Autoria de Lu Dias Carvalho
O início do século XVI — conhecido pelos italianos como “il Cinquencento” (anos quinhentos) — é sem dúvida o mais notável período da arte italiana e um dos mais ricos da arte europeia como um todo. Artistas excepcionais viveram nesse período. Foi a época de Leonardo da Vinci e Miguel Angelo (Michelangelo), Rafael e Ticiano, Corregio e Giorgione, dentre outros. No norte europeu também surgiram grandes mestres das artes como Dürer e Holbein, dentre outros. Muitos se perguntam sobre o porquê de um mesmo período — intitulado Alta Renascença — congregar artistas tão grandiosos.
Vimos anteriormente que o artista italiano Giotto di Bondone tornou-se imensamente famoso — motivo de orgulho para a cidade de Florença. As cidades-estados rivalizavam entre si, cada uma buscando grandes mestres que as embelezassem, ao criar grandes obras de arte e, assim, elevar o nome de seus governantes. Infelizmente os países feudais do norte europeu não contavam com essa vontade de formosear suas cidades em razão da pouca liberdade aí existente e da falta de orgulho da população local, o que nos leva à compreensão do quanto é importante um povo sentir orgulho da cidade, Estado ou do país onde vive.
Outro ponto que contribuiu para a explosão dos grandes mestres nas artes está ligado às grandes descobertas, pois essa foi uma época em que os artistas italianos tiveram uma relação muito grande com a matemática, buscando conhecer as leis da perspectiva e estudar a anatomia humana, o que os levou a obter um grande conhecimento relativo à construção do corpo humano. Ao trilhar por esses caminhos, eles expandiram sua visão de mundo, deixando de considerar-se meros artífices na execução de encomendas, como acontecia até então. O grande conhecimento que eles obtiveram, emanciparam-nos e aumentaram a sua valorização pessoal. Passaram a se ver como mestres autônomos, sabedores de que sua fama estava ligada à exploração dos mistérios da natureza e à busca pelas leis ocultas do Universo.
Como o conhecimento gera a capacidade de reflexão, o que — por consequência — possibilita a autovalorização, os grandes mestres passaram a não se sentir satisfeitos com o tratamento que recebiam e que em muito se assemelhava ao da Grécia antiga, quando os esnobes faziam diferença entre aqueles que trabalhavam com o cérebro (poetas, escritores, etc.) e aqueles que trabalhavam com as próprias mãos, como se esses também não usassem o cérebro. A fim de eliminar essa visão tosca e equivocada, os artistas passaram a sentir ainda mais estimulados a buscar realizações cada vez mais importantes, a fim de se fazerem respeitados e aceitos como pessoas dotadas de dons especiais e de grande capacidade intelectual. Essa luta não foi fácil, como explica o Prof. E. H. Gombrich em seu livro “A História da Arte”: “O esnobismo e o preconceito social são forças poderosas, e muita gente que convidaria prazerosamente para sua mesa um erudito que falava latim e sabia usar a frase certa, hesitaria em estender esse privilégio a um pintor ou escultor”.
Nessa luta por uma merecida posição social, os artistas contaram com a ajuda dos mecenas, pois quanto mais importante fossem, maior seria a fama de seus mecenas. Como se dava, então, essa relação entre artistas e mecenas? As pequenas cortes italianas, governadas por famílias menos influentes, buscavam honra e prestígio. Para tanto, elas necessitavam de perpetuar o próprio nome. E a arte podia lhes oferecer isso, através da edificação de belos edifícios e túmulos, da decoração de altares, capelas, etc. Assim, aumentou a busca pelos grandes mestres e esses passaram a fazer suas próprias exigências. Lembrem-se de que em épocas anteriores era o artista quem se sentia privilegiado ao prestar “favores” a essa ou àquela família. Os papéis inverteram-se, pois, ao aceitar uma encomenda, eram eles quem concedia um favor, não mais se subordinando aos caprichos dos clientes.
Exercício:
1. O que foi a Alta Renascença?
2. O que levou à valorização do artista?
3. Que lição nos ensinam os países feudais do norte da Europa?
Ilustração: Detalhe de Madona Sistina (1512), obra de Rafael Sanzio.
Fonte de pesquisa
A História da Arte / Prof. E. H. Gombrich
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Lu
Este artigo evidenciando a busca pela valorização do artista deixa claro o quanto a liberdade, o reconhecimento e a valorização são molas propulsoras para a motivação e a criatividade. Fica a sugestão para quando esgotar o tema, fazer uma projeção da arte pictórica futurista.
Antônio Messias
Nós iremos estudar todos os inúmeros estilos contemporâneos, onde entram as possibilidades de caminhos que a arte deverá tomar no futuro.
Abraços,
Lu
Lu
Vimos em aulas anteriores a importância das transformações culturais, sociais, econômicas, políticas e religiosas. Assistimos à transição do feudalismo para o capitalismo. Essas mudanças trouxeram uma grande evolução para as artes, filosofia e ciências. Os mecenas protegeram a produção cultural renascentista, garantindo o sustento e o crescimento dos artistas.
Marinalva
Os mecenas foram de grande importância para as artes, pois, além de reconhecer o talento dos artistas, ainda lhes proporcionava trabalhar unicamente com a criação, sem precisar fazer dela um bico. As transformações havidas nos diversos campos propiciaram tais mudanças.
Abraços,
Lu
Lu
Parece-me que os Mecenas foram de extrema importância para o desenvolvimento das artes no período do Renascimento, considerando que os artistas ficaram menos dependentes da Igreja – que exigia obras de cunho religioso – como pelo crescimento do número de profissionais das artes. É isso mesmo?
A devaldo
Os mecenas foram fundamentais para o desenvolvimento da arte, principalmente porque se tratava de uma época em que poucos eram os detentores de riqueza, podendo investir na arte. Como vimos na disputa entre as cidades italianas para ver qual se destacava mais, os mecenas – normalmente pertencente às famílias governantes e à Igreja – eram de suma importância no favorecimento aos artistas.
Abraços,
Lu
Lu
O texto aborda uma mudança de paradigma interessante, quando mostra que na Idade Média os artistas se sentiam privilegiados com encomendas de obras artísticas, feitas apenas pelos mecenas e pelo clero e no Renascimento houve uma inversão de valores, sendo que as famílias que faziam as encomendas é que sentiam se lisonjeadas. O artista passou ser um ícone nas artes, promovendo uma conquista de sucesso e fama muito grande no período renascentista.
Hernando
Houve realmente uma grande mudança no trato com os artistas que passaram a ser respeitados e ter seu trabalho valorizado, o que não acontecia antes, tendo eles que se sujeitar totalmente às ordens do responsável pela encomenda. Essa mudança ocorrida no Renascimento foi de grande importância para arte, pois os criadores puderam interferir em sua própria criação. A Renascença foi mesmo uma época de grandes mudanças em todos os campos da vida humana.
Abraços,
Lu