Arquivo da categoria: Mestres da Pintura

Estudo dos grandes mestres mundiais da pintura, assim como de algumas obras dos mesmos.

Poussin – PASTORES DA ARCÁDIA

 Autoria de Lu Dias Carvalho

Nicolas Poussin — um apaixonado pelo Classicismo — estudou as estátuas clássicas com grande entusiasmo, como nos mostram as admiráveis figuras de sua obra Pastores da Arcadia (Et in Arcádia), uma de suas mais famosas obras e que pertence ao gênero mitológico, alegórico e bucólico, mostrando o ponto alto de sua criatividade. Ela se apresenta como um corpo sólido e evidencia um padrão imaculado de beleza e harmonia. Tudo se mostra no seu devido lugar, na medida exata, sem que coisa alguma se mostre casual ou vaga. Além disso, a obra repassa uma prazerosa sensação de  simplicidade natural de onde emerge a impressão de descanso e sossego. Trata-se de uma segunda versão de Os Pastores da Arcádia, executada dez anos depois da primeira, cujas referências à morte são bem mais  sutis do que a anterior.

A cena  acontece numa tranquila e luminosa paisagem, banhada pela luz quente da manhã. Uma cadeia de montanhas perfila-se diante do horizonte, lembrando uma paisagem mediterrânea. Três jovens e belos pastores, com seus cajados e coroas florais, e uma linda rapariga — todos numa posição clássica — encontram-se diante de uma enorme pedra tumular, numa plácida contemplação. As quatro figuras são modeladas como se fossem estátuas clássicas.

Um dos pastores, usando uma túnica azul e sandálias da mesma cor, está  ajoelhado diante da lápide. Traz o cajado na mão esquerda, encostado ao ombro. Ele tenta decifrar a inscrição contida na lápide. O que sugere ser ele o mais culto do grupo. O pastor, à direita da composição, usa um manto vermelho. Traz o cajado na mão direita e o pé esquerdo apoiado em uma das pedras do túmulo. Olha para a jovem, apontando-lhe a inscrição epigráfica. O terceiro pastor, à esquerda, usa um manto rosa. Encontra-se de pé, com um cajado na mão direita, enquanto a esquerda descansa sobre a pedra tumular. Ele permanece silencioso, sendo o único do grupo a encontrar-se descalço.

A jovem mostra-se muito bem vestida. Usa um traje azul-marinho e amarelo dourado,  trazendo na cabeça um lenço que lhe enlaça os cabelos. Descansa amigavelmente a mão direita no ombro do pastor que se encontra próximo a ela e traz os olhos fixos naquele que decifra a inscrição. Pela riqueza de suas vestes, vê-se que não se trata de uma simples pastora, mas de Clio — uma das nove musas — que retrata a história e a criatividade. Ela pode ser também a representação de Arcádia, a personificação da região da Arcádia.

É interessante notar que o braço do pastor que tenta decifrar a inscrição forma uma sombra na lápide, lembrando uma foice de cabo comprido para cortar erva (gadanha) — símbolo típico da morte.

ET IN ARCADIA EGO (Também eu estou na Arcádia) é a inscrição latina vista na lápide que poderia ser traduzida por “Eu, a Morte, reino até na terra idílica das pastorais na Arcádia dos sonhos.” A frase é um “memento mori”, ou seja, embora o ambiente seja harmonioso, idílico e pastoral, a morte ali também se encontra. “Memento mori” é uma expressão latina que significa algo como “lembre-se de que você é mortal” ou “lembre-se de que você vai morrer” ou traduzido literalmente como “lembre-se da morte”.

Os quatro personagens mostram-se calmos e reverentes diante da morte, sendo a composição uma “elegia sobre a transitoriedade da vida”.  Esta obra, considerada a mais famosa do artista, exerceu grande influência na posterior pintura paisagística.

