Arquivo da categoria: Crônicas

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Reflexão: “UMA XÍCARA DE CAFÉ”

Autor: desconhecidoUm grupo de profissionais – todos vencedores em suas respectivas careiras – reuniu-se para visitar seu antigo professor. Logo a conversa parou nas queixas intermináveis sobre “estresse” no trabalho e na vida em geral.

O professor ofereceu café. Foi Para a cozinha e voltou com um grande bule e uma variedade das melhores xícaras: de porcelana, plástico, vidro, cristal… Algumas simples e baratas, outras decoradas, outras caras, outras muito exóticas…

Ele disse:
– Pessoal, escolham suas xícaras e sirvam-se de um pouco de café fresco.

Quando todos o fizeram, o velho mestre limpou a garganta e calma e pacientemente conversou com o grupo:

– Como puderam notar, imediatamente as mais belas xícaras foram escolhidas e as mais simples e baratas ficaram por último. Isso é natural, porque todo mundo prefere o melhor para si mesmo. Mas esta é a causa de muitos problemas relacionados com o que vocês chamam “estresse” .

Ele continuou:
– Eu asseguro que nenhuma dessas xícaras acrescentou qualidade ao café. Na verdade, o recipiente apenas disfarça ou mostra a bebida. O que vocês queriam era café, não as xícaras, mas instintivamente quiseram pegar as melhores.

Eles começaram a olhar para as xícaras, uns dos outros.

Agora pense nisso:
A vida é o café. Trabalho, dinheiro, status, popularidade, beleza, relacionamentos, entre outros, são apenas recipientes que dão forma e suporte à vida. O tipo de xícara que temos não pode definir nem alterar a qualidade da vida que recebemos. Muitas vezes nos concentramos apenas em escolher a melhor xícara, esquecendo de apreciar o café! As pessoas mais felizes não são as que têm o melhor, mas as que fazem o melhor com tudo o que têm!

Então se lembrem:
Vivam simplesmente. Sejam generosos. Sejam solidários e atenciosos. Falem com bondade.
O resto deixem nas mãos do Senhor, porque a pessoa mais rica não é a que mais tem, mas a
que menos precisa.

Agora desfrutem o seu café!

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CAPITALISMO SELVAGEM E INDIFERENÇA

Autoria de Lu Dias Carvalho


Segundo o Aurélio, a acídia, também conhecida por acedia, significa abatimento do corpo e do espírito, moleza, frouxidão. Traduzindo, para uma linguagem mais próxima de nosso tempo, é o “não se importar” com nada ou ninguém, é a indiferença. É o comportamento carregado de amargura ou cinismo em relação à vida. É o fastio, o enfado, a indolência, a passividade, a indiferença, a languidez proveniente do tédio, ou a omissão no tratar com o mundo.

O capitalismo selvagem – sistema econômico em que o consumismo abunda – tem sido um campo fértil para que a indiferença se propague. De certa forma, o tédio, a omissão e o niilismo (aniquilamento, descrença absoluta) estão impregnados de um desespero mudo. Muitos já nem possuem mais a percepção de que parte do mundo agoniza, tão voltados que estão para o  próprio umbigo. São incapazes de ver além de si mesmos. E por mais que tenham, sempre querem ter mais, indiferentes ao resto do mundo.

O conhecido psicólogo e escritor Erich Fromm acredita que a cultura contemporânea tem sido responsável pelo aumento do tédio que avassala a humanidade. Segundo ele, as pessoas entediadas são gélidas. Não sentem alegria, mas também não sentem tristeza ou dor. Perdem a capacidade de posicionarem-se diante de fatos importantes, pois carregam pela vida uma indiferença total e absoluta, como se dela não fizessem parte. E muitos são entediados por possuírem em excesso, de modo que nenhuma conquista traz-lhes prazer. Tudo leva a crer que o homem moderno vive uma epidemia de tédio, tão grande é o seu descompromisso para com o planeta como um todo. Ele passa por uma profunda crise de valores e de imaginação. Vem se tornando cada vez mais solitário e triste, porque está desaprendendo compartilhar e interferir no que passa ao seu redor. Não tem compromisso com o mundo à sua volta. É cada vez mais omisso.

