Autoria de Lu Dias Carvalho
Você pode atirar (os alimentos) para eles do barco. Eles têm fome e são muito pobres. Não conhecem nenhum destes produtos (biscoitos, pães, pacotes de salsicha…). (Vendedora chinesa sobre os norte-coreanos)
Um DVD é mais difícil de esconder. Já se os guardas pegam você com um pen drive, basta engoli-lo. (norte-coreano exilado em Seul)
O governo de Pyongyang é muito isolado e hoje não há nenhum interlocutor que possa negociar com o país. Muitos analistas descartam essa possibilidade por acreditarem que é insano para a Coreia do Norte entrar em um conflito que não pode sustentar. Porém, não se pode descartar essa possibilidade. (Alexandre Uehara).
Com a vitória dos aliados na Segunda Guerra Mundial, em 1945, quando foi posto um fim ao domínio colonial japonês na Coreia, que já durava 35 anos, Estados Unidos e Rússia negociaram o domínio partilhado da ex-colônia japonesa, embora encontrassem uma oposição quase que total por parte dos coreanos. As duas potências alegavam que a nova tutela seria questão de tempo, até que a Coreia estivesse apta para dirigir o seu próprio destino. Mas os dois países apoiaram líderes diferentes, o que levou ao estabelecimento de dois Estados: o do norte, governado pela União Soviética e o do sul, pelos Estados Unidos
Como nenhuma das duas partes da Coreia estivesse satisfeita com a divisão obrada por russos e norte-americanos, em 1950, os norte-coreanos tiveram o apoio da China e da União Soviética para invadirem a parte sul, vindo imediatamente os Estados Unidos em auxílio de seus protegidos, os sul-coreanos. A guerra civil durou 3 anos, ao fim dos quais se deu a divisão da Coreia em dois países: Coreia do Norte, comunista, e Coreia do Sul, capitalista, separadas pela Zona Desmilitarizada Coreana (faixa de segurança que tem por finalidade proteger o limite territorial entre as duas repúblicas coreanas), estabelecida no paralelo 38.
Os habitantes da Coreia do Norte vivem debaixo do mando de uma dinastia assaz cruel, agora comandada pelo impiedoso Kim Jong-um, o Supremo Líder, filho do falecido Kim Jon-il, o Querido Líder, e neto do também falecido Kim Il-sung, o Sol da Humanidade. Ainda bem que são eles mesmos que se dão os títulos honoríficos, caso contrário perderiam para os adjetivos endereçados a Satã, tamanha é a maldade que reina naquele pedaço de mundo.
Até o ano de 1945, as duas Coreias eram unificadas, de modo que as últimas gerações que vivem na Coreia do Norte nada conhecem do mundo livre, uma vez que todas as informações, a que o povo tem acesso, passam pelo crivo do governo, ou melhor, são produzidas pela propaganda oficial, tecendo loas ao governante e ao estilo de vida do país, embora os computadores contrabandeados venham trazendo dor de cabeça para o Supremo Líder e perigo para os corajosos contrabandistas, pois se trata de um crime gravíssimo no país.
A década de 90 trouxe o esfacelamento da União Soviética (URSS) e, consequentemente, a fome para a Coreia do Norte, que recebia uma “mesada” do regime comunista soviético. Os norte-coreanos tornaram-se cada vez mais distantes de seus irmãos do sul, e muitas diferenças separam hoje os dois povos, que há 68 anos eram irmãos, filhos de uma mesma pátria, situação similar ao que aconteceu com a Alemanha, hoje unificada. A diferença mais gritante é a ocasionada pela fome, fator que vem influenciando no desenvolvimento físico dos norte-coreanos, que atualmente estão, em média, 11 centímetros mais baixos e dez quilos mais magros do que seus irmãos sul-coreanos. A situação é tão caótica que uma cidade chinesa, Dandong, separada da Coreia do Norte apenas por um rio, vende alimentos para turistas que, de lanchas, jogam-nos para os norte-coreanos famintos. Outra diferença gritante entre os povos das duas nações é a cultural. Na Coreia do Norte, o acesso à educação praticamente inexiste, ao passo que na Coreia do Sul, um aluno estuda cerca de 7 horas diárias, além de frequentar cursos extracurriculares e se posicionar entre os melhores do mundo.
Energia na Coreia do Norte é um luxo, e as famílias parecem viver ainda na época medieval com seus candeeiros, dormindo e levantando de acordo com a luz do sol. Quando não há comida, energia e educação, nem é preciso falar da tragédia vivida pelos norte-coreanos em relação à saúde. A vida dessa gente é tão miserável e reprimida que o simples fato de omitir o “tratamento honorífico” obrigatório, ao se referir a um dos “seres supremos” da dinastia Kim, pode enviar o sujeito “relapso” a um guleg (campo de trabalhos forçados).
