Steenwyck – AS VAIDADES DA VIDA HUMANA

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Autoria de Lu Dias Carvalho

Vaidade das vaidades, tudo é vaidade. (Eclesiastes 1:2)
 
O pintor Harmen Steenwyck (1612 – c.1655) nasceu na cidade de Delft, onde passou grande parte de sua vida. Ele e seu irmão Pieter estudaram com o tio David Bailly, com quem   trabalharam em sua oficina. Sabe-se pouquíssima coisa sobre sua vida e suas obras.

A composição intitulada As Vaidades Humanas – também conhecida como A Alegoria das Vaidades Humanas – é uma obra do artista. Este tipo de natureza-morta – que na verdade é um trabalho religioso – é chamado de “vanitas” que em latim significa “vaidade”, algo sem valor. A pintura é uma alusão à morte e ao vazio da vida que nesta obra diz respeito a muitos aspectos da vida holandesa da época. Os holandeses – em sua maioria calvinista – eram extremamente religiosos, dotados de uma moral rígida, mas também ligados aos avanços científicos, como o uso da óptica e da lente com a finalidade de observar o mundo natural. Eram aficionados por colecionar obras de arte e objetos bizarros.

A natureza-morta era, à época, tida como uma pintura de menor valor, não fazendo parte da grande arte. Foram os pintores do norte europeu que mudaram tal visão com o uso de uma técnica detalhista. Os holandeses foram exímios neste tipo de arte, elevando a natureza-morta – até então desdenhada pelas academias de arte – a um patamar de igualdade.

A tela mostra-se mais pesada à direita, contudo, um feixe de luz em diagonal incide sobre a parte esquerda equilibrando-a, além de dar destaque ao objeto mais importante da pintura que é o crânio humano, onde reside o ponto forte da temática  – a alusão à brevidade da vida. Contudo, a luz que é um símbolo cristão relativo ao eterno e ao divino, ali se encontra para alertar que existe vida após a morte. Cada objeto traz um significado simbólico:

    • O crânio humano (momento mori) é o único elemento inequívoco que diz respeito à certeza da morte.
    • A concha vazia – posicionada à direita na ponta da mesa – à época simbolizava a riqueza que também é vã. E o fato de encontrar-se vazia diz respeito à breve passagem humana pela vida terrena.
    • O relógio em forma de cronômetro aberto – situado próximo ao crânio – tem como função lembrar que o tempo é limitado para todos os viventes.
    • A enorme espada japonesa, ricamente trabalhada, simboliza o efêmero poder terreno. Ela lembra que nem mesmo a força pode vencer a morte. Por mais poderoso que um homem seja, ele sempre estará sob seus ditames.
    • A flauta (como a charamela à direita) é um símbolo fálico, estando, portanto, ligada aos prazeres sensuais e eróticos, mas a morte leva tudo isso consigo.
    • A lamparina apagada, com a fumaça ainda agonizante em seu bico, também simboliza a fugacidade e a fragilidade da vida humana.
    • Um grande jarro jaz sobre um livro, à direita. Pode ser visto como uma alusão à embriaguez, pois costumava guardar vinho.
    • A charamela (forma medieval de oboé), assim como os demais instrumentos musicais da obra, está ligada ao amor, pois a música era alusiva à corte e ao ato sexual. Por isso, simbolizam a futilidade da busca pelo conhecimento musical.
    • A forma abaulada do alaúde remete ao corpo feminino e os instrumentos de sopro tradicionalmente dizem respeito ao órgão masculino.
    • Os livros dispostos na mesa simbolizam o conhecimento e a cultura, mas ainda assim, há nisso o perigo da vaidade.
  • O tecido de seda simboliza o luxo físico, pois se trata de um material muito caro. E a cor roxa era o corante mais caro usado à época.

Como a sociedade holandesa era muito religiosa, estava ligada, sobretudo, ao Velho Testamento, livro muito estudado pelos calvinistas tanto nas igrejas quanto em casa. O artista deve ter se inspirado no livro do Eclesiastes (Antigo Testamento) para executar sua obra. Porém, sendo as pinturas de “Vanitas” muito populares – tanto entre cristãos protestantes quanto entre católicos fervorosos –, havia uma ironia no gênero, pois os objetos colecionados que serviam de modelo para as pinturas tornaram-se objetos “Vanitas” em si, ou seja, seus donos ajuntavam aquilo que condenavam.

Ficha técnica
Ano: c. 1645
Técnica: óleo sobre carvalho
Dimensões: 39 x 51 cm
Localização: Galeria Nacional de Londres, Grã-Bretanha

  • Fonte de pesquisa
    Arte em Detalhes/ Publifolha
    http://www.artyfactory.com/art_appreciation/still_life/harmen_steenwyck.htm

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