Autoria do Prof. Rodolpho Caniato
A quantidade total da água existente na Terra é sempre a mesma. Se se acumula água em dois lados opostos da Terra, obrigatoriamente vai baixar a água nos dois lados perpendiculares. Essa deformação na distribuição das águas fica sempre direcionada para a Lua, girando lentamente (uma volta = 1 mês). Ao mesmo tempo, a Terra está girando: uma volta a cada 24 horas, isto é, um dia. Imagine agora que cravamos uma grande estaca no fundo do mar, na posição 1. A estaca tem divisões para que se possa verificar a fundura, o nível da água. A escala da estaca na posição 1 vai marcar “maré- cheia”. Independente da deformação da massa líquida na direção da Lua, a Terra está girando: uma volta a cada 24 horas. Então, daqui a seis horas, a Terra deu um quarto de volta e a estaca passou para a posição 2. Aí a vara vai encontrar “maré-baixa”. Depois de mais seis horas a vara passou para a posição 3. Ela vai encontrar novamente “maré- cheia”. Passadas mais seis horas, a vara cravada na Terra estará na posição 4. Aí ela encontrará outra vez “maré-baixa”. Ao completar 24 horas a vara terá voltado à posição 1, de onde partiu.
Dessa maneira, marés-baixas e marés-cheias estariam separadas por um tempo de 6 horas e se repetiriam sempre às mesmas horas. Acontece que, quando a vara tiver voltado para a posição 1, a Lua já se deslocou um pouco mais e a deformação continua voltada para ela. Por isso, a vara, para voltar à posição de maré-cheia, terá que se deslocar um pouco mais para encontrar o topo da deformação líquida. Esse tempo a mais é de aproximadamente 1 hora. Por essa razão, em lugar de o tempo entre marés- cheias e vazantes ser de 24 dividido por 4, que daria seis horas, será um pouco maior. Será de aproximadamente 25 horas divididas por 4. Isso dará ao redor de 6 horas e um quarto. Se esse tempo fosse de exatamente 6 horas, as marés se repetiriam sempre às mesmas horas, o que não acontece.
Agora já deve ter ficado claro como a Lua e o Sol participam do fenômeno das marés. É ainda interessante notar que o efeito produzido pelo Sol é bem menor que o produzido pela Lua. A contribuição do Sol como causa das marés é um pouco menos da metade do efeito produzido pela Lua. Isso se deve à distância brutalmente (cerca de 400 vezes) maior do Sol. Na quadratura ou quartos (crescente e minguante), Lua e Sol estão em direções perpendiculares. É quando vemos a Lua bem pela metade. Nessa ocasião, Lua e Sol produzem efeitos perpendiculares sobre a distribuição das águas ao redor da Terra. Por isso seus efeitos se subtraem. As marés de quadratura têm amplitudes menores: as marés-cheias são menos altas e as marés-baixas são menos baixas.
O efeito das fases da Lua sobre as marés fez com que muita gente acreditasse num forte efeito da Lua sobre os seres vivos. A argumentação que tenho encontrado é mais ou menos a seguinte. É verdade que a Lua exerce um forte efeito sobre as águas na Terra? – É verdade! – É verdade que o corpo humano é constituído principalmente por água? – É verdade! – Então deve ser verdade que a Lua tem uma forte influência sobre o corpo humano e sobre os demais seres vivos, por serem eles constituídos principalmente por água? – Neste caso a resposta é “Não”. O efeito das marés é um efeito sobre a distribuição das águas ao redor da Terra. Não é um efeito devido a qualquer propriedade da água. Voltando ao exemplo das duas meninas brincando de corrupio (visto no texto II), poderíamos dizer que as saliências que aparecem no “vestido” da maior não dependem da qualidade do tecido de que ele é feito. O efeito de maré é um efeito mecânico, pelo fato de a água recobrir quase todo o planeta de forma quase contínua.
É importante lembrar esse aspecto de continuidade na distribuição da massa líquida que envolve a Terra. Num lago, todo constituído de água, não se observa qualquer variação perceptível por conta da Lua. Não há marés nos lagos. Já na atmosfera também ocorrem variações parecidas às marés. Mesmo o corpo sólido da Terra sofre um esforço que tende a deformá-lo, como numa maré. Planetas e satélites podem até ser rompidos pelo esforço devido a marés, quando num campo gravitacional muito intenso. Isso acontece quando o campo gravitacional em que está um corpo é muito forte e muito diferente de um lado e do outro. Então lados opostos ficam submetidos a forças muito diferentes, podendo levar aquele corpo à ruptura.
Tudo isso também não significa que a Lua não tenha alguma influência sobre a vida e os seres vivos de modo geral. Mas como? O Sol é a grande fonte de energia vital na Terra. É dele que vem a energia, em forma de luz, que através da fotossíntese dá origem aos compostos que originam e alimentam as cadeias de vida na Terra. Como a luz da Lua é um pouco da Luz do Sol refletida, nas noites de luar é um pouco mais de luz do Sol que a Lua nos proporciona. E’ inegável, portanto, que há alguma influência da Lua sobre nossas vidas. Nada, entretanto, como muitas crenças populares pretendem. Em quase todas as culturas, a Lua foi a grande medida do tempo decorrido: um mês é uma lunação. Para quem vive nos lugares mais ermos ou nas florestas, faz grande diferença poder enxergar o caminho à noite. Talvez o maior efeito da Lua sobre a vida humana seja como inspiração para os poetas e para os amantes. Poucas coisas poderiam ser mais poéticas e inspiradoras que um luar no sertão.
Nota: leia também: (links)
A IMPORTÂNCIA DAS MARÉS (I)
TERRA E LUA BRINCANDO DE CORRUPIO (II)
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Professor Caniato
É um assunto muito interessante, e como todo assunto tem vários aspectos:
1-Se a lua infuencia as marés, não duvidamos que possa nos influenciar também. Há tempos a sabedoria popular atribuía à lua muitos poderes: no corte de cabelo e de plantas, no parto, na semeadura e colheita. Tinha a “força da lua “Inspirava os poetas, os namorados, dava sorte, explicava desvio de temperamentos.
2-Não se pode crer ou descrer de tais posições. Tudo pode mudar, com o tempo.
3- A NASA cada dia revela um aspecto novo dos fenômenos celestes. A Ciência está aí mostrando que o Universo ainda esconde muitos mistérios.
Amei o texto!