Autoria de Antônio Messias Costa
Não adianta ligar antes para marcar encontro, pois essa família nem sempre está pronta para receber o visitante em sua confortável sala de estar, com janelas de vidro e muito verde. Ainda mais agora com crianças recém-nascidas, motivo de maior atenção das duas mamães e do zeloso, e às vezes autoritário papai. Esse grupo familiar é composto por um belo e vigoroso senhor de costas prateadas, denominado Leon, e de suas senhoras, Imbi e Lou Lou, carregando cada uma o seu pimpolho. O grupo é morador do Jardim Zoológico de Belo Horizonte, onde a qualidade da residência faz jus à importância da família, oriunda da Europa, mas de raízes africanas. Esses gorilas são os únicos exemplares encontrados no Brasil, e os dois filhotes são os primeiros nascimentos ocorridos na América do Sul .
Ainda com saudades de Idi Amin, conhecido carinhosamente como Idi, fui visitar a citada família de gorilas. Foi um chá de espera, compartilhado com outros visitantes, e também uma oportunidade de perceber o comportamento do “homo sapiens” diante do respeito à vontade dos notórios símios, de aparecer ou não para os presentes. Mas, para alegria de todos nós, a família surgiu no tapete verde do confortável recinto. Primeiro veio Leon, chamado carinhosamente de “Grandão” pela bióloga Cyntia, íntima da família e também sua porta-voz, principalmente em relação aos visitantes estrangeiros. A seguir, vieram as duas senhoras, mas junto com elas uma encrenca, pois Imbi havia se apoderado do filhote da amiga Lou Lou.
Qual seria o motivo do egoísmo de Imbi, ao querer os dois filhotes para si, se ambos compartilham o mesmo espaço? Acontece que a maternidade é um comportamento instintivo, que no mundo natural dos mamíferos reafirma-se com diferentes gradações nas variadas espécies, aliada a outros fatores como o maior ou menor número de filhotes, a participação apenas da mãe nos cuidados, ou do casal, ou ainda do grupo.
No caso dos gorilas, os maiores e mais fortes dos primatas, raramente nasce mais de um filhote por vez, que na fase inicial de vida é cuidado apenas pela mãe e, no decorrer do seu crescimento, recebe o apoio da família, particularmente das fêmeas. Mas o pimpolho vence barreiras até mesmo em relação ao poderoso chefe do grupo, que gentilmente aceita suas travessuras. O gesto de Imbi, ao se apoderar da cria de sua colega de recinto e correr com os dois filhotes nos braços, certifica que, assim como acontece entre os humanos, as diferenças comportamentais dentro de uma mesma espécie são enormes entre os indivíduos que a compõem, principalmente ao se levar em conta seu desenvolvimento neurológico.
No caso dos primatas antropomórficos (orangotango, gorila e chimpanzé), o comportamento natural aproxima-se muito do humano, também propenso a alterações neuro-hormonais, que podem alterar o padrão comportamental de cada um, como no caso de Imbi. Evidentemente que, apesar da transitória atitude maternal egoística, o comportamento observado sugere que a fêmea é uma boa mãe, e também acaba por quebrar a rotina da família de gorilas ali presente, tornando a vida no ambiente mais motivadora.
O primeiro gorilinha a nascer foi Sawidi, em agosto/2014, filho de Lou Lou e Leon. O nome foi escolhido pelas pessoas por meio de votação na internet. Na língua tupi-guarani Sawidi significa “amado, querido, desejado”. O segundo a nascer, em setembro do mesmo ano, ainda não teve o nome escolhido. É filho de Imbi e Leon. Os dois pequenos são irmãos por parte de pai.
O Zoo-BH e todo o seu staff está de parabéns, primeiramente pela dignidade com que cuidou do gorila Idi Amin, que veio a óbito em 2012, aos 38 anos de idade, após uma longa vida e, em segundo lugar, pela coragem em assumir a responsabilidade e o desafio de cuidar dos dois novos símios, pois afinal de contas são as grandes estrelas do zoo, recebidas com muito carinho por todos.
Denúncia: na África, essa espécie, nossa coirmã, sofre terrível ameaça, em razão da desumana caça clandestina, numa atitude que envergonha a todos nós humanos.
Nota: fotos do autor
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Oi, Messias, tudo bem?
Adorei seu texto e sua forma de citar os primatas! Com tanto carinho e saber! Os gorilas são os primatas que mais admiro pelo porte e postura. Fora a beleza inigualável! Lembro muito bem o filme: Nas Montanhas dos Gorilas (1989) onde retrata a luta da antropóloga americana Dian Fossey, dedicando sua vida à preservação dos gorilas nas montanhas. Fiquei apaixonada pelo gorila chamado Digit. Espetacular!
Parabéns pelo post. Como sempre, escrito com amor, carinho e saber!
Beijos,
Suzy
Olá Suzy
Que bom que tenha gostado dos textos. Obrigado pelo generoso comentário.
Beijos
Oi, Messias, tudo bem?
