Arquivo da categoria: Apenas Arte

Textos sobre variados tipos de arte

Ambrogio Figino – ZEUS, HERA E IO

Autoria de Lu Dias Carvalho

zeuherio

A composição denominada Zeus, Hera e Io é uma obra do pintor italiano Ambrogio Figino, baseada no mito que conta o envolvimento de Zeus com a ninfa Io.

Ao perceber que Zeus (Júpiter) estava a traí-la, escondido atrás de uma nuvem escura, Hera (Juno) afastou-a, mas o que viu foi seu marido perto de uma novilha, que de fato era a ninfa Io, de linhagem mortal, que fora transformada pelo deus em um animal, para não causar ciúmes à sua mulher. É fato que Hera não descansou, enquanto não tirou tudo a limpo.

A pintura de Ambrogio mostra o encontro de Hera, sentada sobre uma nuvem, com seus esposo Zeus, na terra, questionando-o sobre a presença daquela novilha próxima a ele. O deus está coberto por um manto avermelhado, com as pernas cruzadas, tendo um pequeno cupido atrás de si. À sua direita encontra-se uma ave negra. A posição de sua mão esquerda indica que ele está a dar explicações à esposa. Indiferente à discussão, a novilha olha para o observador, como quem diz: – Eu não tenho nada com isso!

Uma paisagem descortina-se ao fundo, com um arco-íris e dois pavões na parte superior esquerda da tela.

Ficha técnica
Ano: 1599
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: (?)
Localização: Pinacoteca Malsapina, Paiva, Itália

Fontes de pesquisa
Mitologia/ Thomas Bulfinch
Mitologia/ LM

Views: 37

Kooning – MULHER III

Autoria de Lu Dias Carvalhokoo1

Alguns artistas atacaram-me por pintar mulheres, mas eu acho que isso era problema deles, não meu. Não me sinto nada como um pintor não-objetivo. (Kooning)

Nada é certo sobre a arte, exceto de que é uma palavra. Toda a arte se torna literária. Ainda não vivemos num mundo em que tudo é evidente. É muito interessante verificar que muitas pessoas, que querem saber o que diz uma pintura, nada mais fazem que falar sobre ela. Porém, não é uma contradição. A arte é eternamente muda e dela se pode falar eternamente. (Kooning)

A composição denominada Mulher III é uma obra do artista figurativista holandês Willem de Kooning, pintor do expressionismo abstrato. Ele era também escultor e desenhista. Radicado nos Estados Unidos, e um dos principais nomes do abstracionismo naquele país, a temática favorita de sua obra era a mulher.

A pintura Mulher III, que posa de pé, faz parte de uma série de seis pinturas, feitas entre 1950 e 1953, cujo tema central é a figura feminina. Entre 1970 e 1994, esta obra fazia parte de um museu de arte contemporânea em Teerã (Irã), mas, a partir da revolução islâmica, em 1979, ela foi proibida de ser exibida. Em 1994 foi negociada debaixo dos panos. E em 2006, seu novo dono vendeu-a para um bilionário, transformando-a na quarta pintura mais cara, à época, até então vendida no mundo.

Quando a série foi exposta por Kooning, em 1953, vários artistas e críticos de arte não gostaram do que viram, alegando que o pintor havia “traído os ideais da abstração”. O artista argumentou que havia sido inspirado pelas figuras da Mesopotâmia, com seus seios fartos, olhos arregalados e boca sorridente.

Ficha técnica
Ano: 1953
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 172.7 x 123,2 cm
Localização: coleção particular

Fontes de pesquisa
http://www.nytimes.com/2006/11/18/arts/design/18pain.html
http://www.thelovelyplanet.net/woman-iii-by-william-de-kooning/
http://nga.gov.au/international/catalogue/Detail.cfm?IRN=47761

Views: 13

Francis Bacon – TRÊS ESTUDOS DE LUCIEN FREUD

Autoria de Lu Dias Carvalho

saba12

É uma verdadeira obra-prima e uma das mais excepcionais pinturas leiloadas nesta geração. Um ícone incontestável do século XX, que marca o relacionamento de Bacon e Freud, em homenagem ao parentesco criativo e emocional entre os dois artistas. (Francis Outred de Christie)

A obra conhecida como Três Estudos de Lucian Freud encontra-se entre as 50 pinturas mais famosas do mundo. Trata-se da mais importante composição do pintor britânico figurativo Francis Bacon, cujo trabalho é tido como corajoso, austero e algumas vezes grotesco. Sua fama deveu-se, sobretudo, ao preço exorbitante pela qual foi vendida em 2013 (142,4 milhões de dólares), batendo o recorde de obras de arte leiloadas até então.

