Autoria de Lu Dias Carvalho
O pintor que nos dá a impressão de ter verdadeiramente santificado a realidade é Giorgio Morandi. (De Chirico)
Morandi se comove na ação de pintar e nela se concentra com muito amor e sentimento, dedicados com igual intensidade a cada centímetro do quadro. (Alberto Martini)
O pintor italiano Giorgio Morandi (1890 – 1964) veio de uma família muito modesta da cidade de Bolonha, onde nasceu. Seu pai Andrea era um pequeno comerciante e sua mãe Maria Maccaferri dona de casa. Foi o primeiro de cinco irmãos. Após os estudos regulares, trabalhou no escritório de seu pai por um tempo. Embora sua cidade fosse desprovida de tradições artísticas, ali havia uma Academia de Belas Artes, onde o rapazinho veio a estudar, mesmo percebendo que o ensino ministrado pela academia era muito limitado. Ele passou a completar sua instrução com a leitura de livros e revistas de arte, vindas da França, pois naquela época a Itália vivia um período de relativa obscuridade.
Mesmo seu país tendo pouco conhecimento sobre o Impressionismo que imperava na França, Morandi, ainda muito jovem, lia tudo que encontrava sobre o assunto. Foi assim que entrou em contato com o trabalho de Seurat, Cézanne, Rousseau, Picasso, Dérain e Braque. Ao visitar as telas de Renoir, na Bienal de Veneza, Morandi encantou-se com elas. Na cidade de Florença ele observou e estudou o trabalho dos mestres da Renascença: Giotto, Masaccio e Paolo Ucello. Em Roma, ao visitar a Exposição Internacional, ficou conhecendo as primeiras obras de Monet, mestre do Impressionismo. Contudo, embora buscasse aprender com os outros pintores, seu grande interesse era pelo trabalho de Cézanne.
Morandi participou em Roma da Primeira Exposição Livre Futurista, onde expôs seu trabalho pela primeira vez, aos 24 anos de idade, embora esse não estivesse ligado ao movimento e às suas concepções, objetivando apenas opor-se à tradição acadêmica. Também expôs em Bolonha, onde passou a ensinar desenho nas escolas. Porém, no ano seguinte, foi mobilizado para a guerra, mas acabou sendo reformado em razão de uma doença grave. Sua vida pessoal era rotineira e muito simples. Dedicava-se ao trabalho e à meditação na calmaria da velha casa familiar, sendo muito moroso na criação de suas obras, levando um a dois anos na feitura de uma tela. Fazia suas pinturas no estúdio, passeava à tarde e ia à escola dar aulas de desenho. Levando uma vida muito modesta, o pintor jamais teve dinheiro para longas viagens, não tendo conhecido nem Paris.
O artista, dono de um estilo em que a realidade do objeto, colhida em toda a sua pureza, era o mistério, atingiu sua maturidade com a pintura “Garrafa com Fruteira” em 1916, aos 26 anos de idade. Dois anos depois passou pelo período “metafísico”, mas voltou ao seu estilo tradicional, influenciado por Chardin (importante colorista francês do século XVIII, famoso por suas naturezas-mortas e interiores domésticos) e Corot (pintor conhecido por suas paisagens poéticas e retratos femininos). Participou de uma exposição em Berlim, ao lado de Chirico e Carrá. Já famoso tanto na Itália quanto no exterior, ganhou o prêmio da IV Bienal de São Paulo, em 1957. Morreu aos 74 anos no mesmo lugar onde nasceu.
Morandi – um dos maiores nomes da arte italiana do século XX – foi um muito comprometido com seu trabalho que passou praticamente ignorado no seu país, envolvido à época com o fascismo. Ele era o poeta das coisas simples e da intimidade, sendo sempre fiel a si mesmo. Seus temas prediletos eram garrafas, utensílios de cozinha, flores e paisagens. Encontrava-se entre os poucos artistas capazes de ver beleza e poesia nos objetos domésticos, personagens comuns do cotidiano. Sobre o trabalho do pintor expressa o crítico Alberto Martine: “O amor às coisas pequenas, infelizmente sempre desprezadas na Itália, poderá explicar a poesia sentida e murmurada que captamos ao admirar esses objetos de tão irrelevante valor material, que só valem enquanto desejados pelo espírito e ligados a uma saudade”.
Fonte de pesquisa:
Gênios da Pintura/ Editora Abril Cultural
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