A MORTE DE MARAT (Aula nº 77 C)

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Autoria de Lu Dias Carvalho                                                       (Clique na imagem para ampliá-la.)

David conseguiu fazer o quadro parecer heroico sem deixar, no entanto, de respeitar detalhes concretos de um registro policial. (E.H. Gombrich)

Eu matei um homem para salvar cem mil vidas. (Charlotte Corday)

Esta obra contém algo ao mesmo tempo pungente e terno; uma alma alça voo no ar frio do aposento, entre estas paredes frias, em volta desta fria banheira funerária. (Charles Baudelaire)

O pintor neoclassicista francês Jacques-Louis David (1748 – 1825) exibe com esmero sua genialidade, aliada às suas convicções políticas, na composição A Morte de Marat, tida como a maior pintura da arte ocidental a retratar o martírio de um político. O artista também se encontrava ameaçado, até que Napoleão Bonaparte tomou para si o comando da França.

Jean Paul Marat encontrava-se entre os amigos de David que tiveram uma morte violenta, durante a Revolução Francesa. Era um dos líderes da revolução. Portador de uma doença de pele, Marat era obrigado a ficar na banheira, para que a água aliviasse seu desconforto. Para aliviar o mal-estar causado pela enfermidade, ele usava um pano embebido em vinagre na cabeça. Como ali passasse longas horas, adaptou o local para dar expedientes, colocando uma tábua sobre a banheira que lhe servia de mesa. Ao lado, um velho caixote servia como uma escrivaninha improvisada. E foi nela que David deixou a sua dedicatória.

A fanática monarquista Charlotte Corday apunhalou Marat dentro de sua banheira,em 13 de maio de 1793, matando-o. Na mão de Marat encontra-se a carta de apresentação que permitiu o acesso da mulher até ele. Ela foi guilhotinada quatro dias depois.

O quadro é bastante sintético na exposição dos elementos. Tudo que ali se encontra é necessário e calculado, carregado de significado simbólico. Nada entra na tela por acaso, resultando numa composição forte e realística. David retirou a decoração da sala de banho de Marat, deixando no fundo um vazio escuro. A banheira foi trocada de modo que o braço caído de Marat, em primeiro plano, evocasse a pose de Jesus ao ser descido da cruz. Deixou apenas poucas manchas de sangue no lençol de modo a atenuar a violência. Ocultou a facada no peito com sombras. E apenas um pouco da água vermelha de sangue é visível.

Os elementos principais da tela são iluminados por uma luz dramática: a face sofrida de Marat e o velho caixote que mostrava a simplicidade em que vivia. Valendo-se do estilo clássico, o pintor apresenta seu amigo fazendo lembrar, deliberadamente, as pinturas da “Descida da Cruz”, mostrando Marat não apenas como um mártir da Revolução Francesa, mas também como um santo martirizado. Modela os músculos e os tendões do corpo de Marat, dando-lhe um aspecto de real grandeza. São desprezados todos os detalhes desnecessários. O que conta é a simplicidade. O caixote, a cabeça e os braços de Marat são iluminados, enquanto as partes mais sangrentas situam-se nas sombras.

Embora triste, a figura de Marat é idealizada. Não traz as manchas da pele e o sangue possui um tom menos forte. Tanto seu ferimento quanto seu sangue são pouco perceptíveis, diante da palidez de seu corpo. Traz na mão direita a carta recebida, salvo-conduto da assassina, e na esquerda uma pena, ainda mantida de pé. À esquerda da banheira está a faca suja de sangue, único objeto a recordar o ato insano.

Em primeiro plano vê-se sobre o caixote uma carta, com dinheiro sobre ela, uma pena e um tinteiro.  Como a pena ainda se encontrava na mão direita de Marat, pressupõe-se que ele havia acabado de escrevê-la para uma viúva de um soldado, enviando-lhe dinheiro, o que mostra a atitude caridosa do revolucionário. A banheira, coberta com um lençol branco, chama a atenção do observador que não compreende porque ele estaria ali, onde deveria haver apenas água. O fato é que Marat cobria a superfície de sua banheira com lençol, pois, se seu corpo entrasse em contato com o revestimento de cobre, sua pele se irritaria.

A carta de apresentação de Charlotte na mão de Marat diz: “Basta minha grande infelicidade para me dar direito à sua bondade”, estratégia usada para ter acesso até o revolucionário Marat, na sua luta contra a monarquia francesa.

Ficha técnica
Ano: 1793
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 165 x 128 cm
Localização: Musée Royal des Beaux-Arts de Bruxelas, Bélgica

Fontes de Pesquisa
Os pintores mais influentes do mundo/ Girassol
A história da arte/ E.H. Gombrich
1000 obras-primas da arte europeia/ Editora Könemann
Grandes Pinturas/ Publifolha

6 comentaram em “A MORTE DE MARAT (Aula nº 77 C)

  1. Marinalva Autor do post

    Lu
    Apesar de ser um tema trágico, essa pintura “A Morte de Marat” é muito importante, pois documenta e testemunha uma ação fortíssima da história da França. O fundo de um marrom esverdeado traz em destaque um homem agonizando e se contrapõe com a luz e as cores usadas. Tudo é descrito com clareza. São as tonalidades frias e escuras que dão realce aos sinais do acontecido, tais como: a banheira, as manchas atenuadas de sangue e a faca do crime. Simples e objetivo é o quadro. Um trabalho espetacular, mas também muito triste.

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    1. LuDiasBH Autor do post

      Marinalva

      Você resume toda a complexidade da obra numa única frase: “Um trabalho espetacular, mas também muito triste”.

      Abraços,

      Lu

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  2. Adevaldo R. Souza

    Lu

    A “Morte de Marat” é uma obra histórica e patriótica intrigante de Jacques-Louis Davi que imortalizou o revolucionário francês Marat é sua tela tela. A obra define a dimensão entre os atos humanos e os fatos históricos, retratados pelo artista com maestria. Chamou a minha a atenção a pena e a faca convergindo para o chão, parecem ter o mesmo tamanho, como se o artista quisesse mostrar que esses dois objetos foram as causas da tragédia, ambos na mesma dimensão.

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    1. LuDiasBH Autor do post

      Adevaldo

      Essa pintura de David é realmente muito significativa principalmente para o povo francês. Apesar da obra ser simples, desprovida de muitos elementos, ela está carregada de emoção e sentimentos. Achei interessante a sua observação no que diz respeito à faca e à pena.

      Abraços,

      Lu

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  3. Hernando Martins

    Lu

    O pintor David foi um revolucionário tanto no campo artístico como no político. A sua obra conhecida como “A morte de Marat” é uma representação de um acontecimento da Revolução Francesa que foi o assassinato de um líder político em decorrência de conflitos internos no processo revolucionário, suscitado com ascensão de Napolão Bonaparte. David foi também o artista preferido do próprio Napoleão.

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    1. LuDiasBH Autor do post

      Hernando

      David foi sem dúvida um grande pintor e político revolucionário, vindo a tornar-se a maior figura do Neoclassicismo francês. Sua fama foi tamanha que Napoleão escolheu-o como pintor preferido de sua corte.

      Abraços,

      Lu

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