Recontada por Lu Dias Carvalho
Numa aldeia incrustada no coração da Amazônia, uma cunhatã havia que nascera muito formosa. E mais bela ia ficando, à medida que apanhava corpo. Quando mocinha, passou a arrebatar o coração dos jovens guerreiros que disputavam, entre si o seu amor, como se fora o mais precioso dos tesouros. Mas o coração da primorosa indígena já se encontrava inebriado pela estrela d’alva que resplandecia majestosa no céu. Desde menininha, ela ficava noites e noites mirando aquela lindeza.
Certo dia, com o seu ser torturado pela paixão, a indígena pediu ao pajé que, através dos espíritos, fizesse com que o guerreiro que habitava a estrela d’alva descesse até a Terra. E assim, logo no dia seguinte, caminhando em sua direção, apresentou-se um homem com o corpo curvado pelo tempo e com o rosto fustigado pelas rugas, dizendo ser a estrela que ela tanto invocara, disposto a casar-se com ela. Mas a jovem, decepcionada com tal figura que representava a velhice, enquanto ela se encontrava na flor da juventude, repeliu-a, pedindo-lhe que fosse embora o mais rápido possível, voltando para seu lugar de origem.
A irmã mais velha da indígena, penalizada com o tratamento recebido pelo ancião, dele se aproximou, enxugando suas lágrimas e prometendo cuidar dele como esposa. É fato que ela não era bela exteriormente, mas seu coração carregava uma compaixão imensurável. Ele a aceitou como companheira e passou a cuidar das terras da aldeia, fazendo nascer plantas que ela jamais vira: milho, ananás, mandioca, guaraná e outras tantas. Mas certo dia, quando o marido demorou a chegar, a indígena foi à sua procura na lavoura. E lá encontrou o mais belo de todos os guerreiros, com seu corpo reluzente, pintado com desenhos nunca vistos. Só então compreendeu que seu marido tomara a forma de um velhinho, a fim de testar o coração de sua orgulhosa irmã.
Ao tomar conhecimento do ocorrido, a irmã mais nova encheu-se de arrependimento e inveja. Amargurada, envergonhada e infeliz, ela imergiu pela mata, até que ninguém mais dela soubesse. Conta-se, porém, que Tupã, o deus dos povos indígenas, compadeceu-se com o sofrimento daquela moça imodesta e transformou-a numa ave denominada “urutau” que em noites de lua, quando a estrela d’alva expande seu maior fulgor, pipia tão doído por não ter reconhecido seu verdadeiro amor, que até corta o coração de quem a ouve.
E anos e anos mais tarde, depois de ter ensinado aos indígenas os segredos da plantação, o guerreiro, vindo do céu, a ele voltou, junto com sua companheira amada. É por isso que perto da estrela d’alva vê-se um menorzinha e de brilho mais fraco. É o casal juntinho, lá no firmamento.
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Ei, Lu,
que amor é este? Os olhos são um perigo. Nem tudo que vemos é o real. Infelizmente julgar pela aparência é nato no ser humano. O nosso “pré conceito” se não for trabalhado… o que nos resta é virar estrela como a Índia. kkkk
Beijos
Pat
As lendas são ótimas… risos… pois apresentam um mundo para lá de irreal, onde tudo é possível. Com o comportamento de certas pessoas, o ideal mesmo é virar estrela, ficando bem longe, olhando tudo de cima… risos.
Abraços,
Lu