Os norte-coreanos, que conseguem fugir do inferno comunista para a Coreia do Sul, vivem escondidos e mudam o nome para não serem descobertos por espiões postados naquele país pelo governo ditatorial do Supremo Líder. Além disso, precisam aprender coisas consideradas simples para o mundo civilizado, tais como andar de escada rolante, manusear cartão de crédito, caixa eletrônico, forno de cozinha, entre outras. Segundo contam os refugiados, a propaganda de Kim Jong-un ensina que:
- a guerra civil começou com a invasão da Coreia do Sul à Coreia do Norte (deu-se o contrário);
- a Coreia do Norte é o “paraíso dos trabalhadores” (que na verdade vivem miseravelmente);
- a Coreia do Norte é a segunda nação mais feliz do planeta, ficando atrás apenas da China (na verdade são tidos como cidadãos de segunda categoria pelos países ricos do continente asiático, e o país pode ser comparado aos mais pobres da África);
- a Coreia do Sul é uma nação paupérrima e seus desempregados sonham em fugir do país e se mudar para a Coreia do Norte (é exatamente o contrário).
O fato é que o governo de Kim Jong-un é um dos mais repressivos e fechados do mundo, onde a mídia não tem voz e a população tem total desconhecimento do que acontece além das fronteiras do país, como se vivesse num outro planeta. Os cidadãos não podem deixar o país, o uso de internet e de celular são restritos. O país vive hoje uma aguda recessão, com a pouca verba sendo destinada à compra de armas, no intuito de amedrontar seus inimigos. Sobre o uso da bomba atômica, assim explica o cientista político Alexandre Uehara:
O país é muito pobre, sua população passa fome. Por isso, a Coreia do Norte depende muito da ajuda internacional, principalmente da China e do Japão. E é possível que a nação tente usar seu poder nuclear para barganhar por mais privilégios e até pela possibilidade de negociar diretamente com os Estados Unidos. Se houvesse o conflito, a China provavelmente se colocaria ao lado da Coreia do Norte, enquanto os Estados Unidos defenderiam a do Sul. Seria a terceira maior economia do mundo enfrentando a primeira, o que traria consequências para todo o mundo. Além disso, poderiam se envolver também Rússia, Índia e Paquistão, colocando o Oriente Médio dentro do conflito.
A ditadura norte-coreana mantém cerca de 300.000 homens, mulheres e crianças em campos infernais de trabalho forçado, enquanto milhões de pessoas estão condenadas a viver vitimadas pela fome, ignorância e pela mentira elaborada por uma das ditaduras mais cruentas da história da humanidade. Se até o poderoso Império Romano desmoronou, resta-nos a esperança de que aconteça o mesmo com a Coreia do Norte, pois essa é a Lei do Retorno.
Fontes de pesquisa:
Revista Veja/ maio de 2013
Info Escola
Nova Escola
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Lu,
Os fatos apontados na Revista Veja sobre a Coreia do Norte são realmente impressionantes. Entretanto, pouco se sabe sobre a verdadeira realidade existente naquele país, subjugado há anos por uma ditadura. Entretanto, considero que os regimes fechados, comunistas ou não, sonegam de seus habitantes um dos seus maiores bens: a liberdade – no sentido amplo do termo.
Tenho conversado com profissionais brasileiros insuspeitos que, por força de seu trabalho, estiveram na China e nas proximidades da fronteira com a Coreia do Norte. Eles confirmam, em muitos pontos, os fatos expostos no seu brilhante texto e as consequências de populações subjugadas por regimes cruéis e autoritários.
Principalmente, o medo, a submissão cega, a apatia o e a falta de motivação em geral do povo.
Lembro que, há poucos anos atrás, atletas cubanos em estada aqui no Brasil tentavam trocar seus uniformes e outros pertences por alguns produtos da sociedade “burguesa” aos quais não tinham acesso no seu país: pasta de dente, papel higiênico, etc.! Conheço também uma alemã que viveu na Alemanha comunista e que nos contou o choque que muitos tiveram após a queda do Muro de Berlin: eles esperavam que o Estado lhe fornecesse automóveis e todos os bens que não tinham do lado oriental e que muitos possuíam do lado ocidental, conquistado através do mérito pessoal!
Acredito que ditaduras como a da Coreia do Norte estão chegando ao fim. É só uma questão de tempo.
Abraços,
Beto
Beto
Não concebo a ideia de que um país decente possa proibir seu povo de ultrapassar suas fronteiras.