Ficha técnica:
Data: 1650 -1655
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 85 x 121 cm
Localização: Museu do Louvre, Paris

Fontes de pesquisa:
A história da arte/ E.H. Gombrich
1000 obras primas da pintura europeia/ Könemann
História da arte ocidental/ Editora Redeel
Poussin/ Taschen

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Poussin – UMA DANÇA PARA A MÚSICA DO TEMPO

Autoria de Lu Dias Carvalho

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A pintura é a amante da beleza e a rainha das artes. (Nicolas Poussin)

A composição Uma Dança para a Música do Tempo foi encomendada pelo cardeal Giulio Rospigliosi — mais tarde se tornaria o papa Clemente IX — a Nicolas Poussin, pois ele muito apreciava as obras do pintor francês.

A obra que traz em si um enigma intelectual dá maior primazia à razão, pondo em segundo plano as emoções. Trata-se de um pequeno estudo sobre o tempo, sobre o destino e a condição de vida do homem. Na composição estão presentes quatro dançarinos que representam a Pobreza, o Trabalho, a Riqueza e o Prazer (ou Ócio) em meio a uma rica simbologia. Reproduzem, portanto, os quatro estágios pelos quais, normalmente passa o homem durante sua vida fugaz. Quando juntos, representam a Roda da Fortuna.

O Prazer é representado pela dançarina que olha diretamente para o observador, como se o convidasse para fazer parte do grupo. Uma guirlanda de rosas enfeita seus cabelos dourados que lhe caem pelas costas. Ela calça belas sandálias brancas. Segura firmemente a mão da Riqueza. Simboliza a luxúria, o hedonismo e a ociosidade.

O Trabalho é representado pelo dançarino que traz na cabeça uma coroa de louros e se encontra de costas para o observador. Ele vira ligeiramente o pescoço para fitar a Riqueza. Segura a mão do Prazer e a da Pobreza.

A Pobreza está representada pela dançarina que olha para o Pai Tempo. Ela usa roupas simples e tem um lenço de linho a cobrir-lhe os cabelos. Assim como o Trabalho, encontra-se descalça. Sua mão esquerda está segura pelo Trabalho, enquanto com a direita tenta segurar a mão da Riqueza que lhe parece fugir.

A Riqueza é representada pela dançarina mais suntuosamente vestida. Traz na cabeça uma coroa de pérolas que lhe enredam os cabelos. Também usa ricas sandálias. Enquanto tem a mão direita segura pelo Prazer, ela hesita, com a esquerda, em segurar a mão da Pobreza.

Um menininho nu, no canto esquerdo da composição, brinca com bolhinhas de sabão, o que enfatiza o conceito de “homo bulla” (homem bolha), ou seja, as bolhas lembram a efemeridade da vida humana. Outro menininho encontra-se no canto direito da composição. Ele tem na mãozinha direita uma ampulheta que simboliza o passar do tempo. Uma figura alada nua e de barba e cabelos brancos toca para que o quarteto baile na dança da vida, junto a um pedestal de pedra. Trata-se do Pai Tempo. Sua presença também representa a brevidade da vida.

À direita da composição encontra-se — sobre um pilar de pedra — o busto de Juno, deus romano, ornamentado com colares de flores. Enquanto o busto é duradouro, as flores são efêmeras, assim como o homem. Juno é representado com duas cabeças: a mais jovem vê o futuro, enquanto a mais velha olha para o passado.

No céu Apolo, o deus do Sol, passa com o seu cortejo. As Horas, suas fiéis servidoras, seguem-no. Elas simbolizam as estações que também passam como se fossem uma dança, como a que acontece embaixo. Apolo carrega nas mãos um imenso círculo que não tem princípio e nem fim, representando a Eternidade. À frente de Apolo e seu séquito está Aurora, a deusa do amanhecer, a mostrar-lhe o caminho. Sua função é apanhar as nuvens escuras da noite e abrir a entrada da manhã. Enquanto segue à frente do cortejo, Aurora vai espalhando flores pelo caminho.

A estrutura geométrica da pintura é muito bem elaborada — característica comum às obras de Poussin. A dança desenvolve-se num movimento circular que, por sua vez, encontra-se dentro de um triângulo. A Riqueza divide o círculo e o triângulo ao meio, ou seja, ela é a figura central da composição. Ao colocar em evidência as quatro figuras alegóricas que de mãos dadas dançam numa roda com os corpos voltados para fora da roda, e de costas umas para as outras, o pintor destaca o conceito de que:

  • as circunstâncias da vida formam opostos (Pobreza x Riqueza, Trabalho x Ócio);
  • ainda que de costas uma para outra, mesmo assim estão ligadas, pois sem Pobreza não há Trabalho, mas sem Trabalho não há Riqueza, e sem Riqueza não há Ócio.

