Autoria de Lu Dias Carvalho
As pessoas escravizam, estupram e assassinam membros de sua família imediata. Chefes militares chacinam civis indiscriminadamente, inclusive crianças. Mulheres são estupradas, vendidas e roubadas como brinquedos sexuais. E Jeová tortura e massacra pessoas às centenas de milhares por desobediências triviais ou sem razão alguma. […] Não são atrocidades isoladas nem obscuras. Elas envolvem todos os principais personagens do Antigo Testamento. (Steven Pinker)
O Antigo Testamento contém mais de seis mil passagens que falam explicitamente sobre nações, reis ou indivíduos que atacam, destroem e matam. […] Sem contar os aproximadamente mil versículos nos quais o próprio Jeová aparece como executor direto de punições violentas […], e em mais de cem outras passagens, Jeová ordena expressamente que se matem pessoas. ( Raymund Schwager)
O canadense Steven Pinker, um dos mais aclamados cientistas atuais, defende em seu livro “Os Anjos Bons da Nossa Natureza” que a violência no mundo vem sendo reduzida. Para abonar a sua ideia, ele remonta à pré-história da humanidade até chegar aos dias de hoje. Em linhas gerais, por exemplo, mostra passagens do Antigo Testamento, livro que considera como a “celebração da violência”.
Segundo o autor, o Antigo Testamento foi ambientado nos fins do segundo milênio a.C., embora tenha sido escrito mais de quinhentos anos depois dessa época. E estudiosos modernos da Bíblia comparam a sua criação com a da Wikipedia que é feita por colaboradores. “Foi compilado no decorrer de meio milênio por escritores que tinham diferentes estilos, dialetos, nomes de personagens e concepções de Deus, e então montado a esmo, o que o deixou repleto de contradições, duplicações e non sequiturs.”, explica Steven.
É impossível acreditar que toda a selvageria mostrada no Antigo Testamento tenha transcorrido verdadeiramente. De acordo com Steven Pinker, a maior parte do que foi ali relatado jamais aconteceu, conforme comprovam os estudiosos do assunto. Nesses escritos estão incluídos mitos sobre as origens de tribos, ruínas locais, códigos legais adaptados, tabus, etc. Ainda assim, tais relatos funcionam como uma janela aberta para o conhecimento da vida das civilizações do Oriente Próximo à época, trazendo à tona os valores que as guiavam. Ao contrário dos dias de hoje, conforme ensina Steven, “Os autores do Antigo Testamento não viam nada de errado na escravidão ou em castigos cruéis como cegar, apedrejar e esquartejar. A vida humana não tinha valor em comparação com a obediência irrefletida ao costume e à autoridade”.
O escritor adverte que sua posição trata-se apenas de uma visão histórica, pois “A imensa maioria dos judeus e cristãos praticantes, nem é preciso dizer, são pessoas decentes que não sancionam o genocídio, o estupro, a escravidão ou o apedrejamento.”. A seguir, alguns exemplos da violência contida no Antigo Testamento:
- só havia quatro pessoas no mundo: Adão e Eva e seus dois filhos Caim e Abel. O irmão mais velho mata o mais novo, o que só aí demonstra uma taxa de homicídio de 25%;
- quando os homens e as mulheres começaram a multiplicar-se pelo mundo, Jeová (Deus) decide enviar o dilúvio para puni-los pelo mau comportamento;
- Deus sacrifica os habitantes da cidade de Sodoma, onde mora Ló, sobrinho de Abraão, porque ali se praticava sexo anal e outros pecados da mesma monta. E a curiosa esposa de Ló também é morta, por ter olhado para trás;
- O Criador, para testar a fidelidade de Abrão, ordena-lhe que decepe a garganta de seu filho, mas um anjo impede que tal tragédia aconteça;
- Diná, filha de Jacó e neta de Isaac é raptada e violentada. O estuprador quer comprá-la, mas a família alega um impedimento: ele não é circuncidado. Fazem então a proposta para que todos os homens da cidade cortem seus prepúcios e tenham Diná. Enquanto ainda se encontram com o pênis sangrando, portanto enfraquecidos, os irmãos de Diná invadem a cidade, saqueiam-na, matam os homens e raptam as mulheres e crianças;
