ANATOMIA DA INFELICIDADE

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Autoria de Lu Dias Carvalho

O ânimo para viver depende tanto da realidade de uma situação quanto da avaliação que fazemos dela. (Stefan Klein)

 Não resta dúvida de que os acontecimentos externos interferem em nosso ânimo e quanto piores forem, maior é a sua intervenção em nossa vida. Contudo, para que não nos transformemos em sacos de pancada de tais ocorrências, temos que pensar em nós mesmos, desenvolvendo uma maneira de proteger a nossa saúde física e mental ao avaliá-los, o que não significa cruzar os braços, tornando-se omissos. Nada mais racional do que a oração de São Francisco para guiar a nossa conduta de modo a tornar nossa existência mais leve:

“Senhor, dai-me força para mudar o que pode ser mudado, resignação para aceitar o que não pode ser mudado e sabedoria para distinguir uma coisa da outra”.

Muitas pessoas, ao se verem vitimadas pelos acontecimentos nefastos, entregam logo os pontos, dizendo para si mesmas que nada que façam irá adiantar. Achar que “não há nada a fazer” é o lema dos deprimidos e derrotados que preferem jogar a toalha. Quando isso acontece, mente e corpo apresentam-se totalmente enfraquecidos, havendo uma redução do impulso vital. Pesquisas científicas através de exames de tomografia já são capazes de revelar com nitidez o quanto a atividade do hemisfério esquerdo do cérebro diminui sua atividade quando em tal estado.

Segundo o biofísico Stefan Klein, “Como a área do hemisfério esquerdo é responsável tanto pela motivação e pelo prazer quanto pelas emoções negativas, a melancolia acaba prejudicando o bem-estar mental por esses dois caminhos. A pessoa necessita de motivação, mas ao mesmo tempo apresenta grande dificuldade para vencer a tristeza, a vergonha e também o medo do futuro. Por um lado, a depressão é uma decorrência dos sentimentos negativos e por outro  é uma consequência da ausência de prazer”.

Os neurologistas londrinos, Chris Frith e Raymond Dolan, descobriram em suas pesquisas que basta muito pouco para que o desânimo apodere-se até mesmo de pessoas consideradas psicologicamente saudáveis. Eles usaram frases negativas (A Vida não Vale a Pena, Nada Faz Sentido, O Futuro é Péssimo…), acompanhadas de uma música fúnebre em suas pesquisas e logo viram os voluntários demonstrarem sensações de desânimo, desinteresse e inutilidade. O cérebro deles mostrava o mesmo padrão observado em pessoas sob tratamento de transtornos depressivos. Contudo, não levou muito tempo para que recuperassem o equilíbrio. Disso, eles chegaram à conclusão de que “o abatimento comum é efêmero — e é isso que o diferencia da depressão clínica que se apresenta como um túnel sem saída —, mas o efeito emocional é o mesmo nos dois casos”.

É fato que acontecimentos negativos alteram o nosso estado de ânimo, assim como o nosso humor influencia a maneira como sentimos e percebemos qualquer situação na qual nos encontramos. Para mudar essa relação, precisamos aprender a avaliar os acontecimentos, impedindo que esses nos derrubem. A escritora Eleonor H. Porter em seu livro “Pollyana”, publicado em 1913, mostra que em qualquer que seja o acontecimento que nos machuca no agora, sempre existirá uma janelinha aberta para a positividade.

O biofísico Stefan Klein explica que “A área frontal do cérebro exerce uma forte influência sobre os nossos estados de ânimo, pois funciona ao mesmo tempo como memória de trabalho, armazenando temporariamente as informações que voltaremos a necessitar em breve. É por esse motivo que a disposição de espírito está profundamente relacionada ao modo como lidamos com o que acabamos de ver, ler e ouvir. Quando começamos a ver o mundo com tristeza, o cérebro procura manter o estado de ânimo negativo, escolhendo os estímulos que combinem com esse quadro”.

Está explicado, portanto, o porquê de os pensamentos ruins, as experiências desprezíveis e as lembranças dolorosas terem prioridade de acesso na nossa consciência. Nós somos os responsáveis por cultivá-las, regando-as todos os dias com a nossa negatividade. Portanto, cabe somente a nós lidarmos melhor com os acontecimentos, quaisquer que sejam eles.

