lamentavelmente não ter trazido de volta às suas famílias meus estimados e queridos amigos, sei que meu destino estava escrito e que minha missão por aqui continua. Dói demais saber que não tenho por perto meu grande amigo Alexandre, o qual me rendia dias muito mais felizes. Mas com toda certeza sei que ele olha por nós em especial por sua linda família que neste momento da vida aqui ficou.
São três horas e trinta minutos da manhã deste dia, cansado e com dor, mas altivo ao ver quantas pessoas traduzidas por um nome, mas repletas de atenção e carinho para comigo.
Muito grato, Celi, por ter dispensado seu tempo em redigir com tamanha serenidade e compreensão palavras de tamanha sabedoria. Um ótimo dia a todos nós e avante, como bem dito por uma querida pessoa no dia de ontem.
Abraços,
Alessandro
Alessandro
Tenha a certeza de quem já passou por provas de grande dor ou passa pelos transtornos psicológicos que invalidam, torce por você e pela sua recuperação. Saiba que ela virá! Seu discernimento em compreender que há felicidade aguardando-o é um ótimo sinal. O guerreiro voltando…
As dores não precisam ser mascaradas e nem aceitas, exceto como um sinal de alerta de que por trás muita emoção reprimida foi o que fez o gatilho ser acionado. Confie! Deite-se no colo do Grande Poder e dê-lhe o nome que desejar. Sentirá que cada angústia, cada lágrima, mesmo que não role pelo seu rosto, está sendo recolhida num vaso único; o seu vaso, guardado pelo Pai, será devolvido reluzente. Não somos filhos de um acaso. Temos um Protetor, que mesmo misterioso a nossos olhos, nos vê e sabe de tudo! Nós somos simplesmente os conduzidos, escolhidos e jamais os perdedores! Fique com Deus e Ele, que já deu-lhe tanto, o trará de volta com uma outra visão e compreensão que talvez, na correria diária, tenha ficado sem ser notada.
Que volte o novo homem e que sua família, sofrendo com você e por você, bem como os amigos que sofrem a dor da perda e os que estão em esferas que não nos é concedido o conhecimento do que há por lá, estejam todos protegidos pela luz que aquece e conforta! Siga! Você consegue. Chegará o dia em que o céu, que sempre esteve onde deve estar, o cobrirá com o mais perfeito tom de azul e a delicadeza das estrelas distantes, douradas e aparentemente quietas. Não, não se aquietaram. Elas seguem o que lhes foi destinado, como acontece com todos nós. A diferença é que elas não falam ou escrevem, apenas observam…
Abraço fraterno, apertado, e o sussurro no ouvido dizendo que tudo passará!
Miss Celi
Seus textos, como sempre, são uma profunda lição de vida. Além disso, fiquei comovida com o carinho com que se dirige ao nosso amigo Alessandro. Ele não poderia ouvir palavras mais sábias do que as suas.
Quero destacar um trecho de grande beleza e profundidade:
“Lembranças não se apagam, mas doem menos quando as tomamos como ensinamentos. Seja sempre sábio e verá que nada é em vão, mesmo que pareça terrível! Se tivermos que passar pelo fogo, que passemos, mas que o chamuscado seja uma marca de uma história valorosa.”.
Um beijo no seu coração,
Lu