Arquivo da categoria: Corpo e Mente

Filosofias e conjunto de práticas físicas, psíquicas e ritualísticas que buscam um estado de harmonia e equilíbrio físico e mental.

O SÁBIO SOMENTE SE OCUPA

Autoria do Prof. Hermógenes

O Professor Hermógenes, um dos precursores da ioga no Brasil, escreveu mais de 30 livros sobre a saúde física e mental.  Neste texto retirado de seu livro “Yoga para Nervosos”*, ele nos ensina a ocupar-nos com sabedoria.

Chamamos ocupar-se o ato de empregar esforços e recursos para a realização de uma coisa qualquer, seja a solução de um problema, seja a criação de uma obra útil ou bonita, seja fazer qualquer coisa que, estando à nossa frente, não pode deixar de ser feita. Ocupar-se com eficiência é obter o melhor resultado naquilo que se faz, usando para tal o mínimo de esforço. Ter eficiência é o ideal de todo aquele que trabalha. Depende de muitos fatores, desde a natureza da obra em que nos empenhamos, ao alcance dos meios materiais e aos instrumentos disponíveis, mas principalmente da concentração mental dirigida ao agir.

Descobrir e usar o melhor método para aumentar o rendimento da ação constitui uma arte. É uma arte que deveríamos desenvolver. Yoga é definido por Krishna, no Gita, como “a excelência na ação”. O que temos que fazer, devemos fazer bem feito, pois a ação ou a obra imperfeita implica realmente numa dívida a que ficamos vinculados ou presos. Só o perfeito agir ou fazer liberta-nos, segundo a escola Suddha Dharma. A “P. L.” (Perfeita Liberdade), moderna ordem religiosa do Japão, para a qual “a vida é arte”, ensina a seus fiéis a agir com makoto, isto é, com perfeita integração e devoção no que está fazendo, não importa a aparente humildade da obra. Aliás, não existe obra humilde quando o agente realiza makoto. Quando o agente é mesquinho em si mesmo, não importa que administre um Estado, o que faz é mesquinho e imperfeito.

Yoga, bem diferente do que muitos pensam erradamente, não conduz à inação. É ao contrário, é uma filosofia da ação. É, isto sim, uma terapêutica contra a agitação. É muito comum confundir agitar-se com produzir. A ação inteligente é serena, mas firme. O homem criativo é sereno e não vive apressado, a sacudir-se aqui e ali, a correr trepidante de um lado para outro, manejado pela afobação infecunda, fatigante, contagiante e nervosa. O homem ocidental, atuado pela ansiedade, atraído pelo sucesso, esporeado por múltiplas ocupações é infeliz e vulnerável. Ele precisa, para salvar-se de muitos problemas com os nervos, dar sabedoria a seu agir. Falando em linguagem yoguin: substituir a rajacidade pela satvidade.

Segundo o Yoga, há um dinamismo intensíssimo no sábio que, sentado, medita. Esse dinamismo não pode ser visualizado ou mesmo entendido pelo agitado homem pragmático do ocidente. Um yoguin em âsana (postura) a meditar dá ao leigo a aparência de estar parado, improdutivo e perdendo tempo. No entanto, ele está num estado altamente dinâmico. Não é como o homem vulgar o julga, preguiçoso, improdutivo e inoperante. O preguiçoso é parado como as águas de um banhado. O nervoso homem de negócios é feito mar encapelado pela fúria da tempestade. O sábio que medita está parado, mas sua estática é vertical como a dos giroscópios. A estagnação horizontal do preguiçoso é doença. A agitação do negociante pode levá-lo à doença. A vertical estática na meditação do sábio o leva à santidade ou sanidade, que é a mesma coisa, e lhe descerra um tesouro de criatividade.

O homem superativo se gasta antes, durante e depois. Não se ocupa tão só com o que tem diante de si. Sofre por antecipação, pois se “pré-ocupa”. E sofre com retardo, pois é presa de remorso, ressentimento ou tristeza pelo que fez, isto é, ele se “pós-ocupa”. O sábio somente se ocupa. Não se preocupa. Não se “pós-ocupa”. Não se consome no que está por vir. Não se empenha no que passou. Não sofre na espera. Não se martiriza rememorando. Ele segue o ensino bíblico, vivendo seu dia e deixando que o ontem ou amanhã cuidem de si mesmos. Não quer dizer que seja imprudente e irresponsável, mas acha que não é inteligente começar a dançar antes que a música toque nem continuar dançando depois que ela finda. Sabe prever para prover e não para sofrer.

