Arquivo da categoria: Mestres da Pintura

Estudo dos grandes mestres mundiais da pintura, assim como de algumas obras dos mesmos.

Chardin – ORAÇÃO DE GRAÇAS

Autoria de Lu Dias Carvalho

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Chardin pode ser comparado a Vermeer, no modo como sente e preserva a poesia de uma cena doméstica sem cuidar de efeitos impressionantes ou alusões mais profundas. (E.H. Gombrich)

O barroco destacou o estilo de vida aristocrático, que chegava ao fim com o surgimento do rococó. A primazia passava a ser dada às coisas mais delicadas e íntimas. Não era mais a aristocracia, com seu deslumbramento, a constituir o tema das pinturas, mas o modo de viver simples dos homens e mulheres do povo. Os temas podiam ser alegres ou tristes. O pintor Jean-Baptiste-Siméon Chardin é considerado um dos principais pintores do rococó.

Em sua composição Oração de Graças, Chardin apresenta uma cena comum da vida cotidiana, mas comovente. Num quarto simples, uma mulher do povo serve a refeição para suas duas filhinhas. Em torno da mesa redonda, forrada com uma tolha branca, estão três cadeiras, o que nos dá a ideia de que a família é pequena. A mulher e a filha maior possuem cadeiras semelhantes, enquanto a mais novinha está assentada numa pequena cadeira, que traz um tambor pendurado em seu espaldar, provavelmente um brinquedo da criança. A baqueta encontra-se no chão, como se a menininha tivesse parado de brincar para fazer a refeição.

Sobre a mesa da família estão dois pratos brancos, duas colheres e uma caçarola,  segura pela mãe, que tem os olhos voltados para a garotinha mais nova, que também a observa. Pela posição das duas meninas, percebe-se que estão rezando em agradecimento pelo alimento recebido, sob o olhar amoroso da mãe. Atrás da mulher existe uma prateleira com alguns objetos de cozinha. Na parede está dependurado um utensílio parecido com uma bilha. Atrás das garotas, um armário tem sobre si objetos de barro. No chão, em primeiro plano, está um braseiro. As três personagens usam roupas da época, com as cabeças cobertas por toucas.

Ficha técnica
Ano: 1740
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 49,5 x 38,5 cm
Localização: Louvre, Paris, França

Fonte de pesquisa:
A História da Arte/ E.H. Gombrich

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Chardin – A GOVERNANTA

Autoria de Lu Dias Carvalho

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Chardin faz-nos admirar a simplicidade e a verdade que norteiam suas obras, atraindo a todos devido à perfeita imitação da natureza, que prende o olhar. (Abade Desfontaines)

O pintor francês Jean-Baptiste-Siméon Chardin, além das naturezas-mortas, gostava de pintar quadros sobre o cotidiano das pessoas. Era muito habilidoso e possuidor de grande sensibilidade, ao harmonizar cores e tema. A sua obra A Governanta, exposta no Salão de Paris, em 1739, foi muita apreciada pela crítica e pelo público.

A composição mostra uma governanta e um garoto numa sala. Ambos estão vestidos de acordo com a moda da época. Ela conversa com o menino que, de olhos baixos, mostra-se indeciso. O garoto usa cabelos presos com uma fita azul, também presente em sua vestimenta. Debaixo do braço esquerdo estão os livros. Até ali, ela foi a responsável por sua educação, mas agora ele tem que trilhar outros caminhos, aprender coisas mais sérias, que provavelmente nem ela saiba. O que sugere que a governanta esteja aconselhando-o no enfrentamento de uma nova vida.

Uma porta entreaberta leva a outro ambiente, sugerindo a entrada do garoto no mundo dos adultos, onde as regras mudam, e onde há prazer e sofrimento. A escola é o início de uma nova vida. Na parte esquerda da porta está a assinatura do artista e a data em que a obra foi concluída.

Atrás do garoto está uma mesa de jogos com uma gaveta meio aberta, o que traz a ideia de que ele ainda não tem cuidado com suas coisas. As cartas no chão sugerem que estavam guardadas na gaveta. Para trás estão ficando seus brinquedos e jogos: cartas, raquete e peteca. Sinônimo de que sua vida agora não é mais só de brincadeiras. Ao apontar para a porta, as duas cartas principais: rei de copas (representa o amor) e o às de espadas (representa a morte) mostram que o menino terá no futuro alegrias e sofrimento.