A espécie humana tem vivido a cultura do “não estou nem aí”. Totalmente indiferente em relação ao destino da Terra, como se não houvesse nada que pudesse fazer, ou se não tivesse nenhum poder de interferência, ou  se vivesse numa outra dimensão, num outro planeta. Nem percebe mais que é parte integrante da natureza, de modo que não pode pilhá-la, explorá-la e violá-la sem que pague por isso até mesmo com  a vida, e isso sem levar em conta seus descendentes – correm o risco de viver num planeta totalmente exaurido.

A humanidade tem amargado um preço muito alto por sua postura de alienígena no planeta Terra. Este aniquilamento e desprazer de viver têm suas raízes fincadas no desdém pela natureza, ao envenenar rios e mares, desnudar montanhas, extinguir a vida selvagem, poluir a atmosfera, aumentar a temperatura do planeta, ignorando que é parte de um único corpo. Esquece-se de que aquilo que deixamos de fazer, muitas vezes, pode ser muito mais importante do que aquilo que fazemos. Parvo é quem pensa que, ao se omitir, fica com a consciência limpa, sem culpa no cartório. A não ação, também é um tipo de ação, ainda que ao contrário, como provou Ghandi. Só que, no caso do indiano, ela foi usada positivamente, enquanto agora floresce como uma erva daninha, um produto da inércia e da omissão.

A civilização atual está promovendo um ecocídio ao acabar com o equilíbrio entre o humano e o não humano. A ligação entre as duas partes, além de ser fator de bem-estar moral e espiritual, é imprescindível para a sobrevivência do planeta. O homem não pode ser autossuficiente a ponto de desprezar os outros seres que coabitam consigo. A ética é muito mais ampla de que se imagina. Ela deve estar não apenas nas relações entre os seres humanos, como na relação com o ambiente e as demais espécies. Somente o respeito às diferentes formas de vida poderá salvar a Terra.

A cultura atual vem levando ao pé da letra o conceito de antropocentrismo. O homem está imbuído do convencimento e da vaidade de que tudo na Terra foi criado para beneficiá-lo. Ironicamente, ao ignorar os direitos dos outros seres, ele está construindo o seu próprio caos. Engana-se ao pensar que não é interdependente com os outros elementos do planeta. Desconhece o sentido da palavra humanidade (húmus = terra, em latim). O planeta Terra é o nosso lar, é a nossa terra, ainda que finjamos não compreender isto. Subestimá-lo é transformá-lo, em curto prazo, num hospital de humanos doentes de corpo e de alma.

É bom que todos nós, diante do ecocídio perpetrado por governantes insanos e por humanos ignorantes e vis, afeitos apenas ao “ter”, saibamos que a complacência sem limites é tão nociva quanto a intolerância. A omissão contrapõe-se à justiça, quando cruzamos os braços, ao ver que nossa civilização está destruindo águas, solos, árvores nas cidades e florestas, e outras espécies, num ritmo nunca visto. Tenhamos a certeza de que pagaremos um grande preço, pois a toda ação corresponde uma reação. Não perdemos por esperar. Precisamos botar um freio no capitalismo selvagem que está destruindo o planeta, quando o lucro fácil passa a ser a parte mais importante de tudo, sem nenhuma forma de remorso.

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LEI DO CARMA – TUDO O QUE VOCÊ FAZ…

Autoria de Luis Pellegrini

Segundo uma afirmação budista, “se você quiser entender as causas do passado, observe os resultados que se manifestam no presente”. É uma boa apresentação, embora algo simplista, de um conceito complexo chamado de “lei do carma”.

Diz a “Lei do Carma” que tudo que você faz, um dia volta para você.

Como as outras pessoas te tratam é carma delas; como você responde é carma teu.

O Carma é uma lei que depende inteiramente de nós mesmos e das nossas escolhas, podendo mudar ao longo do tempo, se seguirmos o “dharma” – caminho e regras que permitem às pessoas livrar-se da tirania dos seus egos e da massa dos desejos acumulados. Carma, em sânscrito, significa ação. Seria o equivalente, na metafísica indiana, à terceira lei de Newton, que diz: “A toda ação corresponde uma reação de igual intensidade, que atua no sentido oposto”. A força é resultado da interação entre os corpos, ou seja, um corpo produz a força e outro corpo a recebe.

