Autoria de Lu Dias Carvalho
Na Pré-História, o corpo era arma de sobrevivência, a fim de caçar e correr dos predadores, mas nas primeiras civilizações, os treinos e as atividades sempre estiveram voltados a necessidades coletivas, como guerrear. (Denize Bernuzzi de Sant`Anna)
Como o corpo era considerado sagrado, a Igreja proibia dissecações e estudos de cadáveres. (Luiz Ferla)
Nem sempre o corpo físico gozou do status que possui hoje, ou seja, pertenceu exclusivamente à pessoa, capaz de modelá-lo segundo os seus desejos. A sua história, através dos tempos, mostra-nos como serviu aos mais díspares interesses, que eram mutáveis de acordo com a visão de cada época. Em suma, era escravo da cultura dominante. Durante milênios serviu a diferentes determinações sociais, religiosas ou militares, sem nenhum compromisso com a beleza, tão arduamente buscada atualmente, e também responsável por muitos atalhos perigosos, muitos vezes levando-o à morte.
Na pré-história, nossos antepassados, moradores das cavernas, preocupavam-se apenas em sobreviver, sendo o corpo a arma de melhor embate, tanto na busca por comida (a caça) quanto para lhes possibilitar mais um dia de vida, ao obter forças suficientes para correr dos incontáveis predadores. E se modelo de beleza houvesse naquela época, estaria mais para as gorduchas, vistas como boas procriadoras, como nos mostra a pequena escultura da Vênus de Willendor (ver ÍNDICE), encontrada por arqueólogos, que estipulam sua idade em 28 mil anos.
A Grécia de 1200 a. C., era famosa por seus “gymnasiums”, onde se dava a formação masculina, desde criança. O corpo tinha que ser forte para ser um bom soldado e participar das competições dos jogos públicos. Ali também havia a preocupação com a mente, sendo estudadas as matérias: literatura, música e filosofia. O corpo era visto com normalidade, sendo que os atletas faziam os exercícios desprovidos de roupa. Também o Império Romano tinha preocupação com a formação física de seus soldados, importante para garantir-lhe grandes vitórias bélicas. Ao comparar a vida dos gregos naquela época, vemos como houve um retrocesso na vida dos homens e mulheres. Hoje existe uma busca exacerbada pela malhação, enquanto a formação intelectual evaporou-se. Literatura? Filosofia? Música? O que é isso?
A Idade Média foi um tempo de reclusão e castigo para o corpo físico. A religião amordaçou-o, ao elegê-lo como sagrado, determinando que o casal devesse usá-lo apenas com o fim de procriação. Até mesmo as posições sexuais estavam sujeitas ao julgamento da Igreja. Toda aquela que não se limitasse ao conhecido “papai e mamãe” era tida como bestial e, consequentemente, pecaminosa. Até as preliminares do ato sexual estavam sob o jugo da religião. No gozo, o homem deveria depositar o sêmen dentro do cálice vaginal. Evitar filhos era pecado. E à mulher era vedado ficar por cima do homem, uma vez que ele era o chefe da família. Tal posição depunha contra o macho. As mãos não tinham função durante o ato sexual, pois era pecado provocar a ejaculação, com “toques indecorosos”. Também não se podia negar o sexo, o que constituía um pecado, a não ser que a mulher se encontrasse visivelmente doente.
A Igreja também emperrou o andar da Ciência, ao proibir que cadáveres fossem dissecados e estudados. Constituía pecado grave abrir o corpo, onde se encontrava a casa do divino. Em suma, todas as maravilhas herdadas dos gregos foram jogadas por terra, inclusive os hábitos de higiene e os cuidados relativos à saúde. A morada de Deus não poderia ser conspurcada com cuidados e ações julgados como pecaminosos. Deveria continuar “in natura”, sem nenhum laivo de “conservantes”. Tudo era visto com o intuito de macular a morada do divino. A casa corpórea não poderia ser arrumada. Os corpos fediam. Penosos tempos aqueles!
A chegada do Renascimento, que corajosamente passou a beber nas fontes da Antiguidade Clássica, traz perfume e beleza ao corpo, cujos poros, entupidos de sujeira, começam a respirar com o retorno aos valores humanistas e artísticos. Passa a deixar o cativeiro religioso e ser fonte de beleza e vida, sendo representado, por deusas, ninfas e outros elementos da mitologia grega. Botticelli imortaliza a sua obra com O Nascimento de Vênus (ver ÍNDICE). E assim o fazem muitos outros artistas da renascença. Os grilhões da escravidão religiosa do corpo vão sendo quebrados. Leonardo da Vinci transforma-se num dos maiores anatomistas do período. A Ciência começa a libertar-se. Cadáveres são dissecados, órgãos, ossos e músculos estudados. Grandes descobertas são feitas.
O Renascimento muda o curso da história do corpo, que ganha até proporções, através de O Homem Vitruviano (ver no Índice). Seus pintores e escultores despem anjos, santos, deuses, heróis gregos e bíblicos. E até Jesus Cristo só tem, muitas vezes, o corpo coberto por um ínfimo véu. Os músculos na arte são trazidos à vista. A região púbica não mais escandaliza. Michelangelo expõe aos olhos do mundo o seu escultural Davi (ver no Índice).
Daí para frente, o corpo sofre inúmeras mudanças em seus padrões, sendo muitas vezes judiado. A musculação agiganta os músculos, ou os deforma, segundo alguns. Vem também a fase da busca pela magreza doentia, com risco de morte para o indefeso corpo, sujeito à anorexia e à bulimia. Os “fast foods” entram na competição, com o avultamento e aviltamento do corpo. Por ora, são os últimos na dianteira da parada, pois em todo o mundo as pessoas engordam abusivamente (não me refiro à gordura por problemas de saúde), seviciadas pela gula. As indústrias de alimentos deitam e rolam, muitas delas colocando componentes viciantes nesses. É preciso vender mais e mais! O corpo? Que exploda!
Nota: O Nascimento de Vênus, pintura de Sandro Boticcelli
Fontes de pesquisa
Corpos de Passagem/ Denize Bernuzzi de Sant`Anna
Políticas do Corpo/ Denize Bernuzzi de Sant`Anna
Aventuras na História/ Editora Abril
História da Vida Privada/ Companhia das Letras
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Não entendi nada sobre o corpo através dos tempos.
Lidiane
Leia mais uma vez com calma, se ainda assim não conseguir entender, peça a ajuda de alguém de sua família ou de uma amiga.
Agradeço a sua visita e comentário. Volte sempre!
Beijos,
Lu
Texto maravilhoso! Os gregos sabiam o que era viver em harmonia com o corpo. O que vemos hoje na culinária, com tantas ofertas de “fast foods”, é um verdadeiro suicídio coletivo.
Valéria
Muito obrigada por sua visita. Sinta-se em casa.
Realmente temos muito a aprender com os gregos da Antiguidade Clássica. Aquela gente, naquela época, era dotada de grande sabedoria. Portanto, não nos assusta a volta em busca da cultura daquele povo.
Valéria, estou pesquisando sobre a mitologia greco-romana. Penso que você irá gostar muito. Já foram postados no blog três artigos, escritos numa linguagem bem acessível aos dias de hoje.
Volte sempre!
Abraços,
Lu