A governanta mostra-se cônscia de suas obrigações e do dever cumprido na educação da criança até ali. A sua expressão é ao mesmo tempo de firmeza e de carinho para com o menino. Ela também parece sofrer com as mudanças, mas o incentiva a ir em frente. Traz em uma das mãos o chapéu tricorne do garoto e na outra uma escova. Provavelmente seja a última peça a ser acrescentada à vestimenta da criança.

Ao lado da governanta, em primeiro plano, está a sua cesta de trabalhos. Dentro dela estão objetos simples como novelos de lã.

Ficha técnica
Ano: 1739
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 46,5 x 37,5
Localização: National Gallery, Ottawa, Canadá

Fontes de Pesquisa
Os pintores mais influentes do mundo/ Girassol
A história da arte/ E.H. Gombrich
Arte em detalhes/ Folha

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Mestres da Pintura – JEAN-BAPTISTE-SIMÉON-CHARDIN

Autoria de Lu Dias Carvalho

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A magia de seu trabalho é difícil de compreender-se. Usa espessas camadas de cores, uma sobre as outras, com o efeito final filtrando do interior. Alguma vezes parece que uma nuvem de vapor foi soprada através da tela, outras como se espuma de luz tivesse sido arremessada contra ela… Se se olha de perto, tudo se torna confuso, comprime-se, desaparece; quando se afasta, as formas reaparecem e vervivem. (Diderot)

Quem disse que se pinta com cores? As cores são utilizadas, mas as pinturas são feitas com emoções. (Chardin)

O francês Jean-Baptiste-Siméon Chardin (1699-1799) é tido como um dos mais importantes pintores de naturezas-mortas da arte europeia, sendo suas obras muito estudadas pelos artistas do gênero, posteriores a ele. As suas naturezas-mortas, assim como sua pintura de gênero, são elementos importantes da arte francesa. Sobre o pintor, assim escreveram os Goncourt, dois irmãos franceses: “Ele limita a sua pintura ao mundo humilde ao qual pertence, e ao qual pertencem seus hábitos, seus pensamentos, suas afeições […] adere à ilustração e à representação das cenas que tocam e o comovem…”

Chardin nasceu em Paris. Era filho de um marceneiro que o enviou para ter aulas Nöel-Nicolas Coypel, responsável por sua formação como pintor. Ao restaurar os afrescos de Rosso e Primaticcio em Fontainbleau, com Van Loo, adquiriu uma vasta experiência. Chardin  casou-se, mas sua esposa e filha morreram dentro de um período de dois anos de distância  uma da outra. Seu filho, também pintor, afogou-se em Veneza anos mais tarde, enchendo sua vida de eventos tristes. Foi aceito, aos 29 anos de idade, como pintor-mestre pela corporação de pintores da Academia de São Lucas.  Em 1728, foi para a Academia Real de Pintura e Escultura . Sua famosa tela “A Arraia”, ao ser exposta, fez com que ele fosse notado e reconhecido.  Em 1733, iniciou suas pinturas figurativas. Dois anos depois, passou a expor no Salão do Louvre.

O pintor francês limitava-se a pintar cenas plácidas, mas cheias de intensidade poética. Nelas tudo estava à vista, sem surpresas ou significados simbólicos. Ele era influenciado, sobretudo, pela natureza. Ao pintar, Chardin abria mão da imaginação para retratar o motivo diante de si. Usava cores contidas, matizadas e a arrumação dos objetos na tela parecia casual, sem nenhum destaque para a iluminação. Suas pinceladas apenas davam vida ao comum e faziam com que o todo parecesse mais do que a soma das partes.

Era admirador de Rembrandt, David Teniers – o Jovem, Willem Kalf, Johannes Vermeer, Pierre-Jacques Cazes e Noël-Nicolas Coypel. Artistas que se inspiraram em Chardin: Gustave Coubert, Édouard Manet, Henri Fantin-Latour, Paul Cézanne, Henri Matisse, Giorgio Morandi, Lucian Freud, dentre muitos outros.

Chardin teve uma longa carreira, iniciada com a pintura de naturezas-mortas, vistas, naquela época, pela Academia Francesa, como uma categoria inferior da arte. Depois passou a pintar cenas do cotidiano, sempre retratando ambientes humildes. Sua pintura é tida como verdadeira, direta e honesta. Morreu aos 80 anos de idade depois de um longo período de enfermidade, mas ainda pintando.

