Arquivo da categoria: Janelas pro Mundo

Artigos excêntricos de diferentes partes do mundo

AUSTRÁLIA –ABORÍGENES E O AMOR À NATUREZA

Autoria de Lu Dias Carvalho

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Cabe aos homens preservar a terra na forma e na pureza em que foi deixada pelos espíritos ancestrais, sem modificá-la com violência, mas poupando-a na medida do possível. Pois a terra não é apenas uma reserva material; ela está santificada pelos espíritos dos antepassados. (Visão dos aborígenes)

Os aborígenes (do latim, ab origine: “desde o início”), habitantes primitivos do continente australiano, ali ainda vivem nos dias de hoje. Segundo estimativas, constituem 2% da população australiana. A maioria vive nas grandes cidades, embora muitos vivam em reservas. Alguns, remando contra a corrente da modernidade, tentam viver como seus antepassados há dez mil anos, sustentados pela caça e colheita, comendo frutos selvagens e se alimentando de pequenos animais.

Quando os ingleses chegaram à Austrália, encontraram um povo que diferia totalmente deles. Havia um abismo entre as duas culturas. A maioria dos aborígenes conhecia várias línguas e dialetos, tinha um grande conhecimento da botânica e da zoologia de cada região, habilidades na caça e na pesca e uma dieta mais variada do que a disponível para a maioria dos europeus. Mas tudo isso foi ignorado pelos ingleses, que os descreviam como pessoas miseráveis, preguiçosas, feias e muito parecidas com animais. Tornaram-se proscritos, caluniados e oprimidos dentro da própria terra. Tanto é que “primitivo” não significava apenas “original” e “natural”, mas, sobretudo, inferior e rude.

Como se não bastasse a violência da invasão, os ingleses foram se espalhando por toda a Austrália, levando consigo a varíola, o sarampo, a gripe e outras doenças até então desconhecidas daquela gente. A história diz que os principais conquistadores dos aborígenes foram a doença e a desmoralização. O racismo dos colonizadores levou-os a violar locais sagrados aborígenes e à caçada desses, meramente por prazer. Há relatos de que foram expulsos das terras produtivas pelos invasores, sendo obrigados a migrar para regiões desérticas. E que soldados ingleses envenenavam com arsênico a comida e a água potável das aldeias, dizimando vilas inteiras. O rum era oferecido gratuitamente, até que caíssem em coma alcoólico. Os ingleses aproveitavam-se do estado de embriaguez dos aborígenes, para fomentar guerras entre as aldeias, deixando que eles mesmos se aniquilassem.

Na cultura aborígene, as mulheres são grandes conhecedoras da natureza, possuem conhecimentos secretos, seus objetos sagrados e suas próprias cerimônias. Por serem coletoras, sabem com precisão a época de colheita de cada fruto e a serventia de cada  planta. Além disso, possuem um grande conhecimento sobre os animais, a ponto de saber quais vermes ou insetos são comestíveis. Têm uma especial predileção pelas formigas melíferas que podem chegar a dez centímetros de comprimento. Observam suas pegadas na areia e sabem exatamente onde se encontram. Também é comum alimentá-las com suco de açúcar, como quem cria animais domésticos, para que fiquem com o papo cheio de mel. Elas desenterram as formigas e degustam-nas.

As mulheres aborígenes não possuem o mesmo domínio dos homens na política e nos rituais. Em relação aos casamentos, a predominância é também dos homens. Somente eles possuem liberdade para a escolha da parceira. Mas elas possuem certas liberdades sexuais em relação a outros homens, assim como podem fazer curas. Aos velhos (apenas do sexo masculino) cabe a tarefa de zelar pelas leis. Mas às mulheres idosas é dado o conhecimento de alguns dos ritos secretos dos homens.

Os aborígenes acreditam que todo homem descende de um ser primordial determinado, que tanto pode ser um animal ou uma planta. As pessoas se denominam homem-canguru, homem-cobra, etc., de acordo com o clã. O totem para elas é sagrado, santificado e intocável. Tanto é que um animal totêmico não pode ser caçado, ferido ou morto. Ele é sempre representado nos rituais (danças e cânticos), para a conservação da própria espécie. Os casamentos são feitos entre segundos primos. Somente em condições extremas é possível a união entre clãs. Não existe um governo tribal. Quando necessário, os chefes familiares desempenham transitoriamente o papel de chefes locais. Os aborígenes não são guerreiros. Só recorrem à guerra em ocasiões raras, principalmente na aplicação da justiça.

