Um pesquisador atento observou que Paulo Vanzolini foi o único sambista que nunca usou a palavra “malandro” em suas canções. Talvez tenha sido o único formado em Harvard, em Zoologia! (Tom Cardoso, jornalista e crítico musical)
A lembrança que eu tenho de São Paulo é de uma paz completa. Era uma cidade meio caipira, mas uma cidade muito mansa, muito pacífica, muito cordial. (Paulo Vanzolini)
O compositor, cantor e zoólogo Paulo Emílio Vanzolini, nasceu em São Paulo/SP, em 1924, tendo morado parte de sua infância na cidade do Rio de Janeiro, onde gostava de ouvir, através do rádio, sambas e marchinhas.
Paulo Vanzolini, ao lado de Adoniran Barbosa, é considerado um expressivo nome do samba paulista, embora não tenha tido formação musical alguma, jamais tendo tocado qualquer instrumento. Contudo, trata-se de um compositor vigoroso, responsável por vários clássicos musicais, em que retrata com saudade a São Paulo de antigamente.
Tendo se formado em zoologia em Harvard, Estados Unidos, Vanzolini foi, durante mais de 30 anos, diretor do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo, sem jamais perder o convívio com a boemia e o cotidiano de sua cidade. E desse seu envolvimento com a metrópole nasceram os clássicos: Ronda, Volta por Cima e Praça Clóvis. Com o salário recebido, alugou um lugar para morar na Av. São João.
Apesar de ser ainda muito criança à época, o contato que Vanzolini teve com a música brasileira, na cidade do Rio de Janeiro, foi muito importante na sua vida de compositor. Ali, ele ouviu gente como Ary Barroso, Lamartine Babo, Noel Rosa, Orestes Barbosa, Custódio Mesquita, Ismael Silva, Vadico, Mário Reis, Francisco Alves, Pixiguinha, Radamés Gnattalli, Assis Valente, Aracy de Almeida e Almirante, entre outros.
O Vanzolini compositor começou a surgir nos Regionais da Universidade, quando tentava se desgarrar da proteção exagerada da mãe, em razão de ter tido uma doença rara nos ossos, na infância, e passado por inúmeras cirurgias. Ele queria se ver livre da superproteção com que era tratado.
Vanzolini conseguiu um pequeno espaço no programa Consultório Sentimental, na Rádio América, comandada por Cacilda Becker, sendo promovido a assistente do Dr. Edson Gama. Foi depois convocado para servir o exército, enquanto pipocava a Segunda Guerra Mundial. Chegou a cabo. Com o final da guerra, voltou à vida de antes, e criou o samba-canção Ronda, cuja composição iniciou-se na zona de meretrício. A canção estourou, sendo tocado em todo o país. Ele estava com 21 anos de idade. Foi gravada por sua amiga Inezita Barroso, oito anos depois, acidentalmente, sem fazer sucesso. Mas 30 anos depois, ao ser gravada por diferentes intérpretes, Ronda virou o “hino nacional da fossa”. O compositor não gostou da gravação de Maria Betânia, alegando que ela é mais uma declamadora do que uma cantora.
Ao trabalhar na TV Record, Vanzolini travou amizade com os funcionários e artistas da emissora. Ele e Raul Duarte criaram o I Festival de Velha Guarda, responsável por apresentar uma geração de músicos sensacionais, que seriam jogados no ostracismo com a chegada da Bossa-Nova e, depois, da Jovem Guarda.
Paulo Vanzolini não tinha a preocupação de ver suas músicas gravadas. Gostava de compor para cantar nas rodas de samba com seus amigos, mas, nas voltas que a vida dá, o seu samba Volta por Cima foi gravado pelo cantor Mário Marques Júnior, fazendo um grande sucesso, de modo que até a expressão “dar a volta por cima” passou a fazer parte dos dicionários.
O primeiro disco de Vanzolini a ser gravado, Onze Sambas e um Capoeira, contou com a presença de Cristina Buarque e seu irmão Chico Buarque. O compositor e Chico tornaram-se grandes amigos.
Vanzolini compôs com muitos parceiros como Toquinho, Paulinho Nogueira, Adauto Santos, Elton Medeiros, entre outros, e foi gravado por vários intérpretes como Nelson Gonçalves e Martinho da Vila. Contudo, foi se desencantando com a música, à medida que via seus amigos e parceiros desaparecerem. Morreu aos 83 anos, em 2013, vitimado por uma pneumonia.
Nota
Cliquem no link para ouvirem Volta por Cima
http://www.youtube.com/watch?v=CHUl7pj5S_8
Fonte de pesquisa:
Raízes da Música Popular Brasileira/ Coleção Folha de São Paulo
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Sou alucinado pela Música Popular Brasileira. E toda vez que leio algo lembrando a Gringolândia… Chico, “o maior letrista do planeta”, segundo o professor doutor que orienta meu filho, diminui-se ao usar a palavra malandro? Vanzolini é grande não por ter estudado em Harvard e Pinda.74 ritmos e gêneros musicais! Esse é o Brasil em nossa melhor expressão de genialidade. Rogério Bezerra um não formado em Harvard ou qualquer faculdade.
Rogério
Eu também sou uma amante da MPB. Assim como para você, Chico Buarque é o maior poeta de nossa língua portuguesa de todos os tempos. É um gênio em todos os sentidos. Sem esquecer o nosso Caetano, Zeca Pagodinho, Seu Jorge e tantos outros talentos. Infelizmente, de uns tempos para cá, a nossa MPB vem perdendo espaço para artistas sem o menor talento, com ritmos cansativos e tolos, em que a mulher é vista como objeto.
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Lu Dias