Fontes de Pesquisa
Os pintores mais influentes do mundo/ Girassol
A história da arte/ E.H. Gombrich
Arte em detalhes/ Folha

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David – A MORTE DE SÓCRATES

Autoria de Lu Dias CarvalhosocratesÉ a maior realização da arte desde a Capela Sistina (Sir Joshua Reynolds)

A composição intitulada A Morte de Sócrates foi pintada pelo artista francês Jacques-Louis David (1748 – 1825) a pedido de um mecenas. Tanto o tema heroico quanto as formas clássicas dizem respeito ao neoclassicismo, sendo o artista o pioneiro e líder da pintura neoclássica na França. Em seu estilo, o artista dava destaque a tudo que fosse de rara qualidade na Antiguidade clássica.

David pintou a cena em que Sócrates encontra-se na prisão e recebe a visita de seus discípulos, momentos antes de tomar a taça de veneno, preferindo morrer a ter que mudar suas ideias em nome do conhecimento. Ao contrário dos amigos que o cercam, impotentes e chorosos, ele se mostra vigoroso, não se deixando abater. O pintor realça sua figura, jogando sobre ela toques de luz.

A cena acontece numa sala em estilo romano. Ao lado do mestre estão nove de seus discípulos. Embora Platão apareça na composição – o homem assentado aos pés da cama – à época ele se encontrava doente e não esteve presente no momento da morte do seu querido mestre. Era também muito mais novo, pois contava com 20 anos de idade na ocasião.

Sócrates aproveitou até os momentos finais de sua vida para ensinar. Em sua sabedoria usou o que lhe ia acontecer para debater com seus discípulos sobre a imortalidade da alma. Seu dedo levantado indica que há uma dimensão mais elevada do que a Terra, onde vivem os mortais. Não há tensão ou medo em seu corpo. Ele nem ao menos dirige o olhar para a taça de cicuta, apenas estende a mão para pegá-la.

Apolodoro é a figura que se encontra encostada na parede, com as mãos para cima em grande desespero. Segundo Platão, Sócrates foi obrigado a pedir que ele fosse embora, tamanho era o transtorno em que se encontrava. O pintor David optou por colocá-lo na sombra, mais afastado do grupo.

Com exceção do rapaz que segura a taça de veneno, as pessoas presentes no ambiente fazem parte do círculo de amigos do filósofo. O moço, vestido de vermelho foi encarregado de levar o veneno e testemunhar a morte de Sócrates, mas ele também se encontra visivelmente perturbado, virando-se e tapando o rosto para não ver a cena. O heroísmo do filósofo e a injusta sentença são demais para ele que aperta os olhos com os dedos. Cristo, um dos discípulos mais queridos de Sócrates, está assentado a seus pés, com a mão direita em seu colo. Ao ser anunciada a sentença, ele tenta convencer o mestre a fugir.

Platão, assentado na cabeceira da cama, reage com dignidade diante da morte do mestre. Imóvel, apenas acompanha com os ouvidos as palavras de Sócrates. Direciona seus olhos para o chão, como se estivesse perdido em pensamentos, filosofando sobre o destino do mestre. Um dos discípulos traz o rosto entre as mãos, enquanto outro, de costas, clama aos céus. São variadas as expressões de tristeza e dor vista no ambiente.

O cálice de veneno ocupa o centro da composição. David inteligentemente coloca-o em evidência ao direcionar para ele o braço de Sócrates e o do do rapaz que oferece a taça com o líquido mortífero. Um ambiente descortina-se depois da porta, onde estão presentes alguma figuras, duas delas indiferentes ao que se passa na sala ao lado. Num outro ambiente à esquerda,  seguida por uma mulher, a esposa de Sócrates é vista deixando a prisão.

Ficha técnica
Ano: 1787
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 1,30 x 1,96 cm
Localização: Metropolitan Museum of Art, Nova York, EUA

Fontes de pesquisa
Tudo sobre arte/ Editora Sextante
História da arte ocidental/ Editora Redeel

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David – O JURAMENTO DOS HORÁCIOS

Autoria de Lu Dias Carvalho

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Essas marcas de heroísmo e virtude cívica, apresentadas aos olhos do povo, eletrizarão a alma e plantarão as sementes da glória e da lealdade à pátria. (Jacques-Louis David)

Esta obra contém algo ao mesmo tempo pungente e terno; uma alma alça voo no ar frio do aposento, entre estas paredes frias, em volta desta fria banheira funerária. (Charles Baudelaire)

Esta é uma das composições mais famosas do pintor francês Jacques-Louis David, que tinha apenas 17 anos, quando a pintou, elogiada pelos críticos e pelo público. Apresenta um episódio histórico da história da Roma antiga, numa guerra travada com a cidade de Alba Longa, entre duas famílias: os três irmãos romanos (os Horácios) e os três irmãos inimigos (os Curiácios). O combate mortal definiria quem ganharia a república romana. Durante a batalha, dois irmãos da família Horácios morreram, mas o único que sobrou, acabou com todos os seus adversários, assegurando o domínio de Roma.