Dentre os ritos observados pelos aborígenes australianos, o mais importante é aquele que celebra a iniciação: a criança passa a ser jovem e o jovem passa a ser homem. Os meninos são retirados da comunidade, sendo introduzidos, aos poucos, nos mistérios dos espíritos ancestrais da terra, da caça e da sexualidade, e são exigidas provas de coragem. Cicatrizes são adquiridas como sinais de beleza e força. Também passam pela circuncisão. As meninas são iniciadas separadamente, num rito próprio, pelas mães. São celebrados, sobretudo, os mistérios da vida feminina: menstruação, defloração, gravidez e parto.

A união dos aborígenes com a natureza é quase uma religião, a começar pelo nome do clã, que mostra o respeito que possuem pelos animais e plantas. A cultura caracteriza-se pela forte união de todos os seres com a natureza, o ser superior que integra tudo. O ser humano não é superior, mas partilha a natureza com os demais seres e todos são indispensáveis, devendo honrar a natureza em tudo o que fazem. São extremamente espiritualistas. Praticam a religião animista. Para eles, a Lua é um ser masculino, enquanto o Sol é uma figura feminina. A razão desta visão é a importância que dão à mulher, sem a qual não é possível a vida, e sem o Sol também não é possível a existência da vida na Terra. O céu e a terra possuem, separadamente, seuspoderes sobrenaturais. Os ancestrais vieram do chão sob a forma de homens ou animais. Depois de criarem tudo, e já cansados, alguns afundaram nas águas e outros foram levados para o céu.

Não resta dúvida de que a situação dos aborígenes vem melhorando, mas, se comparados à população branca, suas deficiências ainda são grandes. A partir de 1967 adquiriram equiparação jurídica com os brancos. Em 1992, eles obtiveram certo reconhecimento de seus antigos direitos territoriais, mas a integração entre as duas culturas ainda fica a desejar.

Os aborígenes australianos são nômades, caçadores e coletores de vegetais. No deserto, vivem em acampamentos temporários, perto dos locais onde existe água. Suas habitações funcionam apenas como refúgios. Erguem para-ventos com ramos e moitas e, se o solo for arenoso, fazem covas para ficarem mais protegidos do vento. Nas noites frias, dormem ao redor do fogo. O cão é o único animal doméstico que possuem.

Estudos realizados por cientistas da Universidade de Cambridge revelam que os aborígenes australianos têm a sua origem na África. Evidências de DNA mostram que descendem de migrantes africanos, há cerca de 50 mil anos, e evoluíram isolados na Oceania.

Fontes de Pesquisa:
Religiões do Mundo/ Hans Küng
Uma Breve História do Mundo/ Geoffreu Blainey

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ÁSIA – PIIS E AGARRA-MORTOS

Autoria de Lu Dias Carvalho

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As superstições são conhecidas desde os tempos mais remotos da história da humanidade, quando o homem ainda não possuía respostas científicas para muitas interrogações. Com a evolução da Ciência, muitas delas foram caindo por terra. No entanto, as superstições ainda estão arraigadas em muitas partes de nosso planeta, ditando comportamentos esdrúxulos.

Na Índia, China e Indonésia, as crendices ainda ocupam um lugar de destaque no dia a dia da maioria das pessoas. Em tais países é fácil encontrar, em cada rua, astrólogos, curandeiros, xamãs, quiromantes, pessoas que leem o futuro através do rosto, da palma das mãos ou dos pés, nas folhas de chá numa xícara, na borra de café que fica no fundo de uma xícara, etc. Desempenham, através da crença, um papel importante na vida de cada pessoa, assim como nos acontecimentos sociais, pois tudo depende de uma consulta a uma das fontes, desde o nome que se vai dar ao filho até a data de uma viagem.

Na Tailândia, alguns ainda acreditam que entre os humanos de carne e osso vivam seres invisíveis, os espíritos chamados de piis. E, para que esses permaneçam contentes, de modo a não amolar os mortais comuns, dedicam-lhes templos enfeitados com elefantes de madeira, bailarinas de gesso, um copinho cheio de álcool, colares de flores de jasmim e comida. Sempre que escavam a terra, para fazer uma casa ou abrir um poço, um altar é erguido em homenagem ao espírito da Terra, pedindo desculpa pelos distúrbios ocasionados a ele, e para pedir a sua proteção. Se cortam uma árvore, fazem uma liturgia para pedir ao pii da planta a permissão para usar o serrote contra ela. É uma pena que essa crença não tenha sido difundida em torno de nossas florestas e no coração dos arrancadores de árvores.

Na velha China, os adivinhos possuem um terreno muito fértil, mesmo nos tempos atuais, quando o país opta pelo capitalismo. Isso porque o sonho de cada chinês é ser rico, sendo que a grande maioria das preces dirigidas aos deuses é para pedir riqueza, e não espiritualidade, como muitos supõem.

