Arquivo da categoria: Mestres da Pintura

Estudo dos grandes mestres mundiais da pintura, assim como de algumas obras dos mesmos.

Delacroix – SUA ARTE

Autoria de Lu Dias Carvalho del1

As coisas mais reais para mim são as ilusões que crio em minha pintura. Tudo o mais é areia movediça. (Delacroix)

Uma grande paixão, sustentada por  um desejo formidável, esse era Delacroix. A seus olhos, a imaginação era o dom mais precioso, a faculdade mais importante. (Charles Baudelaire)

Quando os tons são justos, os traços se desenham por si. (Delacroix)

Desde criança, Delacroix demonstrava uma grande queda pelo desenho. Em Paris, estudou no Liceu Imperial, onde obteve muitos conhecimentos sobre as diferentes formas de arte. Ficou conhecendo o trabalho dos grandes mestres da pintura, ao fazer constantes visitas ao Louvre, onde os copiava. Também gostava de visitar ateliês de pintores, aprendendo cada vez mais.

Delacroix estudou com o mestre Pierre Guérin, adepto do neoclassicismo. Em seu ateliê conheceu o pintor Théodore Géricault que teve grande importância em sua vida. Seu primeiro quadro foi A Virgem das Colheitas. Depois veio A Virgem do Sagrado Curação, além de retratos de amigos, caricaturas e ilustrações.

Dentre os pintores que influenciaram Delacroix estão Rubens, Rafael, Veláquez, Tintoretto, Ticiano e Michelangelo. Também recebeu influência da literatura, do teatro e da música. Aprendeu aquarela com seu amigo Raymond Soulier, usando técnicas vindas da Inglaterra.

O quadro A Barca de Dante foi a primeira obra do pintor a ser exposta no Salão de Paris (local onde eram expostos os trabalhos dos artistas contemporâneos). Recebeu elogios efusivos e também ásperas críticas por seu trabalho, que acabou sendo vendido ao rei Luís XVIII. Mas Delacroix nunca se importou com as críticas, justificadas ou não. Eram muito consciente do que fazia.

Com a exposição da tela Os Massacres de Quios, Delacroix deixou os caminhos do estilo clássico para seguir os do romantismo, tornando-se o principal representante de uma nova tendência artística. Apesar das severas críticas feitas à tela por parte daqueles que não aceitavam mudanças, ela foi bem vendida ao Estado francês.

Quando estava com 27 anos, Delacroix visitou a Inglaterra com a intenção de aprender as inovações feitas à arte do retrato de paisagem pelos grandes nomes da pintura daquele país. Aproveitou para assistir às peças de Shakespeare. De lá voltou a Paris ainda mais motivado, dando início a uma fase extremamente rica.

Com as transformações resultantes da Revolução Francesa, cuja primeira tendência estética era clássica, nascendo o romantismo posteriormente, Delacroix sentiu que novos caminhos abriam-se para ele. Aproximou-se do círculo dos intelectuais românticos, relacionou-se com Victor Hugo, Alexandre Dumas, Stendhal, dentre outros.

Com as mudanças ocorridas após a Revolução de Julho, amigos de Delacroix subiram ao poder, o que acabou o favorecendo. Foi condecorado com a Legião de Honra após a apresentação de seu quadro A Liberdade Guia o Povo.

Delacroix, como pintor oficial, viajou com a missão diplomática de seu país, em visita ao sultão de Marrocos. Deslumbrou-se com o Oriente, anotando tudo que não podia registrar em esboços. Trouxe para Paris: desenhos, aquarelas, esboços, anotações e objetos da viagem. Em consequência, a experiência trouxe mudança na sua percepção da luz e no seu modo de pintar, como é possível ver em sua tela As Mulheres de Argélia.

O pintor tornou-se cada vez mais reconhecido, tido como o mais importante decorador de sua época. Tornou-se membro do Conselho Municipal de Belas-Artes de Paris. Representou a pintura francesa, ao lado de Ingres, na Exposição Universal. Foi condecorado com uma das principais medalhas de honra. Recebeu o colar de comandante e ganhou um lugar na Academia de Belas-Artes, onde tentou várias vezes ingressar.

O pintor francês era um homem culto, sendo muito influenciado pela literatura. Shakespeare foi provavelmente o escritor que mais o influenciou. Também tinha fascínio por Cervantes, Dante, Byron, Walter Scott, Chateaubriand, Balzac, Stendhal e Victor Hugo.

