Almeida Júnior – O IMPORTUNO

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Autoria de Lu Dias Carvalho

o inoportuno

No exato instante retratado na cena, ela aguarda furtivamente para saber se deve continuar a se vestir, caso ingresse no ateliê o “importuno” do título, ou se vai despir novamente, na hipótese de sua partida. (Rafael Cardoso)

A composição O Importuno, pintura de gênero, obra do artista brasileiro Almeida Júnior, retrata o interior de um ateliê, como já visto em “O Ateliê do Artista”, “O Descanso da Modelo” e “O Modelo”, sua temática predileta, o que confirma o grande interesse que o artista nutria pela pintura. Estão presentes nesta tela duas figuras humanas: o pintor e sua modelo, além de vários objetos que compõem o ateliê: cavaletes, cortinas, cadeiras, tapetes, etc.

De costas para o observador, à direita, o pintor usa um longo avental escuro e um pequeno chapéu. Ele puxa parte da cortina e inclina a cabeça para atender alguém que o interrompe em seu trabalho. Na sua mão esquerda está a paleta com tintas e pinceis. É possível ver parte de seu cavanhaque e bigode. Atrás dele está sua cadeira e sua capa sobre o espaldar, o cavalete com uma tela branca, onde  pinta uma mulher nua reclinada, tendo apenas um véu sobre ela. A presença da paleta na mão esquerda comprova que acabara de ser interrompido. Não dá para identificar se eles estavam sendo espreitados, ou, se o artista fora chamado.

A modelo, em primeiro plano, é uma jovem de cor clara e cabelos negros. Encontra-se escondida atrás das cortinas e de um enorme cavalete, onde se vê um quadro exposto e o véu usado por ela ao posar. Veste somente as roupas de baixo e meias pretas, possivelmente vestidas às pressas. Com as mãos, recolhe a camisola, num gesto recatado. Tem os braços e o colo à vista, o que reforça a sua nudez para a época. A cabeça da modelo, de perfil, impossibilita a visão completa de seu rosto. Seu ombro esquerdo e rosto estão iluminados por um facho de luz. Ela se mostra surpresa com a chegada de alguém, e, curiosa, estica a cabeça para ver quem é, sem que seja vista. Suas vestes de cima estão sobre a cadeira e os sapatos debaixo dela. A jovem olha curiosa para o local, onde se encontra o pintor, acompanhando o desenrolar da cena.

Uma grande tela emoldurada, onde foi pintada uma paisagem, está pendurada à parede, aparentando uma janela. Acima, há também outro quadro, parte dele encoberto pela cortina. Na parede, acima da cortina aberta pelo pintor, duas armas de fogo cruzam-se.

O observador sente-se como se estivesse dentro do ateliê, postado atrás da modelo, acompanhando a cena, mas sem ser visto. Na visão do historiador de arte, Rafael Cardoso, o verdadeiro importuno é o próprio observador.

A composição está organizada em três divisões: a primeira, à esquerda, delimita-se pela cortina ondulada no alto, cobrindo a cabeça da jovem; a segunda parte diz respeito à figura do pintor, junto ao pano escuro da cortina; a terceira parte encontra-se centro, a mais iluminada, e onde se encontram o cavalete e a tela, a arte propriamente dita. É como se o pintor quisesse ensinar como uma pintura é feita, ao mostrar uma tela dentro de outra.

Em muitas pinturas de Almeida Júnior, ele aventa a presença de outra personagem, mas que não aparece no quadro. Em Leitura, ele mostra uma capa numa cadeira vazia; em Saudade, mostra uma mulher com uma fotografia na mão, mirando-a; em Amolação Interrompida, apresenta o personagem gesticulando para alguém, como se se tratasse de uma fotografia, em O Importuno, o artista apresenta-se falando com alguém por trás da cortina.

Ficha técnica
Ano: 1898
Dimensões: 145 x 97 cm
Técnica: óleo sobre tela
Localização: Acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo, Brasil

Fonte de pesquisa
Almeida Júnior/ Coleção Folha
A arte brasileira em 25 quadros/ Rafael Cardoso

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