O carma não é unicamente individual. Esse é o mais comum, mas há também o carma familiar, o coletivo, o nacional e o mundial. O tipo familiar, por exemplo, diz respeito a toda a família: significa o “débito” espiritual (não entendido necessariamente como culpa) que recai sobre o núcleo familiar inteiro. Já o carma coletivo é o das pessoas que moram em um mesmo bairro, cidade ou país, e o mundial significa o “débito” internacional. Em todos os casos, deve-se observar que o papel de cada indivíduo permanece sempre ativo: nunca somos simples vítimas, mas de algum modo colaboramos para decidir nosso presente e futuro. Portanto, de algum modo somos sempre responsáveis por ambos.

Por volta de 1974, quando eu era um jovem repórter no jornal “Última Hora” do Rio de Janeiro, entrevistei o inglês John Coats, então presidente da Sociedade Teosófica Internacional que divulgava no Ocidente os conhecimentos filosóficos e esotéricos das tradições orientais. Coats viera ao Rio para uma série de conferências. Uma das minhas perguntas se referia à falada “lei do carma”. Após uma breve explanação da ideia, Coats deu um exemplo concreto.

“Tudo aquilo que existe tem carma, está submetido à lei da ação e da reação. Não apenas as pessoas, mas também as sociedades e os países. Meu país, a Inglaterra, enriqueceu e se tornou poderoso porque, durante séculos, colonizou e explorou dezenas de nações mais frágeis. Fomos lá com nossos soldados e nossas armas, nós nos instalamos na casa dos outros sem convite e tiramos proveito de tudo o que lá encontramos. Ao fazê-lo, criamos carma. Pois bem: passado o ciclo colonialista, o movimento da força se inverteu, como é natural e justo que aconteça. Agora são nossos ex-colonizados que migram em massa para a Inglaterra em busca de trabalho e de uma vida mais segura e confortável. E nós, ingleses, reclamamos que estamos sendo ‘invadidos’, que nosso território está sendo ocupado por ‘estrangeiros’… Sabe o que é isso? É a lei do retorno, a lei do carma em ação.”.

Ao tecer tais reflexões, Coats também profetizava algo que, nas décadas seguintes, envolveria todas as nações colonialistas europeias: a “invasão” de desvalidos dos países do Terceiro Mundo colonizados pelos europeus. Desvalidos que buscam na Europa refúgio, abrigo e proteção.

Quando pensamos, falamos ou agimos, desencadeamos uma força que gerará uma reação na forma de outra força que tenderá a voltar à sua origem. Durante a longa cadeia da nossa existência como seres conscientes e sencientes (que percebem as coisas pelos sentidos), homens e mulheres tentaram modificar, transformar ou suspender o poder da força que retorna. Talvez alguns tenham, em alguma medida, conseguido fazê-lo, mas a imensa maioria das pessoas não tem condições de erradicar ou desviar os efeitos das ações físicas, emocionais, mentais e espirituais que desencadeou. O que isso significa na prática? É simples: todos somos, em maior ou menor medida, escravos das nossas ações. Uma pessoa, portanto, não escapa das consequências dos seus atos. Mas ela só sofrerá esses efeitos quando, por sua iniciativa, tiver construído as condições que a deixam vulnerável a esse retorno que muitas vezes se traduz em sofrimento. A ignorância quanto à “lei do carma” não isenta a pessoa de sofrer as consequências de seus atos. Lei universal, o carma é posto automaticamente em movimento todas as vezes em que uma ação é desencadeada.

No Ocidente, o conceito de “lei do carma” surge quase sempre ligado à causalidade (ou seja, à causa e ao efeito das ações desencadeadas). Mas uma análise mais atenta dessa ideia mostra que o carma é regulado também por outros fatores. O principal deles é a intencionalidade. Exemplo: uma pessoa, quando criança, experimenta emoções fortes e positivas no alto de uma montanha coberta de neve. Se ela, já adulta, vive uma situação análoga, suas emoções ressurgem. Seu corpo e sua mente respondem ao estímulo com base na memória do vivido ou em princípios educativos. Essa é a causalidade, uma resposta destituída de livre-arbítrio que leva em conta o que foi vivido, as emoções e o próprio modo de pensar. Já na visão oriental, através da intencionalidade o carma age num nível mais profundo e sutil. No caso, ele não é apenas uma lei fria e mecânica, que responde de forma automática aos estímulos. A intenção subjacente aos nossos atos é entendida como uma força viva que pode, de vários modos, condicionar os efeitos que esses atos produzem. Portanto, não podemos desvincular lei do carma dos conceitos de consciência e moralidade.