*O livro “Yoga para Nervosos” encontra-se em PDF.

Nota: O Artesão, obra de Vicente do Rego Monteiro

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VOCÊ É O QUE IMAGINA SER

Autoria do Prof. Hermógenes

O Professor Hermógenes, um dos precursores da ioga no Brasil, escreveu mais de 30 livros sobre a saúde física e mental.  Neste texto retirado de seu livro “Yoga para Nervosos”*, ele nos alerta sobre a importância daquilo que pensamos ser.

Não conheço quem sofra pela prodigalidade da ajuda que dá. O mundo, no entanto, está cheio de gente que se desgraçou por tanto pedir. Se você tem cometido o erro de reconhecer-se vazio de muitas coisas e, no sentido de preenchê-las, vive a solicitar do mundo e dos outros que lhe concedam favores, que lhe atendam os rogos, você dificilmente será feliz.

O mundo e as pessoas não gostam de atender os vazios, os dependentes, os que se reconhecem fracos, incompletos, carentes de respeito, desamados, incompreendidos, necessitados, deserdados. . . Você está se enterrando na infelicidade ainda mais, pelo fato de reconhecer-se carente, decaído, necessitado, fraco, incapaz, miserável e por estar criando um autorretrato negativo e mórbido. Você já sabe que o subconsciente é um “servomecanismo”.

O “servomecanismo” é uma máquina cibernética (no estilo do cérebro eletrônico) que funciona de forma que, ao receber uma nítida missão a cumprir, exata e fielmente a cumpre. Assim são os torpedos e os foguetes autodirigidos que, em hipótese alguma, erram o alvo. Pois bem, o “servomecanismo” de seu subconsciente, a toda hora recebe a missão que você lhe dá através da imagem que faz de si mesmo (autorretrato). Cega e fatalmente cumpre a missão, isto é, com seu tremendo poder faz de você o que você tem imaginado ser.

Se você se vê como um desgraçado despojado de paz, força, saúde, amor, compreensão, respeito, finalmente de tudo que ainda anda mendigando, então, a toda hora a máquina cibernética de seu subconsciente está fazendo do desgraçado que você imagina ser, um desgraçado real. Mas, quando em vez de pedir ajuda, você passa a dar, está, pelas mesmas razões e segundo as mesmas leis, aumentando sua capacidade de ajudar. Se em vez de pedir que o amem, você ama sem se ressentir com a não reciprocidade; se você ama incondicionalmente, se “ama por amor ao amor”, então, recebe o amor. Não por pedir. Mas em virtude de lei universal. Se você aprende a dar de si, verá aumentar a fortuna daquilo que aos outros tem dado.

Se você é positivo, emitindo, distribuindo, ofertando, ajudando, compreendendo, estimulando, criando, irradiando, se fez um autorretrato positivo, será cada vez maior sua riqueza, maior a expansão de si mesmo, maiores os transbordamentos sobre os limites precários do humano ser “normal”. Se você, esquecido das incompreensões de que tem sido vítima, gosta de dar compreensão a todos, virá a vencer também neste aspecto da vida. Quem pede, está vazio. Quem oferta, tem para dar. Quem se lamenta, atrai maiores razões para mais se lamentar.

Chegou a hora, meu amigo, de pensar em viver à sua própria custa, com seus recursos, com o pouco que possa ter, contentar-se com o que tem, de recusar-se a mendigar, a depender do que lhe concederem.  Não por orgulho ou vaidade, mas por medida profilática, isto é, para evitar afundar-se nos escuros domínios da indigência material, psíquica e espiritual.

Se você se lembrar que o “Reino de Deus” está dentro de você e é um tesouro de felicidade, então, não na condição de mendigo, mas de hábil e confiante garimpeiro, dele retirará aquilo de que necessita para si e ainda mais para dar aos outros. Dê sem ligar se o tesouro vai se exaurir e acabar-se. Os bens materiais podem, materialmente, diminuir, na medida em que os esbanjamos. Os bens espirituais, ao contrário, crescem na proporção em que com ele beneficiamos os outros.