Você poderia postar curiosidades sobre o bicho-preguiça!
Vamos adorar!
Beijos
Olá Pedro,
Certamente você tem aí um maravilhoso Aquário no qual pode mergulhar fundo sem se molhar, refiro-me ao de Lisboa. Quanto aos gorilas, de fato é especial e comovente, eles são enormes, primatas mais próximos evolutivamente de nós humanos – e que recebem hoje grande e sofrida pressão no meio natural, que a cada dia reduz mais e mais a espécie, colocando essas maravilhas da natureza em risco de extinção. Assim, tê-los tão próximo e reproduzindo é fantástico.
Messias
É uma maravilha ver dois pimpolhos assim, aprender com eles e com a sua família. Eu moro em Portugal, não tenho este privilégio de poder fazer essa visita. Agradeço ao Messias por esse texto e as fotos, e desejo que essa família tenha uma vida maravilhosa e longa.
Abraços Messias,
Rui Pedro
Messias
Que família maravilhosa você nos apresentou, e de forma tão sábia. Parabéns! No caso de Leon, qual foi seu comportamento diante da situação, ao ver Imbi apoderar-se do filho de Lou Lou? Messias, você já se viu como um legítimo “homo sapiens” brasileiro diante desta situação, isto é, com duas mulheres e dois filhos para cuidar?
Abraço,
Devas
Então Devas, você coloca boas questões! Acordando o “animal” que dorme dentro de cada um de nós para participar, coloco os seguintes pontos:
1- o macaco está sempre certo, com duas mulheres atendendo a natural demanda do excesso de “sptz”;
2- quem tem duas, de fato tem uma e mais uma vez, o macaco tá certo;
3- dois filhos e duas bocas para se alimentar, bem recebem “não de graça” casa e comida, então que haja mais bocas….e comilanças…
Engraçado, que ele não se intrometeu na confusão, e mais uma vez o macaco acertou de novo. De modo que este humilde “homo sapiens” brasileiro, saiu de lá reafirmando o que já imaginava sobre estes ensinamentos!
Grande abraço,
Messias
Olá Messias!
Que imagens lindas e o texto as descrevem muito bem. Como sempre, você soube usar muito bem as palavras! Parabéns pelo texto e pelas imagens! Parabéns também para a equipe do Zoo de BH!
Beijos
Oi, Stef,
A raridade e beleza desses animais ajudam em tudo que se possa escrever, principalmente nessas circunstâncias! Obrigado pelas palavras. Que tal escrever sobre você com seus filhotes de preguiça? Aguarde-me!
Beijos
Vale sim Luiz, não se preocupe com o chá de espera, talvez não lho ofereçam!
Abraços
Messias, que família interessante. Vale uma visita ao zoológico.
Obrigado pelo texto.
Luiz Cruz
Vida longa aos bebês!
Abraços
Matê
Certamente Matê! A equipe do Zoo-BH é fantástica!
Abraços
Prezado Messias
Grato pela aula sobre símios. Só fiquei triste com o nome dado ao anterior. Por que será que escolheram o nome de um déspota?
Abração
Mário Mendonça
Olá Mário,
É uma maravilhosa troca, a gente acaba se despertando para enxergar o animal aprisionado dentro de cada um de nós!
Quanto à denominação “Ide Amim” ao primeiro gorila do Zoo-BH, eu já o encontrei “apelidado” assim. Isto foi em alusão ao ditador de Uganda, na época. Uma denominação movida mais pela aparência, já que toda a equipe do Zoo dedicou muito ao amável e solitário gorila “Ide” que se foi… para tristeza de todos nós.
Outro abraço,
Messias
Messias
Realmente esta família acima é muito ilustre. Que o digam as filas intermináveis no zoológico, principalmente de crianças, que querem conhecer os dois pimpolhos, que são uma fofura só, com seus olhinhos espertos. Eles estão sempre agarrados às protetoras mães. Estou curiosa para conhecer o nome do segundo filhote. Também desejo vida longa à família.
A saudade do Idi Amin permanece.
Abraços,
Lu
Texto e fotos encantadoras! É sempre uma boa surpresa aprender um pouco mais sobre o comportamento dos animais, ainda mais sob a visão de um especialista. Messias, grata pelo compartilhamento.
Verdade Klena, a gente aprende muito com esses companheiros de jornada terrestre. Seria bom que você nos contasse suas emoções sobre as duas “filhas” – os filhotes de ariranha – adotados com zelo e carinhosamente por você, recentemente.
Grande abraço,
Messias
Caro Colega Messias,
Seu artigo foi muito bem escrito. Partindo de você, só poderia ser assim; claro, conciso e objetivo. Parabéns!
Grande abraco,
Bené
Caríssimo Bené, o tempo passa, hein? parece ontem, a gente na escola de veterinária da UFMG, eu dividindo o tempo também com o Zoo, onde fazia estágio, e depois passei a trabalhar. Essa visita ocorreu há 15 dias, para matar a saudade! No mais, grato pelas palavras!
Um grande abraço,
Messias