Giovanni Bellini – MADONA ENTRONIZADA COM…

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Autoria de Lu Dias Carvalho

                                                    (Clique na obra para ampliá-la.)

O pintor italiano Giovanni Bellini (c.1430-1516) nasceu em Veneza numa família de artistas. Era também conhecido pelo apelido de Giambellino. Seu irmão mais velho, Gentile Bellini, era também pintor.  Teve o pai – o respeitado pintor Jacopo Bellini – responsável por levar o Renascimento a Veneza, como primeiro mestre, tendo se dedicado intensamente a transformar seus dois filhos em importantes pintores. Giovanni tornou-se depois aluno de Andrea Mantegna, seu cunhado, que influenciaria grandemente sua arte. Ele era muito inteligente e criativo, além de dominar o uso de cores e luminosidade, também compreendia a natureza com apuro. Graças a ele foi instituído o costume de realizar retratos em Veneza. O foco de seu trabalho foi Veneza, onde teve sua própria oficina, nomeado pintor oficial da cidade. Teve como aluno Ticiano, Giorgione, Lorenzo Lotto, entre outros grandes nomes da pintura veneziana.

A obra intitulada Madona Entronizada com o Menino e os Santos (e também chamada de o Retábulo de São Zacarias) é um trabalho do pintor renascentista, tendo sido criado para ornamentar o altar mor da pequena igreja de São Zacarias, situada na cidade de Veneza. É um dos grandes retábulos venezianos do século XVI. Assim como a maior parte dos pintores de sua cidade, ele via na cor um dos principais elementos para unir as figuras e formas de uma pintura num único padrão. A pintura é luminosa e reluzente. Ele botou as figuras numa abside com aberturas laterais para repassar a ilusão de que a luz que entrava pelas laterais parecesse mais com a luz do dia.

O retábulo constitui um nicho arquitetônico completo com teto abobadado, debaixo do qual encontram-se os personagens, tendo o pintor baseado sua composição no agrupamento padrão de pirâmide – popular na arte renascentista –, colocando as figuras mais importantes – a Virgem e o Menino – no ápice da pirâmide. A Virgem Mãe é a figura central da composição. No colo traz o seu Menino. Ela se encontra entronizada num nicho de mármore. Uma atmosfera quente e dourada espalha-se pelo local. O Menino Jesus apresenta-se nu e de pé no colo da Mãe. Sua pele é extremamente branca. Ele levanta sua mãozinha direita para abençoar os devotos ali presentes, enquanto os observa com os olhos voltados para baixo, assim como a Virgem.  Sobre o altar vê-se a cabeça de Cristo com a coroa de espinhos.

Um anjo, sentado aos pés do trono de Maria e seu Menino, toca seu violino com suavidade, como mostra seu gestual. Quatro santos apresentam-se simetricamente nas laterais do altar. À esquerda estão Santa Catarina de Alexandria com a palma do martírio e a roda quebrada, vista a seu lado, e São Pedro Apóstolo com suas chaves e um grande livro de capa vermelha. À direita encontram-se Santa Lúcia (ou Luzia, conhecida por ter sido cegada) segurando uma tigela com seus dois olhos e São Jerônimo – o erudito que traduziu a Bíblia para o Latim – lendo um livro. Os dois santos estão de costas para o altar.

As laterais abertas da obra deixam à vista parte da paisagem. O ovo dependurado acima da cabeça da Virgem simboliza a criação. Não há interação entre os personagens, todos trazem os olhos voltados para baixo.  Apenas o anjo músico, com seu olhar direcionado ao longe, convida o espectador a entrar na cena. As figuras sagradas mostram-se meditativas e distantes e suas vestes são ricamente coloridas.

Giovanni Bellini dotou sua madona de muita serenidade e dignidade e, de certa forma, fugiu um pouco da tradição bizantina que costumava ladear rigidamente a imagem da Virgem com a figura de santos. Aqui os personagens parecem reais, mas, contudo, sem eliminar seu caráter de sagrado.

É a primeira obra do artista em que a influência de Giorgione está presente, iniciando a última fase da carreira do artista – a da tonalidade. O espaço arquitetônico ilusionista é grandioso. O resultado final apresenta um agrupamento de cinco figuras em torno da Virgem e do Menino Jesus, todas autocontidas e conscientes da presença divina. O artista foi responsável por um grande número de pinturas religiosas com a Virgem e o Menino, das quais mais de 60 sobrevivem até hoje.

Obs.:

  • Este tipo de imagem – santos e anjos agrupados em torno de uma Madona Entronizada – é conhecido como uma “conversa sagrada” (sacra conversazione), uma forma de arte cristã lançada por Giotto (1267-1337) e seus seguidores, mas devidamente estabelecida durante o Renascimento em Florença por artistas como Fra Angelico (1400-55), Fra Filippo Lippi(1406-69) e Domenico Veneziano (1410-61). (Visual-arts-cork)
  • O crítico de arte vitoriano John Ruskin considerou a pintura uma das “duas melhores do mundo”.

Ficha técnica
Ano: 1505
Técnica: óleo sobre madeira transferido para tela
Dimensões: 402 cm x 273
Localização: Igreja de São Zacarias, Veneza, Itália

Fonte de pesquisa
A História da Arte/ E. H. Gombrich
http://www.visual-arts-cork.com/famous-paintings/san-zaccaria-altarpiece.htm

 

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