A ETIQUETA NA IDADE MÉDIA

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Autoria de Lu Dias Carvalho

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Segundo Steven Pinker, autor de Os Anjos Bons da Nossa Natureza, na Idade Média as pessoas eram muito grosseiras, como comprovam os conselhos encontrados nos livros de etiqueta da época. Através de tais juízos é possível deduzir como era a conduta daquela gente. Se a advertência, por exemplo, exorta: “Não se alivie diante das senhoras, ou na frente de portas ou janelas de casas e becos.”, significa que isso era um comportamento comum, daí a necessidade da admoestação. Segundo Pinker, em 1530, Desiderius Erasmus escreveu um manual de etiqueta chamado A Civilidade Pueril que se transformou em um best seller na Europa durante dois séculos. Abaixo alguns conselhos encontrados no manual:

1. Não suje as escadas, corredores, armários ou tapeçarias de urina ou outras imundícies.
2. Não se alivie diante de senhoras, ou na frente de portas ou janelas de casas em becos.
3. Não deslize para frente e para trás na cadeira como se estivesse tentando eliminar gases.
4. Não toque em suas partes pudendas sob as roupas com as mãos nuas.
5. Não cumprimente alguém enquanto a pessoa está urinando ou defecando.
6. Não faça barulho quando eliminar gases.
7. Não abra as roupas diante de outras pessoas em preparação para defecar, e não as feche depois.
8. Quando dividir uma cama com alguém em uma hospedaria, não se deite tão perto que possa tocar a pessoa nem ponha suas pernas entre as dela.
9. Se deparar com alguma coisa repugnante no lençol, não a mostre para seu companheiro, nem levante a coisa fétida para que o outro cheire dizendo “Gostaria de saber quanto isso fede”.
10. Não assue o nariz na toalha de mesa, nem nos dedos, manga ou chapéu.
11. Nã ofereça seu lenço usado a outra pessoa.
12. Não carregue o lenço na boca.
13. Também não fica bem, depois de assuar o nariz, abrir o lenço e contemplá-lo como se pérola e rubis pudessem ter saído de sua cabeça.
14. Não cuspa na bacia quando estiver lavando as mãos.
15. Não cuspa tão longe que seja preciso procurar a saliva para pisar nela.
16. Vire-se ao cuspir para que a saliva não caia em alguém.
17. Se algo purulento cair no chão, deve ser pisado para que não provoque náusea em alguém.
18. Se notar saliva no casaco de alguém, não é polido anunciar.
19. Não seja o primeiro a tirar a comida do prato.
20. Não se atire à comida como um porco, roncando e estalando os lábios.
21. Não vire a travessa para deixar o maior pedaço de carne perto de você.
22. Não devore a comida como se estivesse prestes a ser levado para a prisão, nem encha tanto a boca a ponto de suas bochechas incharem como foles, nem abra tanto os lábios que eles produzam ruídos porcinos.
23. Não mergulhe os dedos no molho da travessa.
24. Não pegue comida da travessa com a colher que pôs na boca.
25. Não roa um osso e depois o devolva à travessa.
26. Não limpe talheres na toalha de mesa.
27. Não ponha de volta no prato o que esteve em sua boca.
28. Não ofereça a ninguém um alimento que você já mordeu.
29. Não lamba os lábios engordurados, limpe-os no pão ou enxugue-os no casaco.
30. Não se incline para beber na tigela de sopa.
31. Não cuspa ossos, caroços, cascas de ovo ou de fruta nas mãos, nem os jogue no chão.
32. Não meta o dedo no nariz enquanto come.
33. Não beba no prato; use a colher.
34. Não sugue ruidosamente o que está na colher.
35. Não afrouxe o cinto à mesa.
36. Não limpe com os dedos um prato sujo.
37. Não mexa o molho com os dedos.
38. Não leve a carne ao nariz para cheirá-la.
39. Não beba café no pires.
40. Não limpe os dentes com a faca.
41. Não segure a faca o tempo todo enquanto come, apenas quando precisar dela.
42. Não use a ponta da faca para pôr comida na boca.
43. Não corte o pão; parta-o com as mãos.
44. Quando passar uma faca a alguém, ofereça o cabo e deixe a ponta virada para você.
45. Não agarre a faca com a mão inteira como se fosse um pedaço de pau; segure-a nos dedos.
46. Não use a faca para apontar para alguém.

Naquela época, segundo Pinker, os manuais de conduta exortavam as pessoas a não serem grosseiras, a respeitar a sensibilidade dos outros, sem quase nenhuma preocupação com a higiene ou saúde, pois os conhecimentos sobre micróbios só apareceram no século XIX. Contudo, o nojo, de certa forma, foi responsável para que houvesse uma defesa, ainda que inconsciente, contra a contaminação. Na Europa medieval também não havia muita discrição quanto à atividade sexual. As pessoas não se constrangiam em ficar nuas em público e, no ato do coito, mantinham apenas uma privacidade superficial. As prostituas ofertavam seus serviços livremente, os homens conversavam com os filhos sobre seus feitos sexuais, etc.

Fonte de pesquisa:
Os Anjos Bons da Nossa Natureza/ Steven Parker
Editora Companhia das Letras

Nota: obra A luta entre o carnaval e a Quaresma, de Pieter Bruegel, O Velho

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