ÁFRICA – RIO OMO: ARTES, MAGIAS E RITUAIS

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Autoria de Lu Dias Carvalho

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Os homens e as mulheres usam os corpos como um espaço de expressão artística. (Hans Silvester)

O rio Omo é um importante rio do sul da Etiópia. Seu curso é inteiramente contido dentro dos limites da Etiópia, desaguando no Lago Turkana, na fronteira Etiópia-Quênia. Encontra-se ali, em construção, a gigantesca barragem de Gibe III, iniciada em 2006, para gerar energia elétrica para Addis Ababa (capital da Etiópia). Muitos ecologistas opõem-se à sua construção, pois reduzirá o rio e eliminará as planícies alagadas de grande importância para os agricultores tribais do Vale do Omo.

O Vale do rio Omo é um território cheio de beleza, mas também é governado por magias, rituais e vinganças, onde o homem ainda conserva comportamentos da África ancestral. Mas isso não parece ser por muito tempo, pois as transformações já se aproximam. A presença de missionários, turistas e comerciantes contribui para o acesso a produtos estrangeiros. Bebidas alcoólicas baratas e fortes, antes raras, já vêm deixando seu rastro de destruição. Durante muitas gerações, essas tribos foram protegidas por montanhas e savanas contra o contato com o mundo exterior. Mas o fator principal para mantê-las a salvo da “civilização” foi o fato de a Etiópia ter sido o único país africano a não ser colonizado pelos europeus. De modo que os habitantes das margens do rio Omo escaparam à influência nefasta da colonização e dos conflitos que esmagaram muitas outras sociedades. As tribos, até então, permaneceram intocadas, migrando e guerreando entre si, e convivendo de acordo com seus costumes, inexistentes em quase todas as outras regiões do país.

São muitas as tribos africanas que habitam as margens do rio Omo, região abundante em água: Kara, Mursi, Suri, Nyangatom, Kwegu e Dassanech, entre outras, uma população de cerca de 200 mil pessoas. Os povoados estendem-se ao longo do Omo, agrupamento de choças com cercados para cabra e depósitos de cereais. A riqueza mais importante dessa gente são os pequenos rebanhos de bois e cabras, mas eles também trabalham na lavoura, irrigada com a água do rio. Em muitas tribos, um homem não pode se casar, se não oferecer dotes de gado à família da noiva. Aos homens cabe a responsabilidade com o rebanho.

As mulheres mursis ainda usam discos labiais (pedaço circular de madeira ou cerâmica no lábio inferior) e cobrem o corpo com desenhos, símbolos da beleza feminina. O adorno labial é substituído de tempo em tempo para ampliar o local.

 Os suris possuem suas temporadas de duelos, quando se vestem com armaduras de pele de cabra e usam bastões compridos no enfrentamento.

As mulheres hamars pedem para ser açoitadas até sangrar, num certo ritual. Há também o rito de iniciação para os meninos da tribo hamar, que devem correr pra cima do lombo do gado, provando que estão aptos a enfrentar a vida adulta.

Nos casamentos, realizados pela tribo Kara, é oferecida uma cerveja feita de sorgo aos convidados de todas as idades, inclusive crianças. As viúvas usam o luto tradicional: despem-se dos adornos, deixam o cabelo crescer e vestem apenas um couro grosseiro.

Para muitas das tribos, os mortos continuam por perto. Em certos vilarejos, eles são enterrados debaixo dos barracos, separados dos vivos por menos de um metro de terra seca. Continuam interferindo na vida das famílias, como pensam elas.

Enquanto no Ocidente a vingança fica por conta dos tribunais, a lei das tribos, naquele canto remoto da Etiópia, é feita por elas próprias. Ao filho mais velho cabe vingar a morte do pai. E uma vez morto esse, a incumbência vai passando para o próximo. Um homem da família deve cobrar o tributo de sangue pela morte de um de seus membros. E aquele que dá fim a um inimigo recebe honrarias especiais: cicatrizes escavadas na carne do ombro e da barriga.

Há também a circuncisão feminina, comum em toda a Etiópia, e uma prática que é conhecida como “destruição do mingi” (mingi é uma espécie de azar extremo). Se uma criança nasce deformada, ou se os seus dentes superiores nascem antes dos inferiores, ou se nascer fora do casamento, ela é tida como mau agouro. Por isso, deve ser sacrificada antes que o mingi se alastre.

Aos poucos, o governo etíope aumenta sua influência sobre as tribos, impondo seu código jurídico, na tentativa de abolir as práticas tradicionais nocivas, como o ritual de fustigação das mulheres, as lutas com bastões e a cerimônia de passar sobre o lombo do gado, etc.

Os jovens das tribos percebem que é preciso buscar a paz entre elas, se quiserem sobreviver. Eles começam a entender que a tradição não pode ser levada a ferro e fogo, pois as coisas estão mudando. Alguns deles já estudam fora dali e possuem a consciência de que é preciso aceitar mudanças.

O fotógrafo alemão, Hans Silvester, que já esteve no Vale do rio Omo várias vezes, e passou seis anos entre as tribos, ficou impressionado com as imagens colhidas ali, principalmente nas tribos Surma e Mursi, conhecidas por suas exuberantes pinturas corporais. Elas utilizam material vulcânico, para obter as mais diferentes cores e pintarem os corpos nus. E, como adereços usam cascas, flores e folhagem. A natureza fornece-lhes um campo vasto de tinturas e enfeites.

As fotos de Hans Silvester percorrem o mundo como um alerta para a fragilidade dessas tribos, que precisam ser protegidas. A íntegra de seu trabalho pode ser vista no livro Natural Fashion – Tribal Decoration from África/ Editora Thames e Hudson. Existe também na internet, um vídeo com seu trabalho sobre o Vale do Rio Omo. Acessem-no, para verem as maravilhas que ele captou:

Fontes de pesquisa:
National Geographic/ Edição 120
Vídeo sobre Hans Silvester

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