Autoria do Dr. Telmo Diniz
Quando um paciente chega ao hospital para receber um simples atendimento, pode ser vítima de uma via sacra com uma espera interminável, se deparar com pessoas despreparadas ou, algo ainda pior, não ter o atendimento humanizado que se espera de instituições que deveriam, em última instância, cuidar. Infelizmente, este é um retrato do cotidiano de vários dos hospitais brasileiros, onde os profissionais correm de um lado para o outro tentado cumprir suas jornadas, mas sem se preocupar com o principal: a pessoa. Todos focados e preocupados com a doença e nada com o próximo.
Os procedimentos médicos e os métodos do atendimento em saúde, na maioria das vezes, desconsideram as necessidades emocionais e psicológicas dos pacientes e seus familiares. O descaso no trato com o outro, salvo raras exceções, apresentam sua verdadeira face através da arrogância, do descaso, da falta de vocação, do desinteresse, do mercantilismo, da insensibilidade, da falta de preparo, entre outras injúrias. Dificuldades enfrentadas pelos usuários da saúde poderiam ser evitadas, quando o paciente passa a ser visto de forma humanizada; quando o trabalhador da saúde passa a enxergar o outro como um parente seu; quando passa a dar a devida atenção e ouvir, compreender, acolher e respeitar suas opiniões, suas queixas e necessidades imediatas.
Humanizar o atendimento em saúde deveria ser uma prioridade dos hospitais, pois quem lá está não o faz por que quer e, sim, por que necessita. Humanizar é investir em melhorias nas condições de trabalho dos profissionais da área de saúde e trabalhar a educação continuada sobre o tema. É esgotar com a equipe as possibilidades do paciente se sentir em casa, enquanto está no hospital. Isso é realmente possível! E é por essa razão que atualmente a humanização e o investimento no bem-estar do paciente vêm sendo objeto de intenso debate. Porém, a prática humanista só pode ser observada em alguns poucos hospitais.
O que vemos hoje é mais ou menos assim: “Aonde você vai?”, pergunta um. “Vou lá na dona do 505 pra ver a pressão dela!”, responde outro. Nomes não existem, somente números de prontuários e de apartamentos. Em outro setor, a enfermeira fala para o acompanhante: “Olha senhora, a gente aqui, no máximo, dá banho de leito. Eu não aguento o peso do seu marido!”. E em outro local, uma cena pode ser vista com muita frequência – a pessoa vai pedir algo ao técnico de enfermagem que está de plantão e logo vem a resposta: “Vou daqui a pouco!”. E a espera somente acaba quando há uma medicação a ser administrada. Volto a insistir, a doença se sobrepõe em importância aos doentes que querem, muita vezes, uma pequena atenção.
A assistência à saúde deve ir além da abordagem clínica do paciente, ela deve ser fundamentalmente humanista, e o profissional de saúde deve deixar de considerar somente a doença, passando a cuidar do doente, da pessoa, daquele que padece. Além do corpo físico, o paciente deve ser entendido de forma globalizada, em especial no campo do afeto, do apoio no momento da dor e uma atenção redobrada quando a fragilidade aperta. Fica o alerta a todos os profissionais da saúde.
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Lu,
Tenho observado que eu e muitos outros seres “humanos” não temos uma conduta respeitosa nos momentos de estresse. Além disso, ouso dizer que os médicos formam uma “casta”. Em muitos casos, se não na maioria, os estudantes de medicina são filhos de médicos. E, quando profissionais se fecham dessa forma num grupo, tendem a se tornar seres humanos mais egoístas. Quero ressaltar que não sou nenhum santo e que me considero egoísta também. Mas no ofício de médico, o egoísmo fica mais chocante e evidente.
Dizem que no SUS a remuneração do médico é muito pequena. É provável que seja verdade. Na minha opinião, melhor seria que médicos e demais profissionais que lidam com doentes (os que não conseguem se controlar) não aceitassem a remuneração, se ela é muito injusta, e fossem trabalhar num outro ofício, onde dessem patada em pessoas saudáveis, que não estivessem se sentindo tão desamparadas.
José Elias
Concordo plenamente. Quando uma pessoa procura um médico, ela já se encontra por demais fragilizada. E espera ser, no mínimo, ser tratada com atenção. Mas é triste ver que os médicos, em sua maioria, transformaram-se numa casta muito desumana. O Dr. Telmo foi muito feliz no seu texto, ao levantar um problema tão sério. Você diz com muita propriedade:
“Na minha opinião, melhor seria que médicos e demais profissionais que lidam com doentes (os que não conseguem se controlar) não aceitassem a remuneração, se ela é muito injusta, e fossem trabalhar em outro ofício, onde dessem patada em pessoas saudáveis, que não estivessem se sentindo tão desamparadas.”.
Muitos nem se lembram do juramento que fizeram, que é, por sinal, muito bonito. Mas palavras o vento leva. A tônica hoje é enriquecer, sem nenhum respeito pelo doente e sua família. Soube até que existe, dentre os inúmeros comércios, o de prótese. Que tristeza!
Abraços,
Lu
Lu
Certíssimo este comentário. E atualíssimo também. Fragilizado pela doença, o paciente sofre duas vezes, diante da
frieza e do mau atendimento.
Abraços
Matê
Matê
É uma pena que assim seja, pois eles fazem um juramento tão lindo. Mas vivemos no mundo do faz de conta, onde a usura é a bússola.
Abraços,
Lu
Dr.Telmo Diniz, por experiências pessoais, sei que os especialistas de saúde por vezes não estão preparados, falta-lhes a parte humanista. Eles se preocupam com a doença, mas não com o doente,não há humanismo. Meses atrás, eu tive que passar por duas cirurgias em dois dias, pois a primeira correu mal, e deu para me aperceber da falta de humanismo, muitos não fazem esforço para compreender o doente.
Abraços
Rui
Você diz uma grande verdade, reafirmando exatamente aquilo que o Dr. Telmo critica. Parabéns pelo seu comentário.
Abraços,
Lu
Na verdade Lu, a parte humanista não falta só na saúde, mas nos humanos.
Abraços carinhosos,
Rui
Rui
Que mundo estranho é este, que tem como parâmetro o poder e o enriquecimento? Esta ganância, vista antes apenas em alguns setores da sociedade, estende-se hoje por toda a humanidade, como uma praga maligna.
Abraços,
Lu