Autor: Guaipuan Vieira
Santo Deus Onipotente
Venho rogar vossa ajuda
Pra afastar assombração
De todo mal nos acuda
Principal desse fantasma
Que é a Perna Cabeluda.
É um bicho horripilante
Que na noite entra em ação
Tem dois metros de altura
E pula como cancão
No joelho tem um olho
Acesso que nem tição.
O nariz é bem pontudo
Além da boca rasgada
As prezas são dum felino
Língua com a ponta cortada
Tem barbicha que nem bode
Cada unha é envergada.
Faz um barulho medonho
Como chocalho de cobra
É o rangido dos dentes
Da energia que sobra
Limpa o nariz com a língua
Dança fazendo manobra.
Ainda tem no calcanhar
Um afinado esporão
Cuja cor avermelhada
Reluzente a um medalhão
No tornozelo uma gola
Como estivera em prisão.
Na canela tem um chifre
Com uma luz bem na ponta
Uma espécie de lanterna
Pra andar por onde afronta
Fazer vítima onde passa
Que já se perdeu a conta.
Tem enorme cabeleira
No lugar que foi cortado
Que sacode sobre a perna
Girando de lado em lado
De jaguar são as orelhas
E há pelo aveludado.
Pense então na coisa feia
Multiplique o seu pensar
Pois é assim que a coisa
Anda em noite de luar
E também na escuridão
Pra poder se ocultar.
Quem já viu conta que a perna
Chega mansa e de repente
Cisca o chão e fala coisas
Que não há um ser vivente
Pra decifre a linguagem
Que repassa no presente.
E depois dessa contenda
Dá um assovio fino
À noite entra em silencio
Como ordena seu destino
Até o galo no poleiro
Esquece o sagrado tino.
Por onde passa o vivente
Fica imobilizado
Falta as pernas pra correr
É um momento aperreado
Só pra vê que neste mundo
Tudo um pouco é encontrado.
Muitos contam que a origem
Vem duma história passada
Dum acidente de ônibus
Em região povoada
Pra bandas do Piauí
Curva do “S” chamada.
Dois ônibus da Marimbá
Do Piauí essa empresa
Se chocaram nessa curva
Que foi a maior tristeza
Não escapou um cristão
Só de pensar dá fraqueza.
Uma vítima teve a perna
De seu corpo decepada
Dizem que ela criou vida
Num monstro foi transformada
Na mata ficou vagando
Procurando sua estrada.
Antes de achar caminho
Pra sua nova paragem
Em todo aquela região
Ficou fazendo visagem
Assombrando caçador
E vaqueiro de coragem.
Pois chegou no Ceará
Seguindo um caminhoneiro
Que vinha pra Canindé
Só conduzindo romeiro
Depois foi a Fortaleza
Promover o seu desterro.
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O poeta Guaipuan conduz uma rica herança poética, ela vem de seu genitor, poeta folclorista e indianista Hermes Vieira. Guaipuan é membro da Academia Brasileira de Literatura de Cordel-ABLC, Cadeira nº 19, Patrono Leonardo Mota.
José Rodrigues
Agradeço muitíssimo a sua presença no blog VÍRUS DA ARTE & CIA.
Quanto à Literatura de Cordel, gostaria de fazer mais publicações sobre o tema no meu espaço. Mas aqui em Minas Gerais, não temos a tradição do Cordel, portanto, não tenho material para trabalhar. O forte são os “causos”, aqui.
Já entrei em contato com algumas associações de Cordel em alguns estados do Nordeste, pedindo material para publicação, mas não obtive nem resposta a meus e-mails. O que é triste, pois ofereço um espaço gratuito, que é acessado por todo o Brasil e por mais de 115 países, oportunidade para tornar o Cordel popular nacional e internacionalmente.
Portanto, José, caso tenha algum material que possa ser publicado, envie-me.
Sou um fã ardorosa do Cordel, mas nem livros sobre o tema eu consigo encontrar. Consegui apenas comprar um aqui, que ensina alunos a fazer Cordel, mas é muito fraquinho.
Grande abraço,
Lu