Arquivo da categoria: Depoimentos/Saúde Mental

Depoimentos de portadores de Transtornos Mentais.

UMA BATALHA NO COMBATE À ANSIEDADE

Autoria de Paulo Jardim

Há uns dois meses eu descobri este blog e me identifiquei de imediato. Penso: que bom que existem pessoas como a Lu, para compartilhar das nossas angústias.

Assim como muitos aqui, sofro de uma angústia terrível, que o meu atual psiquiatra identificou como um transtorno misto de depressão com ansiedade. É muito sofrimento. Dói na alma.

Tenho 35 anos e a primeira vez que me recordo de ter tido estes ataques foi aos 12 ou 13 anos de idade, ou seja, 2/3 da minha vida têm sido de altos e baixos. Fui levando a vida, passando em vestibular, entrando na faculdade e trabalhando, mas aos 22 anos de idade eu simplesmente travei, não dei conta de seguir. Foi a primeira vez que fui ao psiquiatra. Não dava mais para adiar. Estava esgotado. Trabalhava em um Banco, com muita pressão, e fazia uma graduação que exigia muito intelectualmente.

Fiz o meu primeiro tratamento. Tomei uma combinação de medicamentos. Melhorei e as coisas foram se ajustando. Consegui concluir a faculdade, mesmo que com um ano de atraso. Saí do serviço no Banco, em que estava há quase cinco anos, pois, apesar de gostar, não o estava suportando mais. Nessa época já estava namorando a minha atual esposa. Estamos há 15 anos juntos. É a pessoa que amo e a mais maravilhosa do mundo. Ela me deu um tesouro de presente, a minha filhinha de quatro aninhos. Uma dádiva que Deus colocou nas nossas vidas. Comecei a estudar para concursos e fui aprovado em vários. Mas sempre, sempre passei mal, principalmente às vésperas de realizar alguma prova. Vomitava, tinha dores de barriga, palpitações, como se meu coração fosse sair pela boca. Mãos geladas (não frias, geladas mesmo), suor, insônia, tudo isso… Uma dor sem fim…

Tomei posse em um cargo em que fiquei por quase dois anos. Para trabalhar, estava tomando um ansiolítico por conta própria (totalmente errado, tenho consciência). Não o tomava o tempo todo. Tomava dia sim, dia não, duas vezes ao dia, ou seja, sem controle nenhum. Fui nomeado para um cargo federal, em outro município, e larguei aquele em que estava, optando por outro, mesmo em uma cidade que não era a minha. Mas minha esposa, que é um anjo que caiu do céu na minha vida, aceitou e me apoiou na hora da mudança. Mudamos radicalmente nossa vida. Isto foi em 2008. Aí nos casamos, sendo que ela largou tudo na cidade anterior em que morávamos, para me acompanhar.

Comecei bem o trabalho, gostando do que estava fazendo, mas tive uma crise daquelas de parar no hospital. Foi sofrido para ela também. Comecei outro tratamento com um novo psiquiatra. No início, com o novo antidepressivo, foi um sofrimento, mas mais uma vez, com a graça de Deus, consegui superar as primeiras semanas e melhorei bastante. Fiquei uns quatro anos bem. Passamos um período muito difícil nessa época, mesmo eu estando bem. Minha esposa queria engravidar, mas tinha um problema. Foram uns dois anos de tratamento. Ela ficou bem para baixo, mas conseguiu superar esses percalços da vida. Ainda bem, pois ela me equilibra. Acabou engravidando e em 2012 me deu o maior tesouro da minha vida, nascia a minha princesa.

Em 2012 fui transferido do meu trabalho para a cidade onde nasci e sempre morei. Agora estamos em casa. Foi tudo muito tumultuado. A minha filha nasceu, fui transferido de cidade, terminei a construção da casa, moramos um período com a minha sogra, mudamos para a nossa casa, enfim muita coisa e… Travei de novo. Desta vez fui a um terceiro psiquiatra que me receitou novos medicamentos. Fiz cerca de uns dois anos de tratamento. O início foi tenebroso, mas como já sabia que todo início é difícil, aguentei bem a barra e superei com cerca de três a quatro semanas. Fiquei bem uns três anos. Descontinuei o antidepressivo, com orientação médica desta vez, e fiquei bom. Estava fazendo umas disciplinas isoladas de mestrado (sempre em universidade pública) para ir bem devagar, e conciliar com o trabalho, mas de repente, travei de novo.