Três Estudos de Lucian Freud é um tríptico composto por telas do mesmo tamanho e emolduradas individualmente, que retrata o pintor Lucian Freud (neto de Sigmund Freud), grande amigo de Bacon, tendo um exercido grande influência sobre o outro. Os três painéis foram trabalhados ao mesmo tempo, mas foram vendidos separadamente em meados de 1970, após o tríptico ser exposto no Grand Palais/Paris (1971-1972), para tristeza do artista, que dizia que ficavam “sem sentido, a menos que um estivesse unido aos outros dois painéis.”. Mas em 1999 o trabalho voltou à sua forma original.

Na composição, o artista distorce as formas nos três painéis, usando um estilo abstrato. Lucian Freud é pintado em posições ligeiramente diferenciadas, sentado numa cadeira de madeira, com fundo entrelaçado de palhinha, dentro de uma gaiola. O fundo das três composições é alaranjado e o chão manchado de marrom, cor que prevalece com mais intensidade no primeiro painel e que vai evanescendo até quase desaparecer no terceiro. Atrás de cada cadeira vê-se uma cabeceira de cama. Francis Bacon revela uma gama de emoções em seu tríptico, como angústia, medo, violência, inquietude, etc.

Os colecionadores da China, Rússia e Oriente Médio têm elevado o valor das obras contemporâneas às alturas. Cada leilão bate o recorde de valor de obras anteriores. A pergunta que nos vem à cabeça é: Como há gente com tanto dinheiro? Essa demonstração de riqueza e vaidade chega a ser um desrespeito aos demais viventes do planeta Terra, pois  uma obra de arte não pode valer tanto.

Ficha técnica
Ano: 1969
Técnica: pintura a óleo
Dimensões:198 x 147,5 cm
Localização: Coleção particular

Fontes de pesquisa
https://www.publico.pt/culturaipsilon/noticia/estudos-de-freud-de-francis-bacon
https://en.wikipedia.org/wiki/Three_Studies_of_Lucian_Freud

Views: 17

Leutze – WASHINGTON CRUZANDO O DELAWARE

Autoria de Lu Dias Carvalho

Del
A composição Washington Cruzando o Delaware, obra do pintor Emanuel Gottlieb Leutze, que nasceu na Alemanha, mas cresceu nos Estados Unidos, é uma das mais famosas obras dos Estados Unidos da América.

A pintura mostra o General George Washington, comandante do Exército Continental, e, que viria a tornar-se o primeiro presidente dos Estados Unidos, à frente de seu exército, lutando pela libertação da então colônia inglesa, na Batalha de Treton, Nova Jersey, cruzando o rio Delaware.

O pintor Emanuel Gottlieb Leutz (1816-1868), ao voltar para a Alemanha, já adulto, com o objetivo de estimular reformistas liberais na Europa, tomou como exemplo a Revolução Americana. Pintou seu quadro usando turistas americanos e estudantes de arte como modelos. Porém, a primeira versão foi estragada pelo fogo no estúdio do pintor, sendo posteriormente restaurada. Mas durante a Segunda Guerra Mundial, num bombardeio à Alemanha, feito pelos britânicos, a obra foi destruída. O artista pintou outra versão do quadro, que passou por diversas mãos, até ser doado ao Museu Metropolitano de Arte, em Nova Iorque.

Existem na composição tons escuros, uma vez que a travessia deu-se de madrugada, contudo, há inúmeros destaques vermelhos, amarelos, verdes, etc. Os barcos, que vêm atrás do usado por George Washington, dão profundidade à pintura, e põem em destaque aquele que leva o general, à frente. Washington mostra-se altivo, olhando para longe. Ao seu lado, segurando a bandeira enrodilhada pelo vento, está o tenente James Monroe, que também viria a ser presidente dos Estados Unidos. Sentado atrás, com a mão no chapéu, está o general Edward.

Os personagens, presentes no barco em que se encontra o comandante, representam a união das colônias americanas na luta pela independência. Entre os remadores, na proa, estão um homem com uma boina escocesa, de frente para o observador, e outro de ascendência africana (de perfil). Na polpa estão os atiradores, dentre eles dois agricultores, encolhidos pelo frio, com seus chapéus largos, sendo que um deles traz a cabeça enfaixada. Um dos remadores, de frente para o observador, é muito parecido com uma mulher. Usa uma veste vermelha e cachecol escuro. Outro, de costas para o observador, é um americano nativo, sua presença tem o objetivo de lembrar a exploração dos índios pela metrópole inglesa, e também representa a união de todo o povo da colônia.

