Autoria de Lu Dias Carvalho
Segundo o Aurélio, a acídia, também conhecida por acedia, significa abatimento do corpo e do espírito, moleza, frouxidão. Traduzindo, para uma linguagem mais próxima de nosso tempo, é o “não se importar” com nada ou ninguém, é a indiferença. É o comportamento carregado de amargura ou cinismo em relação à vida. É o fastio, o enfado, a indolência, a passividade, a indiferença, a languidez proveniente do tédio, ou a omissão no tratar com o mundo.
O capitalismo selvagem – sistema econômico em que o consumismo abunda – tem sido um campo fértil para que a indiferença se propague. De certa forma, o tédio, a omissão e o niilismo (aniquilamento, descrença absoluta) estão impregnados de um desespero mudo. Muitos já nem possuem mais a percepção de que parte do mundo agoniza, tão voltados que estão para o próprio umbigo. São incapazes de ver além de si mesmos. E por mais que tenham, sempre querem ter mais, indiferentes ao resto do mundo.
O conhecido psicólogo e escritor Erich Fromm acredita que a cultura contemporânea tem sido responsável pelo aumento do tédio que avassala a humanidade. Segundo ele, as pessoas entediadas são gélidas. Não sentem alegria, mas também não sentem tristeza ou dor. Perdem a capacidade de posicionarem-se diante de fatos importantes, pois carregam pela vida uma indiferença total e absoluta, como se dela não fizessem parte. E muitos são entediados por possuírem em excesso, de modo que nenhuma conquista traz-lhes prazer. Tudo leva a crer que o homem moderno vive uma epidemia de tédio, tão grande é o seu descompromisso para com o planeta como um todo. Ele passa por uma profunda crise de valores e de imaginação. Vem se tornando cada vez mais solitário e triste, porque está desaprendendo compartilhar e interferir no que passa ao seu redor. Não tem compromisso com o mundo à sua volta. É cada vez mais omisso.
A espécie humana tem vivido a cultura do “não estou nem aí”. Totalmente indiferente em relação ao destino da Terra, como se não houvesse nada que pudesse fazer, ou se não tivesse nenhum poder de interferência, ou se vivesse numa outra dimensão, num outro planeta. Nem percebe mais que é parte integrante da natureza, de modo que não pode pilhá-la, explorá-la e violá-la sem que pague por isso até mesmo com a vida, e isso sem levar em conta seus descendentes – correm o risco de viver num planeta totalmente exaurido.
A humanidade tem amargado um preço muito alto por sua postura de alienígena no planeta Terra. Este aniquilamento e desprazer de viver têm suas raízes fincadas no desdém pela natureza, ao envenenar rios e mares, desnudar montanhas, extinguir a vida selvagem, poluir a atmosfera, aumentar a temperatura do planeta, ignorando que é parte de um único corpo. Esquece-se de que aquilo que deixamos de fazer, muitas vezes, pode ser muito mais importante do que aquilo que fazemos. Parvo é quem pensa que, ao se omitir, fica com a consciência limpa, sem culpa no cartório. A não ação, também é um tipo de ação, ainda que ao contrário, como provou Ghandi. Só que, no caso do indiano, ela foi usada positivamente, enquanto agora floresce como uma erva daninha, um produto da inércia e da omissão.
A civilização atual está promovendo um ecocídio ao acabar com o equilíbrio entre o humano e o não humano. A ligação entre as duas partes, além de ser fator de bem-estar moral e espiritual, é imprescindível para a sobrevivência do planeta. O homem não pode ser autossuficiente a ponto de desprezar os outros seres que coabitam consigo. A ética é muito mais ampla de que se imagina. Ela deve estar não apenas nas relações entre os seres humanos, como na relação com o ambiente e as demais espécies. Somente o respeito às diferentes formas de vida poderá salvar a Terra.
A cultura atual vem levando ao pé da letra o conceito de antropocentrismo. O homem está imbuído do convencimento e da vaidade de que tudo na Terra foi criado para beneficiá-lo. Ironicamente, ao ignorar os direitos dos outros seres, ele está construindo o seu próprio caos. Engana-se ao pensar que não é interdependente com os outros elementos do planeta. Desconhece o sentido da palavra humanidade (húmus = terra, em latim). O planeta Terra é o nosso lar, é a nossa terra, ainda que finjamos não compreender isto. Subestimá-lo é transformá-lo, em curto prazo, num hospital de humanos doentes de corpo e de alma.
É bom que todos nós, diante do ecocídio perpetrado por governantes insanos e por humanos ignorantes e vis, afeitos apenas ao “ter”, saibamos que a complacência sem limites é tão nociva quanto a intolerância. A omissão contrapõe-se à justiça, quando cruzamos os braços, ao ver que nossa civilização está destruindo águas, solos, árvores nas cidades e florestas, e outras espécies, num ritmo nunca visto. Tenhamos a certeza de que pagaremos um grande preço, pois a toda ação corresponde uma reação. Não perdemos por esperar. Precisamos botar um freio no capitalismo selvagem que está destruindo o planeta, quando o lucro fácil passa a ser a parte mais importante de tudo, sem nenhuma forma de remorso.
