Autoria do Dr. Telmo Diniz
Lidar com uma dor crônica muitas vezes se torna uma difícil e longa jornada. Geralmente, começa como um problema aparentemente simples, mas que aos poucos parece não ter fim, levando a pessoa a ter sentimentos de desesperança, depressão, isolamento social, etc. A OMS estima que cerca de 30% da população mundial apresente algum tipo de dor crônica.
É importante entender que a dor é uma reação fisiológica desagradável, mas necessária para nossa sobrevivência. Sentimos quando nos machucamos e isso nos faz ficar alerta, para que não voltemos a nos machucar daquela maneira novamente. Além disso, a dor serve para nos avisar que algo não está bem, podendo indicar doenças que, de outra forma, passariam despercebidas. A dor aguda é um alerta do corpo e a dor crônica é “uma pedra no sapato” de que a tem.
Alguns pesquisadores descrevem a dor crônica como aquela que persiste por pelo menos três meses. Outro critério a aponta como uma dor que se estende para além do período esperado para a cura. As dores crônicas geralmente não têm uma resolução simples e necessitam, muita vezes, de um acompanhamento interdisciplinar envolvendo profissionais de diversas áreas da saúde, como médico, enfermagem, fisioterapia, psicologia, dentre outros.
É um erro considerar a dor crônica uma versão prolongada da aguda. Quando os sinais de dor são gerados repetidamente, os circuitos neurológicos sofrem alterações eletroquímicas que os tornam hipersensíveis aos estímulos e mais resistentes aos mecanismos inibitórios da dor. Disso resulta uma espécie de “memória dolorosa”, guardada na medula espinhal. Estudos recentes têm demonstrado que essa “memória dolorosa” está ligada a mediadores químicos muito semelhantes aos envolvidos no processo intelectual da memória.
Se você tem uma dor crônica, fique atento a dois terços do seu dia. Duas das principais causas de dores crônicas estão ligadas a tarefas as quais dedicamos, em média, dois terços de nosso dia: o trabalho de dia e o sono à noite. Observar a postura em que realizamos essas duas atividades e as condições físicas em que as fazemos são de extrema importância. A dor crônica mais comum está naquelas ligadas a problemas na coluna. Devemos escolher um colchão não muito mole e devemos deitar de lado, de modo que todo o corpo fique alinhado. Nunca deitar de barriga para baixo. Durante o dia, devemos sentar com o quadril no encosto da cadeira e os joelhos alinhados a 90º.
De forma geral, o tratamento das dores crônicas passa por algumas mudanças. Exercícios físicos são fundamentais, pois aumentam a liberação de endorfinas que dão a sensação de bem-estar. Fisioterapia e fortalecimento muscular podem ser indicados em alguns casos. O uso de medicações só terá indicação se for feito o diagnóstico por um médico. A prática da automedicação tende a piorar as dores crônicas. Por fim, procedimentos invasivos como o bloqueio da dor e a cirurgia estão restritos a casos específicos. Além desses recursos, muitas vezes é necessário promover uma mudança radical para hábitos de vida mais saudáveis.
Willian Shakespeare disse: “Todo mundo é capaz de dominar uma dor, exceto quem a sente”.
Nota: a ilustração é uma obra do pintor Henri Matisse.
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