Descobri que tive a Síndrome de Cushing* por uso de remédio inadequado e me enlouqueci. Voltei mais uma vez para o psiquiatra. Desta vez já era o quarto. Bem conservador, atento e muito observador, atendeu-me com muita paciência e cautela. Retomamos o tratamento com medicamentos já usados anteriormente. O início, como sempre, foi doloroso, sendo quatro semanas sofridas. Não houve o efeito desejado. Sentia dor no estômago e variação de altos e baixos durante o dia. Foi me proposto tomar outros medicamentos. Faz cerca de 2 meses que estou fazendo uso desses. Ainda sinto uns altos e baixos ao longo do dia, mas nem sempre. Estou fazendo também psicoterapia, associada ao medicamento, e acredito que está me ajudando muito.

O que me está incomodando, às vezes, é a minha indisposição para o trabalho. Gosto de trabalhar, prestei concurso para esse órgão, sou servidor federal de carreira. Sempre fui líder de equipe, desde os 22 anos, quando comecei a trabalhar no Banco. Sempre sofri com a ansiedade. Quando me é dada uma tarefa quero cumprir para ontem. Pressiono tanto a minha equipe que, no ano passado, seus componentes disseram-me que não estavam suportando meu excesso de ansiedade. Falaram que eu delegava, mas não os deixava executar. Agora estou tentando relaxar mais, delegar mais e acompanhar as tarefas. Mas tem sido difícil. Percebi que o problema não é o trabalho. Até porque já passei por vários e sempre chego à mesma situação. Será que depois de 24 anos de tanto sofrimento, eu irei conseguir controlar o meu estado emocional?

* A Síndrome de Cushing é uma doença que ocorre devido à elevada quantidade de cortisol no sangue, causando sintomas como rápido aumento de peso e acúmulo de gordura na região abdominal e face, além do desenvolvimento de estrias vermelhas no corpo e pele oleosa com tendência à acne, por exemplo.

Nota: A Noite Estrelada, obra de Van Gogh

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ANTIDEPRESSIVOS E GRAVIDEZ

Autoria de Simone Araújo

Estou exatamente há um ano e um mês tomando Oxalato de Escitalopram. Quero que saibam que a Lu foi uma grande amiga durante o começo do meu tratamento com antidepressivo, sempre me dando suporte emocional.

Iniciei o meu tratamento para o transtorno da ansiedade porque me encontrava num grau muito elevado de ansiedade, de acordo com a avaliação de minha médica. Eu já estava somatizando muitos outros sintomas tais como: pensamentos acelerados ou catastróficos, ânsia, diarreia, fobia de locais cheios de pessoas, etc. Cheguei a ter crises de síndrome do pânico (SP) por três vezes. Mesmo tomando 10 mg do antidepressivo durante um mês tive uma crise de ansiedade quando fui ao dentista. Essas crises perduraram por mais de uma semana. A médica, então, aumentou a dose para 15 mg.  Fiquei ótima.

Ao completar um ano de tratamento, sentindo-me muito bem após a estabilização da dosagem, a médica começou o desmame. Diminui a medicação para 10 mg, que tomei durante um mês. Como eu tinha a receita ainda, pois minha médica me dava sem data, comprei mais uma caixa de 10 mg e resolvi por minha conta própria diminuir para 5 mg, pois, como ela havia me dito pra ir diminuindo aos poucos, achei que não teria problema. Nessa fase senti uma crise terrível de ansiedade com ânsia de vômito, calor no corpo, desrealização momentânea, como se tudo a minha volta não tivesse sentido. Foi horrível sentir isso, passar por aquele desespero. No momento estava sem o Rivotril sublingual de 0,25 mg, o qual durante o tratamento inteiro tomei apenas umas três vezes. Liguei para minha médica e ela reclamou do fato de eu ter diminuído a dose sem a indicação dela. Pediu para eu voltar a tomar as 10 mg, até poder falar com ela pessoalmente, dizendo que não poderia me medicar por telefone, ou seja, teria que pagar por uma nova consulta.