Nota: ilustração – Campo de Trigo com Corvos, obra de Vincent van Gogh

Fonte de pesquisa:
A Fórmula da Felicidade – Stefan Klein – Editora Sextante

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5 comentaram em “ANATOMIA DA INFELICIDADE

  1. Zeca Procópio

    Boa tarde Lu!

    Uma reflexão sobre o texto.

    Refletir sobre o sentido da vida é uma busca profunda e universal. Diferentes áreas do conhecimento oferecem perspectivas variadas sobre essa questão.

    A busca pelo sentido da vida não deve se limitar apenas à felicidade. Lidar com as dificuldades e infelicidades é parte essencial do caminho, pois na maior parte do tempo, é isso que nos aguarda. Às vezes, aquilo que nos traz prazer também pode nos causar aborrecimentos.

    Após longas noites de angústia nos estudos, finalmente alcançamos a tão sonhada aprovação no concurso almejado. No entanto, esse emprego, além de proporcionar recursos financeiros, também traz consigo estresse (sinônimo de infelicidade). O atleta, após a longa maratona com dores e fadigas, recebe a medalha, que lhe proporciona felicidade. Seu sofrimento lhe proporcionou esse momento. Parece contraditório falar de infelicidade e felicidade. A felicidade existe porque a infelicidade também existe? Talvez a felicidade só tenha significado em contraste com a infelicidade, assim como a luz só existe no painel escuro; ou como a calmaria sucede à tempestade. Assim é a vida.

    A vida é um desafio constante, uma luta para superar dificuldades e celebrar essas vitórias (sinônimo de felicidade). No entanto, devemos lembrar que não podemos evitar a decadência do corpo físico e sua inevitável extinção. Para os místicos, a verdadeira felicidade está em enfrentar os desafios da jornada da existência material com resiliência. A experiência adquirida nessa jornada pertence à alma do ser, que transcende para lugares de regozijo. A jornada em busca do sentido da vida é única para cada um de nós, e é nesse percurso que encontramos significado e propósito.

    Grande abraço.

    Responder
    1. LuDiasBH Autor do post

      Odonir

      Agradeço muitíssimo a sua participação. Será sempre um prazer recebê-la aqui.

      Abraços,

      Lu

      Responder
  2. Hernando Martins

    Lu

    A felicidade é o elo perdido que todos buscam encontrar, cada um com sua maneira de sentir prazer em determinados aspectos da vida. Não podemos pensar a felicidade como algo generalizado e padronizado. As necessidades básicas são comuns para todos nós, mas as específicas são questões de fórum íntimo, porque o que pode trazer prazer para um indivíduo, pode ser tormento para outro.

    Acredito que a felicidade é um momento de satisfação que a gente vive, porque na maior parte do tempo estamos preocupados com o presente e com o futuro e, às vezes presos ao passado. Queremos ter controle da vida, quando na verdade não temos controle de nada! A vida será sempre uma incógnita! Hoje estamos aqui, amanha podemos não existir mais, o que é assustador e muitas vezes gera conflito em alguns, provocando até mesmo depressão ou pânico.

    Temos que aprender a conviver com a dança da vida, entender que tudo tem dois lados, e buscar incansavelmente enxergar o lado positivo da vida, porque muitas vezes o fim de um ciclo é o início de uma nova era. O vazio físico e psíquico pode ser uma grande oportunidade de ser preenchido pelo conhecimento e sabedoria, imprescindíveis para o entendimento maior do sentido da vida.

    Responder
    1. LuDiasBH Autor do post

      Hernando

      A vida é realmente uma caixinha de segredos. Nunca sabemos o que nos acontecerá no amanhã. Daí a importância de viver o melhor possível o agora. Nesta incógnita do existir, cada dia deve ser único.

      Nada mais verdadeiro do que seu conselho:

      “Temos que aprender a conviver com a dança da vida, entender que tudo tem dois lados, e buscar incansavelmente enxergar o lado positivo da vida, porque muitas vezes o fim de um ciclo é o início de uma nova era. O vazio físico e psíquico pode ser uma grande oportunidade de ser preenchido pelo conhecimento e sabedoria, imprescindíveis para o entendimento maior do sentido da vida.”

      Abraços,

      Lu

      Responder

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