Ficha técnica:
Ano: c. 1638
Dimensões: 82,5 x 104 cm
Técnica: óleo sobre tela
Localização: Wallace Collection, Londres

Fontes de pesquisa:
Artes em detalhes/ Publifolha
Rubens/ Taschen

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Mestres da Pintura – NICOLAS POUSSIN

Autoria de Lu Dias Carvalho

Poussin O primeiro requisito mental para todos os outros é que o tema e a narrativa sejam grandiosos, batalhas, atos heroicos ou motivos religiosos. (Poussin)

O pintor francês Nicolas Poussin (1594 – 1665) nasceu em Les Andelys, um vilarejo da Normandia, sendo oriundo de uma família humilde. Segundo o escritor David Gariff, “Nicolas Poussin foi o principal defensor do Classicismo na pintura barroca europeia. (…) Suas pinturas exerceram enorme influência sobre a Academia Francesa por mais de um século, onde seus seguidores tornaram-se conhecidos como “poussinistas”.

Poussin aspirava muito mais que a formação recebida em sua terra e, por isso, mudou-se para Paris, onde se fixou por mais de dez anos, sobrevivendo com dificuldade. Provavelmente deve ter estudado com Georges Lallement e Ferdinand Elle. Ali se sentiu atraído pela arte clássica e pelos grandes mestres do Renascimento. Esteve em Veneza e Roma, onde se sentiu atraído pela arte clássica e pelos grandes mestres do Renascimento, dentre os quais estavam Rafael Sanzio com seus belos temas de inspiração clássica e Ticiano com suas cores vibrantes. O artista é tido como o fundador do Neoclassicismo francês, tendo produzido pinturas históricas, mitológicas, retratos e paisagens.

Insatisfeito com a sua condição em Paris, Poussin partiu para Roma, já se encontrando na casa dos 30 anos, onde poderia se dedicar com mais afinco à sua paixão: o Classicismo e trabalhar com temas clássicos e religiosos. Em Roma ele estudou peças da Antiguidade e as obras-primas da Renascença, principalmente as de Rafael e Ticiano. Tornou-se amigo dos mais renomados intelectuais e antiquários da cidade em razão do patrocínio recebido de Francesco Barberini, sobrinho do papa.

Ao se dedicar intensamente ao Classicismo em suas obras, o artista viu que sua arte distanciava-se cada vez mais de seus contemporâneos, tendo dificuldades de aceitação não só por parte da Igreja, como por parte dos mais importantes mecenas de Roma. Em contrapartida, foi bem aceito pelos franceses da corte do rei Luís XIII. Tanto é que, a convite, voltou a Paris,  dois anos mais tarde, onde trabalhou como primeiro pintor do rei, ainda que por um breve tempo. Seu estilo aprimorava-se cada vez mais, com composições que refletiam clareza de concepção, solenidade intelectual e moral, qualidades recebidas com admiração pelos membros da Academia Francesa.

Em Paris os seguidores de Poussin (pussinistas) que aceitavam a proposta clássica e a superioridade do traço, divergiam dos seguidores de Rubens (rubenistas) que asseguravam a importância da cor e da emoção na pintura. Poussin gostava de pintar telas pequenas, normalmente para colecionadores privados e eruditos, onde tratava de narrativas históricas, baseadas em textos antigos, mitos, lendas e relatos bíblicos, predominando uma rigorosa organização e o uso de cores vibrantes. Dizem que o artista era tão perfeccionista que elaborava diminutos palcos, onde inseria os modelos de cera, como modelo para suas composições.

Sentindo-se infeliz em Paris, Nicolas Poussin voltou para Roma, sua cidade adotiva, e ali permaneceu até o final de sua vida. Foi enterrado na igreja de San Lorenza in Lucina, em Roma. Mas apesar de ter passado grande parte de sua vida em Roma, inclusive tendo morrido ali, o artista é tido como o mais destacado pintor francês do século XVII, fundador do neoclassicismo francês.