- José, filho de Jacó, é vendido como escravo pelos próprios irmãos;
- no Egito, os descendentes de Jacó são escravizados pelo faraó, que, para impedir o crescimento dos israelitas, exige que os meninos sejam mortos ao nascer;
- o exército egípcio é afogado no mar Vermelho;
- Moisés e o irmão Arão, a mando de Deus (Jeová), matam três mil de seus companheiros;
- há inúmeras mortes de animais por parte dos israelitas a mando de Deus (Jeová);
- pelo simples fato de ter usado o incenso errado na preparação do tabernáculo, Deus (Jeová) transforma Arão e seus dois filhos em cinzas;
- os israelitas matam os varões midianitas, quando se dirigiam para a Terra Prometida, além de saquear e destruir a cidade, levando como escravas mulheres e crianças. Depois recebem a ordem de Moisés para matar as crianças de sexo masculino, deixando vivas as escravas sexuais núbeis;
- Deus (Jeová) dá ordem aos israelitas para matar os homens e pegar as mulheres, crianças e animais, das cidades que não aceitarem as novas leis;
- só porque precisava de roupas masculinas para pagar uma aposta, Sansão mata 30 homens de uma só vez, por ocasião de seu casamento. E para vingar a morte da mulher e do sogro, mata mil filisteus. E mesmo com os olhos furados, ele trucida três mil homens e mulheres, ao implodir uma enorme construção;
- Saul, quando rei, recebe a ordem para matar tudo que dissesse respeito a Amaleque: homens, mulheres, e até mesmo crianças de peito e animais;
- Davi, depois de matar Golias, comanda um bando de guerrilheiros, e luta como mercenário. Saul trama sua morte. Ao se tornar rei, Davi mata milhares de pessoas. Mas por ter ordenado um censo, ele é punido por Deus (Jeová), que mata, por vingança, 70 mil de seus seguidores.
- E assim vai…
Fonte de pesquisa
Os bons anjos da nossa natureza humana/ Steven Pinker/ Companhia das Letras
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Lu
Lendo novamente este texto, lembrei-me de dois conselhos; o primeiro,os cegos que guiam os cegos, dito por Cristo, o segundo, as regiões são para muitos humanos, o mesmo como as palas que o cavalos usam, dito por Heinsten. Há dias li o livro “Fúria Divina”, lá está a palavra divina, isto é, uma história muçulmana,com isto quero dizer tanto Jesus como Heinsten queriam dizer precisamente o mesmo, em séculos muito diferentes, mas a sabedoria é a mesma, utilizando sempre a palavra. Pois o texto fala nos anjos em que eu acredito.
Abraços
Rui
Em todas as fases da história da humanidade haverá pessoas ruins (tidas como demônios) e boas (tidas como anjos). E quanto mais anjos tivermos, melhor será a vida no nosso planeta Terra. Infelizmente, a usura, a sede de poder, a mentira e os conluios só têm aumentado o número de “demônios”.
Grande abraço,
Lu
Eterna Mestra,
Conforme os próprios autores do texto é perceptível como “Deus” age, conforme o nível e o entendimento do homem. A história bíblica é uma guerra do homem com seu interior, com seu “ego”, a “virada” do Velho para o Novo Testamento expressa bem as mudanças que ocorrem no homem durante o processo de amadurecimento, não somente psicológico quanto social. Acho isso muito bonito, pena que a interpretação do homem chegue tão ao extremo. Veja que bonito é a luta de Jacó contra um anjo, no fundo é uma verdadeira guerra psicológica de velhos e novos valores, assim como um adolescente chegando à fase adulta. Ele luta psicologicamente por valores “apreendidos” no ambiente da família com os valores sociais que, para ele, são os valores de seu “grupo de amigos”, os valores “vencedores” irão determinar a personalidade do adolescente na fase adulta.