Diferentemente de Ingres, que achava que “uma coisa bem desenhada está sempre bem pintada”, e, para quem o desenho predomina sobre a cor, pois essa tem como finalidade apenas a coloração, Delacroix tinha a convicção de que “quando os tons são justos, os traços se desenham por si”. Para ele, portanto, a cor ocupava um lugar muito mais importante do que o desenho, e a imaginação era mais importante que o saber, preferindo Rubens aos venezianos. Assim, o movimento romântico chefiado por Delacroix  ignorava as convenções artísticas, para dar prioridade aos  sentimentos e à individualidade do artista. Ingres e Delacroix , portanto, dividiram o mundo das artes em duas facções: neoclassicismo e romantismo, entre desenho e cor.

O pintor morreu aos 49 anos, ainda muito novo, mesmo assim deixou para a arte um grande legado.

Nota:  A Barca de Dante, obra de  Delacroix

 Ficha técnica do quadro que ilustra o texto
Nome: Cristo no Lago de Genezaret
Ano: 59,8 x 73,3 cm
Técnica: óleo sobre tela
Localização: The Walters Art Gallery, Baltimor, USA

Fontes de pesquisa
Delacroix/ Coleção Folha
Delacroix/ Abril Coleções
A História da Arte/ E. H. Gombrich
Tudo sobre Arte/ Editora Sextante

Views: 0

Mestres da Pintura – DELACROIX

Autoria de Lu Dias Carvalho del

O que faz o homem extraordinário é, radicalmente, seu modo de ver as coisas. (Delacroix)

O medo de ser interrompido, quando estou sozinho em casa, decorre normalmente pelo fato de estar ocupado em minha tarefa, que é a pintura. Não tenho nenhum outro que seja importante. (Delacroix)

O pintor francês Ferdinand-Victor Eugène Delacroix (1798-1863) nasceu numa família rica. Seu pai, Charles Delacroix, homem culto e de formação iluminista, fazia parte da alta burguesia, tendo sido embaixador da França, na Holanda, e a mãe, Victoire Oeben, era filha de um importante artesão que trabalhara para o rei Luís XV. Delacroix era o caçula dos quatro irmãos e, portanto, pertencia a um ambiente culto e aristocrático.

Assim como o pai, os irmãos Charles-Henri e Henriette e também o tio pintor, Henri Riesner, tiveram uma grande influência na vida de Delacroix, sempre o apoiando em suas aspirações, sendo que, desde criança, ele já demonstrava uma grande inclinação pelo desenho.

Quando seu pai faleceu, Delacroix estava com sete anos de idade. Sua mãe mudou-se para Paris, onde ele ingressou no Liceu Imperial, recebendo uma importante formação humanista. Ali, ele se muniu de todos os conhecimentos possíveis relativos às artes. Tomou conhecimento de grandes mestres da pintura como Ticiano, Veronese, Rafael, Tintoretto e Rubens, entre outros, além de se exercitar copiando obras-primas no Louvre e visitar ateliês de pintores.

Delacroix perdeu sua mãe quando tinha 16 anos de idade, fato que o deixou numa crise psicológica e financeira, pois ela não soube conservar a fortuna deixada pelo marido. O adolescente teve que morar com sua irmã Henriette e o esposo. Passou a ter febres constantes, além de se mostrar depressivo. Para aliviar a tristeza, ele escrevia cartas para os amigos e traduzia Virgílio do latim para o francês.

O futuro artista, depois de um tempo, passou a viver sob a proteção de seu tio, o pintor Henri Riesner, vindo a ingressar no ateliê de Pierre Guérin, de quem recebeu uma formação neoclássica, inscrevendo-se depois na Escola de Belas-Artes de Paris.

O mestre Pierre Guérin era aberto a novas ideias, de modo que não impunha aos alunos o seu estilo. Permitia que eles se expressassem de acordo com a potencialidade de cada um. No ateliê, Delacroix conheceu o artista Théodore Géricault, pintor romântico, de quem viria a frequentar o ateliê por vários anos.

Delacroix era um erudito, que apreciava todas as artes, tendo muito contato com a literatura e o teatro, ricas fontes de inspiração para o seu trabalho. No campo afetivo, ao que se sabe, teve apenas uma relação com a sua prima Josephine de Forget, responsável por inseri-lo nos Salões do Segundo Império, e de quem se tornou amante, sem ter deixado filhos. O pintor também se tornou um grande amigo da escritora feminista George Sand (Aurore Dupin) e do pianista Fréderic Chopin.

O artista francês morreu aos 49 anos, em 1863, vitimado por uma laringite tuberculosa que o debilitou durante vários anos. No dia de sua morte, quem estava a seu lado era Jenny, a governanta que o acompanhou durante vários anos.