Nestes tempos turbulentos que vivemos, em que tantos (inclusive nas mais altas esferas da socie­dade) parecem ter perdido a noção de conse­quência e de responsabilidade, é importante refletir sobre a sabedoria contida na noção de “lei do carma”. Sobretudo porque ela não se assenta apenas em uma visão­ espiritual do mundo e da nossa presença nele. A “lei do carma” nos fala de uma fenomenologia prá­tica, objetiva, tão conectada às leis do espírito quanto às da matéria.

 Nota: texto retirado de https://www.brasil247.com/pt/247/revista_oasis/391668/Lei-do-carmaTudo-que-voc%C3%AA-faz-um-dia-volta-pra-voc%C3%AA.htm

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DIA INTERNACIONAL DA MULHER

Autoria de Lu Dias Carvalho

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Ah! Desgraçados!

Um irmão é maltratado e vocês olham para o outro lado?
Grita de dor o ferido e vocês ficam calados?
A violência faz a ronda e escolhe a vítima,
e vocês dizem: “a mim ela está poupando, vamos fingir que não estamos olhando”.
Mas que cidade?
Que espécie de gente é essa?
Quando campeia em uma cidade a injustiça,
é necessário que alguém se levante.
Não havendo quem se levante,
é preferível que em um grande incêndio,
toda cidade desapareça,
antes que a noite desça. (Bertolt Brecht)

A data de hoje nenhum significado terá se não servir de reflexão para homens e mulheres livres em todo o mundo civilizado, quanto à vida de tantas outras mulheres nos mais diversos cantos do planeta, totalmente subordinadas a um sistema de escravidão e sem ninguém que olhe por elas ou que lhes ofereça um grão de esperança.

É sabido que – mesmo em muitas partes do chamado mundo civilizado – mulheres ainda ocupam um papel subalterno dentro da sociedade, sendo reprimidas por seus companheiros, preteridas em vários empregos, fazendo o mesmo trabalho, mas ganhando bem menos que o homem. Contudo, nada é tão gritante como o que se vê em certas culturas orientais, onde o ódio à mulher é escancarado, como se ela representasse toda a malignidade da espécie humana. Onde é vista num patamar inferior a um cachorro.

Em muitas culturas, a fêmea é indesejada e mutilada sob o pretexto de não sentir prazer, a fim de não desviar o macho das sendas da pureza. Tais mulheres vivem em casamentos forçados, sem direito à instrução e ao próprio corpo, sendo que certos ciclos naturais de seu corpo são tidos como prova de sua impureza. São humilhadas, espancadas e mortas, sem que vozes se levantem em sua defesa. São policiadas tanto pelas famílias, quanto pelo Estado, numa miséria humana que parece não ter fim – unicamente pelo fato de ser MULHER.

O mundo dito civilizado observa o cativeiro dessas mulheres num mutismo hipócrita.  Assim, muitos países – sob o pretexto de respeitarem culturas diferentes – numa atitude repleta de farisaísmo, principalmente quando tem negócios com os países que castram a liberdade feminina, admitem que imigrantes continuem a humilhar, tiranizar, brutalizar e matar suas mulheres, como se elas estivessem no seu país de origem – tudo em nome de um Estado laico e democrático. Fazem ouvidos moucos ao sofrimento das mulheres.

Nenhum país civilizado pode permitir que – quando sob a sua tutela – mulheres sejam submetidas às mesmas barbáries sofridas nos países de onde vieram. Seria a negação absoluta dos direitos humanos, direitos esses que o torna diferenciado dos países inimigos das mulheres. Valorizar a vida na Terra é dar aos indivíduos – homens e mulheres – direitos e liberdades iguais, protegidos por um Estado que não aceita a subordinação, a violência e a crueldade sob o teto de suas leis e que não tem medo de ser acusado de racista.

Há que se respeitar as diferenças culturais, mas onde os valores da cultura não preservem a pobreza, a tirania e a corrupção moral contra a vida. Os governantes ocidentais não podem continuar fingindo que as violações das mulheres de certas culturas cessam quando elas deixam seus países originários. Sabemos que isso não é verdade, mesmo em países como a Holanda e a França. Faz-se necessário proteger as mulheres imigrantes.

