Autoria de Lu Dias Carvalho
O que você está indicando, Hieronymus Bosch, com esse olhar perturbador? E a palidez de seu rosto? Talvez seja espíritos que, como a sombra do deus das trevas, voem em torno de você? Ocorre-me pensar que as tocas do insaciável Plutão, assim como as fortalezas do inferno, se abriram à sua frente, pois a sua mão soube pintar com maestria tal as mais profundas entranhas do inferno. (Hieronymus Cock – sobre a foto acima)
Hieronymus Bosch é um dos mais enigmáticos e fascinanes pintores que surgiram no final do século 15 no norte da Europa. Pouco se sabe sobre sua vida, e tanto a cronologia como o simbolismo e os significados de suas pinturas são ainda debatidos. Pintor de sensibilidade única, ativo num época de rápidas mudanças artísticas, as estranhas visões de Bosch e suas cenas apavorantes tornaram-se ícones visuais da era moderna. (David Gariff)
Nobre e maravilhoso inventor de coisas fantásticas e bizarras. (Ludovico Guicciardini)
Eis o pintor flamengo, famosos por suas representações loucas. (José de Singuenza)
O pintor holandês Hieronymus Bosch (c. 1450 -1516) era um artista profundamente preocupado com a maldade humana e ficou famoso por suas aterradoras representações das forças do mal. Carregava consigo uma visão pessimista do ser humano, que já vivia em pecado desde a expulsão de Adão e Eva do Paraíso, tendo que se preservar na prática do bem para conseguir a salvação, pois a maioria estava condenada aos horrores do Inferno. Considerava a luxúria o primeiro dos pecados.
Bosch nasceu na pequena aldeia de nome s’- Hertogenbosch, na região do Brabante, situada entre a atual Bélgica e os Países Baixos. Possivelmente deve ter tirado o seu pseudônimo do nome de seu lugar de origem, pois seu nome de batismo era Jeroen van Athoniszo on Aken. Veio de uma família de artistas, onde o avô, o pai e dois tios paternos eram também pintores. Possivelmente deve ter estudado com eles. Quase nada se sabe sobre sua juventude. Casou-se com Aleyd Goyaerts van den Meervenne, moça devota e rica, dona de uma propriedade próxima à sua aldeia, para onde se retirava, durante meses seguidos, para trabalhar e meditar. Um de seus irmãos, Goossen, era também pintor.
Bosch ingressou na Irmandade de Nossa Senhora, confraria religiosa de leigos, em que os membros eram tonsurados e usavam batina, vindo a se tornar um notável da ordem, passando a fazer parte de todas as suas atividades: reunião das preces, divisão dos pães com os pobres, celebração de exéquias, adornamento de retábulos, colaboração nas roupagens e máscaras dos Mistérios (representações teatrais que incluíam bailados demoníacos, onde os personagens principais eram os espectros e esqueletos). O que certamente contribuiu para que o pintor criasse fantasias tão alucinantes. Bosch também pode ter se beneficiado da Irmandade, que também funcionava como uma rede de contatos sociais, pois tinha em seu seio as importantes famílias da cidade.
A fama do artista começou a se alastrar meio século após a sua morte, espalhando-se pelo mundo ocidental, de modo que seu catálogo foi acrescido de quadros de imitadores, copistas e falsificadores, que pegaram carona no seu sucesso. O que contribuiu para que ainda haja polêmica quanto à autenticidade de algumas obras tidas como suas. Sem falar que vivia numa família de artistas, sendo suas obras muitas vezes confundidas. O seu catálogo contabiliza entre 25 e 30 peças assinadas e reconhecidas.
A obra de Bosch é fruto da época em que viveu, em que as convulsões religiosas marcam a passagem da Idade Média para o Renascimento, numa sociedade teocrática rígida, atormentada pelo mal, onde o horror ao Inferno e à purgação dos pecados estavam impregnados na mente coletiva. À época, muitos decretos em sua cidade destinavam-se ao fechamento de teatro, dança e jogo, assim como livros, telas e textos eram banidos, caso encorajassem comportamentos tidos como anticristãos. A diversão e o prazer eram tidos como perversão da alma humana e o pecado e a loucura eram vistos como uma degeneração dos sentidos. Portanto, é normal que a arte de Bosch esteja imbuída pelo conflito entre o bem e o mal. O pintor nada deixou sobre seus pensamentos ou sobre o significado de sua arte.
Bosch é tido como o último e talvez o maior dos pintores da Idade Média, sendo, sem dúvida, o maior artista de figuras fantasiosas. Baseava suas figuras em provérbios, lendas, superstições e ensinamentos populares, criando uma iconografia própria. Seu grande sucessor foi Bruegel. Especula-se que sua obra tenha sido uma das fontes do movimento surrealista do século XX, que teve mestres como Max Ernst e Salvador Dalí. Bosch deve ter morrido, provavelmente, aos 65 anos de idade.
Fontes de Pesquisa:
Gênios da pintura/ Abril Cultural
A história da arte/ E.H. Gombrich
Arte em detalhes/ Publifolha
Tudo sobre arte/ Sextante
Grandes pinturas/ Publifolha
Grandes Mestres/ Abril Coleções
Os pintores mais influentes do mundo/ Girassol
Nota: Retrato de Hieronymus Bosch/ Coleção particular
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