Eu estou com uma grande dúvida. Será que, quando eu diminuir e até mesmo parar a medicação, ficarei sentindo os mesmos sintomas do início? Ou ficarei dependente dos remédios para a vida toda? Acontece que eu quero muito engravidar no próximo ano e estou com medo de ficar tendo crises.

Agradeço pelo seu carinho.

Nota: a ilustração é uma obra de Edvard Munch

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TRANSTORNO DO PÂNICO E PAUSAS NO TRATAMENTO

Autoria de Alexandre Nunes

Eu tive a minha primeira crise de pânico aos 24 anos, mas durante a adolescência tinha um pouco de fobia social, que apesar de não me impedir levar uma vida normal, atrapalhava.  À época da primeira crise de TP (Transtorno de Pânico) fiz tratamento com fluoxetina e bromazepam e fiquei bem. Um pouco depois tive algumas crises esporádicas e experimentei três sessões de hipnoterapia com um psicólogo, e pasmem, fiquei sem nenhum mísero sintoma por três anos! Porém, após três anos, um primo próximo teve crise de TP e eu o auxiliei, imaginando que aquilo não me afetaria. À mesma época meu pai adoeceu gravemente e veio a falecer. Uma semana depois voltei a ter intensas crises de pânico.

Consultei um psiquiatra e passei a usar oxalato de escitalopram. Foi excelente! Tive algumas reações iniciais, mas logo tudo voltou ao normal. Porém após poucos meses, devido à melhora completa que julguei completa, parei o tratamento. E após um mês a ansiedade voltou. Retornei pela segunda vez ao médico e, como esperado, tudo ficou bem. Então cometi o segundo erro de parar outra vez. Passei dois meses bem e recaída na ansiedade aconteceu também em razão de uma fase atípica de somatório de problemas.

Atualmente estou retornando ao oxalato de escitalopram pela terceira vez e decidido a fazer tratamento em longo prazo. Neste começo, porém, parece que os sintomas iniciais estão mais fortes e persistentes, oscilando muito. Alguns dias são bem ruins e outros excelentes. Na segunda semana tive tremores em um dia, seguido de outro pleno de tranquilidade. Ainda sinto alguns momentos de ansiedade, dor de cabeça, sensação de febre, aceleração e sono intercalado, porém isso vem diminuindo. Penso que tudo seja motivado pelas paradas e retomadas.

O mais difícil no tratamento, creio eu, é aprendermos a diferenciar o que é reação natural do corpo e o que é causado pela doença. No caso do pânico, durante uma crise ou durante a ansiedade antecipatória, tendemos a ter o julgamento embaçado pela desregulação emocional. A emoção perturba a razão. Percebi isso com o tempo, pois nas primeiras crises era um Deus nos acuda, sensação de fundo do poço, mas depois de idas e vindas, as reações já não me assustam mais. Trato porque é um desequilíbrio químico que precisa ser reajustado, além de ser desagradável. Mas não deixo mais me colocar pra baixo, acredito que a razão passou a assumir o controle.

Sobre a hipnoterapia, adiciono mais alguns dados que poderiam justificar essa questão de ter origem em trauma. Realmente, no meu caso, creio que seja de origem traumática, pois tive uma mãe superprotetora e também com problemas psicológicos não tratados, que geravam muitas brigas dela com meu pai. Na sequência disso, ela faleceu quando eu ainda tinha 5 anos, de câncer. Então analisando, tive superproteção seguida de perda brusca.