Não é à toa que muitos ocidentais partem em busca do exotismo do Oriente, talvez cansados do excesso de “verdades conclusivas” encontradas nos países onde vivem. Ou quem sabe, não se sintam satisfeitos com as assertivas encontradas para suas indagações. Partem em busca do misticismo oriental com seus gurus e homens santos, até que a realidade os traz de volta. É fato que muitos ali permanecem para sempre.

A verdade é que, vivendo num mundo extremamente consumista, onde a ditadura da publicidade, da mídia e do prazer permeia-lhes a vida, muitas pessoas acabam por se tornar presas fáceis das profecias, ainda que jamais  venham a ser realizadas. Nem mesmo se dão conta de que, se o destino dependesse da borra do café ou das estrelas, bastaria que ficassem assentados, esperando o tempo passar. E ainda há gente que gasta dinheiro com búzios e coisa e tal. Melhor seria dar um trocadinho para as ciganas que “leem” a mão, pois assim estariam lhes matando a fome.

O mais engraçado em toda a história do exotismo é o nascimento de outra vertente, a comercial. Tempos atrás, sadhus, gurus e xamãs recusavam-se a tirar fotos, com medo de que a máquina fotográfica lhes roubasse a alma. Nos dias de hoje, eles exigem uma boa bufunfa em troca. A usura de cá está abalando os alicerces da falsa “espiritualidade” de lá. Este nosso mundo é mesmo muito aloprado.

Em Bangkok havia (e talvez ainda haja) furgões, que funcionavam com o nome de agarra-mortos. Conforme a crença popular daquelas bandas, quando uma pessoa morria violentamente, seu espírito não descansava em paz, se no horário da morte, o corpo ficasse mutilado, a menos que os ritos após a morte fossem efetuados imediatamente. Caso contrário, o espírito inquieto iria se juntar aos batalhões de espíritos vagantes e aos piis do mal. Por isso, os voluntários das associações budistas, circulavam pela cidade, recolhendo todos os corpos de vítimas de mortes violentas. Tentavam colocar juntas as partes do corpo e oficiar os ritos, para que as almas ficassem em paz para todo o sempre.

Acontece que o negócio dos agarra-mortos ficou tão lucrativo, que as instituições de caridade começaram a competir entre si. Quem chegasse primeiro era dono do cadáver. O que sempre acabava em briga para agarrar o morto. Muitas vezes, uma instituição levava um pedaço do corpo e outra levava a outra. Sem falar nos vivos que eram levados como mortos.

O mundo dos humanos é mesmo muito complexo. Morre doido quem tentar decifrar todos os encantamentos e superstições que existem nas suas inúmeras culturas. O mais engraçado é que, com o mundo sendo globalizado, todas elas se voltam para a extração do dinheiro, por mais atrasadas que possam parecer. Enquanto isso, os pobres tolos caem na esparrela.

Nota: Imagem copiada de http://www.luizberto.com/ai-dento-newton-silva

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ÁFRICA – TUAREGUES, OS FILHOS DO DESERTO

Autoria de Lu Dias Carvalho

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Os tuaregues são um grupo étnico da região do Saara. Trata-se de uma civilização bem excêntrica. A origem dessa gente parece perdida no tempo. Poderia ser egípcia, iemenita ou de uma antiga tribo europeia. A maioria dos estudiosos acredita se tratar de um povo berbere, os longínquos habitantes do Saara. Semi nômades, percorrem o deserto em camelos ou cavalos. Foram eles um dos primeiros povos a habitar o Saara. Mas atualmente vivem dispersos, enfrentando a repressão dos novos governantes, após a saída dos franceses.

A palavra árabe tuareg significa abandonados pelos deuses e lhes foi dada pelos europeus, para distingui-los de outros povos. Mas eles preferem chamar a si mesmos por Imouhar(en), Imashagen (Os Livres). Não se sabe ao certo quantos sãos os tuaregues. Calcula-se que exista cerca de um milhão deles, espalhados por Níger, Mali, Líbia, Burkina Fasso e Argélia.

A religião desse povo é uma mistura de islamismo e crenças ancestrais, relacionadas com o juun, o espírito da natureza. A língua falada pertence à raiz berbere. A maioria somente tem cultura oral. Usa também uma linguagem muda, para transmitir mensagens secretas.  No passado, só as mulheres tuaregues sabiam escrever.

