Autoria de Lu Dias Carvalho
Embora danna seja o termo que uma esposa usa para se referir a seu marido na língua japonesa, a verdade é que uma gueixa não possui um danna na estrita concepção da palavra. Pois uma gueixa jamais se casa. E caso ela opte pelo casamento, terá que abandonar a profissão, o que já aconteceu a muitas delas.
Muitas versões correm sobre a vida sexual das gueixas. Uns consideram-nas apenas acompanhantes inteligentes e educadas de homens que, muitas vezes, cansados da esposa ou namorada ou até mesmo da solidão, buscam a companhia de tais mulheres apenas para conversar e serem entretidos, sem que haja nenhum contato sexual. Outros as consideram como prostitutas de luxo. Entre uma vertente e outra é possível encontrar um meio-termo.
Segundo a tradição, uma gueixa de verdade jamais se entregaria a um homem por uma noite. Seria como manchar a sua reputação a troco de nada. Pode acontecer que um homem não esteja interessado na sua companhia por apenas uma ou duas noites, mas que além de sua presença quer algo mais, por um longo tempo. É aí que entra a presença de um danna.
Não pensem os leitores que as condições para se obter um danna sejam fáceis. São semanas e semanas de negociações. Muitos candidatos entram no páreo, quando são analisadas as vantagens que cada um oferece. Nada de sentimentalismo piegas. O que conta é a “generosidade” oferecida por cada um deles. Ganha quem oferecer mais. E uma vez conhecidas as intenções do principal candidato, assim como suas po$$es, de modo que possa oferecer à gueixa em questão condições adequadas para uma vida extremamente faustosa, essa ficará muitíssimo feliz em aceitar os arranjo$. Seus ganhos sobem consideravelmente depois que é assumida por um danna.
Para se unirem, gueixa e danna passam por uma cerimônia especial. O que não significa um casamento do tipo “até que a morte os separe”, até porque a grande maioria dos dannas é composta por homens casados com cargos de relevância no país. Certas uniões duram apenas seis meses, indo cada um para o seu lado, sem choro e nem velas.
Vimos em um dos textos anteriores, que a dona do okiya paga tudo para que a candidata a gueixa tenha um bom aprendizado. E que tudo é contabilizado na conta da futura gueixa, que terá, no futuro, que pagar yen por yen. De modo que um danna generoso é capaz de saldar a dívida e obter a sua independência, ou seja, ela terá liberdade de mudar de okiya.
No arranjo entre gueixa e danna ele passa a ter as seguintes obrigações:
• pagar parte das dívidas de sua amante;
• cobrir suas despesas mensais (maquiagem, aulas, médicos, alimentação…);
• dar-lhe bons presentes como jóias e quimonos caríssimos;
- pagar-lhe os tradicionais honorários pelas horas em que ela ficar com ele (como se fosse qualquer outro cliente).
Os leitores poderão perguntar sobre o que ganha um danna com tal união, se ainda paga os tradicionais honorários? É aí que mora o X da questão. O danado terá “certos privilégios” negados aos mortais comuns menos endinheirados. Mas será que tais privilégios valem tanto dinheiro?
Quer dizer que uma gueixa nunca atravessa com o sinal vermelho? Não é bem assim, pois elas são tão humanas como qualquer mulher. Há casos de gueixas que se deixam ceder pelos caprichos de um homem atraente mesmo num único encontro. Mas correm um risco muito grande de serem descobertas e sujarem o nome. E, se tiverem um danna, o caso é mais sério ainda, pois pode acontecer de a gueixa ficar grávida de seu danna e ele ficará muito chateado, se sua amante parir um filho de outro homem. Mas gueixas que assim agem são incomuns, pois seguir paixão não dá quimono a ninguém. Elas preferem pensar na dinheirama que podem ganhar facilmente, seguindo a tradição.
Uma gueixa é preparada para passar seu tempo encantando homens, mas ela traz consigo um objetivo bem definido: encontrar um danna (ou um bobo, como diz certo amigo meu).
Há um ditado que diz: Uma gueixa sem um danna é como um gato vadio na rua, sem dono que o alimente.
Nota: Imagem copiada de
http://www.cidadeverde.com/arigato/arigato_txt.php?id=24103
Fonte de Pesquisa:
Memórias de uma Gueixa/ Arthur Golden
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