Autoria de Lu Dias Carvalho
O que eu sei do homem foi escrito há muito tempo, pelo maior de todos os macacos.
Cuidado com o homem, pois ele é o peão do demônio, o único ser entre todos os primatas de Deus que mata por esporte, ou cobiça, ou avareza.
Ele matará seu irmão para possuir sua terra.
Não o deixe nascer em grande número.
Ele irá transformar a sua casa e a de vocês num deserto.
Combate tudo que está à sua volta, até a si mesmo.
Dirija-o de volta à sua toca no deserto.
Eu o temi como a própria morte.
Ele é o presságio da morte.
(Doutor Zaius)
Bem antes de se tornar famoso com o sucesso de O Planeta dos Macacos, o cineasta Franklin J. Schaffner já era considerado uma das mentes mais criativas do início da TV americana. Prova disso é que venceu três Emmy e foi um dos primeiros diretores a usar a câmara em movimento.
O Planeta dos Macacos (1968) ainda é considerado um dos grandes clássicos da história da ficção científica, quarenta e três anos após o seu lançamento. Na época, angariou um público tão grande e uma crítica tão consagradora, que foi o primeiro filme de ficção a ter segmentos: De Volta ao Planeta dos Macacos (1970), A Fuga do Planeta dos Macacos (1971), A Conquista do Planeta dos Macacos (1972) e A Batalha do Planeta dos Macacos (1973).
O filme é uma adaptação da obra homônima escrita pelo francês Pierre Boulle em 1963. Algumas mudanças, porém, foram feitas na adaptação:
• A tripulação da espaçonave no livro é formada apenas por Ulysses Mérou, dois cientistas e um chimpanzé. No filme são quatro astronautas.
• No filme, o herói é um astronauta chamado George Taylor, enquanto que no livro é um jornalista chamado Ulysses Mérou.
• A sociedade símia é bastante primitiva no filme, mas no livro os macacos moravam em cidades como Paris e Nova York e faziam uso de carros e televisores. A mudança ocorreu para diminuir os custos da filmagem.
• No filme, os humanos vestem roupas feitas de peles de animais, enquanto no livro eles andam nus.
• No livro os símios falam um idioma próprio, mas no filme eles falam inglês.
• Taylor, o herói, demora a falar por que teve um ferimento na garganta, mas Mérou, no livro, teve que aprender a linguagem dos símios com Zira.
• No filme, o planeta dos macacos é a Terra, enquanto no livro é apenas um planeta similar a esta.
Para os produtores, não deixava de ser uma tarefa arriscada fazer um filme a partir do livro La Planète des Sings. Conduzir tantos atores vestidos com roupas de macacos era uma linha muito tênue entre o humor e a ficção. Qualquer erro descaracterizaria o filme. Por isso, os chefões do estúdio só ficaram aliviados, quando viram um teste com o humano Taylor (Charlton Heston) e o macaco doutor Zaius (Edward Robinson). Como a maquiagem era muito convincente, eles injetaram uma boa soma para caracterizar os símios no filme. E não se arrependeram do dinheiro gasto.
Os macacos, com que Taylor e seus dois colegas astronautas deparam-se, quando a espaçonave em que viajavam cai em um planeta ermo, são persuasivos e ao mesmo tempo assustadores. A surpresa é maior quando os astronautas, assim como o público, percebem que eles mandam e desmandam nos humanos que ali vivem e se portam como animais submissos.
Curiosidades
• Embora Charlton Heston passe a maior parte do filme vestindo pouco mais do que um lencinho de couro, ele faz um personagem másculo e durão.
• Os macacos só aparecem depois de 30 minutos de narrativa.
• Os atores que fazem Cornelius e Zira, os macacos amistosos, conseguem driblar o peso da maquiagem e mostram desempenhos emocionantes.
