AFEGANISTÃO – O CASAMENTO NO PAÍS

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Autoria de Lu Dias Carvalho

safad

É triste ver como em certas culturas a mulher (muitas vezes ainda uma criança) continua sob o jugo machista da sociedade em vigor, tratada como escrava e sem nenhum direito de opinião. Vimos isso na Índia com o hinduísmo e agora no Afeganistão com o islamismo. Fato que se repete nos demais países islâmicos.

A primeira esposa de um afegão é escolhida a dedos pela sogra, que leva em conta seus dotes físicos, morais e pecuniários. Os outros casamentos ficam por conta da escolha do próprio filho (o homem pode ter outras esposas). O primeiro casamento é especial, talvez pelo fato de que a primeira esposa carregue a maior responsabilidade pela família do marido.

É a mãe do noivo quem faz o pedido de casamento aos pais da futura nora. Embora esses fiquem felizes com o possível casamento da filha, a tradição reza que devem sempre responder “não” ao pedido. A negação significa que a escolhida é muito preciosa e que eles não querem que ela deixe a família. Tudo é um faz de conta, para que o dote seja o mais generoso possível.

Ao contrário do que vimos na cultura hindu, em que os pais da noiva são os responsáveis pelo pagamento do dote à família do noivo, entre os afegãos quem recebe tal pagamento é a família da nubente. Mas, tanto ali como acolá, a futura esposa não é consultada em nada. A transação comercial é realizada entre os pais do futuro casal.

Nos tempos em que o Taleban governava o país, as famílias procuravam casar suas filhas o mais depressa possível, pois a milícia costumava raptar jovens solteiras, para que se casassem com seus homens. Mesmo sendo impedidas de saírem às ruas, para não serem vistas, os talibãs eram informados de que essa ou aquela família tinha uma filha bonita. Invadiam as casas e roubavam as garotas.

Embora as mulheres afegãs, na sua imensa maioria, andem pelas ruas em trajes escuros e desmazelados, no dia do noivado ou do casamento devem se apresentar maravilhosas, com muita pintura, penteado chamativo e vestimenta colorida e cheia de pedrarias. O visual, que parece aos olhos ocidentais, exagerado e chamativo, em Cabul significa virgindade.

Antes da festa de noivado, outra é celebrada para comemorar o acordo feito entre as duas famílias, marcando o fim das negociações. É quando a sogra pendura um colar de ouro no pescoço da futura nora e as futuras cunhadas e tias colocam-lhe anéis nos dedos, deixando-a cheia de ouro (casamento entre famílias ricas).

Os afegãos tradicionais não gostam de pelos no corpo. Consideram-nos nojentos e horrorosos. Gostam do corpo suave e liso. De forma que a noiva precisa fazer uma limpeza corporal completa, deixando apenas os cabelos e os cílios. Todo o resto é raspado. As afegãs pobres, que não podem fazer uso dos serviços de um salão de beleza, ou as que são extremamente tímidas, para permitir que lhes removam os pelos pubianos, fazem o serviço em casa. Algumas chegam a arrancar os pelos com as mãos ou com chicletes.

Qualquer que seja o método usado, a depilação corporal é aterrorizante. Quase toda mulher sabe disso, assim como os demais simpatizantes da feminilidade. No caso afegão, o consolo é que o noivo também passa pelo mesmo ritual, removendo todos os pelos corporais. Mas, apenas lhe raspam o corpo, ao contrário da mulher que tem os pelos arrancados na raiz.

As mulheres afegãs não possuem vida social, de modo que as festas de noivado e casamento transformam-se em grandes acontecimentos. Mesmo os cinemas são proibidos a elas. De modo que tais eventos são feitos com esmero, sem a preocupação de economizar nada, como se quisessem compensá-las pela vida de reclusão. Muitas famílias ajuntam dinheiro ou fazem muitas dívidas para tal fim.

