Autoria de Lu Dias Carvalho
Na Índia, trabalho e riqueza não são parâmetros suficientes para que o indivíduo melhore de vida. Nesse país, o chamado regime de castas usa critérios de natureza religiosa e hereditária para formar seus grupos sociais. Estudos comprovam que tal separação se deveu, por volta de 600 a.C., à cor da pele (escura) da população invadida, transformada em escravos pelos invasores de pele branca. Recebendo, a seguir, o apoio oficial da religião hinduísta.
As quatro castas mais importantes originaram-se da estrutura do corpo de Brahma (deus supremo da religião hindu), segundo a visão hinduísta. Hoje, existem mais de 3.000 sub-castas não oficiais, e que não param de multiplicar. As principais castas são assim representadas:
- A boca – Brahmin (brâmanes) – compreende os sacerdotes, filósofos e professores;
- Os braços – Kshatriya (xatrias) – formada pelos militares e governantes;
- O estômago – Vaishya (vaixias) – composta pelos comerciantes, pastores e agricultores;
- Os pés – Shudra (sudras) – formada pelos artesãos, operários e camponeses (trabalhadores braçais). Até há pouco tempo, nenhum membro desta casta tinha permissão para conhecer os ensinamentos hindus.
E onde ficam os dalits (ou párias ou intocáveis)? À margem dessa estrutura social ficam os dalits (párias, sem casta, também conhecidos como “intocáveis”). Isto porque, para a cultura hinduísta (constituída por mais de 80% dos indianos), os dalits não pertencem a nenhuma das castas. São apenas a poeira que jaz abaixo dos pés da suprema divindade (Brahma). A eles são entregues os trabalhos mais degradantes e mal pagos. Representam o que há de mais imundo sobre a Terra. E todo aquele que, também, viola as regras de sua casta é expulso do sistema e transformado em dalit, pois a pessoa deve fidelidade absoluta à casta a que pertence. E, uma vez rebaixada, coloca todos os seus descendentes na mesma posição. Trocando em miúdos, toda a família, gerada por ela, é castigada.
Qualquer membro, pertencente a uma das castas, que vier a tocar ou receber um pária, ou mesmo ser coberto por sua sombra, pode não apenas poluir a sua casa e família, assim como toda a casta a que pertence. E, para ser purificado, demanda uma série de ritos, incluindo o jejum e o incenso.
Apesar de a Índia ser um país em franco desenvolvimento, o sistema de castas ainda é muito forte, embora banido da Constituição indiana. É um claro exemplo de como, nos países atrasados, as leis são atropeladas pelos costumes vigentes.
Muitos dalits estão acordando para a realidade cruel que os detém. E, para conseguirem romper, de certa forma, com o passado opressor, convertem-se ao Budismo (mais liberal e igualitário), ao Islamismo ou Cristianismo. Apesar da discriminação sofrida, por parte dos colegas e professores, muitos dalits convertidos a uma nova religião, estão conseguindo um diploma de curso superior. O que tem contribuindo para o nascimento de grandes líderes dalits.
Se na Índia moderna, os párias estão sujeitos a tamanha humilhação, é possível imaginar como é a vida dessa gente nos vilarejos, onde as injustiças são muito mais graves e onde, a maioria dos casos de abusos fica sem apuração, não chegando ao conhecimento público. Os membros das castas mais baixas também têm se rebelado contra a situação em que vivem, ocorrendo várias revoltas pelo país.
As tradições culturais e a forte religiosidade existentes na Índia ainda resistem bravamente às ações governamentais e transformações econômicas, que atingem a realidade presente dos indianos. Enquanto isso, o regime tradicional já contabiliza mais de três mil classes e subclasses, que originam esse complicado sistema de quebra-cabeça da sociedade indiana.
Nota: Imagem copiada de http://www.vancouverdesi.com/news/india/dalits-social-justice-activists-
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