• As roupas e maquiagens do filme eram todas montadas na hora da filmagem, e feitas sob medida para todos os atores, o que fazia com que cada macaco tivesse um rosto diferente um dos outros e por isso foi muito elogiada.
• Depois de Heston, o grande astro da série foi o ator Roddy McDowall, que interpretou o macaco Cornelius.
• Charlton Heston a princípio se recusou a estrelar o papel na época, pois estava muito resfriado, mas aceitou o desafio. Há uma cena em que ele está na cela e recebe jatos d’água. Precisou depois ficar um dia em casa para se recuperar.
• Os atores chegavam de madrugada ao estúdio para enfrentar sessões de até cinco horas de maquiagem.
• O ator Edward Robinson, que interpretaria Zaius, como sofria do coração, teve que deixar o papel, por não suportar o árduo processo de maquiagem.
• Nos intervalos, atores e figurantes eram obrigados a ficar a caráter, por isso as refeições eram batidas e bebidas em canudinhos.
• Maurice Evans (Zaius) não conseguia falar por causa da pesada maquiagem. Ele finge que fala, mas todos os diálogos foram dublados no estúdio.
• Não há gorilas e orangotangos do sexo feminino no filme.
• A preocupação do diretor não é só com a caracterização dos macacos, mas também com o universo ficcional em que se passa a trama.
• A frase Tire as patas sujas de mim, seu macaco maldito! (Taylor) está na lista das 100 mais memoráveis do cinema.
• Foi o primeiro filme de ficção científica a obter continuação.
• O filme teve quatro sequências, nenhuma alcançou o êxito do filme original.
• O filme ajudou a pavimentar o caminho para Star Wars.
• Provocou impacto pela ferocidade com que criticou o homem e seu poder de destruição.
• Além da franquia cinematográfica, nos anos 70 o filme foi adaptado ainda para a televisão (série televisiva), desenhos animados e quadrinhos.
• Foi refilmado em 2001, pelo diretor Tim Burton, com o conteúdo parcialmente modificado.
• A banda Jota Quest fez uma música intitulada “De Volta ao Planeta dos Macacos”, sucesso em 1998.
Cenas antológicas
• Os momentos que antecedem a queda da nave no lago.
• As imagens dos astronautas cruzando o deserto.
• A primeira visão de Taylor sobre o novo planeta, sua captura e o final.
• O roteiro inteligente e os diálogos inesquecíveis.
• A surpresa de Cornelius com os movimentos labiais de Taylor e sua tentativa de se comunicar, mostrando inteligência.
• A perseguição aos humanos no milharal, sendo capturados com redes.
• A cena final do filme é antológica e marcou a história do cinema, sendo o filme considerado um libelo anti-Guerra Fria. Ela já vale o filme.
Os símios
Eles falam, são superiores aos humanos e convivem em um sistema de classes:
- os gorilas atuam como militares e caçadores;
- os orangotangos são políticos, administradores e advogados;
- os chimpanzés costumam ser intelectuais e cientistas;
- doutor Zaius é o Ministro da Ciência e Guardião da Fé;
- os macacos consideram os humanos feras sujas e transmissores de doenças.
Trilha sonora
É tida como um personagem do filme, tamanha é a sua importância. Jerry Goldsmith, compositor, concorreu ao Oscar por sua forma inovadora, traduzindo em sons o estado de espírito dos personagens. Os acordes são inquietantes. Ele empregou uma variedade de instrumentos de sopro, percussão e aparelhos musicais incomuns, entre os quais um chifre de carneiro. Até a cuíca brasileira foi utilizada para produzir o som rouco dos gorilas.
O enredo
Você, que está me ouvindo agora, é de uma geração diferente.
Eu espero que seja de uma melhor.