O revolucionário, assentado na proa, tem a função de quebrar o gelo para a travessia da embarcação no rio de águas revoltas e perigosas. Sua bota empurra uma grande pedra de gelo. O homem atrás, na polpa, procura manter o curso do barco com seu remo. Apesar de ser a pintura muito bonita, o artista incorreu em alguns erros históricos:

• a travessia aconteceu à noite, mas luzes fantasmas são vistas de todos os lados, e ainda se vê o sol, que projeta a sombra do primeiro remador sobre a água;
• a bandeira representada é a original do país, mas, que não existia à época, só surgindo no ano seguinte. A correta deveria ter sido a da Grand Union, padrão do Exército Continental e a primeira bandeira nacional;
• o barco retratado não corresponde ao da época, sem falar que é muito pequeno para conter 12 pessoas e armas dentro, sem afundar;
• o pintor tomou o rio Reno como modelo, que congela diferentemente do Delaware. O primeiro congela irregularmente, em pedaços, enquanto o segundo o faz por inteiro, denso;
• o rio Delaware, atualmente chamado de Washington Crossing, é bem mais estreito do que o mostrado no quadro;
• chovia durante a travessia;
• cavalos e armas, numa campanha militar, não são conduzidos em barcos, mas em balsas; o cavalo branco ainda está sendo montado, dentro do barco;
• de acordo com a situação climática, com o rio cheio de pedras de gelo, era impossível a Washington manter-se em tal postura, pois poderia ser jogado na água com o balanço do barco. O pintor quis lhe dar uma pose de herói.

O artista é livre para fazer sua obra de acordo com o que imagina.

Ficha técnica
Nome: Washington Cruzando o Delawere
Autor: Emanuel Leutze
Ano: 1851
Dimensões: 378,5 x 647,7 cm
Técnica: óleo sobre tela
Localização: Museu Metropolitan, Nova York, EUA

Views: 3

Arnold Böcklin – A ILHA DOS MORTOS

Autoria de Lu Dias Carvalho

ilha1

Aqui está, como desejaram, um quadro para sonhar. Ele terá de parecer tão silencioso que nos assustamos se alguém bater à porta. (Arnold Böcklin)

O simbolista suíço Arnold Böcklin (1827-1901) começou como pintor de paisagens, mas em contato com a arte renascentista, acabou seduzido pelas figuras mitológicas e alegóricas, introduzindo-as em sua obra. Foi o percursor do surrealismo, tendo exercido influência sobre vários artistas, dentre os quais podemos citar Max Ernst, Salvador Dalí, Giorgio de Chirico, Otto Weisert, Roger Dean, Paul Harvey, Rachmaninov, Heinrich Schülz-Beuthen, Max Reger, etc.

Uma das características mais interessantes do pintor é o fato de que ele não gostava de dar nome às suas obras, achando que o título interferia no espírito do observador. A Ilha dos Mortos, por exemplo, apresentada em cinco versões de um mesmo quadro e também a sua obra mais famosa, recebeu este título do galerista alemão Fritz Gurlitt, em 1883. Böcklin também não deixou explicações sobre o significado da obra, o que leva a algumas especulações e muitas indagações, embora ele a tenha descrito como uma “pintura de sonhos”.

Alguns críticos de arte interpretam A Ilha dos Mortos como sendo a travessia do rio Stix, da mitologia grega. O barqueiro é Caronte, responsável por atravessar as almas para o outro lado do rio, e a figura de branco seria uma alma recém-chegada, possivelmente. A composição mostra uma ilha lúgubre, dentro de um lago. Inúmeros ciprestes (árvore associada a cemitérios e ao luto) levantam-se ultrapassando os rochedos. Segundo alguns estudiosos, o pintor era impressionado com a morte.

