AUTISMO E ENTREVISTA COM TEMPLE GRANDIN

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Autoria de Lu Dias Carvalho

autis

A abordagem de um distúrbio mental num folhetim visto por milhões de pessoas, com uma linguagem bem didática, presta um grande serviço à população. Qualquer informação relativa à saúde será sempre bem-vinda. Sem falar que a comunidade científica encontra-se preocupada com o aumento dos números de prevalência de autismo no mundo. Seria uma epidemia? É encontrado em todo o planeta e em famílias de qualquer configuração racial, étnica e social. As manifestações do transtorno variam imensamente, dependendo do nível de desenvolvimento e da idade cronológica do indivíduo. A síndrome do autismo ainda não apresenta cura, mas, quanto mais cedo for diagnosticada, mais fácil torna-se a programação de seu tratamento.

O autismo vem sendo muito conhecido, mas pouco entendido. O Aurélio assim o define: “Fenômeno patológico caracterizado pelo desligamento da realidade exterior e criação mental de um mundo autônomo.”.  Mas acreditar que o autista vive em um mundo próprio criado por ele é considerado um mito. O seu isolamento acontece em razão da dificuldade que sente em iniciar, manter e terminar um contato de interação. O autismo é, portanto, um transtorno que se caracteriza, principalmente, pelo dano provocado à sociabilidade, pois o autista não consegue se comunicar com as pessoas, ao não estabelecer relacionamentos.

O transtorno do autismo já pode ser detectado antes mesmo do terceiro ano de vida, quando as habilidades da criança, em vez de evoluírem, regridem, embora não seja fácil diagnosticá-lo, em razão da variação comportamental que possui a criança autista. Ela passa a se isolar, ficando cada vez mais retraída, sem interagir até mesmo com a mãe, não faz contato visual, sendo que muitas crianças passam a ter dificuldade na linguagem, além de apresentarem um comportamento hostil ou restritivo, como balançar o corpo para frente e para trás, ininterruptamente, ou manusear o mesmo objeto por horas a fio.

Classifica-se o autismo, junto com outras doenças correlatas, como transtorno global do desenvolvimento(TGD). Mas atualmente é visto como transtorno do espectro autista (TEA), que engloba tudo (o Autismo, a Síndrome de Asperger e o Transtorno Global do Desenvolvimento Sem Outra Especificação), levando em conta apenas a gradação: leve, moderada ou grave, com a finalidade de facilitar o diagnóstico. De qualquer forma, não se trata de um transtorno totalmente definido. Algumas crianças, por exemplo, embora sejam autistas, mostram-se inteligentes e dominam a fala, enquanto outras são incapazes de desenvolvê-la. Certos autistas são fechados e distantes, enquanto outros possuem comportamentos rígidos e específicos.

A neurociência (Aurélio: Qualquer das ciências que estudam o funcionamento do sistema nervoso, especialmente o do cérebro.), ao entender que possuímos um “cérebro social”, vem ajudando na compreensão do diagnóstico do autismo. Ela mostra que o modo como o cérebro funciona repercute no nosso comportamento. Exemplificando: temos a capacidade de notar a emoção na face de outra pessoa, apenas ao observá-la, assim como sabemos como agir neste ou naquele contexto, modificando nosso comportamento. E mais importante: somos capazes de nos colocar no lugar do outro, fator imprescindível para a empatia, ou seja, para as interações sociais. O autista não possui tais habilidades, ou apresentam déficits em relação às mesmas. Portanto, não estabelece relacionamentos e não responde de acordo com o ambiente em que se encontra inserido.

O autismo não está ligado ao retardo mental ou à falta de domínio das palavras, como pensam alguns. Certas crianças, apesar de autistas, apresentam inteligência e fala  intactas, muitas vezes com inteligência acima da média. Outras apresentam sérios problemas no desenvolvimento da linguagem. Alguns portadores da síndrome parecem fechados e distantes, outros presos a rígidos e restritos padrões de comportamento. As manifestações do transtorno variam imensamente, dependendo do nível de desenvolvimento e da idade cronológica do indivíduo.

Certos adultos com autismo são capazes de ter sucesso na carreira profissional. Porém, os problemas de comunicação e socialização causam, frequentemente, dificuldades em muitas áreas da vida desses indivíduos. Adultos com autismo continuarão a precisar de encorajamento e apoio moral na sua luta para uma vida independente. Pais de autistas devem procurar programas para jovens adultos autistas bem antes dos seus filhos terminarem a escola.

Indivíduos com autismo usualmente exibem pelo menos metade das características listadas a seguir:

