Autoria de Paulo Jardim
Há uns dois meses eu descobri este blog e me identifiquei de imediato. Penso: que bom que existem pessoas como a Lu, para compartilhar das nossas angústias.
Assim como muitos aqui, sofro de uma angústia terrível, que o meu atual psiquiatra identificou como um transtorno misto de depressão com ansiedade. É muito sofrimento. Dói na alma.
Tenho 35 anos e a primeira vez que me recordo de ter tido estes ataques foi aos 12 ou 13 anos de idade, ou seja, 2/3 da minha vida têm sido de altos e baixos. Fui levando a vida, passando em vestibular, entrando na faculdade e trabalhando, mas aos 22 anos de idade eu simplesmente travei, não dei conta de seguir. Foi a primeira vez que fui ao psiquiatra. Não dava mais para adiar. Estava esgotado. Trabalhava em um Banco, com muita pressão, e fazia uma graduação que exigia muito intelectualmente.
Fiz o meu primeiro tratamento. Tomei uma combinação de medicamentos. Melhorei e as coisas foram se ajustando. Consegui concluir a faculdade, mesmo que com um ano de atraso. Saí do serviço no Banco, em que estava há quase cinco anos, pois, apesar de gostar, não o estava suportando mais. Nessa época já estava namorando a minha atual esposa. Estamos há 15 anos juntos. É a pessoa que amo e a mais maravilhosa do mundo. Ela me deu um tesouro de presente, a minha filhinha de quatro aninhos. Uma dádiva que Deus colocou nas nossas vidas. Comecei a estudar para concursos e fui aprovado em vários. Mas sempre, sempre passei mal, principalmente às vésperas de realizar alguma prova. Vomitava, tinha dores de barriga, palpitações, como se meu coração fosse sair pela boca. Mãos geladas (não frias, geladas mesmo), suor, insônia, tudo isso… Uma dor sem fim…
Tomei posse em um cargo em que fiquei por quase dois anos. Para trabalhar, estava tomando um ansiolítico por conta própria (totalmente errado, tenho consciência). Não o tomava o tempo todo. Tomava dia sim, dia não, duas vezes ao dia, ou seja, sem controle nenhum. Fui nomeado para um cargo federal, em outro município, e larguei aquele em que estava, optando por outro, mesmo em uma cidade que não era a minha. Mas minha esposa, que é um anjo que caiu do céu na minha vida, aceitou e me apoiou na hora da mudança. Mudamos radicalmente nossa vida. Isto foi em 2008. Aí nos casamos, sendo que ela largou tudo na cidade anterior em que morávamos, para me acompanhar.
Comecei bem o trabalho, gostando do que estava fazendo, mas tive uma crise daquelas de parar no hospital. Foi sofrido para ela também. Comecei outro tratamento com um novo psiquiatra. No início, com o novo antidepressivo, foi um sofrimento, mas mais uma vez, com a graça de Deus, consegui superar as primeiras semanas e melhorei bastante. Fiquei uns quatro anos bem. Passamos um período muito difícil nessa época, mesmo eu estando bem. Minha esposa queria engravidar, mas tinha um problema. Foram uns dois anos de tratamento. Ela ficou bem para baixo, mas conseguiu superar esses percalços da vida. Ainda bem, pois ela me equilibra. Acabou engravidando e em 2012 me deu o maior tesouro da minha vida, nascia a minha princesa.
Em 2012 fui transferido do meu trabalho para a cidade onde nasci e sempre morei. Agora estamos em casa. Foi tudo muito tumultuado. A minha filha nasceu, fui transferido de cidade, terminei a construção da casa, moramos um período com a minha sogra, mudamos para a nossa casa, enfim muita coisa e… Travei de novo. Desta vez fui a um terceiro psiquiatra que me receitou novos medicamentos. Fiz cerca de uns dois anos de tratamento. O início foi tenebroso, mas como já sabia que todo início é difícil, aguentei bem a barra e superei com cerca de três a quatro semanas. Fiquei bem uns três anos. Descontinuei o antidepressivo, com orientação médica desta vez, e fiquei bom. Estava fazendo umas disciplinas isoladas de mestrado (sempre em universidade pública) para ir bem devagar, e conciliar com o trabalho, mas de repente, travei de novo.
Descobri que tive a Síndrome de Cushing* por uso de remédio inadequado e me enlouqueci. Voltei mais uma vez para o psiquiatra. Desta vez já era o quarto. Bem conservador, atento e muito observador, atendeu-me com muita paciência e cautela. Retomamos o tratamento com medicamentos já usados anteriormente. O início, como sempre, foi doloroso, sendo quatro semanas sofridas. Não houve o efeito desejado. Sentia dor no estômago e variação de altos e baixos durante o dia. Foi me proposto tomar outros medicamentos. Faz cerca de 2 meses que estou fazendo uso desses. Ainda sinto uns altos e baixos ao longo do dia, mas nem sempre. Estou fazendo também psicoterapia, associada ao medicamento, e acredito que está me ajudando muito.
O que me está incomodando, às vezes, é a minha indisposição para o trabalho. Gosto de trabalhar, prestei concurso para esse órgão, sou servidor federal de carreira. Sempre fui líder de equipe, desde os 22 anos, quando comecei a trabalhar no Banco. Sempre sofri com a ansiedade. Quando me é dada uma tarefa quero cumprir para ontem. Pressiono tanto a minha equipe que, no ano passado, seus componentes disseram-me que não estavam suportando meu excesso de ansiedade. Falaram que eu delegava, mas não os deixava executar. Agora estou tentando relaxar mais, delegar mais e acompanhar as tarefas. Mas tem sido difícil. Percebi que o problema não é o trabalho. Até porque já passei por vários e sempre chego à mesma situação. Será que depois de 24 anos de tanto sofrimento, eu irei conseguir controlar o meu estado emocional?
* A Síndrome de Cushing é uma doença que ocorre devido à elevada quantidade de cortisol no sangue, causando sintomas como rápido aumento de peso e acúmulo de gordura na região abdominal e face, além do desenvolvimento de estrias vermelhas no corpo e pele oleosa com tendência à acne, por exemplo.
Nota: A Noite Estrelada, obra de Van Gogh
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