Após isso, tive boa criação da parte de meu pai e de tias, cresci muito bem, fui um excelente aluno e tive sucesso profissional. Entretanto, como falei, tinha fobia social, não incapacitante, mas que incomodava. Quando fiz as sessões com o psicólogo hipnoterapeuta, ele revisitou estas questões de infância, conduzindo uma reavaliação das mesmas. Em nenhum momento me senti inconsciente, parecia mais algo como análise, só que com algumas técnicas adicionais de relaxamento.

Tenho vontade de consultar-me novamente com o psicólogo hipnoterapeuta, já que fiz as três sessões e saí do consultório sem acreditar que funcionaria, mas acabei fiquei três anos sem sintoma algum realmente. Contudo não esperava a recaída, ainda que tivesse havido pressão e influência externas. Para quem tiver interesse, o nome do psicólogo é Reinaldo Momo, atende em Porto Alegre. Busque informações no Google.

Nota: Desespero, obra de Edvard Munch.

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SÍNDROME DO PÂNICO E OPINIÃO ALHEIA

 Autoria de Celina Telma Hohmann

Vivemos a era da aflição anímica em que nossa alma afligida, entre ser o que desejamos e descobrir que nem sempre é possível, põe-nos em conflitos que, aos poucos, afundam-nos sem que demos conta disso. Hoje é até natural assumir que estamos passando pela devassa dos transtornos mentais, mas sabemos que alguns os confundirão com falta de fé, chilique e falta de empenho. Não devemos nos preocupar com os outros e a opinião que têm sobre um mal que ainda não conhecem. São sortudos por não tê-lo, mas não imunes a ele.

Não é fácil descobrir que se está passando pela fase do pânico. Viver muito tempo dentro dessa síndrome é pior ainda. Só quem passou ou passa por ela conhece seus segredos que na verdade nem se mostram, mas vão sendo decifrados diariamente. Ela é a surpresa diária, a companheira que não é bem vista, tampouco deve ser aceita como parte da própria vida. Não é fácil livrar-se dela num estalar de dedos, mas, com o tempo, esse terror inicial vai se dizimando, virando fumaça e aí, num dia, ele some. Nunca se sabe se é para sempre, mas ele acaba. Basta que se cuide e tome consciência plena de que é preciso, muito mais que antes, aceitar que todos os seres humanos são passíveis de males inimagináveis.

Sempre uso, talvez como consolo (mas que tomo como verdade absoluta) que os sensíveis, cheios de sensibilidade genuína, são os mais vulneráveis aos transtornos mentais, problemas esses que tolhem, derrubam e assustam. Penso que se fossem indiferentes ao que os rodeiam nada disso os atingiria. Muitos indivíduos passam pela vida praticamente sem conflito algum.  Sábios, santos ou alienados? Não sei! Quem não se importa com o mundo não se defronta com os medos e a sensação de impotência diante dele. Mas nós, detentores de problemas mentais, importamo-nos com a vida! E humanos em condição, fragilizados por conta de maldades que não aceitamos, vemo-nos presas de um turbilhão de sentimentos que não entendemos e que, ao final, leva-nos a conhecer o caminho complicado das confusões mentais, do pânico, do medo absurdo daquilo que antes não nos causava temor algum.

Hoje, com a alta incidência de necessidades que não havia antes, exigências que não faziam parte do dia a dia das pessoas, a exagerada exigência de perfeição e o querer fazer tudo da melhor forma e o mais rápido possível, é impossível seguir saudavelmente nessa linha, o que acaba gerando a paralisia. Normal? Não! Ruim, muito ruim! Fazemos parte de um novo clube. Há buscas, perguntas, por vezes bem confusas e nem sempre respostas imediatas, que existem, mas descobri-las é um caminho que demoramos a descobrir. Mas existe um consolo: há um novo olhar sobre o que nos aflige, a Ciência caminha a passos largos. Tudo ficará no passado, sim, bastando dar ao tempo o tempo que ele pede.

Nós, portadores de transtornos mentais, precisamos vivenciar nossas inseguranças com tolerância, sem que as sinta como amigas, mas descobrindo que não estão aí por puro acaso. Cuidemos de nós. Apenas nos encontramos temporariamente em crise. Não estaremos submetidos a ela eternamente! Não, mesmo! Medicamentos são necessários. Nosso cérebro também é uma maquininha complexa que, por vezes, nos assusta. E como nossa alma, também precisa do bálsamo. Os remédios ajudam. Inicialmente nos deixam meio tontos, amedrontados, mas ao final tudo se acerta.