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Lu
A partir do momento em que o homem sapiens lascou a pedra e começou a promover as pequenas transformações nas suas rotinas, iniciaram-se as mudanças externas e automaticante as internas. Somos nominados de humanos porque temos mãos e um prosencéfalo desenvolvido o suficiente para elaborar conceitos, ou seja,os únicos seres do planeta capazes de alterar o planeta. Nenhum outro animal é capaz desta façanha. Mas, ao contrário de nós, as outras espécies estão conectadas com o equilíbrio planetário.
A ecologia e a economia são duas vertentes que estão diretamente interligadas. O capitalismo selvagem está exaurindo as fontes minerais, vegetais, animais e de energia, não esquecendo da produção exacerbada do lixo e poluição em todos os níveis. O capitalismo selvagem é um sistema extremista e não é sustentável, além de promover um acúmulo brutal de riquezas para uma minoria em detrimento da grande parcela da população mundial que vive em estado de miséria. Este sistema é totalmente incoerente, porque na maior parte das vezes produz ricos e não riquezas. O dinheiro concentrado não promove transformação efetiva porque não tem abrangência. Podemos fazer uma analogia com uma água parada, estagnada que com o tempo apodrece e torna-se imprópria ao consumo. Tudo na vida tem que fluir, interagir e compartilhar, pois do contrário torna se patológico …
Alguns países como a Finlândia, Noruega, Suécia, Alemanha dentre outros têm uma preocupação maior em buscar o desenvolvimento de um capitalismo menos selvagem e preocupação maior com as questões ecológicas, concomitante com a inclusão e justiça social.
Um grande abraço,
Hernando
Hernando
Adorei o teor de seu comentário.
Gostaria muitíssimo que fizesse um texto sobre este assunto para ser publicado aqui neste espaço.
Abraços,
Lu
Lu
As consequências do capitalismo selvagem são: a ganância, o egoísmo, a concorrência desleal, o ódio, o egocentrismo, o consumismo e o descaso com o meio ambiente. A criação do número de empregos não justifica o consumismo, pois eles poderão aumentar no trabalho de conservação do meio ambiente. Basta haver políticas públicas para tal finalidade como têm o Japão.
Abraço,
Devas
Professor Devas
É sempre bom contar com a sua participação e sabedoria. Estamos sempre aprendendo mais.
Abraços,
Lu
Lu
Concordo em partes com o texto, tem muita gente por aí que não se preocupa com ninguém mesmo, principalmente ricos, mas também tem pobres que pensam e agem da mesma forma, o poder aquisitivo não é o fator X que faz as pessoas terem esse tipo de pensamento na minha visão, mas sim o “jeito de ser” de cada um. “Por mais que tenham, sempre querem ter mais” verdade, porém, quanto a isso não há nada que possamos fazer, veja, se um homem é milionário e tem 10 carros, e deseja comprar mais 10, por que ele não poderia? O fato de algumas pessoas não poderem fazer o mesmo não criminaliza o ato de tal pessoa, e não é o fato de adquirir vários bens que deixa uma pessoa com cara de “egoísta” mas, sim, a maneira como ela age. Exemplo, se eu comprar esses 10 carros apenas por gosto pessoal é uma coisa, agora, se eu comprar e for em um bairro pobre e dizer para um pobre “olha, eu tenho e você não” aí é outra história…
Mas como disse, não há nada que possamos fazer, já critiquei muito esse tipo de ação, mas apenas acabei sendo chamado de “invejoso” sendo que eu nem sequer desejo alguma coisa além de conhecimento, principalmente sobre música… Por mais que o capitalismo pareça brutal, infelizmente é o único sistema que “funciona” para nossa sociedade, o resto é utopia. Na minha opinião, capitalismo, socialismo, comunismo, são tudo lados diferentes da mesma moeda, foram criadas por pessoas com fome de poder em busca de poder, queria eu que o mundo fosse de outra forma, um mundo sem moeda de troca, onde todos soubessem onde fica a linha onde do certo e errado, mas isso também é utopia…
Lucas
Eu poderia escrever páginas e páginas mostrando que a sua visão está equivocada, contudo, há conhecimentos que só aprendemos com a maturidade, com a vivência… E você ainda é um jovenzinho maravilhoso, cheia de boas intenções. Deixo apensa um pequeno texto de Steven Jobs para sua reflexão:
As últimas palavras de Steve Jobs
“Cheguei ao topo do sucesso nos negócios. Aos olhos dos outros, minha vida tem sido o símbolo de sucesso. No entanto, além do trabalho, tenho pouca alegria. Finalmente, minha riqueza é simplesmente um fato que estou acostumado.