Nota:  Autorretrato/ 1650

Fonte de pesquisa:
Os pintores mais influentes…/ Girassol
A história da arte/ E.H. Gombrich
1000 obras-primas…/ Konemann
Arte/ Publifolha
501 grandes artistas/ Sextante

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Michelangelo – O JUÍZO FINAL

Autoria de Lu Dias Carvalho

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                                                    (Clique na imagem para ampliá-la.)

Michelangelo não viverá muito tempo se não mudar de vida; trabalha muito, come pouco e mal, e também não dorme; faz alguns meses que sofre com dores de cabeça e vertigens. Tem dois males: um na cabeça e outro no coração. Para cada um deles existe um remédio; só preciso é conhecer a causa e dizê-la. (Amigo de Michelangelo)

Arte da pintura, diretamente inspirada por Deus […] mostra-nos a miséria dos malditos e a alegria dos benditos […] nele se podem ver maravilhosamente retratadas todas as emoções que a natureza humana pode experimentar […] as figuras de Micelangelo revelam pensamentos e emoções que somente ele soube exprimir. (Giorgio Vasari sobre o Juízo Final)

O papa Clemente VII confiou a Michelangelo o projeto de pintar a Queda dos Anjos Rebeldes sobre a parede do altar da Capela Sistina, mas só depois da morte desse é que o artista iniciou os trabalhos, já no pontificado de Paulo III, sendo o afresco combinado substituído por o Juízo Final. O artista tinha na época quase 60 anos de idade e continuava preferindo a escultura à pintura.

Diante da grandiosidade do projeto, o mestre pediu a ajuda de seu amigo Sebastiano del Piombo — um consagrado artista da época — que ficou responsável por acompanhar a preparação da superfície para a pintura a óleo. Mas os dois acabaram brigando, conforme relata Giorgio Vasari, pondo fim a uma amizade de cerca de 20 anos, pelo fato de Michelangelo ter dito que “queria pintar só o afresco e que a pintura a óleo era arte de mulheres ricas e de preguiçosos como Sebastiano del Piombo”.

O Juízo Final — afresco que ocupa a parede do altar da Capela Sistina —  é composto por cenas religiosas e mitológicas. Ali tudo gira em redor da figura de Cristo, de pé, como se estivesse se levantando, com o joelho direito ainda dobrado. Sua mão direita ergue-se num gesto de condenação, enquanto a esquerda chama os eleitos. O gestual de seu braço reforça a sensação de movimento giratório em toda a obra. As quatro cenas estão dispostas em quatro trechos horizontais:

  • os dois superiores pertencem à ordem celestial (onde se concentra um número maior de figuras);
  • os dois inferiores pertencem ao mundo terreno e ao Inferno (inspirados em trechos de “A Divina Comédia” de Dante Alighieri).

Existem neste afresco de Michelangelo cerca de quatrocentas figuras — entre santos, patriarcas, apóstolos, mártires, virgens, anjos, homens, etc. — que se apresentam em diferentes tamanhos, de acordo com a importância de cada personagem, sendo as figuras maiores as que representam a ordem celestial. O grupo central, onde se encontra Cristo, tem uma escala maior ainda. As figuras estão assim dispostas:

  • Na parte superior da parede — Cristo, a Virgem e dois grupos de santos e de mártires.
  • Ao centro — os anjos com trombetas e dois grupos simétricos de eleitos subindo ao céu, enquanto os condenados são lançados ao Inferno.
  • Nas duas lunetas (no alto da composição) — os anjos com os símbolos da paixão.

Na base do afresco encontram-se:

  • à esquerda — a ressurreição da carne;
  • ao centro — a boca do Inferno;
  • à direita — Coronte atravessando os condenados em sua barca em direção a Minos e outros demônios.

Na parte superior, Jesus Cristo — figura central da composição — surgindo de um nimbo de luz dourada, está sentado, acompanhado pela Virgem e rodeado pelos doze apóstolos, João Batista, anjos, eleitos e santos. Os últimos são identificáveis pelos atributos que carregam. São Pedro devolve as chaves a Cristo; São Paulo com seu semblante grave e barba branca; São Sebastião com as flechas na mão; Santa Catarina com a roda de facas; Santo André com a cruz em forma de X; São Lourenço com a grelha de seu martírio; São Bartolomeu com um escalpelo na mão direita e uma pele humana na mão esquerda, onde está modelada a face de Michelangelo que se autorretrata como um despojo humano.