Conheço os florais e não os tomei por sempre brincar que, no meu caso, eu teria que ter plantações a perder de vista de plantas e flores com aromas e gostos variados. Algumas pessoas conseguem um bom resultado, mas é preciso considerar que a formulação é individual, devendo o médico dizer qual o melhor caminho. Onde quase sempre pecamos é no que diz respeito à medicação que precisa ser bem orientada. Ela leva um tempo mais ou menos longo, dependendo de cada caso. Os transtornos mentais não nos deixarão pelo simples fato de acharmos que estamos prontos para abandonar a medicação, sem passar pelo parecer médico. Isso é ilusório e pode trazer consequências doídas. Nosso cérebro é quimicamente programado e os antidepressivos, quimicamente desenvolvidos em laboratórios, têm por objetivo repor o que perdemos.

Nota: a ilustração é uma obra de Edvard Munch

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A TORTURANTE SÍNDROME DO PÂNICO

Autoria de Elaine Santos

É uma pena não ter encontrado este cantinho antes!

Minha história começa como a de tantos outros. Há três meses estava eu lavando a minha louça, para começar a preparar o almoço e senti um formigamento subir pelas minhas pernas. A partir daí minha vida mudou. Depois do formigamento meu coração acelerou e não conseguia respirar. O medo tomou conta de mim. Pensei que estivesse tendo um ataque cardíaco e pedi socorro ao meu marido. Ele correu comigo para o médico.

Depois de quase um mês com uma dor nas costas que não passava de um início de pneumonia, passei uma semana tratando e fiquei bem, mas no final da semana em que me encontrava medicada, tudo voltou. Fui piorando muito. Sentia tonturas e a sensação de que eu ia morrer. Um medo terrível tomava conta de mim, toda vez que meu coração disparava. Já não conseguia nem limpar a casa devido ao cansaço. Passei uma noite em claro tendo taquicardia de tempo em tempo, mesmo depois de medicada. Foi terrível! O que me deixava angustiada é que nenhum exame dava em nada.

Após muitas idas ao hospital, um médico me disse que eu estava com crises de ansiedade e que deveria procurar um psiquiatra. De início chorei muito, pois não conseguia aceitar, mas para o meu bem fui a busca de tratamento. Como tudo demora neste país, passei 20 dias tomando floral pra controlar as crises. Ficava pensando que não havia nada para conseguir me manter calma. Passei mal todos os dias desses dois meses e meio, até ter o diagnóstico fechado de Síndrome do Pânico (SP).

Iniciei meu tratamento na semana passada. Passei pela psicóloga e pela psiquiatra que me passou um antidepressivo. O medo era tanto que só comecei a tomar no sábado, 5 mg, na segunda semana começo a tomar 10 mg. Nos dois primeiros dias só tive enjoo e as crises que me acompanham, mas estavam mais fracas. Hoje nem consegui sair da cama. Sinto um vazio na cabeça e um mal-estar terrível, quase nem consegui almoçar de tão enjoada. Espero que amanhã o dia seja melhor.

O problema desta doença é que por ser desconhecida, as pessoas pensam que é frescura. Já ouvi tanta coisa, que sou “louca”, que tenho que “pensar positivo”, que tenho que me “apegar a Deus”… Isso tudo só deixa a gente pior. Já tranquei três matérias na faculdade, pois já tinha estourado em falta de tanto passar mal. Minha vida parou, meu marido e filhos não sabem como lidar com isso. Minha pequena de três anos é quem está mais sofrendo, pois não tenho conseguido cuidar dela direito. Ela gruda em mim o dia todo, parece que percebe que não estou bem. Fico angustiada com isso, pois eu só queria voltar a ser eu mesma. Parece que saí de mim, estou tão cansada que não tenho ânimo pra nada, mas mesmo assim me forço a fazer as coisas para não ficar pior. Não sinto tristeza, a não ser pela situação, mas esse medo me consome e não vejo a hora em que possa ir embora.