O pintor mostra o momento em que os irmãos Horácios, diante do pai, juram fidelidade ao Estado romano e, se preciso for, darão por ele a própria vida. Eles optam pela lealdade à República romana em vez da lealdade à família, pois Horácios e Curiácios possuem estreitos laços familiares e emocionais:

1. um dos irmãos Horácios é casado com uma irmã dos Curiácios;
2. um dos irmãos Curiácios está comprometido com uma irmã dos Horácios.

Os três irmãos Horácios, abraçados, e com a mão direita estendida em juramento, apresentam-se como heroicos guerreiros diante do pai, mostrando seus perfis ao observador. Trazem os rostos sérios, e seus corpos expressam a linguagem corporal de que, através do dever da disciplina, estão prontos para o combate, até para morrer, se necessário for. Os músculos tensos simbolizam a vontade férrea de lutar.

O pai dos irmãos Horácios demonstra dignidade e sacrifício em sua pose. Na mão esquerda, ponto central da pintura, levanta três espadas iluminadas pela luz solar, simbolizando três vontades,  e com a direita parece abençoar os filhos, a quem entregará as armas. Seu gestual simboliza a comunhão dos três irmãos através do juramento feito. A vitória terá mais valor do que a vida. O velho Horácio traz a cabeça levantada e os olhos fixos no punho das espadas. O vermelho vivo é a cor predominante no grupo masculino, cor da paixão e da Revolução.

Três mulheres acabrunhadas e dóceis, assentadas à direita da composição, abaixam a cabeça para não verem a cena. Duas delas têm os braços inertes, ao contrário dos homens que demonstram ação, enquanto a terceira aconchega-se aos netos. A suavidade dos traços femininos denota emoção e tristeza. Sabina, a mulher de branco, é casada com um dos irmãos Horácios, sendo uma irmã dos Curiácios. A outra, que nela se apoia, é Camila, irmã dos Horácios e noiva de um dos Curiácios. Ambas são irmãs da mesma sina.

A sombra dos quatro homens cai diretamente sobre as crianças, debaixo do manto azul da mãe dos Horácios, a avó delas. O menino maior olha fixamente para os homens. Ao apontar as crianças com a sombra, o pintor passa a mensagem de que mesmo elas deverão, se preciso for, pagar o preço que a lealdade ao Estado requer.

O ambiente em que o grupo encontra-se é totalmente desprovido de ornamentos, com exceção de uma lança, no fundo escuro do arco dórico central. Num cenário romano, com colunas dóricas e colunas semicirculares, tudo remete ao mundo masculino e militar, que exala despojamento e disciplina. As figuras da composição estão distribuídas pelos três arcos dóricos. Os três irmãos são emoldurados pelo primeiro, o pai pelo segundo e as mulheres e as crianças pelo terceiro.

Tudo na composição lembra a época romana: togas, elmos e espadas, copiados fielmente. Até mesmo os rostos mostram o conhecido “nariz romano”.  As linhas retas  definem os corpos masculinos e as curvas dos femininos. A assinatura, à esquerda da composição, na parte inferior, é neoclássica. Está escrito “L. David faciebat Romae Anno MDCCLXXXIV” (significa: Criado em Roma por David em 1784). David fez esta tela com o intuito de que ela fosse uma obra de propaganda na derrubada da monarquia francesa, o que aconteceu quatro anos depois. A representação do juramento heroico de lutar até a morte era uma alegoria ao desvelo dos revoltosos franceses.

Obs.: Esta pintura, reconhecida como uma obra-prima, significou também um chamamento à revolução estética e política e, mais tarde, como um dos mais importantes documentos do neoclassicismo.

Ficha técnica
Ano: 1784
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 330 x 427 cm
Local: Museu do Louvre, Paris, França

Fontes de pesquisa
Arte em detalhes/ Publifolha
A história da arte/ E.H. Gombrich
O Sol do Brasil/ Lilia Moritz Schwarcz
1000 obras-primas da pintura europeia/ Editora Könemann

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David – A MORTE DE MARAT

Autoria de Lu Dias Carvalho

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David conseguiu fazer o quadro parecer heroico, sem deixar, no entanto, de respeitar detalhes concretos de um registro policial. (E.H. Gombrich)

Eu matei um homem para salvar cem mil vidas. (Charlotte Corday)

Esta obra contém algo ao mesmo tempo pungente e terno; uma alma alça voo no ar frio do aposento, entre estas paredes frias, em volta desta fria banheira funerária. (Charles Baudelaire)

O pintor francês Jacques-Louis David exibe com esmero sua genialidade, aliada às suas convicções políticas, na composição A Morte de Marat, tida como a maior pintura da arte ocidental, a retratar o martírio de um político.