Os homens não dispensam um véu índigo, que usam mesmo entre os familiares, e que serve para protegê-los contra o sol escaldante do deserto, das rajadas de areia e dos maus espíritos. Um turbante cobre-lhes todo o rosto, deixando apenas os olhos de fora. Diferentemente de outros povos berberes, os tuaregues não usam tatuagens. Homens e mulheres pintam os olhos com o kohl, pó negro de sulfato de antimônio. Os rapazes raspam a cabeça, deixando apenas uma espécie de crista no centro. O que servirá para que Alá os “arraste” ao paraíso, segundo a crença.

As mulheres, ao contrário das outras muçulmanas, não usam véus e possuem cabelos longos e trançados. São bem consideradas e pode ser delas a iniciativa do pedido de divórcio, caso se considerem maltratadas pelo marido. Em certas ocasiões, elas pintam o rosto de vermelho ou amarelo e os lábios de azul, formando uma espécie de máscara, que serve de enfeite e de símbolo mágico. Possuem autoridade no acampamento, pois os homens estão frequentemente ausentes, cumprindo suas atividades como pastores comerciantes ou guerreiros. Geralmente sabem escrever e são mais instruídas do que os homens. Participam dos conselhos e assembleias da linhagem e são consultadas nos assuntos da tribo.

A alimentação dos tuaregues tem sua base no leite e derivados. Só abatem animais nas grandes festas. Por sua resistência, o camelo é o animal preferido nas viagens pelo deserto. Possuem também ovelhas e cavalos. Os asnos vivem em liberdade e não têm valor comercial. Em sua maioria, os tuaregues vivem em tendas (imahan). Praticam a monogamia, embora um homem que faça uma longa viagem possa ter concubinas de castas inferiores.

Os tuaregues possuem cativos, iklan, compostos por descendentes dos antigos escravos. Embora, desde a dominação francesa, em finais do século XIX, não seja mais permitida a escravidão, eles continuam com seus escravos. Eventualmente, um homem livre pode se casar com uma mulher de sua servidão e, nesse caso, os filhos nascerão livres.  O amo possui poder de vida e morte sobre seus servos.

Antigamente, quando não eram pacíficos, os tuaregues cobravam altos pedágios dos viajantes que atravessavam o deserto. Assaltavam e massacravam aqueles que não pagassem. Dedicavam-se a saquear povos e a controlar as rotas do deserto. Eram chamados de Os Bandoleiros do Deserto.  A organização social desse grupo é típica dos povos pastores e guerreiros, em que a nobreza de sangue é muito importante.

Em 1946, quando o deserto foi dividido entre pequenos países, os tuaregues entraram em guerra por liberdade, quando cerca de quarenta mil foram mortos, incluindo mulheres e crianças. A independência das antigas colônias africanas deu origem a uma verdadeira tragédia. Os novos governantes não chegaram ao poder através do triunfo guerreiro, conforme a tradição desse grupo e, por isso, sua autoridade não foi aceita pelos tuaregues. Muitos escravos passaram a ser senhores em seus novos domínios, com as mudanças efetuadas com a divisão do deserto.

Nos dias atuais, os tuaregues dedicam-se à música, ao artesanato e ao pastoreio de animais como o dromedário (mamífero ativo da região nordeste da África e da porção oeste da Ásia. Possui apenas uma corcova no dorso, e cujo pescoço é mais curto do que o do camelo), animal doméstico usado como montaria e besta de carga.

Atualmente, esses guerreiros valentes, antigos senhores dos desertos, não passam de uma minoria oprimida, sobretudo por carregarem um espírito independente. Muitos vivem distantes de seu habitat, deslocados num mundo que não compreendem. Grande parte deles foi para as grandes cidades africanas da região. Os ricos formaram uma nova classe: a burguesia urbana. Os pobres se viram obrigados a mendigar ou vender objetos de madeira e couro nas entradas dos hotéis. Alguns descobriram profissões mais modernas, como as de mecânico ou guia de turismo.  Muitas jovens tuaregues caíram na prostituição.

O povo Tuareg recusa-se a aceitar as fronteiras de cinco estados – Argélia, Mali, Líbia, Níger e Burkina Fasso -, estabelecidas nos tempos coloniais, em territórios que sempre lhes pertenceram. Expulsos da Argélia em 1986, e obrigados a sair da Líbia em 1990,  refugiaram-se no Níger e no Mali, onde criaram vários problemas e passaram a  sofrer a dura reação dos governantes locais. Houve matanças e verdadeiros genocídios.

Para os povos sedentários é muito difícil compreender a vida nômade da gente Tuareg, que ainda não teve a oportunidade de encontrar um território para si e, que se sente lesada nos seus direitos, por ter sido expulsa de uma região que lhes pertencia há séculos. Eles precisam de um lugar onde possam viver, conservando o estilo de vida que lhes é peculiar, desde os tempos mais remotos.