No primeiro plano da composição, um pequeno barco segue em direção à ilha. Dentro dele encontram-se um barqueiro e uma figura humana, toda de branco. No interior do barco está, possivelmente, um sarcófago. A rocha mostra portais de sepulcros e janelas. O mais interessante neste quadro é que se trata de uma obra muito apreciada por pessoas conhecidas:

  • Adolf Hitler, o ditador alemão, comprou a terceira versão e a postou em seu estúdio. Mesmo quando viajava, levava-a consigo. Inclusive o quadro encontrava-se no seu bunker, onde foi encontrado morto.
  • Vladimir Lenin, o revolucionário comunista, trazia uma versão da obra bem acima de sua cama.
  • Sigmund Freud, médico e psicanalista, detinha 22 cópias da obra decorando seu estúdio.
  • Salvador Dalí, pintor surrealista, dizia que era apaixonado pelo quadro.
  • Strindberg, inspirado no quadro, fez a “Sonata dos Espectros”.
  • Rachmaninov compôs o poema sinfônico “A Ilha dos Mortos”, inspirado na obra.

Ficha técnica
Data: 1880

Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 111 x 115 cm
Localização: Kunstmuseum, Basiléia, Suíça

Fonte de pesquisa:
www.brasil247.com/pt/247/revista_oasis

Views: 7

Tião Paineira: O MUNDO COMEÇOU COM O BARRO

Autoria de Luiz Cruz

Sebastião Augusto de Freitas nasceu em Tiradentes, em 23 de abril de 1928. É homem privilegiado, pois tem dois santos guerreiros como protetores: São Sebastião e São Jorge. É o nosso querido Tião Paineira – Paineira é apelido de família. No quintal de seu bisavô existia uma gigantesca árvore de paina e desde essa época todos se referem aos “Paineira”. Casou-se com Maria José de Freitas, que nascera em Barroso. Ela foi o amor de sua vida e nos conta que a “conheceu quando passeava se agradou do Tião, que era bom das vistas, andava arrumadinho e ela achou graça em mim.”. Tiveram nove filhos e agora têm oito netos.

Desde muito cedo, com mais ou menos 12 anos, aprendeu o ofício da profissão de ceramista com o pai – que havia aprendido com seu avô.  Morou na Várzea de Baixo durante muitos anos e para fazer suas peças, tirava barro do barreiro da Cerâmica Progresso. Suas peças eram queimadas em um formo feito num barranco. Esse tipo de forno é chamado “crivo” e era assim que os indígenas, seus antepassados, queimavam a cerâmica. Quando se mudou para o Cuiabá, passou a buscar o barro na Várzea do Gualter. Um trabalho pesado, mas foi com ele que conseguiu criar a família. Do barro fez milhares de peças: potes, vasos, bias, moringas, panelas, pratos, bules e apitos, além de obras artísticas.

Homem de cultura simples, mas exímio contador de histórias, com amplo vocabulário e muita criatividade. Tião Paineira recebe estudantes e turistas de várias partes do Brasil, não somente pela cerâmica, mas também para ouvir suas histórias fabulosas recriadas, ou mesmo contando como conseguiu criar seus “barrigudinhos”. Conta com imensurável orgulho os casos dos antepassados indígenas, dos quais herdou o ofício de ceramista.

“Caminhão de um olho só!”, assim se autodenomina, em consequência de um acidente, quando perdeu uma vista, devido a exposição à alta temperatura e ao frio: “Estava queimando as cerâmicas e tive que carregar um caminhão com as minhas mercadorias e com isso perdi uma vista.”. Fica muito orgulhoso quando nos conta que seu filho José Vicente de Freitas aprendeu o ofício da cerâmica e vai manter a tradição familiar.

Gostava de passear em companhia de sua dona, a Maria José, a quem tem imenso amor e profunda admiração, e a levava para todos os lados. Tião ainda nos revela que “ela era muito ciumenta – não dava problema – eu gostava muito daquele ciúme. Me fazia bem, me arrumava mais, cuidava mais do cabelo”. Gostava de dançar em casa com a dona, quando fazia festa nos “janeiros” e a casa enchia de alegria. Teve um terreno no Capote, onde lavrou por muitos anos, mas teve que vender, pois os “janeiros” foram pesando.

Perdeu sua dona e ficou viúvo. É com tristeza que fala: “Os bons ternos vão e vai ficando só o paletó rasgado.”. Mas logo recupera a alegria ao retomar a fala sobre o trabalho: “Com a cerâmica não deu para ficar rico, mas deu para ficar nobre.” e arremata dizendo que “Deus começou o mundo com o barro, a minha matéria-prima.”.

A primeira edição do Festival de Artes e Tradições de Tiradentes homenageia Tião Paineira com uma pequena mostra, na Casa de Cultura da UFMG, Rua Padre Toledo, 158, aberta nos dias 7, 8 e 9 de julho.

 

Views: 5