Será que o homem, esta maior maravilha do universo, este glorioso paradoxo que me mandou às estrelas, ainda faz guerra com os irmãos e deixa as crianças do vizinho na miséria? (Palavras de Taylor durante a viagem espacial)
A nave Icarus navega à velocidade da luz pelo espaço sideral. Os voluntários da missão tentam provar que, nessas condições, o tempo passaria mais devagar para eles do que para quem ficou no planeta. A bordo estão Taylor, London, Dodge e Stewart. Os quatro se encontram hibernados, quando a nave cai no meio de um lago, num planeta desconhecido. O cronômetro marca o ano terrestre de 3978, significando que mais de 2 mil anos já se passaram, desde o lançamento da nave em 1972, no cabo Kennedy (EUA). Apesar do longo tempo passado, a tripulação envelheceu apenas 18 meses. Somente Stewart, a única mulher da missão, é encontrada mumificada, em razão de uma falha ocorrida em seu sistema de preservação. Houve um vazamento de ar em sua máquina de hibernação.
A nave começa a se encher de água e os astronautas usam um bote inflável para se salvarem. Partem para conhecer o planeta, procurando encontrar alguma forma de vida e também comida e água, pois os suprimentos só darão para mais três dias. Depois de atravessarem uma região montanhosa e desértica, chegam a uma pequena planície, onde se deparam com estranhos espantalhos. Mesmo assim prosseguem a viagem. Ao encontrar um oásis, nadam nus na cachoeira, quando percebem que seus poucos pertences foram roubados. Vão atrás dos ladrões e notam que se trata de humanos, ainda bem primitivos, que comem frutas das árvores e não se comunicam entre si.
Repentinamente os astronautas percebem um alvoroço com os humanos em fuga. São atacados por um bando violento de gorilas vestidos com roupas pretas de couro, armados com rifles e paus, alguns montados a cavalos, e que não demonstram qualquer piedade ao matarem os humanos que encontram. Dodge, um dos astronautas, morre, enquanto Taylor e London são capturados e levados à cidade dos símios.
Durante o ataque, Taylor é ferido na garganta. Em razão do ferimento, ele não consegue falar, mas tenta se comunicar através de gestos. O que chama a atenção da doutora Zira, psiquiatra de “animais”. Ela examina o cérebro dos humanos capturados, pois desconfia que os macacos são descendentes dos homens, teoria combatida pelo doutor Zaius. Taylor acaba em seu laboratório.
Estas feras são sujas e cheiram mal e possuem doenças contagiosas.
(Fala de um colega da doutora Zira)
O astronauta Taylor descobre que corre perigo, ao se comunicar, através da escrita, com Zira e Cornelius. Escapa ao descobrir que Zaius mandou castrá-lo. Na fuga, vê o corpo do colega Dodge usado como atração num museu de humanos e ouve as pregações de um macaco em um culto religioso. Ao ser recapturado, choca os símios ao gritar:
– Tire suas patas de cima de mim, seu macaco maldito!
Taylor é levado a julgamento por Zaius, que vê nele uma ameaça. Descobre que o amigo London sofreu lobotomia e virou um ser vegetativo. Sabe que terá o mesmo fim. Por defender Taylor, Zira e Cornelius também passam a ser perseguidos por Zaius.
O casal de namorados consegue tirar Taylor da jaula, que exige a libertação de Nova, uma humana capturada. Com a ajuda de um primo de Zira, os quatro fogem para a Zona Proibida, onde fica o sítio arqueológico descoberto por Cornelius, para tentar provar que as teorias negadas por Zaius são verdadeiras. Segundo as escrituras dos símios, aquela região é mortal para os macacos.
Zaius e seus gorilas vão atrás dos fugitivos, mas cai refém nas mãos de Taylor, que exige não ser seguido com Nova. Os macacos explodem a caverna para evitar futuras pesquisas, enquanto o casal foge em busca de uma nova vida. Na areia da praia Taylor encontra uma estátua em ruínas e tem uma visão aterrorizante.
Fontes de pesquisa
Cinemateca Veja
1001 filmes para…
Wikipédia
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