Nota: Imagem copiada de http://revistaplaneta.terra.com.br

Fonte de Pesquisa:
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Tuareg/ Albeto Vázquez Figueroa

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ÁFRICA – RIO OMO: ARTES, MAGIAS E RITUAIS

Autoria de Lu Dias Carvalho

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Os homens e as mulheres usam os corpos como um espaço de expressão artística. (Hans Silvester)

O rio Omo é um importante rio do sul da Etiópia. Seu curso é inteiramente contido dentro dos limites da Etiópia, desaguando no Lago Turkana, na fronteira Etiópia-Quênia. Encontra-se ali, em construção, a gigantesca barragem de Gibe III, iniciada em 2006, para gerar energia elétrica para Addis Ababa (capital da Etiópia). Muitos ecologistas opõem-se à sua construção, pois reduzirá o rio e eliminará as planícies alagadas de grande importância para os agricultores tribais do Vale do Omo.

O Vale do rio Omo é um território cheio de beleza, mas também é governado por magias, rituais e vinganças, onde o homem ainda conserva comportamentos da África ancestral. Mas isso não parece ser por muito tempo, pois as transformações já se aproximam. A presença de missionários, turistas e comerciantes contribui para o acesso a produtos estrangeiros. Bebidas alcoólicas baratas e fortes, antes raras, já vêm deixando seu rastro de destruição. Durante muitas gerações, essas tribos foram protegidas por montanhas e savanas contra o contato com o mundo exterior. Mas o fator principal para mantê-las a salvo da “civilização” foi o fato de a Etiópia ter sido o único país africano a não ser colonizado pelos europeus. De modo que os habitantes das margens do rio Omo escaparam à influência nefasta da colonização e dos conflitos que esmagaram muitas outras sociedades. As tribos, até então, permaneceram intocadas, migrando e guerreando entre si, e convivendo de acordo com seus costumes, inexistentes em quase todas as outras regiões do país.

São muitas as tribos africanas que habitam as margens do rio Omo, região abundante em água: Kara, Mursi, Suri, Nyangatom, Kwegu e Dassanech, entre outras, uma população de cerca de 200 mil pessoas. Os povoados estendem-se ao longo do Omo, agrupamento de choças com cercados para cabra e depósitos de cereais. A riqueza mais importante dessa gente são os pequenos rebanhos de bois e cabras, mas eles também trabalham na lavoura, irrigada com a água do rio. Em muitas tribos, um homem não pode se casar, se não oferecer dotes de gado à família da noiva. Aos homens cabe a responsabilidade com o rebanho.

As mulheres mursis ainda usam discos labiais (pedaço circular de madeira ou cerâmica no lábio inferior) e cobrem o corpo com desenhos, símbolos da beleza feminina. O adorno labial é substituído de tempo em tempo para ampliar o local.

 Os suris possuem suas temporadas de duelos, quando se vestem com armaduras de pele de cabra e usam bastões compridos no enfrentamento.

As mulheres hamars pedem para ser açoitadas até sangrar, num certo ritual. Há também o rito de iniciação para os meninos da tribo hamar, que devem correr pra cima do lombo do gado, provando que estão aptos a enfrentar a vida adulta.

Nos casamentos, realizados pela tribo Kara, é oferecida uma cerveja feita de sorgo aos convidados de todas as idades, inclusive crianças. As viúvas usam o luto tradicional: despem-se dos adornos, deixam o cabelo crescer e vestem apenas um couro grosseiro.

Para muitas das tribos, os mortos continuam por perto. Em certos vilarejos, eles são enterrados debaixo dos barracos, separados dos vivos por menos de um metro de terra seca. Continuam interferindo na vida das famílias, como pensam elas.

Enquanto no Ocidente a vingança fica por conta dos tribunais, a lei das tribos, naquele canto remoto da Etiópia, é feita por elas próprias. Ao filho mais velho cabe vingar a morte do pai. E uma vez morto esse, a incumbência vai passando para o próximo. Um homem da família deve cobrar o tributo de sangue pela morte de um de seus membros. E aquele que dá fim a um inimigo recebe honrarias especiais: cicatrizes escavadas na carne do ombro e da barriga.

Há também a circuncisão feminina, comum em toda a Etiópia, e uma prática que é conhecida como “destruição do mingi” (mingi é uma espécie de azar extremo). Se uma criança nasce deformada, ou se os seus dentes superiores nascem antes dos inferiores, ou se nascer fora do casamento, ela é tida como mau agouro. Por isso, deve ser sacrificada antes que o mingi se alastre.