O quadro de David é bastante sintético na exposição dos elementos. Tudo que ali se encontra é necessário e calculado, carregado de significado simbólico. Nada entra na tela por acaso, resultando numa composição forte e realística.

Jean Paul Marat encontrava-se entre os amigos de David, que tiveram uma morte violenta, durante a Revolução Francesa. Era um dos líderes da revolução. O pintor também se encontrava ameaçado, até que Napoleão Bonaparte tomou para si o comando da França.

Portador de uma doença de pele, Marat era obrigado a ficar na banheira, para que a água aliviasse seu desconforto. Para aliviar o mal-estar causado pela enfermidade, ele usava um pano embebido em vinagre na cabeça. Como ali passasse longas horas, adaptou o local para dar expedientes, colocando uma tábua sobre a banheira, que lhe servia de mesa. Ao lado, um velho caixote servia como uma escrivaninha improvisada. E foi nela que David deixou a sua dedicatória.

A fanática monarquista Charlotte Corday, em 13 de maio de 1793, apunhalou Marat dentro de sua banheira, matando-o. Na mão de Marat encontra-se a carta de apresentação que permitiu o acesso da mulher até ele. Ela foi guilhotinada quatro dias depois.

David retirou a decoração da sala de banho de Marat, deixando no fundo um vazio escuro. A banheira foi trocada, de modo que o braço caído de Marat, em primeiro plano, evocasse a pose de Jesus ao ser descido da cruz. Deixou apenas poucas manchas de sangue no lençol, de modo a atenuar a violência. Ocultou a facada no peito com sombras. E apenas um pouco da água vermelha de sangue é visível.

Os elementos principais da tela são iluminados por uma luz dramática: a face sofrida de Marat e o velho caixote que mostrava a simplicidade em que vivia. Valendo-se do estilo clássico, o pintor apresenta seu amigo fazendo lembrar, deliberadamente, as pinturas da “Descida da Cruz”, mostrando Marat não apenas como um mártir da Revolução Francesa, mas também como um santo martirizado.

O pintor modela os músculos e os tendões do corpo de Marat, dando-lhe um aspecto de real grandeza. São desprezados todos os detalhes desnecessários. O que conta é a simplicidade. O caixote, a cabeça e os braços de Marat são iluminados, enquanto as partes mais sangrentas situam-se nas sombras.

Embora triste, a figura de Marat é idealizada. Não traz as manchas da pele e o sangue possui um tom menos forte. Tanto seu ferimento quanto seu sangue são pouco perceptíveis, diante da palidez de seu corpo. Traz na mão direita a carta recebida, salvo-conduto da assassina, e na esquerda uma pena, ainda mantida de pé. À esquerda da banheira está a faca suja de sangue, único objeto a recordar o ato insano.

Em primeiro plano, vê-se sobre o caixote uma carta, com dinheiro sobre ela, uma pena e um tinteiro.  Como a pena ainda se encontrava na mão direita de Marat, pressupõe-se que ele havia acabado de escrevê-la para uma viúva de um soldado, enviando-lhe dinheiro, o que mostra a atitude caridosa do revolucionário.

A banheira, coberta com um lençol branco, chama a atenção do observador, que não compreende porque ele estaria ali, onde deveria haver apenas água. O fato é que Marat cobria a superfície de sua banheira com lençol, pois, se seu corpo entrasse em contato com o revestimento de cobre, sua pele se irritaria.

A carta de apresentação de Charlotte na mão de Marat diz: “Basta minha grande infelicidade para me dar direito à sua bondade”, estratégia usada para ter acesso até o revolucionário Marat, na sua luta contra a monarquia francesa.

Ficha técnica
Ano: 1793
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 165 x 128 cm
Localização: Musée Royal des Beaux-Arts de Bruxelas, Bélgica

Fontes de Pesquisa
Os pintores mais influentes do mundo/ Girassol
A história da arte/ E.H. Gombrich
1000 obras-primas da arte europeia/ Editora Könemann
Grandes Pinturas/ Publifolha

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