Nas festas de noivado e de casamento, homens e mulheres ficam segregados em compartimentos diferentes. Quando a família tem posses, a festa acontece em andares diferentes, com duas bandas tocando. Quando não é rica, o salão é dividido em dois por uma cortina. Há músicas o tempo todo. As danças são sensuais, tanto do lado masculino quanto do feminino. Depois a comida é servida abundantemente. A regra é que cada convidado coma dez vezes mais que o seu normal. Não há utensílios, de modo que todos comem com as mãos. Quando as vasilhas de comida são retiradas da mesa, os convidados começam a ir embora.

As fotos de casamento são tiradas com as irmãs do noivo, segurando o Alcorão acima da cabeça da noiva. Procuram imitar as estrelas dos filmes de Bollywood, que todo mundo adora no Paquistão, apesar da rivalidade com a Índia.

A futura esposa (e sua família) deve permanecer triste durante todas as cerimônias relacionadas ao casamento, mostrando-se descontente com esse, pelo fato de ter de trocar a casa dos pais pela casa da família do marido. Sua tristeza funciona como um sinal de respeito pela família que irá deixar. Portanto, quem se esbalda na festa é o noivo e sua gente.

A cerimônia de consumação é o próximo evento da agenda matrimonial do casal. Vão para um quarto, enquanto as famílias e convidados ficam esperando que o marido entregue um lenço branco manchado com sangue, que comprovará a virgindade da esposa. Caso isso não aconteça, ela é entregue de volta a sua família e o casamento é anulado, debaixo de muita humilhação.

Após o casamento, marido e sogra, muitas vezes, mostram-se verdadeiros tiranos. A esposa passa a ser uma empregada da casa, fazendo todos os serviços, enquanto o marido trabalha e se diverte na companhia de outros homens. Para que um homem se divorcie de sua esposa no Afeganistão, só precisa dizer três vezes, diante de testemunhas “Eu me divorcio de você”. Num divórcio afegão, a causa da separação é sempre atribuída à mulher. Ou ela é má cozinheira, ou é desobediente, ou não era virgem. E, nada pode ser pior para uma mulher do que ser abandonada pelo marido. Uma mulher divorciada é tratada como “puta”, não merecendo o respeito das pessoas. Jamais poderia ser uma primeira esposa de outro homem.

As mulheres, em países como o Afeganistão, continuam não fazendo parte das decisões políticas e sociais. O que é uma pena, pois muito poderiam contribuir para o crescimento do país.

Nota: Imagem copiada de http://focalfixa.wordpress.com/2011/12/16/

Fonte de pesquisa:
O Salão de Beleza de Cabul/ Deborah Rodriguez/ Editora Campus

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12 comentaram em “AFEGANISTÃO – O CASAMENTO NO PAÍS

  1. Gizelia

    Também li os livros Cidade do Sol, o Livreiro de Cabul e Albatroz… É chocante…. Como pode que certas coisas ainda aconteçam e sejam tratadas como normais, mesmo sendo parte dessa cultura?

    Responder
    1. LuDiasBH Autor do post

      Gizélia

      E olhe que estamos no século XXI! Realmente é lamentável. Também li os livros citados por você, excetuando Albatroz.

      Agradeço a sua visita e comentários. Volte sempre.

      Abraços,

      Lu

      Responder
  2. Gei

    Essa questão da cultura é algo muito intrigante. No livro “Eu sou o livreiro de Cabul”, o próprio personagem refuta várias coisas descritas no livro, pelo simples fato de que algumas delas pra eles são tão normais quanto a liberdade das mulheres no Brasil. Gosto de ver as coisas de dois ângulos, e aprender com as diferenças.

