Autoria de Lu Dias Carvalho
A caatinga amareleceu e depois se avermelhou.
O gado encetou a secar coo pastio descarnado.
O pesadelo da seca tirava o sono das pessoas,
trazendo visões terríveis de tempos passados.
De repente, um bosquejo ligeiro tracejou no céu,
lá para as bandas da cabeceira do rio definhado.
Outros riscos surgiram mais ligeiros e brilhantes.
A trovoada roncou num cantarejo descontrolado.
A ventania ia arrancando sucupiras e imburanas.
Os relâmpagos riscavam a atmosfera com euforia.
A mãe ocultou-se na camarinha com os meninos,
tapando orelhas, enrolando-se nas cobertas finas.
A brutalidade do tempo findou-se repentinamente.
No escuro da noite rolavam nuvens cor de sangue.
A cheia levava consigo troncos e animais mortos.
Além dos juazeiros derreava o rumor da enchente.
O sertanejo estava prazenteiro com a tempestade.
As catingueiras encontravam-se todas submersas.
A espuma subia lambendo barrancos, desabando.
A água matava bichos, enchia grotas e várzeas.
O rio subia ladeira, já bem pertinho dos juazeiros.
As rezes abrigavam-se junto à parede da morada.
Os chocalhos do gado zuniam, sapos coaxavam.
Cheio de gosto batucava o coração do sertanejo.
As vacas engordariam coo pastio e dariam crias.
Ele cresceria verdoso e as árvores se enfeitariam.
As rezes se multiplicariam para riqueza do sertão,
e ele ficaria satisfeito junto a Baleia e sua família.
Logo aquela água iria se acabar – era o reverso.
Mas não era vantajoso ficar matutando no futuro,
não havia mais o medo da estiagem incontinente,
que aterrorizou a família durante tanto tempo.
O futuro seria deixado nas mãos do bom Deus,
de modo que bichos, terra, família e toda gente
desfrutasse da oferenda que ao sertão foi dada,
pois o sertão, por ora, não mais carecia d`água.
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