Neste momento, estou na cama de hospital, lembrando de toda a minha vida, percebo que todos elogios e riquezas de que estava tão orgulhoso, tornaram-se insignificantes com a iminência da morte. No escuro, quando vejo a luz verde e escuto o ruído do equipamento de respiração artificial, posso sentir a respiração da morte se aproximar. Só agora entendo, uma vez que você acumular dinheiro suficiente para o resto de sua vida, devemos seguir outros objetivos que não estão relacionados a dinheiro.
Deve ser algo mais importante:
Por exemplo, histórias de amor, arte, sonhos da infância … O “não” deixar de perseguir a riqueza, só pode converter uma pessoa em fracassado, assim como eu.
Deus fez uma forma para que possamos sentir amor no coração e não ilusões construídas pela fama ou dinheiro, como fiz em toda minha vida e não posso levar comigo. Posso levar lembranças que o amor fortaleceu. Esta é a verdadeira riqueza que te acompanhará, lhe dará força e luz para ir em frente. O amor pode viajar milhares de quilômetros e, assim, a vida não tem limites. Vá para onde queira ir. Esforce-se para alcançar seus objetivos. Tudo está em seu coração e em suas mãos.
Qual é cama mais cara do mundo? A cama de hospital. Se você tem dinheiro, pode pagar alguém para dirigir seu carro, só que “não” pode pagar alguém para sofrer sua doença. Os bens materiais perdidos, podem ser encontrado. Existe uma coisa você não pode encontrar quando perde: a vida.
Seja qual for a fase da vida em que estamos agora, no final, teremos de enfrentar o dia quando a cortina abaixa. Por favor, valorize seu amor pela família, o amor por seu companheiro e o amor pelos amigos… Trate-se bem e cuide do próximo”.
Eu me inquieto com mediocridade, ganância, frieza… Gente que gosta mais de coisas que de gente. A vida é sublime, não podemos desperdiçar com superficialismo.
Abraços,
Leila
Leila
É essa ganância, o pensar só em si mesmo, a sede de poder e o superficialismo agregado ao capitalismo doentio que estão destroçando o planeta Terra e a humanidade. Prova disso é o comportamento da maioria dos dirigentes do mundo.
Abraços,
Lu
Pedro Rui
E pensar que nossa vida no planeta Terra é tão curta.
Como são bobos os gananciosos.
Dá pena, mesmo.
Abraços,
Lu
Por ele (dinheiro) vale tudo, matar, calcar, roubar, desrespeitar, vender órgãos humanos, escravidão, prostituição, enfim, vale tudo. Como dizes, pode ser que os humanos quando derem pelo erro podem já não ir a tempo. Mas o pior é que estão muitos humanos a sofrer, não só o planeta e as criaturas viventes.
Um abraço
Rui Sofia
Lu,
Entendo que o consumismo não é totalmente nocivo. Para ser simples, advogo que ele oferece empregos, e isto é essencial numa sociedade. Claro, que precisamos de mais, mas já é um bom início. Pergunto, sim, o que estamos fazendo no dia a dia para a coletividade? Antes de reclamarmos do poder público, é preciso ter consciência do que podemos fazer, com os nossos próprios meios. A mudança começa por aí.
Abração,
Alfredo Domingos
Alf
O consumismo é nocivo porque é irresponsável. As pessoas compram sem necessidade. O ganho que traz dando empregos é perdido com os horrores feitos ao planeta que dá o troco mais cedo ou mais tarde, redundando em grandes desastres (enchentes, tsunamis, desertos…) que retornam para o homem tirando-lhe tudo. Veja o que estão fazendo com a natureza na China e na Índia (e mesmo aqui no Brasil). A poluição de fábricas é tamanha que em algumas cidades está sendo necessário o uso de máscaras. Como fica o Planeta? A mudança deve começar dentro de nossa casa, no gasto de água, energia, alimentos, etc.. Isto se quisermos deixar um planeta saudável para as futuras gerações.
Abraços,
Lu
Realmente a mudança está em cada um de nós, pelo que observo andamos no mundo, não vejo, não ouço e não é nada comigo, um mundo moribundo. A mãe natureza é que paga um preço muito alto pelas ações dos seres humanos. Perturba-me ver ações tão macabras, as pessoas não olham para quem está ao seu lado. As nossas atitudes têm que mudar, não deixar que sejamos calcados pela chamada “democracia” que nos passa por cima e nada é com eles.
Abraços Lu
Rui Sofia
Pedro Rui
O homem moderno está se transformando em caracol.
Entra na sua casca de egoísmo e esquece que existe um mundo à sua volta.
Não vê as florestas destruídas, as águas contaminadas, o ar poluído, os animais exterminados…
Quando ele acordar, talvez será tarde demais.
E a “democracia” não impõe limites para salvar o planeta Terra.
Tudo pode, em nome do lucro advindo do consumismo doentio.
Abraços,
Lu