    Responder
    1. LuDiasBH Autor do post

      Gei

      É sempre olhar as coisas sobre vários ângulos, contudo, nenhuma cultura pode tornar o outro objeto de escravidão, como acontece no Afeganistão em relação às mulheres, onde são queimadas e apedrejadas sem ao menos passarem por um julgamento legal, mas bastando apenas que sejam denunciadas por um vizinho, pelo fato de ter falado com um homem estranho. Se formos olhar tudo como cultural, também iremos aprovar a escravidão negra que houve no Brasil, o Holocausto promovido pelos nazista, a morte de meninas na China e na Índia, onde a cultura do filho homem é fortíssima, ou a morte covarde de golfinhos e baleias no Japão, fato que vem revoltando todo o mundo, ou a destruição do planeta em vários locais do mundo. E sem falar nas tenebrosas castas indianas com a situação dos “dalits” (intocáveis).

      As diferenças só são boas quando elas são sadias e tratam o indivíduo como ser humano, digno de respeito, assim como se deve respeitar os animais, e o planeta como um todo. Se forem cruéis e desumanas, devemos lutar contra elas, para não nos tornarmos omissos e irresponsáveis para com a vida. Quanto ao Livreiro de Cabul (também li), ele não fazia ideia de que o livre teria tamanha repercussão e, por isso, procurou amenizar as coisas ditas por ele. Mas aquela jornalista é muito séria, tendo ganhado vários prêmios por seu trabalho em defesa da vida.

      Gei, obrigada por sua presença aqui no blog. Volte sempre.

      Grande abraço,

      Lu

      Responder
  3. Sarah Silva

    Triste mesmo.
    O Livreiro de Cabul e a Cidade do Sol mostram bem a realidade das pessoas no Afeganistão, das mulheres. A Cidade do Sol foi o livro que mais me fez chorar, imaginando o que essas mulheres passam por lá.

    Responder
    1. LuDiasBH Autor do post

      Sarah

      Os dois livros citados por você são lindos, embora retratem uma realidade bem doída.
      As mulheres que vivem debaixo da cultura muçulmana, em muitas partes do mundo, sofrem muito, pois os homens acham que um cachorro tem mais valor.
      Mas procure não sofrer por isso, pois irá lhe fazer mal.
      Vamos apenas denunciar essas torturas.

      Obrigada por sua visita ao blog.
      Volte sempre, para ler outros assuntos.

      Abraços,

      Lu

      Responder
  4. Sandra

    Muito interessante o post, é triste pensarmos que em algum lugar no mundo as mulheres são tratadas com tamanho desrespeito e sem qualquer dignidade (e isso não acontece só no Afeganistão, na Índia, Sudão e outros) em nome de uma cultura atrasada e que não valoriza a pessoa humana.

    Responder
    1. LuDiasBH Autor do post

      Sandra

      É verdade, Sandra!
      Chega a beirar as raias da loucura.
      E que tipo de sociedades são essas que desrespeitam suas genitoras…
      Realmente não merecem o nosso respeito.

      Abraços,

      Lu

      Responder
  5. Dirceu J. de Souza

    Religiões … pobre o povo que vive sob o jugo das religiões. Eu posso ter fé, sem ter uma religião. Não preciso ser fanático “em nome de Deus.”

    Responder
    1. LuDiasBH Autor do post

      Dirceu

      Concordo plenamente com você.
      A maioria das religiões são castradoras e têm como objetivo o vil metal.
      O templo de fé está dentro de cada um de nós.
      O fanatismo é a pior de todas as doenças.

      Obrigada por sua visita a nosso blog.
      Volte sempre.

      Abraços,

      Lu

      Responder
  6. Pedro Rui

    Fiquei mesmo perplexo vendo que realmente as mulheres, mesmo ainda crianças, sofrem desde o princípio até ao fim das suas vidas. Que cultura mais estranha e maligna. Quanto ao casamento, não passa dum negócio, fico sem entendimento e triste por não podermos fazer nada.
    Abraços Lu
    Rui Sofia

    Responder
    1. LuDiasBH Autor do post

      Pedro Rui

      Nós já estamos fazendo alguma coisa: denunciando.
      Para quanto mais pessoas contarmos isso, mais elas abominarão o comportamento de tais culturas.
      Quem sabe, assim, aqueles países passam a tratar melhor suas meninas e mulheres.

      Abraços,

      Lu

      Responder

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