Autoria de Lu Dias Carvalho
“Uso todos estes aros, assim como minha mãe, minha avó e minha bisavó usavam, simplesmente para ficar mais bonita”.
Quando os primeiros exploradores europeus chegaram à Ásia, eles se espantaram com alguns costumes ali encontrados. Por exemplo, ficaram horrorizados com as chinesas de pés disformes e as mulheres-girafa, exemplos das grandes anomalias encontradas na cultura asiática. Mas tais tradições eram tão comuns para aqueles povos, como usar cinto ou chapéu no ocidente. O governo chinês aboliu os pés pequenos, mas algumas comunidades asiáticas continuam a fazer uso dos pescoços longos.
As mulheres-girafa recebem tal nome não só pelo tamanho do pescoço, mas também pelo andar altivo, provocado pelo peso dos colares. Elas fazem parte do grupo dos Padaung, vivem em Mianmá (antiga Birmânia), país situado entre a China e a Tailândia. São criaturas de estatura baixa e parecem extremamente frágeis, embora se mostrem muito alegres. Normalmente possuem muitos filhos.
Essas mulheres começam a fazer uso de argolas no pescoço após completarem cinco anos de idade, quando é posto o primeiro aro, numa cerimônia realizada durante a lua-cheia. À medida que crescem, as meninas vão tendo seus aros trocados por outros maiores, até atingirem 18 anos. Cada troca exige um ritual, quando uma curandeira massageia delicadamente o pescoço da garota. Os colares são colocados até atingir o número de vinte e cinco. Os aros não são tirados nem mesmo para dormir, tendo elas de dormir com travesseiros, para não machucarem o pescoço.
Os Padaung acham que a beleza da mulher é proporcional ao comprimento de seu pescoço. E, para que ele cresça cada vez mais, aros são ali colocados ainda na infância, de modo que na idade matrimonial, as mulheres já possuam uma distância entre a cabeça e os ombros entre 25 e 30 centímetros. Elas também usam aros nos pulsos e tornozelos para que afinem. Incrivelmente, as mulheres-girafas usam mais de 10 quilos de aros no pescoço. Sendo que o peso dos anéis e aros das outras partes do corpo pode chegar a 20 quilos. O que parece a nós, ocidentais, uma grande tortura para se carregar ao longo da vida.
Em muitas literaturas é possível encontrar explicações, dizendo que o pescoço é sustentado por inúmeras gargantilhas que nunca podem ser retiradas, devido à fragilidade dele, que passa a não mais aguentar a cabeça. E, caso isso acontecesse, a cabeça cairia ao lado e impediria a respiração. A mulher morreria por sufocamento. O que não é verdade, pois as gargantilhas podem ser retiradas sem prejuízo para a usuária. E, inclusive, são retiradas para a lavagem do pescoço, que só quebraria se fosse virado bruscamente.
É bom saber que não é o pescoço que cresce como muitos pensam, mas são os ombros que descem, pois a clavícula cede com o peso dos aros. De modo que, quatro vértebras torácicas passam a fazer parte da estrutura do pescoço. Existem algumas interpretações para tal costume:
- os colares teriam o objetivo de espantar as forças sobrenaturais;
- os aros eram usados pelas camponesas como uma proteção contra os tigres, que atacavam primeiro a garganta para beberem o sangue;
- as mulheres adúlteras usavam os colares como castigo, antigamente;
- para que suas mulheres não fossem raptadas, os homens tornavam-nas feias, usando aros nos pescoços;
- era uma maneira de os homens mostrarem, através dos aros, a riqueza que possuíam;
- para os padaungs (principal tribo de mulheres-girafas) o centro da alma localiza-se no pescoço. Os aros protegem a alma e a identidade da tribo. Antigamente eram aros de ouro, mas hoje são de cobre.
Hoje em dia, se alguém pergunta o porquê do uso de tantos aros pelo corpo, recebe a seguinte explicação: “Uso todos estes aros, assim como minha mãe, minha avó e minha bisavó usavam, simplesmente para ficar mais bonita”.
Contudo, assim como acontecia com as mulheres chinesas de pés pequenos, ninguém pode imaginar que em tal cultura não haja grande sofrimento, a começar pelos movimentos de que se priva o corpo. Mas, por que elas não abandonam tal tradição? Porque o pescoço funciona como uma fonte de renda. Elas se deixam fotografar pelos turistas em troca de dinheiro. As agências de turismo chegam a oferecer passeios de elefante através da selva, para vê-las de perto, como se fossem animais em exposição. Portanto, os turistas são responsáveis por fomentar tal suplício. Tanto é que os aros, que estavam saindo de moda, voltam a ser usados nas meninas, em razão das vantagens financeiras. É dinheiro fácil, dizem as mães. Como na prostituição, essas mulheres usam o corpo para obter dinheiro.
É fato que as novas gerações vêm se recusando a se transformar em mulheres-girafa, sendo que a grande maioria das mães aceita de bom grado tal decisão. E as mulheres-girafa, que abandonam a tradição, não são incomodadas ou marginalizadas. Algumas, por motivos médicos têm que fazê-lo, por sentirem dores insuportáveis. Muitos rapazes escolhem esposas, que não fazem uso desse costume, por considerá-las modernas. As mães que ainda querem que as filhas sigam a tradição estão, na verdade, preocupadas com o futuro das filhas, pois os pescoços compridos são a garantia de que ganharão dinheiro para comer arroz e ter um teto com facilidade.
Nota Imagem copiada de http://www.fotolog.com.br/missoes_culturas/99748397/
Fonte de pesquisa
Revista Marie Claire/ edição de número 114
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Aqui está uma vez mais o uso e abuso do homem com a mulher. Por que ela tem de aguentar tais barbaridades, que os homens não põem em seus pescoços? É triste ver tanta maldade cair sempre sobre ela.
Abraços Lu
Rui Sofia
Pedro Rui
Você levantou uma questão interessante: só as mulheres usam tais adornos, enquanto os homens não usam nada.
É mesmo um horror passar por tanto sofrimento.
Abraços,
Lu
Lu Dias
Lamentavelmente, países onde impera os “regimes de castas” praticam essas barbaridades sem que nenhuma instituição mundial pregue o fim dessas torturas, dessas atrocidades…
Se são obrigadas desde criança, como podem gostar…
Dá tristeza ler…
Abração
Mário Mendonça
Mário
Não sei qual é mais cruel, os pés atrofiados das chinesas ou esses pescoços cheios de elos.
Tudo é uma loucura e faz parte de costumes atrasados, onde a mulher é sempre a vítima.
E as crianças já crescem achando que aquilo é normal.
Dá tristeza, mesmo.
Abraços,
Lu