Obs.: Tentei fazer uma comparação da guerra psicológica de valores.
Abraço!
Adenir
Ao lado de Umberto Eco (saudades), Steven Pinker está entre os grandes pensadores humanistas de nosso século. No seu livro OS ANJOS BONS DA NOSSA NATUREZA, ele mostra como, ao contrário dos primórdios, passando pela Idade Média, a violência é muito menor nos nossos dias, até porque o Estado possui leis que a coibem (variando de um país para outro), e levando em conta o tamanho da população dos dias atuais. Ele fez uma pesquisa elaborada, pegando um grande número fatos até os nosso dias. No seu livro, ele não interpreta a visão judaica ou cristã do Novo Testamento, mas apenas levanta os fatos de acordo com o que está escrito. É interessante também que ele fala que a maioria dos escritos presentes ali não passam de mitos tribais (veja como é vista a menstrução no AT), misturados com a mitologia greco-romana, mas mesmo assim retrata a visão do homem da época. Como tenho estudado a mitologia greco-romana, comprovo realmente o que ele diz. Só para ter uma ideia do livro, ele diz que “vários mitos pagãos falavam de um salvador que era filho de um deus, nascera de uma viagem no solstício de inverno, andava em companhia de 12 discípulos zodiacais, fora sacrificado como bode expiatório no equinócio da primavera…”. Leia sobre o Hinduísmo e até mesmo sobre o Islamismo, e veja quanta semelhança com o AT, no olho por olho dente por dente. A religião islâmica é um retrato do AT no trato com a mulher, entre outros aspectos. O povo cristão e o judaico tentam mostrar hoje o AT sob uma visão psicológica, com os conhecimentos que possui, mas não foi assim na época em que foi escrito, quando se retratou a visão da época.
Trarei mais artigos baseados no livro (1087 páginas) e você terá mais oportunidade de conhecer o autor.
Fique muito feliz com a sua participação. Gostaria que não fosse tão esporádica.
Um grande abraço,
Lu
Lu,
Observando esses textos antigos,é bom lembrar que “quem conta um conto aumenta um ponto”. Daí que a tradição oral é um tema muito interessante e muito polêmico.
Abraços
Matê
Matê
Ainda mais depois de tanto tempo. Haja pontos nesse acréscimo.
Beijos,
Lu
Querida Lu
As religiões têm por hábito dar nomes ao criador (Alá,Jeová,Deus). Em nome do Criador os humanos comentem muitos erros. Acabei por ler os livros de Gênesis e Êxodo, onde o criador mandava Moisés e seu irmão Arão,que era profeta, salvar os judeus do Egito. já naquele tempo havia muitos mesquinhos. Nós temos sempre de ter o nosso discernimento, a nossa fé, pois também Maomé era profeta, uns lêm o Alcorão, outros a Bíblia, e em nome do criador é feita muita maldade.
Abraços
Rui
Você resumiu tudo na frase:
“Em nome do Criador os humanos comentem muitos erros.”.
Grande verdade, meu irmãozinho. E isso já vem através dos tempos até os nossos dias.
Abraços,
Lu
Querida Lu
Eu sou da opinião que quem conta um conto acrescenta sempre um ponto.
Um dia nos trouxeste um tema:”os cegos que guiam outros cegos”, pois é assim as religiões, todos vão cair no buraco, sem um bom direcionamento.
Um abraço
Rui
É verdade! Você chegou a fazer um belo comentário naquele artigo. Precisamos sempre de discernimento, pois vivemos num mundo extremamente capitalista, onde o dinheiro vem se transformando num Deus.
Abraços,
Lu