Autoria de Lu Dias Carvalho
Um grupo de lavradores, acompanhado de seus filhos e mulheres, adentrou pela descomunal cidade, em direção ao palácio do governador. E lá fincou pé, pedindo um naco de terra. Iria dizer ao maioral que só queria “Debulhar o trigo/ Recolher cada bago de trigo/ Forjar no trigo o milagre do pão/ E se fartar de pão”. Não queriam só os sete palmos, quando mortos estivessem.
O mandachuva nem deixou o grupo entrar, pois iria sujar de terra (Que ironia!) os tapetes persas que ornamentavam seu gabinete. Decretou que fossem embora. Mas eles não arredaram do local. E cantaram que só queriam “Decepar a cana/ Recolher a garapa da cana/ Roubar da cana a doçura do mel/ Se lambuzar de mel”. Desejavam apenas um fiapo de seu Estado, e, que todo o resto poderia ficar com o governador e os seus prosélitos.
Insatisfeito com tamanho desacato, o governador chamou os “homens da lei”, e ordenou que retirassem os “bandidos” por bem ou por mal, ainda que tivessem que descer o sarrafo, pois direitos humanos era conversa fiada de humanitários. Mesmo debaixo de cassetetes, balas de borracha, gás de efeito moral e golpes de enforcamento (mata-leão), os agricultores gritavam que só queriam um pedaço do solo para “Afagar a terra/ Conhecer os desejos da terra/ Cio da terra, a propícia estação/ E fecundar o chão”. Coisa que ele e seu séquito jamais fariam, pois tinham horror a “sujar” a mão na terra.
Obs.: Clique no link para ouvir CIO DA TERRA
Nota: Os Agricultores, obra de Vincent van Gogh
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