A PINTASSILVA E A LIBERDADE

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Recontada por Lu Dias Carvalho

Conta a lenda que uma pintassilva chocara, pela primeira vez, quatro frágeis filhotes. Mal amanhecia o dia partia a pequenina ave em busca de alimento para suas crias. Sabia que lhes agradava, sobretudo, sementes de capim, assa-peixe, dente-de-leão, capim colonião, serralha e flores de eucalipto. Eles cresciam fortes e belos sob os cuidados de uma mãe muito zelosa.

De uma feita voltou a avezinha de seu voo matinal em busca de comida, quando teve o dissabor de encontrar o ninho vazio. Nenhum de seus pequeninos ali se encontrava. Indagou dos outros pássaros se houvera vento forte ou chuva torrencial, enquanto estivera fora. Recebeu a resposta de que nada acontecera. Sabia também que nenhum bicho predador ali estivera, pois o ninho, em forma de tigela, estava intacto na copa de uma densa araucária.

A pintassilva pôs-se a procurar, dia e noite, pelos filhotes. Não mais comia ou dormia. Começou pelas árvores mais próximas, nas quais examinava ninho por ninho. Depois foi alargando seu campo de busca. Quando as esperanças já se encontravam enfraquecidas, assim como seu corpo diminuto, um canário, fugitivo de uma gaiola, fê-la ciente de que seu antigo dono aprisionara, dias atrás, quatro filhotes de pintassilgo. E pior, eles seriam enviados para um país estrangeiro, pois o verdugo chefiava um comércio clandestino de aves silvestres.

Mesmo fragilizada pela intensa busca, a pintassilva voou o mais rápido que pode até o local indicado. Lá encontrou seus filhotinhos presos numa gaiola fétida. Ao verem-na, os pequeninos pediram-na desesperadamente para que fossem soltos. É fato que a mãe sofrida tentou bravamente romper as grades enferrujadas da gaiola com suas unhas e bico, a ponto de fazê-los sangrar. Mas em vão. Pediu então às crias que ficassem calmas, pois ela voltaria para libertá-las para sempre. Dito isso, voou em direção à densa floresta.

Conforme prometera, a pintassilva trouxe no bico ramos de uma erva desconhecida para alimentar os filhotes. E depois de lançar-lhes um olhar carregado de ternura e de tristeza, alimentou-os, um a um, através do espaço entre as grades. Pediu-lhes que dormissem um pouco, para aguentarem a longa viagem que fariam. Enquanto isso, ela engoliu o último galhinho da erva venenosa que guardara para si. A vida não mais tem valor – concluíra ela – quando se perde a liberdade, sendo a morte a maior libertação.

Nota: imagem copiada de Diário de Biologia

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