  1. Dificuldade de relacionamento com outras pessoas
  2. Riso inapropriado
  3. Pouco ou nenhum contato visual (não olham nos olhos das pessoas)
  4. Aparente insensibilidade à dor (não respondem adequadamente a uma situação de dor)
  5. Preferência pela solidão e modos arredios (buscam o isolamento e não procuram outras crianças)
  6. Rotação de objetos (brinca de forma inadequada ou bizarra com os mais variados objetos)
  7. Inapropriada fixação em objetos
  8. Perceptível hiperatividade ou extrema inatividade (muitos têm problemas de sono ou excesso de passividade)
  9. Ausência de resposta aos métodos normais de ensino (muitos precisam de material adaptado)
  10. Insistência em repetição, resistência à mudança de rotina
  11. Não tem real medo do perigo (consciência de situações que envolvam perigo)
  12. Procedimento com poses bizarras (fixar um objeto ficando de cócoras; colocar-se de pé numa perna só; impedir a passagem por uma porta, somente liberando-a após tocar de uma determinada maneira os alisares)
  13. Ecolalia (repete palavras ou frases em lugar da linguagem normal)
  14. Recusa colo ou afagos (bebês preferem ficar no chão que no colo)
  15. Age como se estivesse surdo (não responde pelo nome)
  16. Dificuldade em expressar necessidades (sem ou limitada linguagem oral e/ou corporal; gestos)
  17. Acessos de raiva (demonstram extrema aflição sem razão aparente)
  18. Irregular habilidade motora (podem não querer chutar uma bola, mas podem arrumar blocos)
  19. Desorganização sensorial (hipo ou hipersensibilidade, por exemplo, auditiva)
  20. Não fazem referência social (entram num lugar desconhecido sem antes olhar para o responsável, para fazer referência antes e saber se é seguro)

Entrevista com Temple Grandin  (uma das mais reconhecidas autoridades em autismo no mundo).

“O autismo é parte de quem eu sou, mas não vou permitir que ele me defina. Sou uma expert em animais, professora, cientista, consultora.”

FSP – Seu novo livro trata do cérebro dos autistas. Em que ele é diferente?
TG – As ligações são diferentes, meu cérebro é diferente do cérebro de um neurotípico (pessoa sem o transtorno). Não é culpa da mãe ou da educação, autistas nascem com diferenças físicas.

FSP – Como deve ser o tratamento das crianças com autismo na escola?
TG – A educação deve levar em consideração as habilidades da criança, investindo nelas. Se a criança tem habilidade para as artes, vamos investir nisso. É preciso trabalhar com a criança para enfrentar suas dificuldades. Se ela tem problemas para se relacionar, é preciso ensinar aos poucos as habilidades sociais, ensiná-la a cumprimentar, a dar a mão. Se não consegue falar, é preciso atacar esse problema, uma palavra de cada vez, ou usar música.

FSP – Como os pais podem saber se seu filho é autista?
TG – Não é preciso fazer ressonância magnética do cérebro para identificar autistas ou crianças com problemas de desenvolvimento. Se uma criança chega aos três anos e ainda não consegue falar, existe algum problema.

FSP – Como a família pode ajudar a criança?
TG – A melhor forma é ficar muito tempo com a criança, horas a fio, conversando com ela, tentando ensinar uma palavra, um gesto de cada vez. Avós são muito boas para isso; em geral, têm tempo para se dedicar aos netos e habilidades pedagógicas.

FSP – Na escola, devem ser colocadas em classes especiais?
TG – As crianças com autismo podem frequentar escolas comuns, mas os professores precisam saber que elas têm necessidades e habilidades especiais. Uma criança autista pode ser muito fraca na escrita, mas ótima com os números. Então, ela deve receber atendimento extra para aprender a escrever ou ler e ser incentivada a progredir naquilo em que for boa – no exemplo, pode passar adiante da classe em matemática.

FSP – O que precisa mudar no atendimento à criança autista?
TG – Os educadores devem focar nas habilidades das crianças autistas, não só nas suas deficiências, para que elas tenham melhores condições de se integrar à sociedade. As crianças autistas devem ser incentivadas a se especializar em alguma atividade. Quando eu estive na escola, sofri muito com as críticas e as gozações dos outros. Eu me refugiei no desenho, no trabalho com os animais. A atividade especializada é muito boa para os autistas: música, artes, robótica, seja o que for.

FSP – O que fazer para que os autistas possam ter uma vida independente?
TG – É preciso entender que os autistas pensam diferente. Alguns pensam em padrões, outros por imagens. É preciso aproveitar isso para ajudá-los, para que possam contribuir com a sociedade. Mas é preciso ajudá-los. Eu sugiro que, a partir dos 12 anos, as crianças recebam orientações e treinamento em áreas que possam lhes ser úteis para que venham a ter um emprego, seja atendendo em uma loja, seja trabalhando com animais ou qualquer outra coisa.

Fontes de pesquisa:
Einstein &Saúde (www. Einstein.br)
http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2013/05/1284675-autismo-e-parte-de-mim-mas-nao-me-define-diz-a-cientista-temple-grandin.shtml

2 comentaram em “AUTISMO E ENTREVISTA COM TEMPLE GRANDIN

  1. LuDiasBH Autor do post

    Gláucia

    Você gostando, significa que o texto foi aprovado.
    Realmente os diagnósticos são hoje bem mais rápidos, e as pessoas procuram mais informação.
    Concordo plenamente com você.
    A informação é fundamental tanto para acabar com o preconceito como para buscar ajuda médica.

    Abraços,

    Lu

    Responder
  2. Glaucia Mara Santos Pinheiro

    Lu, o texto ficou muito bom, a linguagem é clara e bem informativo. Acho que não se trata de uma epidemia, mas de diagnósticos mais objetivos e do próprio desenvolvimento da ciência, além de uma população mundial mais informada e que procura ajuda profissional rapidamente. O conhecimento é a única forma de evitar o preconceito. Beijos, Glaucia.

    Responder

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