Nota: autorretrato do pintor.

 Fontes de pesquisa
Delacroix/ Coleção Folha
Delacroix/ Abril Coleções
A História da Arte/ E. H. Gombrich
Tudo sobre Arte/ Editora Sextante

Views: 0

Giotto – APRESENTAÇÃO NO TEMPLO

Autoria de Lu Dias Carvalho

Maria1                                              (Clique na imagem para ampliá-la.)

O admirável pintor italiano Giotto di Bondone mostra em seu afresco intitulado Apresentação no Templo  o Menino Jesus, recém-nascido, sendo segurado por Simeão — um venerável senhor idoso que tinha o poder da profecia. Ele recebe a criança dos braços da Virgem Maria que ainda são vistos estendidos.

Ao segurar a criança, as mãos de Simeão apresentam-se cobertas. Ele não toca no Menino em reconhecimento à sua divindade. Atrás dele está Ana — a profetisa — segurando um rolo com as profecias relacionadas à vida do recém-nascido. O drapeado bem feito de suas vestes confere-lhe autoridade, força e respeito.

A auréola dourada que se vê na cabeça de alguns dos personagens presentes na cena revela a divindade deles. Dentre as sete figuras, apenas duas delas não possuem o halo: a profetisa e uma mulher à direita de São José, possivelmente Sant’Ana. Em sua composição Giotto cria uma cena que convida o observador a participar do batismo de Cristo no templo.

Naquela época era costume oferecer um sacrifício após a visita ao templo, mas como a família de Jesus era muito pobre, o artista apresenta José oferecendo apenas duas pombas em vez de um cordeiro. Giotto retrata a cena diante de um altar que simboliza o templo, enquanto em cima, sob um céu azul, um anjo, com um cetro na mão, rende homenagem ao Menino indicando que ele será Rei.

Curiosidade
Lucas é o único dos cinco evangelistas a tratar da Circuncisão e da apresentação de Jesus no templo. Ainda na Igreja Cristã Primitiva, a circuncisão foi substituída pelo batismo que, conforme São Paulo, é uma circuncisão espiritual. Sendo que, após 40 dias de purificação, Jesus foi levado ao Templo de Jerusalém.

Ficha técnica
Ano: 1304/1306
Técnica: afresco
Dimensões: 200 x 185 cm
Localização: Capela Scrovegni, Pádua, Itália

Fonte de pesquisa
Cristo na Arte/ Manoel Jover

Views: 13

Velázquez – VÊNUS DO ESPELHO

Autoria de Lu Dias Carvalho

ven.1

A Vênus do Espelho é uma das mais belas obras do pintor Velázquez, incluindo-se entre os mais famosos nus femininos da história da arte, tanto por sua sensualidade quanto pela graciosidade que emana. Foi o único nu do pintor espanhol.

Vênus, a deusa da beleza e do amor, é também chamada de Afrodite na mitologia grega. Na composição, ela se encontra deitada num suntuoso leito, forrado com um lençol branco e, sobre ele, uma colcha acinzentada. A seus pés está Cupido, seu filho com Vulcano.

A deusa está de costas para o observador, enquanto se olha no espelho. Não se trata de uma beleza idealizada, mas de uma mulher com beleza natural. Ela apoia sua cabeça na mão direita, enquanto a esquerda jaz oculta. Seus cabelos castanhos avermelhados parecem presos num coque baixo.

Cupido, nu, com sua barriguinha protuberante, tem a perna esquerda ajoelhada e a direita levemente levantada, enquanto segura o espelho para que Vênus possa contemplar a sua beleza. Suas asas são as únicas características que remetem a obra ao tema mitológico.

O espelho de ferro polido, com a imagem desfocada da deusa, é o foco principal da obra, atraindo para si não apenas o olhar de Vênus e de Cupido, mas também o do observador, curioso para conhecer o rosto da personagem, que se encontra de costas para ele.

Um belo cortinado vermelho ocre desce em frente à deusa, realçando ainda mais a sua pele branca e jogando tons avermelhados sobre Cupido, o deus do amor, equivalente a Eros na mitologia grega.

Cupido segura o espelho com uma das mãozinhas, tendo a outra por cima. O detalhe da fita rosa (ou cordão), que cai sobre o braço direito do deus e pela parte superior da moldura, possui duas explicações mitológicas e, que cada um escolha a que melhor lhe aprouver:

  • Alguns alegam que se trata do cordão rosa que segurava o espelho na parede, tendo Cupido que retirá-lo para levá-lo à mãe.
  • Já outros dizem que a fita simboliza os laços existentes entre Vênus e o Amor.