Só quero voltar a viver. Ler aqui que outras pessoas passam pelo mesmo que eu, já me conforta, porque me sentia sozinha demais. Sobre os florais queria perguntar, se faz mal usá-los, enquanto se toma a medicação.

Nota: composição ilustrativa do pintor Edvard Munch

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LUTANDO CONTRA OS TRANSTORNOS MENTAIS

Autoria de Ivo Ramalho

Eu me chamo Ivo e tenho 30 anos. Fui diagnosticado com Síndrome do Pânico (SP) e Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG) há dois anos. Tudo começou num sábado pela manhã, quando acordei com uma tremedeira e dormência no corpo, sentindo calafrios, palpitação no coração e dor no meio do peito. Levantei-me desesperado. Senti como se meu mundo estivesse desabando. Pedi aos meus pais para me levarem, com urgência, ao hospital. A primeira coisa que veio à minha cabeça é que estava tendo um infarto, e tive muito medo de que algo acontecesse. Passei por alguns exames e fiquei em observação por algumas horas, sendo que nada foi constatado. Os médicos me disseram que não tinha nenhum problema.

Após a primeira ida ao hospital, aconteceram outras mais. A cada retorno eu me sentia pior, achando que era o meu fim. Em uma dessas idas, tive muitas dores na garganta e meu estômago queimava muito. Encaminharam-me a um gastroenterologista, pois poderia ser daí que vinham minhas dores e tais sensações no peito. Iniciei o tratamento após receber os exames que apontavam uma esofagite erosiva. Fui acompanhado por uma nutricionista, que mudou radicalmente minha alimentação. Obtive melhoras com as dores, porém, fui tendo mais crises de pânico, o que me deixava cada vez pior. Passava mal na faculdade, no trabalho, no supermercado, e em qualquer lugar. Não dormia, sentia muito medo, chorava sem motivo aparente e não conseguia enfrentar minha rotina. E novamente cheguei a pensar que estava tendo problemas de coração. Fui a um cardiologista que me pediu alguns exames. Nada foi constatado. Minha saúde estava em dia. Ele me tranquilizou e orientou-me a buscar ajuda psiquiátrica. Nessa altura eu estava sem chão, já não ia trabalhar, a vida na faculdade estava difícil e saía de casa cada vez menos. Não conseguia me relacionar com ninguém, pois tinha uma angústia tão forte dentro de mim, que afastava as pessoas.

Fui ao psiquiatra, um ótimo médico por sinal. Digo isso porque tinha preconceitos a respeito dessa especialização. Ele me disse que eu enfrentava uma depressão em razão da pressão na faculdade, no trabalho, com a família e as muitas incertezas sobre meu futuro. Junto com a depressão, ele disse que eu sofria de SP e TAG e que precisava de tratamento com psicoterapeuta e fazer uso de antidepressivo. Senti-me amedrontado de início e pedi para ele me dar um tempo, a fim de que eu pudesse tomar uma decisão a respeito do tratamento com o remédio. Continuei passando mal por mais de um mês e, no retorno, acabei aceitando o antidepressivo recomendado. Tive medo de tomar o medicamento antes por pura falta de informação. Comecei a ler na internet sobre os efeitos que trazia, e que não eram nada agradáveis, mas o que não estava nada agradável era a situação em que me encontrava.

Iniciei o tratamento com a dosagem recomenda. Após algumas horas, eu pensei que iria morrer. Tudo havia voltado: dores pelo corpo, aperto no peito, palpitações, uma agitação fora do comum, muito frio e tontura. Senti muito medo e, não mais aguentando tais sintomas, fui ao hospital por uma possível segurança. O médico de plantão disse-me que era possível existir uma reação normal ao medicamento, e que deveria entrar em contato com meu psiquiatra. Através do contato feito, meu psiquiatra recomendou-me tomar a metade da dosagem durante uma semana, e depois a dose inteira. Confesso que fiquei com muito medo de ter todos os sintomas novamente, só voltando a tomar o remédio uma semana depois, após me sentir mais seguro e estar com a minha família por perto.