Aos poucos, o governo etíope aumenta sua influência sobre as tribos, impondo seu código jurídico, na tentativa de abolir as práticas tradicionais nocivas, como o ritual de fustigação das mulheres, as lutas com bastões e a cerimônia de passar sobre o lombo do gado, etc.

Os jovens das tribos percebem que é preciso buscar a paz entre elas, se quiserem sobreviver. Eles começam a entender que a tradição não pode ser levada a ferro e fogo, pois as coisas estão mudando. Alguns deles já estudam fora dali e possuem a consciência de que é preciso aceitar mudanças.

O fotógrafo alemão, Hans Silvester, que já esteve no Vale do rio Omo várias vezes, e passou seis anos entre as tribos, ficou impressionado com as imagens colhidas ali, principalmente nas tribos Surma e Mursi, conhecidas por suas exuberantes pinturas corporais. Elas utilizam material vulcânico, para obter as mais diferentes cores e pintarem os corpos nus. E, como adereços usam cascas, flores e folhagem. A natureza fornece-lhes um campo vasto de tinturas e enfeites.

As fotos de Hans Silvester percorrem o mundo como um alerta para a fragilidade dessas tribos, que precisam ser protegidas. A íntegra de seu trabalho pode ser vista no livro Natural Fashion – Tribal Decoration from África/ Editora Thames e Hudson. Existe também na internet, um vídeo com seu trabalho sobre o Vale do Rio Omo. Acessem-no, para verem as maravilhas que ele captou:

Fontes de pesquisa:
National Geographic/ Edição 120
Vídeo sobre Hans Silvester

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ÁFRICA – ALBINISMO E FEITIÇARIA

Autoria de Lu Dias Carvalho

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É lamentável saber que nem todos os que vivem no século XXI usufruem da tecnologia e da modernidade que ele oferece. Embora muitos imaginem que o mundo todo seja hoje uma aldeia globalizada, as coisas não são bem assim. Muitos povos ainda vivem num estado de primitivismo inconcebível para os nossos tempos.

O preconceito, filho da intolerância, foi sempre uma nódoa na história de nossa civilização. E mais cruel ele se torna, quando se alia às superstições, justificando os mais bizarros e hediondos comportamentos. Dentre as crueldades que ainda perduram na história da humanidade, podemos citar a situação dos albinos (saruê) na Tanzânia e no Burundi, África Ocidental.  Ali, reza uma cruel superstição que os albinos devem ser mortos, o corpo retalhado e, posteriormente, suas partes vendidas a feiticeiros locais, para que possam fazer suas bruxarias, pois aqueles seres de pele quase transparente possuem poderes sobrenaturais e aquele que possuir um talismã de parte de seu corpo estará protegido contra todos os males e terá muita fortuna. E o que os protegerá da maldade que grassa em seus corações violentos e cruéis?

O albinismo caracteriza-se por uma deficiência na produção de melanina, pigmento responsável pela cor da pele, cabelos e olhos e que protege o corpo da radiação dos raios ultravioletas. Em suma, trata-se de uma alteração genética que pode ser transmitida aos descendentes. As pessoas vitimadas pelo albinismo possuem cabelos finos, olhos sensíveis à luz e uma pele extremamente pálida e frágil, propensa ao câncer. Tais indivíduos, apesar de sua aparente fragilidade e dos cuidados que lhes devem ser dispensados, levam uma vida normal, quando vivem num país civilizado.  No entanto, nos países citados acima, os albinos são caçados como animais valiosos, em virtude de uma cruenta superstição. As partes mais valorizadas do corpo dessas pessoas são dedos, língua, braços, pernas e genitais, que chegam a alcançar um bom valor no comércio voltado para a feitiçaria.

A situação torna-se ainda mais macabra em países como a Tanzânia e o Burundi, pois se situam entre os primeiros na escala de miserabilidade no mundo. O comércio é tão lucrativo e a situação é tão bizarra que a Tanzânia chega a importar, às escondidas, partes do corpo, embora o país tenha uma incidência de albinismo tão grande, que chega a cinco vezes mais que a média mundial. A crença na superstição de que os albinos são seres sobrenaturais é tão forte ali, que os pescadores daqueles países, ao tecerem suas redes, agregam a elas fios de cabelos de pessoas albinas para trazerem sorte à pescaria. Os mineiros usam no pescoço amuletos feitos com os ossos moídos, enquanto o sangue de um albino, bebido ainda quente, traz sorte em dobro. Se o sangue for de uma criança, ele tem mais valor ainda, uma vez que intensifica o poder do feitiço, em função de sua pureza infantil. A matança de albinos é um tipo de crime mais do que comum nesses países, que parecem numa época muito remota da história humana.