Acima de Jesus Cristo e de seu grupo estão anjos carregando os atributos de sua Paixão: a cruz, a coroa de espinhos, os cravos e a coluna da flagelação. Cristo é o centro temático e simbólico da cena representada e também o centro compositivo da obra.  Ao contrário da maneira como é comumente retratado, aqui ele é visto sem barba, traz os cabelos curtos e tem o corpo atlético, quase nu, como um deus greco-romano envolto apenas por um manto que lhe cobre as costas e as partes pudendas. É uma figura musculosa e de forte gestual.

Cristo é o grande juiz cujo trono é feito de nuvens. Sua cabeça e mão direita — assim como o olhar — estão voltados para o grupo de santos que se encontra à sua esquerda. Nos pés e mãos ainda estão as marcas de sua flagelação. Há também um pequeno corte logo abaixo de seu peito direito. A mão direita levantada acima da cabeça exprime autoridade e determinação, sinal de que chegou a hora de julgar os justos e os pecadores, de modo que os primeiros ascendam aos céus e os segundos precipitem-se no inferno. Não se trata mais do Cristo misericordioso, mas de um juiz com toda a sua “terribilidade”.

Logo abaixo do Cristo juiz encontram-se os sete anjos do Apocalipse fazendo soar suas trombetas, anunciando a hora do Juízo Final para toda a humanidade. Um deles segura o Livro da Vida e o outro o Livro da Morte. À direita deles, os bons vão deixando seus túmulos, puxados por outros anjos, para ascenderem aos céus e à esquerda encontram-se os maus, empurrados por anjos e puxados pelos demônios para o inferno. O primeiro deles, com a mão no rosto em atitude de horror, é puxado por demônios até a barca que o levará para o inferno.

A Virgem Maria — bem menor do que a figura do Filho e em forma serpenteada — encontra-se assentada à sua direita em atitude de súplica, implorando-lhe clemência para com a humanidade, enquanto olha entristecida para o mundo terreno abaixo. Mas ele não escuta as súplicas da Mãe. À esquerda, na parte inferior da composição, as almas dos justos deixam seus túmulos para subirem aos céus, enquanto à direita, Coronte — figura mitológica — carrega em sua barca os condenados, tendo Mino, ser infernal, cujo corpo está envolto por serpentes, à frente.

O barqueiro dos mortos abandona os condenados na porta do submundo. É ajudado por demônios a expulsar as miseráveis almas de seu barco. Na cena estão presentes monstros, cadáveres, esqueletos e fogo que recriam com horror o castigo das almas condenadas que formam o grupo de figuras mais dramáticas do Juízo Final. E, como escreveu Dante: “Coronte em forma demoníaca, apanha todos/ Acenando, bate seu remos em todos os que tardam.”. Michelangelo era um leitor do escritor.

As cenas da ressurreição situam-se na parte inferior da composição à esquerda. Nela um grupo de anjos com suas cornetas acorda os mortos que saem de seus túmulos em movimentos lerdos e entorpecidos. Os esqueletos estão sendo encobertos pela carne.  Ao fundo figuras de corpos robustos movimentam-se, deixando um vazio no centro, onde se destaca um grupo de anjos com suas trombetas, anunciando que é chegada a hora do Juízo Final.

A pintura em questão ocupa toda a imensa parede do altar da Capela Sistina, com um espaço aberto e ilimitado que traz a sensação de um vazio abismal, onde flutuam os corpos dos inssurretos. Todas as figuras flutuam no espaço sem gravidade, tendo por fundo um maravilhoso céu de lápis-lazúli, excetuando as cenas da ressurreição da carne e a do inferno. Enquanto algumas pessoas ascendem ao céu, outras, aterrorizadas, lutam para não serem empurradas para o inferno. Dentre as últimas, a cabeça da alma condenada que brilha como um fantasma da morte na escuridão é uma das imagens mais fortes da composição.