Dados técnicos:
Ano: 1648-1650
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 122,5 x 177 cm
Localização: The National Gallery, Londres, Grã-Bretanha

Fontes de pesquisa
Velázquez/ Coleção Folha
Velázquez/ Abril Coleções
Velázquez/ Artbook
Velázquez/ Taschen

Views: 1

Velázquez – CRISTO NA CRUZ

Autoria de Lu Dias CarvalhoBacobb

A obra Cristo na Cruz foi solicitada a Velázquez por Filipe IV, segundo contam, como uma forma de ele se penitenciar por um sacrilégio cometido, ao se envolver com uma jovem freira.

Cristo parece imbuído de uma profunda paz, já tendo passado seu sofrimento. Seu corpo possui uma beleza apolínea, destacada ainda mais pelo fundo escuro da composição. Sua cabeça coroada de espinhos, está tombada para a direita de seu corpo,  enquanto parte de seus cabelos escuros acompanham a mesma direção, cobrindo-lhe metade do rosto. Um lençol branco cinge-lhe uma pequena parte do corpo.

Os pés de Cristo encontram-se apoiados numa base de madeira, onde se encontram afixados com dois grossos cravos. O sangue escorre pelos dedos, pela base e atinge o madeiro. As mãos, também seguras por dois pregos, embebem a cruz com o sangue. O ferimento abaixo do peito  e os  ocasionados pela coroa de espinhos respingam sangue pelo corpo.

Numa tabuleta, na parte superior da cruz, está escrito “Jesus Nazareno, Rei dos Judeus”, por extenso, em três línguas: hebreu, latim e grego. Uma auréola de luz circunda a cabeça de Jesus, como símbolo de sua divindade.

O pintor usou um modelo vivo e uma cruz verdadeira para criar sua obra.

Ficha técnica
Ano: c. 1632
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 248 x 169 cm
Localização: Museu do Prado, Espanha, Madri

Fontes de pesquisa
Velázquez/ ArtBook
Velázquez/ Coleção Folha

Views: 11

Velázquez – OS BÊBADOS

Autoria de Lu Dias Carvalho Bacob

Velázquez deu a seu quadro o título de O Triunfo de Baco, mas ele se tornou popularmente conhecido como Os Bêbados. O pintor não retrata  Baco – deus do vinho e das orgias – com pompa, como é visto na pintura de outros artistas. Ao contrário, usa aqui de uma irreverente ironia. São muitas as personagens que aparecem na composição. No século XIX muitos críticos chegaram a pensar que se tratava de uma cena real, retratada pelo pintor.

Baco, seminu, encontra-se sentado sobre um barril de vinho, à sombra de uma videira. Tem a aparência de um adolescente meio doente. Seu corpo rechonchudo e muito branco é o mais iluminado. Possui olhos negros, nariz proeminente e lábios carnudos. Em volta dele estão oito personagens dos mais variados tipos sociais. Seu olhar indagativo está voltado para a sua direita. Um soldado – seu humilde seguidor – está sendo coroado por ele com uma guirlanda de folhas de parreira ou hera. Ele está ajoelhado em atitude de reverência e submissão, enquanto o restante do grupo diverte-se ao acompanhar a cena.

Atrás de Baco encontra-se um homem jovem, de corpo nu e cabeça cingida por uma coroa de folhas. Ele traz na mão esquerda um copo de vinho. À direita do deus, um homem bem vestido, acocorado, também usa uma guirlanda e olha para o chão. Aos pés de Baco estão uma jarra de cerâmica, uma garrafa de vidro com o fundo virado para o observador e um pano dobrado. Ao fundo descortina-se uma bela paisagem. A figura de chapéu, com uma tigela branca cheia de vinho, olha para o observador com um sorriso irônico, revelando o real sentido da cena: uma paródia de um acontecimento mitológico.

Este quadro, pintado a pedido do rei Filipe IV, durante um incêndio no palácio real de Madri, em 1734, foi danificado, tendo o lado esquerdo do rosto do deus Baco que ser restaurado. Sobre ele também se diz que Velázquez criou-o para responder às criticas dos pintores rivais, que alegavam que ele “não passava de um mero retratista, incapaz de concorrer na sublime esfera da pintura histórica”.

 Ficha técnica
Ano: 1628
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 165,5 x 227,5 cm
Localização: Museu do Prado, Madri, Espanha

Fontes de pesquisa
Velázquez/ ArtBook
Velázquez/ Coleção Folha
Velázquez/ Abril Coleções
Pintura na Espanha/ Cosac e Naify Edições
Velázquez/ Tachen

Views: 12