Autoria do Prof. Rodolpho Caniato
A minha aprendizagem das contas também se deu de maneira espontânea antes de qualquer intenção didática. A rua Rodolpho Dantas que passa ao lado do “Copa” também ainda não era asfaltada. Lembro-me de quando chegou o primeiro rolo compressor, movido a vapor, com caldeira e fornalha a lenha, para o início das obras de asfaltamento. Essa maquina aí ficava abandonada, depois do dia de trabalho. Estive em cima dela para ver seus detalhes. Até aí, essa rua, na segunda quadra a partir da praia, era nosso campo de bolinhas de gude, “búlica” ou “biroca”.
O jogo era constituído de quatro buraquinhos equidistantes, sendo três alinhados e um desviado em ângulo reto. A unidade de distância era um pouco variável, pois era o palmo de cada um. O jogo podia ser “à brinca” ou “à vera”. Quando era “à vera” quem perdia tinha que “pagar”. O pagamento era feito em bolinhas de gude. Essas tinham valores diferentes pela sua “beleza” ou pelo seu tamanho. Havia ainda as “bilhas” que eram as bolinhas de aço, e, que quebravam as de vidro quando o “teco” era mais forte e frontal. Isso provocava um pequeno “comércio” com diferentes proporções na troca.
Além de contar o “capital” com que se entrava no jogo, as trocas eram feitas em diferentes proporções, como dois para um ou três para um, dependendo do “valor” das diferentes bolinhas. Além da contagem aprendia-se a ideia de proporção. As disputas de “gude” começavam com quem propunha o jogo e usava o privilégio de ser o desafiador e primeiro a jogar. Para isso bastava usar a expressão “marraio, feridô, sou rei!” ou simplesmente “marraiofiridôsorrei!”.
Esse tipo de aprendizagem se praticava, fazendo “negócios” também com as coleções de tampinhas das bebidas. Nesse caso, as trocas em diferentes proporções tinham a ver com o “enriquecimento” de cada coleção. Meus passeios pelas calçadas da quadra se ampliaram quando ganhei um velocípede todo de ferro e com o qual ia até o outro lado da quadra (hoje calçadão), onde muitas vezes visitava um amigo. Entrando pela porta de serviço do prédio “Itaoca”, deixava meu velocípede atrás da porta, enquanto visitava o amigo. Numa das visitas, ao voltar para apanhar minha “condução”, ela havia sido “marraio, feridô, sou rei” ou simplesmente “marraiofiridôsorrei!”.
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Prof. Caniato
Fantástica a tua lembrança e a semelhança com muitos que viveram essa época.
Prof. Caniato
Que forma maravilhosa de aprender contas. Como os garotos daquela época eram felizes nos seus joguinhos ao ar livre, ao contrário dos dias de hoje. E que forma deliciosa de contar passagens de sua infância! No interiorzão do país ainda persistem tais jogos, para alegria das crianças.
Muitos leitores haverão de compartilhar, em suas lembranças, das brincadeiras aqui comentadas. Simplesmente adorável o seu texto.
Abraços,
Lu