O julgamento do afresco Juízo Final já acontecia antes mesmo de a obra ter sido terminada. Era a época terrível da Contra Reforma. A presença de corpos nus deu munição para que a intolerância religiosa acusasse o artista de imoralidade, alegando que os nus eram antidogmáticos. George Vasari comenta que o mestre de cerimônias do papa, Biagio da Cesena, manifestou-se dizendo que aquilo “era uma coisa muito desonesta em lugar tão honrado, ter feito tantos nus que desonestamente mostram suas vergonhas e que não era obra para uma capela de papa, mas de termas e tabernas”. Para se vingar do santilão, Michelangelo retratou-o com a aparência do demônio Minos, com uma serpente enrodilhada no seu corpo e a morder-lhe os genitais. O poeta Pietro Aretino sugeriu que se fizesse uma fogueira com a obra.

O Juízo Final que mostra um turbilhão cósmico desencadeada pelo gesto do grande Juiz,  foi também muito elogiado. Mas a falsidade dos supostos vestalinos acabou ganhando terreno, de modo que, algum tempo depois, “as vergonhas” dos nus do afresco foram cobertas por Daniele Volterra — um dos assistentes do artista, a mando do papa Paulo IV.  Ao longo dos anos os nus de Michelangelo continuaram a receber vestimentas. Mas, para a pujança da arte, em 1980, quando as pinturas do Juízo Final foram restauradas, todas as vestimentas acrescidas foram retiradas, deixando o afresco como fora originalmente pintado.

Esta pintura que demorou cinco anos para ser completada em razão de suas imensas proporções  e que dispensou qualquer elemento arquitetônico para moldar as cenas, confrontando apenas figuras e espaço, cobre toda a parede logo atrás do altar  e mostra o fim da raça humana, com a redenção de uns e a condenação de outros à escuridão eterna. Ou seja, os bem-aventurados estão à esquerda, a subir, e os condenados, à direita, a mergulharem no inferno. Todos em movimento circular, girando em torno da grandiosa figura do Cristo regressado.

Ficha técnica:
Ano: 1533 – 1541
Afresco
Dimensões: 13,70 x 12, 20 m  (cerca de 167 metros quadrados)
Localização: Capela Sistina, Palácios do Vaticano, Roma, Itália

Fontes de pesquisa:
Gênios da Arte/ Girassol
Grandes Mestres da Pintura/ Coleção Folha
Grandes Mestres/ Abril Cultural
Renascimento/ Taschen
Tudo sobre Arte/ Sextante
1000 Obras da Pintura Europeia/ Könemann
Os Pintores mais Influentes/ Girassol
Arte em Detalhes/ Publifolha
Góticos e Renascentistas/ Abril Cultural
Enciclopédia dos Museus

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Michelangelo – PROFETAS / TETO DA CAPELA SISTINA

Autoria de Lu Dias Carvalho

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São sete os profetas pintados por Michelangelo na abóbada da Capela Sistina:

1-      Jonasmostra-se temeroso.

2-      Isaias – -é o mensageiro de Deus, que guarda com prudência a sua sabedoria, tendo nas costas dois anjos.

3-      Jeremias – é para alguns, o profeta aqui representado, imerso na meditação de seus infortúnios. É o autor do Livro das Lamentações. Trata-se de um autorretrato do pintor, com seu semblante angustiado, em conflito entre sua concepção de arte e de beleza e as leis morais infundidas pela fé.

4-      Ezequiel – é o terceiro dos chamados profetas maiores. É representado como um forte ancião a conversar com um querubim.

5-      Zacarias – folheia seu livro com grande interesse, tendo perto de si dois curiosos querubins. Parece estar buscando por algo. Está representado como um ancião de cabeça calva e de longas barbas brancas.

6-      Joel – encontra-se concentrado na sua leitura.

7-      Daniel – é o mais jovem dos profetas representados, é ajudado por um dos putti (crianças nuas), que segura para ele o pesado livro. Atrás de seu ombro esquerdo vê-se a cabeça coberta de uma figura.

