Autoria do Prof. Hermógenes
O Professor Hermógenes, um dos precursores da ioga no Brasil, escreveu mais de 30 livros sobre a saúde física e mental. Neste texto retirado de seu livro “Yoga para Nervosos”*, ele nos fala sobre as maravilhas da música.
Você que está querendo melhorar dos nervos não pode ignorar o que se chama musicoterapia, ou seja, a terapêutica com o auxílio da música. Não é apenas a nós que a música tem o poder de comover. Na Índia, experiências revelaram que as plantas tratadas com música mostraram mais vigor, maior crescimento e produtividade. Conta a mitologia grega que Orfeu, músico e poeta da velha Trácia, fascinava com seus cânticos à lira, não somente as pessoas, mas os animais, as plantas e até mesmo as pedras. A musicoterapia, apenas em nome, é recente. Conta a Bíblia que, quando o espírito mau tomava o Rei Saul, era David que, com sua harpa, praticava o exorcismo, e o espírito mau tendo se afastado, dava lugar à saúde e à paz do rei.
Já no século VI antes de Cristo, o sábio e misterioso Pitágoras para alguns, o Divino Pitágoras, aos olhos felizes de seus discípulos, para quem “a alma era tida como a harmonia do corpo; a virtude, a harmonia da alma; a saúde, a harmonia de cada um dos elementos da vida corpórea”, prescrevia música e ginástica como elementos propiciadores da felicidade humana. E, segundo narração do escritor italiano Boethius, um dia um jovem, sob um forte ataque de ira, tentou atear fogo na casa. Por um amigo foi levado à presença de Pitágoras. Esse fez com que se mudasse o tom de certa canção que estava sendo cantada e isto foi o bastante para fazer o colérico readquirir a sobriedade. Pitágoras curava ira, medo, ambição, vaidade, violência, depressão, usando música, pois com ela conseguia rearmonizar o ânimo. Era formado um círculo com pessoas a cantar e no centro, um tocador de lira. Aí se processava o milagre da rearmonização das almas e, consequentemente, a melhora de sintomas físicos.
Desde os tempos mais recuados até hoje, os Mestres de Yoga, na Índia, ensinam mantrans (vibrações sonoras) a seus discípulos, os quais, devidamente emitidos, produzem efeitos em diversos planos da criação, em razão da onipresença da vibração sonora. São muito variados os propósitos dos mantrans. Vão desde a adoração da divindade à obtenção de poderes paranormais; ao afastamento dos maus espíritos e à preparação de águas curativas; à influência sobre o pensamento e a ação de terceiros; ao controle sobre homens, animais… até a purificação do corpo humano e cura de doenças.
Voltemos ao conceito de musicoterapia. “A crença nas forças mágicas da música foi manifestada de modo curioso entre os gregos antigos. Os sacerdotes que exerciam também a medicina, incluíram a música em seu processo de tratamento, desenvolvendo-se então a doutrina ético-musical. Etos – significa estilo de música, no seu caráter tonal, na sua faculdade de influir no equilíbrio corporal e psíquico do homem. O Etos deu origem ao diastáltic, que induzia a ações heroicas; ao hesicástico que objetivava a conservação do estado de equilíbrio espiritual; e ao sistáltico que suprimia a vontade consciente e abria caminho livre às paixões violentas. Associados em um só grupo, destinavam-se à musicoterapia e, nas especulações pitagóricas, eles foram relacionados com corpos celestes, com as nove musas, com o temperamento e com entidades cósmicas e místicas…” — (Hebe Machado Brasil, “Musicoterapia”)
A doutrina ética foi continuada pelos povos do Islã. Os árabes curavam temperamentos sanguíneos, linfáticos e fleumáticos com as vibrações do alaúde de quatro cordas. Na atualidade, destaca-se o trabalho do Instituto de Terapia Musical, dirigido por Aleks Pontvick, na Suécia. O mesmo médico aproveitou uma igreja velha que os metodistas haviam abandonado e instituiu um repouso de fim de dia para os homens fatigados. Ao crepúsculo, um organista executa Bach, somente Bach, que o magnânimo Pontvick considera o melhor remédio para o relax nervoso. Em quartos individuais acusticamente isolados, as pessoas ouvem música através de alto-falantes disfarçados, pois faz parte do tratamento não identificar a fonte musical. O “medicamento” mais usado é Bach. No entanto, em casos especiais, também são administradas “doses” de Mozart, Beethoven e Haydn.
O Pilgrim State Hospital de Nova York é o maior centro mundial onde se faz musicoterapia. Nele, a música pode ter como propósitos: “acalmar e descansar, aliviando tensões; uma oportunidade satisfatória para a autoexpressão, além de oportunidade para o desenvolvimento de um interesse ativo e construtivo; eliminar preocupações do paciente consigo mesmo e levar sua mente a realidades mais ativas; estimular a capacidade de concentração; criar uma influência socializadora em uma atmosfera agradável para ajudar o desenvolvimento da cordialidade e de reações aceitáveis, assim como para eliminar o procedimento antissocial; contribuir para o controle e coordenação muscular e, em certos casos, para o estímulo de atividade física, através do ritmo; tornar possível a eliminação de um isolamento imposto pela doença e ajudar o paciente a recuperar confiança e segurança, trabalhando com outros e ajudando outros, adquirindo, assim, orgulho pelo grupo e por si próprio; procurar constantemente firmar a música como uma animadora de experiência e de inspiração”.
Pode-se ler de Hebe Machado Brasil: “… a eficácia da musicoterapia é indiscutível, não só nas doenças emocionais, como também na pressão arterial que, segundo Thompson e Vicente, sofre influência da Música. Se repetimos uma mesma melodia, temos a estabilidade da pressão arterial. O que não sucederá se alterarmos bruscamente o andamento de uma peça musical – dar-se-á, então, uma queda brusca, tão grande que poderá ser fatal para o organismo humano”.
*O livro “Yoga para Nervosos” encontra-se em PDF no Google.
Nota: Rapsódia Azul, obra de Leonid Afremov
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