Se até hoje, por palavras, gestos de desânimo, olhar indigente, gemidos e mesmo através das descrições de seus sintomas, comportou-se como alguém que mendiga piedade, simpatia, palavras de caridade ou qualquer forma de ajuda, agora mesmo assuma o compromisso de evitar que os outros tenham “peninha” de você. Erga a cabeça, mesmo que a dor o queira vencer. Brilhem seus olhos. Sorriam sempre seus lábios. Substitua seus ais pelas notas de qualquer musiquinha animada.

Não peça. Ofereça. Não capitule diante do velho hábito de posar de “coitadinho”. Mesmo que você esteja em sofrimento, no chão, em pedaços, quando alguém lhe dirigir o convencional “Como vai?”, responda-lhe sorrindo: “Vou bem. Não vou melhor para não fazer inveja!”. Experimente este miraculoso tratamento. Abaixo as lamúrias! Nunca mais a autopiedade nem a piedade dos outros!

*O livro “Yoga para Nervosos” encontra-se em PDF no Google.

Nota: Gato Azul com Vaso de Flores, Aldemir Martins

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NÃO SE DEIXE FERIR!

Autoria do Prof. Hermógenes

O Professor Hermógenes, um dos precursores da ioga no Brasil, escreveu mais de 30 livros sobre a saúde física e mental.  Neste texto retirado de seu livro “Yoga para Nervosos”*, ele nos fala sobre a necessidade de não ferir e não ser ferido.

Evite ser agressivo ou violento. Aprenda a não reação. Gandhi, para conquistar a liberdade da Índia, usou a mais poderosa de todas as armas contra o Império Britânico: a mansidão. Ele acreditou em Jesus que no “Sermão da Montanha” prometeu que os pacíficos herdariam a terra.

Da próxima vez, quando você tiver ímpeto de ferir, seja com gesto, seja com palavras, olhares de ira, com desejos de prejudicar alguém (um empregado, um desconhecido, um parente), procure lembrar-se de que ele é uma expressão de Deus e, assim, nem com pensamento, nem com olhar, nem com palavras, nem com os nervos você o ofenderá.

Mais eficiente do que evitar agredir é, no entanto, passar à atitude de benevolência, isto é, querer bem a todos. Transforme-se em estação emissora de vibrações benevolentes, assim não terá que reprimir nada e não terá que sufocar emoções. Se o ahimsa (não reação) em relação aos outros lhes traz tanto bem, em relação a você mesmo chega a tornar-se condição indispensável à libertação.

Se você é benevolente para com os outros, porque há de ser demasiado severo em relação a si mesmo?! Use ahimsa (não reação) para quando se reconhecer fraco e imperfeito. Digamos que você quer deixar o álcool e não consegue, apesar dos grandes esforços que tem feito. Pois bem, não seja drástico. Principalmente não diga coisas negativas de si mesmo a si mesmo. Não se agrida. Isto complica tudo, pois é autossugestão negativa. Diante de suas capitulações ou quedas, use ahimsa. Relaxe. Você vai deixar de beber, mas sem violência. “Deixe cair a casca da ferida.” Não cometa a imprudência de arrancá-la à força.

 O que foi dito em relação ao alcoolismo é válido em relação a uma recidiva da “coisa” (crise do pânico), aos comportamentos compulsivos, obsessivos, irracionais e tudo quanto você chamaria de debilidades. Tenha ahimsa para si até mesmo quando não conseguir ter ahimsa para alguém que o ofendeu, quando não puder reprimir ou frustrar um revide à agressão sofrida. Mantenha os olhos no objetivo que quer alcançar. Mesmo que pareça difícil agora, com paciência você conquistará a não reação.

 Outra coisa muito importante. Aprenda a ser benevolente para si mesmo, mas defenda-se de cair no exagero de autocomplacência e autojustificação. Ahimsa significa não morder, não impede, no entanto, que se mostre os dentes. Jesus, que se deixou mansamente pregar na cruz, quando se encontrava no templo, numa demonstração de ira santa, virou as mesas dos imorais. O yoguin sabe que a ira é uma das emoções mais destruidoras e, por isto, evite-a, mas aprende a irar-se estrategicamente, isto é, por fora, conservando ahimsa, por dentro.