A África, embora tida pela ciência como o berço do nascimento da humanidade, é o continente mais pobre de nosso planeta. Aliada à miséria que ali grassa, a ignorância não poderia ficar distante, pois ambas são irmãs siamesas. A ignorância e a miséria são responsáveis no continente africano por tradições brutais e impensáveis para nós, que temos acesso ao conhecimento.

Indiferentemente do que acontece no Oriente Médio, onde abunda o ouro negro (petróleo), o resto do mundo parece não se importar com aquele povo carente de tudo. E onde não existe o saber, fruto da ciência, as superstições ocupam o espaço, tomando como vítima os mais fragilizados. A título de exemplo podemos citar a mutilação genital das meninas no Quênia e o assassinato, através de tortura, pelas próprias famílias, de crianças acusadas de estarem endemoninhadas, na África Austral.

Peter Ash, um albino canadense, criou uma ONG (Under the Same Sun), cujo objetivo é obrigar o governo da Tanzânia a impedir o tráfico de carne humana, no caso, a dos albinos. Mas, até agora os seus esforços têm sido em vão. Enquanto isso, ele espera que os olhos do mundo civilizado voltem para as vítimas do albinismo na África, de modo a salvar a vida dessas pessoas inocentes e indefesas.

Por favor, quem tiver Facebook ou fizer parte de qualquer outra rede social, ajude a espalhar este texto. Vamos contar ao mundo os horrores que acontecem na Tanzânia e no Burundi. Assim estaremos ajudando a ONG de Peter Ash, e obrigando os governantes dos países ricos a olharem para os albinos com mais piedade. Cada um de nós pode ser uma gota de esperança na vida desses desvalidos, muitas vezes raptados ou mortos dentro de suas próprias casas. O número de crianças desaparecidas entre as famílias de albinos cresce a cada dia, para serem destrinchadas no “mercado criminoso da ignorância, da crueldade  e da superstição”.

Visitem a ONG Under the Same Sun (Debaixo do mesmo sol) – Google
Há também um blog sobre o ALBINISMO, em língua portuguesa – Google

Nota: Imagem copiada de http://rochaferida.blogspot.com.br/2012/12/albinismo-

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ÁFRICA – O POVO MASSAI

Autoria de Lu Dias Carvalho

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Os massai são um grupo étnico africano de seminômades, localizado no Quênia e no norte da Tanzânia. É um povo orgulhoso e indomável, composto por pastores e guerreiros, que tem muito orgulho de suas tradições. Seus ancestrais vieram do Egito. Essa gente já chegou a ser extremamente temida. Sua beleza negra é conhecida, assim como as roupas tingidas em tons de vermelho e o andar majestoso. E tem como cor oficial o vermelho. A classe social de um massai é determinada pelo número de vacas e cabras pertencentes à família.

Os homens massai não beijam suas companheiras, pois acham que a boca é feita apenas para comer e o ato de usá-la além dessa finalidade é tido como algo terrível. Também não comem junto ou à vista de mulheres. Nenhum guerreiro poderá comer qualquer coisa que tenha sido tocada por uma mulher. Na presença delas só se pode tomar chá (chai).  Tampouco suas mulheres podem lhes perguntar aonde vão, pois isso é problema deles. Elas devem ficar junto aos filhos, enquanto eles se agregam à companhia de outros homens de igual posição.

Quando se mata um animal, certas partes do corpo não podem ser comidas pelos homens, mas destinadas às mulheres massais. O animal é morto por sufocamento, pois o sangue não pode correr antes de sua morte. Faz-se um corte no pescoço do bichinho, puxa o couro e sorve o sangue em grandes goles, ainda no matadouro. O que não deixa de ser uma cultura estúpida, indiferente às dores sofridas pelo animal.

Leite e carne são os dois principais alimentos do povo massai, contudo, não podem ser ingeridos juntos. Acreditam os massai que, se ingeridos ao mesmo tempo, a rês que deu o leite poderá adoecer ou até mesmo morrer. Mas misturar leite com sangue não faz mal. O sangue bebido só pode ser do próprio gado. Para sua obtenção diária, eles colocam uma fina corda ao redor do pescoço do animal, que é torcida até que a veia jugular fique bem elevada. Uma flecha é atirada para perfurá-la. Coleta-se o sangue num recipiente de madeira. A seguir o local é tratado com esterco.

Os guerreiros massai usam os cabelos, pintados de ocra vermelha e gordura de carneiro, cheios de trancinhas. As mulheres raspam a cabeça e pintam-nas com a mesma mistura, mas só em época de festa. Os guerreiros são avessos ao trabalho, principalmente os que são feitos por mulheres, tais como pegar água, apanhar lenha ou lavar roupa. Acham que é uma função desprezível, propícia ao sexo feminino.