Fontes de pesquisa:
Gênios da Arte/ Girassol
Grandes Mestres da Pintura/ Coleção Folha
Grandes Mestres/ Abril Cultural
Renascimento/ Taschen
Tudo sobre Arte/ Sextante
1000 Obras da Pintura Europeia/ Könemann
Os Pintores mais Influentes/ Girassol
Arte em Detalhes/ Publifolha
Góticos e Renascentistas/ Abril Cultural

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Michelangelo – HIST. HERÓICAS / CAPELA SISTINA

Autoria de Lu Dias Carvalho

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Em nenhuma outra parte da história da pintura o corpo humano preencheu de modo tão forte e grandioso o papel de receptáculo para a transmissão do drama humano e espiritual, com seu profundo e universal significado, combinando a teologia cristã e os protótipos clássicos. (David Gariff sobre os afrescos da Capela Sistina)

Dispostas nos quatro ângulos da abóboda da Capela Sistina estão quatro cenas retratando os heroicos e milagrosos acontecimentos da história do povo de Israel, tomando como base o texto do Antigo Testamento. Elas representam a Igreja triunfante. No esquema abaixo, a localização dos afrescos corresponde à cor azul-marinho, relativa aos números: 4, 6, 44 e 46.

  • O Suplício de Amã
    Ester era a esposa judia do rei persa Assuero. Um tio de Ester, Mardoqueu, denunciou uma conspiração contra a vida do soberano. Amã, grão-vizir do rei, incitou-o a vingar-se, matando todos os judeus, sendo que Mardoqueu seria enforcado. Mas Ester, depois de invocar a misericórdia de Deus, conseguiu a revogação do decreto e também que Amã fosse castigado. O Suplício de Amã refere-se ao Livro de Ester. A pintura representa a vitória sobre todos os inimigos da Igreja, e é assim dividida: a) à esquerda, Ester encontra-se à mesa com Assuero e Mardoqueu, e denuncia Amã; b) no centro acontece a execução de Amã; c) à direita , Assuero ouve a leitura das crônicas e pede um de seus criados para chamar Mardoqueu. (Localização 4)
  • A Serpente de Bronze
    Vagando pelo deserto, os israelitas começaram a reclamar de sede, cansaço e de fome, murmurando contra Moisés e blasfemando contra Deus. Irritado com suas queixas, Deus enviou-lhes serpentes venenosas como castigo. Os sobreviventes pediram ajuda a Moisés, a quem Deus ordenou que construísse uma serpente de bronze e a erguesse como um mastro. Bastava olhar para ela e a vítima do veneno era curada. À direita, as pessoas estão sendo picadas pelas serpentes, e à esquerda estão sendo curadas do veneno. A Serpente de Bronze refere-se ao texto do Livro dos Números. Esta cena representa o poder milagroso da Igreja. (Localização 6)
  • Davi e Golias
    A batalha de Davi e Golias é uma das histórias mais conhecidas da Bíblia. Golias era um gigante filisteu, inimigo do povo de Israel, que, confiando na sua superioridade, desafiava o exército israelita a enviar um competidor para lutar contra ele. Ninguém aceitava a proposta, até que Davi resolveu aceitar o desafio, acertando-o com uma pedrada de sua atiradeira. Esta cena representa a vitória da fé. (Localização 44)
  • Judite e Holofernes
    Judite era uma jovem e piedosa viúva, que saiu da cidade cercada, dirigindo-se ao acampamento do exército inimigo e, com sua beleza, envolveu o general assírio Holofernes, inimigo de seu povo. Ele se embriagou durante um banquete e teve sua cabeça cortada pela heroína.  Na pintura, encontra-se um guardião dormindo, enquanto Judite e sua criada carregam a cabeça do carrasco. Alguns críticos de arte julgam que a cabeça de Holofernes seja um autorretrato do Michelangelo. Esta cena representa a liberdade e a justiça divina. (Localização 46)

Fontes de pesquisa:
Renascimento/ Taschen
Gênios da Arte/ Girassol
Tudo sobre Arte/ Sextante
Arte em Detalhes/ Publifolha
Grandes Pinturas/ Publifolha
Grandes Mestres/ Abril Cultural
Os Pintores mais Influentes/ Girassol
Góticos e Renascentistas/ Abril Cultural
Grandes Mestres da Pintura/ Coleção Folha
1000 Obras da Pintura Europeia/ Könemann

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