Dose ahimsa. Seja enérgico quando necessário e na medida necessária. Para chegar a não ferir ninguém aprenda a não se deixar ferir por ninguém. Suba a montanha até não ser alcançado pelas pedradas das crianças e pauladas dos tolos. Um ahimsa ilimitado também é imprudente. Não ofender é uma coisa. Não se defender da agressão é outra. Ramakrishna lembra que “a ira no sábio dura tanto como um risco que se faz na água”.

*O livro “Yoga para Nervosos” encontra-se em PDF.

Nota: imagem copiada de Blogs e Colunas – O Povo Online

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VÍCIOS CAUSAM DANOS AO PSIQUISMO

Autoria do Prof. Hermógenes

O Professor Hermógenes, um dos precursores da ioga no Brasil, escreveu mais de 30 livros sobre a saúde física e mental.  Neste texto retirado de seu livro “Yoga para Nervosos”*, ele nos fala sobre o perigo que os vícios nos trazem.

“Tenho que deixar isto, que está me matando”, dizia o indivíduo sob um ataque de tosse brônquica e meio afogado em gosma, mostrando um toco de cigarro entre os dedos amarelados de nicotina. Ele é o símbolo do homem acorrentado. Seus grilhões são feitos de fumo. De outros, podem ser de álcool. Todos os grilhões são fortíssimos e o são exatamente na medida da fragilidade dos acorrentados. A maioria deles quer se libertar ou necessita de libertar-se porque, seja o fumo, seja o álcool, o jogo ou alguns maus hábitos, seus tiranos lhe trazem enfermidade, sofrimento e, às vezes, abjeção.

Todos os grilhões causam prejuízos ao psiquismo, mercê de demonstrarem ao próprio homem que ele está vencido e que é escravo, tíbio e sem vontade. Quem quer que chegue a esta condição sofre muito com o reconhecimento de sua servidão que considera ser sem esperança. Diante de cada frustrada tentativa de resistir, mais infeliz se torna e mais vencido se sente. Seja toxicômano, alcoólatra, tabagista, viciado em jogo ou vítima de comportamentos compulsivos, pensamentos obsessivos e tiques nervosos, o homem é uma presa dum círculo vicioso que inexoravelmente o domina e o deprecia.

O álcool, os tóxicos e o fumo, além do mais, interferem também destrutivamente sobre o próprio organismo. E este efeito nefando provoca medo no viciado. A situação daquele que, vítima das garras do pecado (erro) necessita deixá-lo, sentindo a impotência de fazê-lo, Ramakrishna comparou à de uma serpente, que tendo abocanhado um malcheiroso rato almiscarado, quer dele se livrar, mas não pode, pois em virtude do formato dos dentes, o rato não se desprega. Assim é o viciado que conhece o mal que o vício lhe faz e, no entanto, não consegue deixá-lo. Nesta situação é comum o viciado recorrer ao que a psicanálise chama uma racionalização, isto é, usar a razão para forjar “razões” consoladoras e explicativas, para com elas “justificar-se” diante de si mesmo e dos outros, pelos atos que é coagido a praticar, que não pode evitar, mercê de compulsões subconscientes.

O ébrio bebe “para esquecer”, ou porque “o álcool é vaso dilatador”, ou “para desinibir-se”, ou “porque está fazendo frio”. A primeira forma de vencer o vício é não permitir que nasça. A segunda é impedir que cresça. A terceira é a erradicação progressiva e inteligente. Evitar que a semente daninha caía em seu quintal é a mais eficiente maneira de não precisar arrancar a frondosa árvore depois. Um vício se forma aos poucos, seguindo estágios. O primeiro cigarro que se fuma, com certo desprazer, é o início de um processo que poderá vir a tomar conta da vítima. O meninote acendeu seu primeiro cigarro, por força da sugestão dos de sua idade e também porque o cigarro representa para ele a masculinidade que, ainda imaturo, deseja ter.