Os sintomas continuaram mesmo com a dosagem pela metade. Quando tomei a dose inteira, eu me sentia ainda com dores de cabeça e muito vazio por dentro. Somente após um mês com o remédio e com a ajuda de terapias semanais, comecei a melhorar e deixar a depressão e a Síndrome do Pânico para trás. O medicamento foi muito importante, assim como as terapias e os exercícios físicos. Passei a enfrentar meus medos e a criar uma rotina mais saudável. Também me senti uma pessoa melhor, diferente de antes, mais perceptivo com meu corpo e com as pessoas a minha volta, e a achar mais graça na vida. Uma coisa importante e que fez muita diferença foi a minha espiritualidade, ou seja, a fé em Deus.

No ano passado fui dispensando do trabalho em que estava. Tinha tirado licença pelo INSS para seguir com o tratamento e, ao retornar, havia sido mandado embora. Estava com 10 meses de tratamento e uso de antidepressivo, porém, com a perda do emprego também acabei perdendo meu convênio, ficando mais difícil manter as consultas e os remédios. No final do ano passado fui diminuindo a dosagem até não tomar mais o antidepressivo. Sei que não deveria ter feito essa retirada, sozinho, porém, já não conseguia pagar mais as consultas e me sentia muito bem. Fazia acompanhamento psicológico pelo menos uma vez por mês e seguia com minha vida normalmente.

O ano de 2017 estava indo muito bem. Dediquei-me aos estudos e recebi muito apoio da minha família. Porém, em agosto, passei por um episódio de SP. Tive alguns tremores, palpitação e tontura. Custei um pouco a dormir e acordei cansado. Dois dias depois veio nova crise, só que muito mais forte. Na noite seguinte encarava outra crise aguda de ansiedade e pânico. Comecei a enfrentar dores pelo pescoço, costas, pernas e muita dor de cabeça. As crises tinham voltado piores e as dores insistiam em permanecer o dia todo. Era insuportável! Eu me sentia um lixo e não conseguia sair da cama, pois tudo voltou, afetando meu dia a dia, meus estudos e meu convívio com as pessoas. Cheguei a pensar que era o fim, e a qualquer coisa diferente que acontecia o medo de morrer tornava-se real. Retomei o tratamento psiquiátrico. E nesta retomada, acabei descobrindo este espaço maravilhoso. Venho acompanhando este blog há algumas semanas. Descobri-o quando reiniciei meu tratamento. Este espaço só tem me ajudado, pois ao ler e ver as dúvidas que cada um traz e as aflições pelas quais passa, faz-me sentir menos sozinho com meus medos. Passei a compreender que não sou uma pessoa estranha. Existem milhares como eu.

O tratamento está no começo, ainda sinto dores de cabeça, no estômago e um aperto no peito. Tenho dificuldades para dormir, achando que não me levantarei no dia seguinte, ou, que serei acordado com uma crise. Isso tem afetado meu dia a dia, pois não são todos que entendem. É difícil para eu me levantar, mas tento encarar. O mais difícil são as noites, pois, se estou na rua fico preocupado, se estou em casa também fico, e morro de dores pelo corpo. Há dias em que estou bem e noutros muito ruim, com medo de que meu coração pare, que eu caía e ninguém me ajude. Ainda evito sair sozinho, e somente saio com quem conheço há mais tempo. Sei que muito também depende de mim, e, com a ajuda necessária, todos nós sairemos desta, mas, no começo do tratamento, esta doença castiga muito e nos derruba.

Deixo o meu relato para outras pessoas que se encontram em situação parecida. Nós iremos vencer! Tenho muito medo ainda, porém estou tentando viver um dia de cada vez. Sinto que com mais tempo de remédio eu conseguirei enfrentar meus problemas e desafios, superando tudo e sentindo bem comigo mesmo. Sigo tentando…

Nota: O Grito, obra de Edvard Munch

 

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