Quando não há liberdade, alguma coisa ruim esconde-se debaixo dos panos.
Pois, quando um país tem algo bom, seus governantes querem escancará-lo aos olhos do mundo e atrair turistas, hoje uma das maiores fontes de renda.
Torço para que os norte-coreanos venham a se tornar um povo livre.
Abraços,
Lu
LuDias
Fui iludido por um brincalhão na internet. O vídeo de crianças norte-coreanas tocando brasileiro, etc era um plágio.
Eles tocavam e muito bem música de seu país. Desculpe-me. De qualquer maneira, ouvi também o vídeo original e é muito bonito:
http://www.youtube.com/watch?v=bHlp1bvLxSc
São crianças tocando como gente grande.
Ed
Os gozadores estão por toda parte.
Mas valeu a pesquisa.
Abraços,
Lu
LuDias
Taí, apenas uma amostra do que encontrei. Há muito mais:
Será que a Coréia do Norte é apenas o diabo que a Mídia pinta? Ameaças de guerra ou autodefesa? As imagens de lá são apenas de marchas militares ou existe muito mais por lá para ser exibido?
Veja a arte e alegria de crianças e jovens. Não é espetacular. Não entendo que somente imagens de demonstração de força bélica são mostradas em toda a mídia, dando-nos uma idéia de que o povo norte-coreano não é feliz. Será?
Pelo que se pode ver abaixo, a arte e a educação tem excelência.
Veja esta violinista com apenas cinco anos de idade. Que fofa!
http://www.youtube.com/watch?v=gthvN5hlpn8
E este chorinho brasileiro? Será que não são felizes ou apenas futuros facínoras a marcharem para a guerra? Dá para acreditar?
http://www.youtube.com/watch?NR=1&v=2VaAxjizW2Y&feature=fvwp
E mais arte:
http://www.youtube.com/watch?v=6_8wnvuesxw
http://www.youtube.com/watch?v=k-FE1IA0FK4
Não dá para ter dúvidas?
Ed
Muito interessante a sua pesquisa.
Mas uma dúvida me deixa com a pulga na orelha:
Por que impedir que as pessoas saiam do país, tendo guarda armados com a permissão de matar quem tentar escapar do país/
Por que motivo?
Abraços,
Lu
Ed
Você tem toda a razão, quando levanta indagações em relação à mídia.
Sabemos como são as coisas.
Mas, quando se proíbe um cidadão de deixar o seu país, acho que aí existe algo de podre.
O homem deve ser livre para ir e vir, onde quer que esteja.
Penso que ali acontece o mesmo que aconteceu com a Alemanha.
Se encontrar algo de bom, não deixe de comentar.
Grande abraço,
Lu
LuDias
Não sei não. Sou um bocado desconfiado. Se eles não sabem o que se passa em nossas bandas, acredito que pouco sabemos, e é um fato, sobre como a população norte-coreana se sustenta. Será que são felizes ou estão mesmo sofrendo nas mãos de ditadores ( este último ainda muito jovem, os outros eram mais idosos).
Acho isto porque a imprensa ocidental nunca mostra realmente o que ocorre em países fechados, sujeito a ditaduras. Há grandes interesses que abortam informações mais detalhadas.
A mídia, principalmente, a revista que você menciona, é muito unilateral e vive de factóides. Ainda vendo alguns vídeos no Youtube em que o povo aparece, longe das imagens de guerra e desfiles militares de Kim Jong-um, percebi que a verdade não era igual ao plantado na imprensa.
Vou fazer uma pesquisa, principalmente no Youtube, para trazer essas imagens positivas que estou falando.
Porém, deixou claro que sou completamente contra as ditaduras. Talvez este não se tenha revertido em democracia, por fatores internacionais, que deveriam trabalhar para instalar a democracia por lá. Porém, colocando a guilhotina na garganta do ditador, é pouco provável que isto aconteça.
Por outro lado, ainda, acho que pouco poder bélico possui a Coréia, diante, v. gratia, de uma Israel com mais de vinte ogivas atômicas.
Sera que Guantânamo não é mais odioso que a Coréia? Convém ouvir as vozes de seus habitantes, mas gravada em vídeos, para não serem distorcidos.
Parabéns pelo artigo, que me trouxe muita reflexão. Tão logo possa vou falar sobre a viagem de minha filha a Cuba, outro lugar tão marretado pela Mídia. Lá não há indigentes, nem crianças abandonadas. Ninguém passa fome, mas não faz banquetes. Todos têm direito à habitação, à alimentação ( parca, pelas condições econômicas da Ilha), à educação, à saude e poucas são as noticias da prática de crimes.
Abraços