O início de um vício é quase sempre destituído de prazer, e especialmente no caso do cigarro e do álcool, chega até a ser desagradável. Constitui mesmo um sacrifício necessário àquele que deseja “se mesmificar” isto é, ficar igual aos outros. A segunda fase surge quando, imperceptivelmente, o desagrado vai cedendo e já não há sacrifício. Aquilo que era mal recebido pelo organismo, por ser antinatural, começa a ser aceito. Podemos dizer que o fumo ou o álcool, nesta fase, nem dá prazer nem desprazer. São neutros. Ainda aqui é simples cortar o processamento. Está-se entrando na terceira fase quando já se fuma ou bebe com certo gosto. Agora mais fortes vão se tornando as correntes e o indivíduo começa a capitular de sua condição de agente livre, de ser humano dono de si mesmo.

A quarta fase é aquela na qual o organismo, já condicionado, só se sente normal quando é atendido em suas necessidades do agente condicionante. Daí por diante, também o psiquismo só se acalma depois que o viciado cumpre o “ritual”. Está a árvore daninha dominando a área. O viciado, embora se sentindo covarde e desgraçado, embora sabendo que está minando o corpo e a alma, não tem como resistir às imposições da necessidade de aplacar seu psiquismo e seu corpo sedentos do objeto do vício: seja o copo, o cigarro ou o barbitúrico. É a fase da dependência orgânica e psíquica.

No caso do jogo, o processamento é semelhante, atendendo, naturalmente às peculiaridades. O fascínio pelo risco de perder e a esperança de ganhar ou recuperar o que já perdeu, prisioneiro mantém o jogador, que embora veja que está sacrificando tempo, energias, nervos, saúde, dinheiro, família e, às vezes, dignidade, é impotente para afastar-se da mesa do vício. O bêbado de hoje poderia ser pessoa sóbria e com autodomínio se, em certo momento do passado, não tivesse cedido à “iniciação”.

*O livro “Yoga para Nervosos” encontra-se em PDF.

Nota: O Absinto, obra de Edgar Degas

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A MÚSICA PODE REALIZAR MILAGRES

Autoria do Prof. Hermógenes

O Professor Hermógenes, um dos precursores da ioga no Brasil, escreveu mais de 30 livros sobre a saúde física e mental.  Neste texto retirado de seu livro “Yoga para Nervosos”*, ele nos fala sobre as maravilhas da música em nossa vida.

Os estadunidenses têm usado a música para anodizar. O paciente, com a cabeça coberta por um capacete receptor, através de música que vai ouvindo, despercebe-se da dor. Os sons de baixa frequência ou “sons brancos” têm efeito de bloqueio nervoso e, consequentemente, são anestésicos. O Hospital da Ordem Terceira do Carmo, de Lisboa, fez pioneirismo (1953) em Portugal, na utilização de música durante pequenas intervenções. Em Barcelona (Espanha) um grupo de generosos médicos organizou um coral para levar a musicoterapia aos muitos pacientes hospitalizados. O canto coral, pelo seu alto valor educativo e terapêutico, está se desenvolvendo em instituições com regime de internato, inclusive entre os detentos. No Hospital Juliano Moreira, o Professor Wasson Aranha vem aplicando música no tratamento de doentes mentais.

Como você pode ver, a música, agindo pelo ritmo, ou pela melodia ou pela harmonia, ou por tudo junto e mais algum outro elemento impalpável, pode realizar verdadeiros milagres na preservação e na recuperação do equilíbrio mental e na rearmonização dos sistemas nervoso e endócrino. As divinas vibrações da lira de Orfeu que acalmava as feras e dava placidez ao mar por onde singravam os argonautas, as repercussões cósmicas do canto do mantram sagrado (OM), a tranquilização profunda produzida pelo som branco da ciência eletrônica, finalmente os poderes infinitos do Verbo Onipresente juntam-se numa divina musicoterapia que não podemos ignorar.

As vibrações sonoras que tão beneficamente repercutem em nossa mente, em nossos nervos, em nosso mundo moral, podem também, infelizmente, se dirigidas noutra direção, acarretar prejuízos sérios ao organismo e ao psiquismo. A música também pode irritar, fatigar, entediar, excitar e desequilibrar. A flauta do Deus Shiva levava o bem às almas, mas as trombetas sopradas diante da cidade de Jericó derrubaram-lhe as muralhas. Enquanto a execução de uma sonata de Beethoven deu alívio a uma tísica com hemoptise e febre, uma charanga militar acende o ardor combativo de soldados; enquanto Mozart acalma, pacifica e eleva uma alma em exaltação doentia, a repetição da música rítmica dos jovens acaba excitando, fatigando, instalando na mente um estado desagradável de exaustão e inquietude, podendo destruir o nervo auditivo.

