THOREAU E AS ROUPAS NOVAS

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Autoria de Lu Dias Carvalho

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Os homens geralmente preocupam-se mais em ter roupas elegantes […] do que em ter uma consciência limpa. (Thoreau)

 Somente quem vai a soirées e bailes legislativos precisa de casaca nova, mudando de casaca com a mesma frequência com que muda o homem dentro dela. ( Thoreau)

Se o vestuário em seus primórdios tinha por objetivo manter o calor vital e cobrir a nudez, isso não deve ter durado muito tempo, pois os armários e guarda-roupas estufam-se mais e mais. Foi-se o tempo em que uma peça de roupa, de tanto ser usada, moldava-se ao corpo do dono, oferecendo-lhe conforto e trazendo impresso o seu caráter. Hoje, na grande maioria das vezes, tem sentido oposto, ou seja, o de camuflar os traços particulares inapropriados de certos usuários e usurários num mundo em que o “ter” a qualquer preço dá as cartas, suplantando o humilde e cada vez mais envergonhado “ser” que cada vez se consome diante da prepotência do “eu”.

O estadunidense Henry David Thoreau (1817-1862) que foi historiador, filósofo e pesquisador, dentre outros predicados, questiona “até que ponto os homens conservariam sua posição social se tirassem suas roupas”, ou seja, se passassem a andar nus.  Eu me embrenho em tal indagação e dou boas risadas imaginando uns “certos tais” peladões, com suas protuberâncias e penduricalhos à vista, e “outras tais” desprovidas de balangandãs, mas turbinadas como um foguete da NASA. Será que a empáfia, a prepotência e a arrogância ainda permaneceriam visíveis? Seria possível separar os “sem classe” dos pertencentes às  “classes respeitáveis”? Será que as autoridades não passariam a ser apenas “otoridades”? Concluo então que a roupa é um álibi para esconder a real natureza humana, mas não para os pobrecos que as têm em quantidade tão pequena que essas já trazem a modelagem do corpo e seu caráter impressos. Não é pela roupa que a polícia avalia o infrator? Se malvestido: “Teje” preso! Se elegante: Pode passar, “dotô”! Se mal arrumado: É bandido! Se donairoso: Esse é gente de bem! E assim, navega a humanidade através das aparências.

Thoreau também nos põe em xeque-mate quando pergunta: “Se o homem não é um novo homem, como as roupas novas vão lhe servir?”. De nada adianta ser por fora bela viola e por dentro pão bolorento, dizia meu avô acerca dos  janotas de seu tempo. Tadinho, se vivesse hoje ficaria decepcionado, pois adianta muito, desde que junto à vestimenta pomposa seja anexado um “dr.” ou um “nobre colega”, ainda que dos mais fajutos, sem classe alguma. Vindo em defendimento do meu avozinho, Thoreau adverte-me: “Cuidado com todas as atividades que requerem roupas novas em vez de um novo usuário das roupas.”. Isto é verdade! Não se pode usar as roupas novas como embuço para os ardis prontos para serem perpetrados contra os que só podem usar roupas velhas. Mas é assim que anda a carruagem!

Existem “certos tais” – alcunhados de defensores públicos ou de representantes do povo – que usam uma montanha de roupas novas, pagas pelo mesmo povo que espolia, encomendando suas vestiduras  sob medida para esconder o seu caráter nato e questionável. Seria bom que eles se indagassem, como fazia Thoreau: “De que adianta tirar minhas medidas, se elas não medem meu caráter, mas apenas a largura de meus ombros?”. O nosso personagem também não deixa de dar uma cutucada nas gerações posteriores, quando sabiamente diz: “Toda geração ri das modas antigas, mas segue religiosamente (e pateticamente) as novas.”. O mais constrangedor é que as gerações passadas ainda pareciam carregar um naco de autocrítica, coisa em desuso na de hoje.

Aos sugadores do suor alheio, aos gatunos do erário público, aos janotas e outros semelhantes ensina Thoreau: “Toda roupa fora do corpo é patética ou grotesca. É apenas o olhar sério e perscrutador no rosto acima dos trajes e a vida sincera sob eles que refreiam o riso e consagram a indumentária.”. É pelo fato de o bom caráter encontrar-se em desuso que as pessoas são julgadas cada vez mais pelas roupas que usam e muito menos por aquilo que realmente são. E viva o nudismo!

Fonte de pesquisa:
Walden/ H. D. Thoreau

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4 comentaram em “THOREAU E AS ROUPAS NOVAS

    1. LuDiasBH Autor do post

      Gabriela

      Agradeço a sua visita e comentário. Será sempre um prazer recebê-la neste espaço.

      Abraços,

      Lu

      Responder

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