Todas nós, mulheres, temos que lutar pela liberdade de expressão, pelo direito de pensar e explicitar o nosso pensamento. Este é o princípio básico da liberdade que nos livra do cativeiro e da submissão, vistos em outras partes do planeta. Este é o pilar que sustenta uma sociedade democrática, onde homens e mulheres tornam-se iguais. Sobretudo, não deixemos de clamar liberdade e respeito por todas as mulheres cativas – em quaisquer lugares em que se encontrem – mesmo que nos acusem de contar histórias tristes e cansativas.

Nota: Imagem copiada de http://myrianrios.com.br/blog/dia-internacional-da-mulher/

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A MULHER ATRAVÉS DOS TEMPOS

Autoria de LuDiasBH

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No começo, sem dúvida nenhuma, era o homem a sua própria besta de carga – exceto quando casado. (Will Durant)

Quem pariu Mateus que o balance. (Provérbio popular)

As mulheres foram criadas para o trabalho. Elas armam nossas tendas, fazem nossas roupas, remendam-nas, conservam-nos quentes durante a noite… Por isso, não podemos dispensá-las numa viagem. Elas fazem tudo e custam pouco; e porque passam a vida cozinhando, quando chega o tempo de escassez contentam-se em lamber os dedos. (Certo cacique)

Alguns historiadores dizem que o homem difere dos animais unicamente pela educação que pode ser definida como “a técnica de transmitir a civilização”. No entanto, apesar das diferenças naturais entre os gêneros, é difícil compreender o que difere o homem da mulher a ponto de essa ter sido desprezada desde os primórdios da civilização.

Desde a vigência do clã, a mulher já desempenhava a maior parte das funções que cabiam aos homens em relação aos filhos. A existência do pai era na verdade um mero acidente de percurso de seus espermatozoides. Eles – os homens e não os espermatozoides – nem ao menos tinham noção da causa que levava uma mulher a ficar grávida. A presença do pai era extremamente superficial. A mulher e os filhos viviam juntos no clã, na companhia do irmão mais velho. O pai era muitas vezes desconhecido.

O mais aterrador era perceber que a mulher era tida como inferior, principalmente por ter que dar mais assistência aos filhos e por passar por períodos menstruais, o que diminuía a sua participação no manejo das armas e nas guerras. O macho não levava em consideração o fato de que era ela quem formava os futuros guerreiros da tribo e sem os seus cuidados não haveria homens para lutar num futuro muito próximo.

No estágio da caça, todo o trabalho caseiro era de responsabilidade da mulher. Nos intervalos das caças ou das guerras, os machos limitavam-se apenas a descansar. Nada mais faziam a não ser ficar de papo para o ar. Durante as guerras, cabia às mulheres levar todo o equipamento de sobrevida – exceto as armas – atrás de seus homens, para que esses não ficassem cansados na hora do ataque, além de lhes servir como fonte de prazer nos intervalos da luta e deles cuidar.

A mulher foi muito importante nas sociedades primitivas, sendo que o progresso econômico foi muito mais fruto dela que do homem. Ela foi responsável pela agricultura, iniciada ao redor dos acampamentos, pelas artes caseiras e pela transformação dessas em indústria, foi responsável pela domesticação de animais – preparando os alicerces para a civilização.

Embora a realidade prove a importante função feminina em qualquer aspecto social, mostrando a real necessidade que os homens têm das mulheres, alguns machos ainda se gabam de sua superioridade em relação à fêmea. Mesmo naquela época, casos excepcionais mostram mulheres na chefia de algumas tribos e, em outras, havia um conselho de mulheres mais velhas. Mas não nos esqueçamos de que a regra geral foi sempre a sujeição feminina.

Ainda é desesperadora a situação das mulheres em certas culturas que, atreladas a rigores religiosos arcaicos, tratam-nas com a mais escancarada humilhação, negando-lhes importância na continuação da espécie e no desenvolvimento da civilização, tendo elas um longo caminho pela frente na busca por sua dignidade.

Nota:  imagem de Artesanato de Santana do Araçuaí, no Vale do Jequitinhonha.