Enquanto não são casados, os homens massai vivem de um lugar para outro, não possuindo morada fixa. Só as mães sabem onde eles se encontram. Um massai pode se casar com quantas mulheres quiser, desde que consiga alimentá-las, não importando a idade. As mulheres só podem se casar uma vez. Eles desejam muitos filhos, pois sem eles “um homem não tem valor”.

Todos os guerreiros massai possuem uma namorada, que é presenteada com enfeites, para que fique o mais bonita possível para  se casar. Porém, um guerreiro não poderá se casar com a namorada de tantos anos. Podem praticar o amor livre até um dia antes de ela se casar com outro, quando é vendida pelos pais. Ela só fica conhecendo o marido no dia do casamento. Se o guerreiro massai conviver com outra mulher, antes do casamento da namorada, será terrível para ela, pois perde o seu valor de venda.

Os massai mascam mirra. Assentam-se no chão, descascam os talos da planta que, depois de mastigados, são cuspidos fora. Não podem fazer uso de bebida alcoólica, proibição que nem sempre é cumprida. Laibon é o líder espiritual que atua como intermediário entre seu povo e o deus “Enkai/ Engai”. É também a fonte de conhecimento sobre as ervas e poder decisório da tribo.

Uma festa de casamento entre os massai começa com a circuncisão da noiva, que consiste na extirpação do clitóris. A justificativa é de que, se não fizer a circuncisão, a noiva não será uma mulher de verdade e não dará a seu homem filhos saudáveis. Durante a festa, todos dançam, mas em grupos separados de meninos, mulheres e guerreiros.

Depois do casamento, o guerreiro massai não mais poderá morar na casa da mãe. É preciso construir sua própria maniata. Primeiro, seu contorno é marcado com troncos grossos, entrelaçados com galhos de salgueiro-chorão. O reboco é feito com esterco de vaca e barro, que seca rapidamente por causa do calor, ficando inodoro e duro como pedra. As mulheres usam as mãos para a construção. As maniatas são dispostas em círculos, de modo que, à noite, os rebanhos ficam no centro, protegidos dos animais selvagens.

Em volta da maniata é permitido fazer xixi, pois a areia suga o líquido, mas o restante das necessidades fisiológicas não deve ser feito ali. As mulheres urinam de pé, enquanto os homens acocoram-se. Quem desobedecer às regras da comunidade deverá oferecer uma cabra ao vizinho e mudar do local, fato que redundaria numa grande desonra.

Entre os massai, o choro só é permitido quando alguém morre. Quando a primeira neta, rebento do filho mais velho nasce e completa certa idade, ela passa a pertencer à avó e tem o compromisso de ajudá-la na terceira idade, buscando lenha, água, etc.

Os massai não conhecem calendário. Tudo gira em torno da lua. São excessivamente supersticiosos, como por exemplo:

  • Acreditam que, se uma mulher grávida tiver relações com um homem, o filho nascerá com o nariz entupido.
  • Se um pai tiver dúvidas quanto à origem de um bebê, a criança é colocada no centro do portão, por onde o gado passa durante a noite. Se for pisoteado até a morte, será considerada como um filho bastardo.
  • A doença é vista como uma maldição, usada por alguém para matar o outro.
  • Ser tocado ou cuspido por um idoso, muitas vezes pode significar que esse está passando uma maldição para a pessoa.
  • Outro mal é ver uma língua preta.
  • Cuspir na palma da mão, antes de dar a mão, num cumprimento, é sinal de uma amizade especial.
  • A avó abençoa o recém-nascido enchendo-lhe as solas dos pés, as palmas das mãos e a testa de cuspe, enquanto reza para Enkai.
  • Nas primeiras semanas, o bebê não pode ser visto, a não ser por pessoas autorizadas. E não se deve dizer que é bonito, para não ser vítima de azar.
  • Quando os bebês sujam as cangas, eles são retirados delas e limpos a seco. A seguir, a mãe cospe na bunda da criança e esfrega com a mão. Por sua vez, as cangas são esvaziadas e esfregadas na areia até que fiquem secas.

Como pudemos ver, na sociedade massai existem muitas superstições e os homens são machistas ao extremo. E não parece haver o sentimento de compaixão, como mostra o tratamento dado aos animais e à criança, quando não se tem a certeza de quem é o pai, por exemplo.

Fonte de Pesquisa:
O livro A Massai Branca (já há o filme com o mesmo nome)
Revista National Geographic nº

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