A música de dança dos jovens, quase toda ela à base de ritmo e indigente de melodia e harmonia, fala muito mais às pernas do que à alma. É boa para estimular um deprimido, mas, mesmo esse, acaba cansando com o sensualismo primitivo e monótono de que é feita. Na música atual dos jovens, psicólogos têm assinalado um processo de regressão à mentalidade primitiva. As letras das canções são pobres e, se são expressivas, o são de um nível mental muito rudimentar. Nelas, as palavras são substituídas por gritos guturais, próprios de uma era muito recuada, antes de o homem ter inventado a linguagem articulada.

Aprenda, meu amigo, a tirar da música alívio, saúde, paz e nutrição para a alma. Defenda-se dos malefícios da música nefasta aos nervos e a seu psiquismo. Os jovens precisam experimentar música adulta. Lucrariam muito aqueles que resolvessem tomar coragem de parecerem diferentes da maioria dos de sua idade e, sem que abandonassem os ritmos de seu tempo, também aprendessem a (silentes, atentos, em relax) se deixar tocar pela música santa dos grandes e inspiradores compositores e, com elas, vivenciar as emoções mais ternas, mais suaves e mais repousantes.

Cante, meu amigo. Isto lhe fará muito bem aos nervos. Quem foi que disse que é preciso fazer um curso de canto para ter o direito de cantar? Se você é naturalmente desafinado, cante assim mesmo. Cante baixo para não amolar os outros. Mas cante. Se estiver só, cante alto, mesmo que venha a espantar os pássaros. Se puder se incorporar a um coral, não deixe passar a oportunidade. Vai ver como isto lhe vai ser proveitoso em relação a seu estado nervoso. Vá aprender a cantar em cooperação e ver como seu pianíssimo num instante, seu canto monótono noutro e mesmo seu silêncio, enquanto os outros cantam, criam beleza para si e para os que vierem a escutar.

*O livro “Yoga para Nervosos” encontra-se em PDF no Google.

Nota: obra do russo Leonid Afremov

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TODA AÇÃO HUMANA MEXE COM O COSMO

Autoria do Prof. Hermógenes

O Professor Hermógenes, um dos precursores da ioga no Brasil, escreveu mais de 30 livros sobre a saúde física e mental.  Neste texto retirado de seu livro “Yoga para Nervosos”*, ele nos mostra como nossas reações interferem no Universo.

Os psicanalistas poderiam fazer graves acusações aos moralistas tradicionais, adeptos desta moral que Chauchard chama de “legalismo desencarnado”, cheia de “deve-se fazer” e “deve-se evitar”. Poderiam dizer: “Vocês moralistas estão crucificando os indivíduos que, imbuídos de restrições e deveres, partidos de um superego forjado pela religiosidade, pelos costumes, pelos conselhos dos pais, dos professores, dos mentores, entram em conflito interno com os impulsos naturais, ocasionando prejuízos à saúde. Será que não arranjam uma forma um pouco menos perigosa de cumprir o dever, de pautar-se pelo bem e evitar o mal?” (Hermógenes, em Sabedoria).

A moral que Chauchard e Teilhard reclamam e nisto têm a companhia dos psicanalistas é, posso dizer sem receio, a moral Yogui. “Por ter colocado seu eu ideal no eixo do Divino, o yoguin situa-se assim, naturalmente, no ponto de convergência do útil pessoal com a lei moral. É uma ética de um psicanalista e não de um moralista, de um observador e não de um juiz” (Choisy opus cit). Por ser natural, inteligente, libertadora e não frustradora, é que a moral yogui é considerada pela ilustre psicanalista Choisy “a que melhor convém aos discípulos de Freud”. A moral yogui começa com vivência e sabedoria filosófica, com o conhecimento do Universo, do indivíduo e desse em suas relações com o Universo, consigo e com Deus.