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MULHERES QUE CURAM

Autoria de Mani Alvarez*

            

Erveiras, raizeiras, benzedeiras, mulheres sábias que por muito tempo andaram sumidas, ou até mesmo escondidas. Hoje retornam com um diploma de pós-graduação nas mãos e um sorriso maroto nos lábios. Seu saber mudou de nome. Chamam de terapia alternativa, medicina vibracional, fitoterapia, práticas complementares… são reconhecidas e respeitadas, tem seus consultórios e fazem palestras.

As mulheres curadoras fazem parte de um antigo arquétipo da humanidade. Em todas as lendas e mitos, quando há alguém doente ou com dores, sempre aparece uma mulher idosa para oferecer um chazinho, fazer uma compressa, dar um conselho sábio. Na verdade, a mulher idosa é um arquétipo da “curadora”, também chamada nos mitos de Grande Mãe.

Não tem nada a ver com a idade cronológica, porque esse é um arquétipo comum a todas as mulheres que sentem o chamado para a criatividade, que se interessam por novos conhecimentos e estão sempre a procura de mais crescimento interno. Sua sabedoria é saber que somos “obras em andamento’, apesar do cansaço, dos tombos, das perdas que sofremos… A alma dessas mulheres é mais velha que o tempo, e seu espírito é eternamente jovem.

Talvez seja por isso que, como disse Clarissa Pinkola, “Toda mulher se parece com uma árvore. Nas camadas mais profundas de sua alma ela abriga raízes vitais que puxam a energia das profundezas para cima, para nutrir suas folhas, flores e frutos. Ninguém compreende de onde uma mulher retira tanta força, tanta esperança, tanta vida. Mesmo quando são cortadas, tolhidas, retalhadas, de suas raízes ainda nascem brotos que vão trazer tudo de volta à vida outra vez.”

Por isso, entendem as mulheres de plantas que curam, dos ciclos da lua, das estações que vão e vêm ao longo da roda do sol pelo céu. Elas têm um pacto com essa fonte sábia e misteriosa que é a natureza. Prova disso é que sempre se encontram mulheres nos bancos das salas de aula, prontas para aprender, para recomeçar, para ampliar sua visão interior. Elas não param de voltar a crescer…

Nunca escrevem tratados sobre o que sabem, mas como sabem coisas! Hoje os cientistas descobrem o que nossas avós já diziam – as plantas têm consciência! Elas são capazes de entender e corresponder ao ambiente à sua volta. Converse com o “dente-de-leão”, comunique-se com as plantas de seu jardim, com seus vasos, com suas ervas e raízes, o segredo é sempre o amor.

Minha mãe dizia que as árvores são passagens para os mundos místicos e que suas raízes são como antenas que dão acesso aos mundos subterrâneos. Por isso, ela mantinha em nossa casa algumas árvores que tinham tratamento especial. Uma delas era chamada de “árvore protetora da família” e era vista como fonte de cura, de força e energia. Qualquer problema, corríamos para abraçá-la e pedir proteção.

O arquétipo de ‘curadora’ faz parte do feminino, mesmo que seja vivenciado por um homem. Isso está aquém dos rótulos e definições de gênero. Faz parte de conhecimentos ancestrais que foram conservados em nosso inconsciente coletivo.

Perdemos a capacidade de olhar o mundo com encantamento, mas podemos reaprender isso prestando atenção nas lendas e nos mitos que ainda falam de realidades invisíveis que nos rodeiam. Um exemplo? Procure saber mais sobre os seres elementais que povoam os nossos jardins e as fontes de águas… fadas, gnomos, elfos, sílfides, ondinas, salamandras… As “curadoras” afirmam que podemos atrair seres encantados para nossos jardins! Como? Plantando flores e plantas que atraiam abelhas e borboletas, gaiolas abertas para passarinhos e bebedouros para beija-flores.

Algumas plantas “convidam” lindas borboletas para seu jardim, como milefólio, lavanda, hortelã silvestre, alecrim, tomilho, verbena, petúnia e outras. Deixe em seu jardim uma área levemente selvagem, sem grama, pois os seres elementais gostam disso. Convide fadas e elfos para viverem lá. Lembre-se: onde você colocar sua percepção e sua consciência, a energia vai atrás.

* Coordenadora do curso de pós-graduação em Práticas Complementares em Saúde

Nota:
Fotos de Maria Helena Gomes, raizeira, benzedeira e estudiosa sobre o assunto.
Contato para palestras: helenadoshelenos@yahoo.com.br

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