Autoria de Lu Dias Carvalho
Um estudo feito com ratos e publicado na revista Nature Neuroscience veio desmistificar o fato de que somente as substâncias tidas como ilegais viciam, tais como cocaína, crack ou heroína. A ingestão de alimentos ricos em gordura leva a um tipo de dependência parecida com a das drogas citadas acima, pois a dieta rica em calorias aciona os centros de prazer da mesma forma que tais drogas. Assim, o organismo de um dependente de gordura passa pelo mesmo mecanismo cerebral do viciado em drogas.
O excesso de comida pode produzir superalimentação e obesidade. Estimativas mostram que o número de pessoas acima do peso é alarmante, já ultrapassando o número dos que passam fome. No Brasil os gordos estão próximos de atingir metade da população, enquanto os famintos estão abaixo de 6 %. Já existem mais de 42 milhões de crianças (de até 5 anos) acima do peso no mundo, com grandes possibilidades de contraírem doenças cardiovasculares, diabetes e terem morte prematura. A ONU está tão preocupada com este problema que listou a epidemia de obesidade no mundo como um dos dez principais riscos para a saúde mundial.
O debate sobre o vício em gorduras, trazido à tona, adverte-nos, ainda que sutilmente, que a indústria do fast-food, guardadas as devidas proporções, também age como manipuladora, assim como fazem os aliciadores do tráfico, pois a manipulação nas lojas de fast-food começa pelos preços entre os tamanhos sugeridos (pequeno, médio, grande e gigante). A diferença entre o preço do tamanho grande e o do gigante é praticamente nula. O que leva à escolha do gigante pelo cliente, pois faz parte da raça humana contabilizar o lucro.
A indústria do fast-food há muito tempo tem merecido as críticas de certos setores da saúde que acreditam que somos reféns de uma indústria alimentar inescrupulosa, sem preocupação com a saúde dos consumidores e preocupada apenas com o lucro imediato. Além de proibirem o fumo e limitarem o consumo e propaganda do álcool, os governos precisam enfrentar o controle dos alimentos no combate à obesidade, ajudando as pessoas a fazerem a escolha certa.
Algumas causas óbvias para a obesidade
1 – Estilo de vida urbano: muita comida, junk food (enlatados baratos, com altos níveis de açúcar e gordura e beliscados várias vezes durante o dia), televisão como lazer, pouco exercício físico e dietas muito calóricas.
2 – (Só) Exercícios: melhoram a saúde, mas não têm relação direta com a queda de medidas.
3- Herança genética: mais que genética, a influência familiar na obesidade é cultural. Ambiente e estilo de vida podem ser mais significativos que os genes. Casais de gordinhos terão filhos gordinhos até isso ser uma característica dominante na família. Quanto mais pesada é a pessoa, mais fértil ela é, logo, o número de gordos pode aumentar consideravelmente no caminhar da humanidade.
4- Classe social: pobreza tem relação direta com o aumento de peso. Quanto menor a renda, maior a ingestão de comida ruim.
5- Falta de sono: pode alterar níveis hormonais, provocando mais fome e peso.
6- Herança: dietas cheias de açúcares e gorduras na gestação podem influenciar o metabolismo da criança que repassa a herança obesa à frente.
6- Ar condicionado: o corpo queima mais calorias em ambientes livres. Com a temperatura controlada, diminuem as calorias gastas e o peso aumenta.
7- Etnia: pessoas de meia-idade, de origem africana, hispânica e paquistanesa tendem a ser mais pesadas que os jovens europeus. Populações mais velhas e miscigenadas sofrem mais obesidade.
8- Mães mais velhas: quanto mais idade tiver a mulher ao dar a luz, maior será a probabilidade de a criança ser gorda.
9- Remédios: alguns remédios trazem o ganho de peso como efeito colateral.
10- Poluição: altera o nível dos hormônios essenciais e, como alguns são armazenados na gordura, contribuem para o ganho de peso e intoxicação do corpo.
Michael Pollan, autor de O Dilema do Onívoro, guru do movimento contra a obesidade dá algumas dicas:
- Cozinhe em casa, seguindo os princípios da culinária saudável.
- Troque os lanchinhos por frutas.
- Coma mais plantas, especialmente folhas.
- Evite alimentos que contenham algum tipo de açúcar (ou adoçante) listado entre os três primeiros ingredientes. Os itens são listados em ordem decrescente de quantidade no rótulo.
- Quanto mais branco o pão, mais mal ele faz. Evite-o.
- Coma por fome, não por tédio.
- Procure não comer sozinho.
- Compre pratos e copos menores (o recipiente grande estimula a comer mais, daí os grandes pratos dos restaurantes a quilo).
Fonte de pesquisa:
Revista Época nº 620
Revista Galileu nº 225
Nota: A ilustração do texto é um quadro do pintor e escultor colombiano Fernando Botero.
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