O fundamental não é a noção do bem e do mal. As ações que o yoguin evita são as que o afastam de seu sâdhana, isto é, de seu caminhar para a Meta ou Realização Espiritual. Sua natureza essencial de ser humano e chispa divina predestina-o ao Encontro redentor (Yoga). Quando ele vive em harmonia com as leis próprias de sua natureza, isto é, quando cumpre seu dharma, goza o bem, a saúde e a felicidade. Ao contrário, todos seus desvios (adharma) representam o mal, o sofrimento, a servidão e a doença. Se bem que haja tantos dharmas quantos os homens existentes, aí a relatividade da moral, há, no entanto, um dharma ou lei universal (bem absoluto) para todos os homens. Chama-se suddha dharma ou sanâtana dharma e é coerente com a natureza essencial e divina da espécie humana.

O grande neurofisiologista Chauchard, dentro de sua forma de falar, também se refere àquilo que o Yoga chama de suddhadharma que, como vimos, consiste em viver em harmonia com a Lei natural, com a natureza essencial do ser humano. Ele acha que “É falso pensar que cada um é livre para inventar a própria Moral, como se não houvesse valores comuns que dependem do fato de que sendo como somos, seres humanos, devemos conformar-nos à natureza humana”. A causa de adharma ou dos desvios do caminho para o Absoluto é o egoísmo, mantido pela ignorância, pela ilusão de que somos tão somente indivíduos separados uns dos outros, indiferentes aos outros, e buscando a felicidade mesmo à custa da dos outros. A isto a moral tradicional chamaria de pecado.

A palavra pecado não recebe custo na moral yogui. O pecador é apenas um ser interiorizado pela ignorância e pela doença. O que se opõe ao pecado não é a virtude, mas a saúde, a sabedoria ou a verdade. O castigo ao pecador é o retardo ou recuo em seu caminhar redentor para a realização espiritual. O pecador não é objeto de ressentimento, mas de comiseração e ajuda. E a melhor forma de ajudá-lo é primeiro compreendê-lo, depois lhe dar tratamento e afinal ensiná-lo a libertar-se do ahamkara (egoísmo). A libertação é cura. A cura é um processo de torná-lo mais santo e, portanto, mais são. A moral yogui cuida do bem. Mas não se preocupa com o mal ou com o diabo. É moral à base da compreensão que visa a restaurar a paz, a segurança psicológica do pecador, vale dizer – do sofredor.

Nenhum de nossos pensamentos, desejos e ações, por mais insignificantes que nos pareçam, deixa de mexer com o cosmo. A toda hora, sem que o saibamos, estamos rabiscando as páginas do livro da Vida Universal e por isto somos responsáveis. Toda expressão nossa de vida é karman (ação sobre o cosmo) e por ela responderemos. Os resultados são infalivelmente nossos. Nosso karman passado é a causa do que hoje somos, do que hoje sofremos ou gozamos. As consequências de nossas ações nos alcançam imediatamente ou depois, mas sempre nos alcançam e não há lugar que nos esconda ou proteja. Você pode me perdoar um mal que eu lhe tenha feito, mas “a natureza, jamais nos perdoa”, lembra John Kulmann. Esta é a inflexível lei do karma.

A ação imoral é aquela que nos faz sofrer. A ação moral é a que nos torna mais chegados à suprema bem-aventurança (Ananda), ao próprio Deus. O adharma (karman que nos prejudica) não se refere propriamente ao mal, no sentido comum do termo, mas à ação imprópria e desviada da Lei. Ferir, mentir, roubar, difamar, trair é tão funesto como beber água contaminada. Pelas mesmas razões, perdoar, ajudar, amar, servir, fazer pelos outros aquilo que queremos que nos façam é dharma (karman positivo) – doador de vida, bem-estar, alegria, paz, segurança, liberdade, amplitude, plenitude e divinização.

De tudo isto, podemos concluir que a moral Yogui é a mais terapêutica e, embora vetusta em sua origem, é de extraordinária atualidade, pois corresponde aos anseios da mais moderna psicologia profunda e da neurofisiologia mais rigorosamente científica. Ela não o condena pelas fraquezas, mas o ajuda a fortalecer-se; não o obriga a ser bom, quando suas condições não lhe permitem, mas o ajuda a tornar-se bom e, assim, livrar-se de suas limitações, responsáveis por seus tormentos.

*O livro “Yoga para Nervosos” encontra-se em PDF no Google.

Nota: imagem copiada de icm teresina

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