Arquivo da categoria: Mestres da Pintura

Estudo dos grandes mestres mundiais da pintura, assim como de algumas obras dos mesmos.

Mestres da Pintura – MARC CHAGALL

Autoria de Lu Dias Carvalho

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[…], quando eu via meu pai, a barba e as rugas de seu rosto, sentia-me tomado de profunda pena. E quando contemplava uma árvore novinha, ou a lua, ficava encantado com sua beleza. Mas eu não atinava com o que eu poderia fazer dessas sensações. (Chagall)

Chegara (em Paris) como que levado pelo meu destino, com todos os meus sonhos e pensamentos. Aspirava a uma revolução visual. Todos os meus apetites se satisfizeram ainda na plataforma da estação, quando encontrei aquela luz-liberdade que não vira em parte alguma. […].  Nasci pela segunda vez em Paris. Suas ruas e mercados eram as academias de minha alma de pintor. Eu vivia imerso num banho colorido. Sabia que podia trabalhar nessa luz e que nela meus sonhos tomariam corpo. (Chagall)

 Haverá sempre crianças que amarão a pureza, apesar do inferno criado pelos homens. (Chagall)

O pintor russo Marc Chagall (1887-1953)  nasceu de pais pobres e incultos, sendo que o cotidiano da família desenrolava-se num gueto judaico  da cidade russa de Vitebsk. Desde pequeno ajudava o pai no mercado, onde tinha uma banca de peixes. Apesar do cansativo trabalho, não abria mão da leitura diária dos livros sagrados do Judaísmo e de assistir aos cultos na sinagoga. A vida em família era pacífica, apesar de simples, embora houvesse o temor dos periódicos “pogroms” (massacres).

Desde criança, Chagall mostrava-se muito sensível, enternecendo-se com as coisas mais simples que via. Gostava de desenhar. Seus primeiros desenhos eram feitos com carvão e papel. Sua mãe, apesar de inculta, captou o gosto do filho por essa forma de arte, incentivando-o a estudar na escola de artes da cidade, ainda que modesta. Depois de aprender o que ali era possível, Chagall precisava alçar novos voos. Porém, uma lei impedia os judeus de residirem nas áreas metropolitanas de seu país. Mas o veto foi contornado com a ajuda do deputado Max Vinaver, ao ver no jovem alguém com um futuro promissor. Depois de uma longa espera, já contando com 20 anos de idade, o rapaz seguiu para São Petersburgo, onde foi admitido na Academia de Belas-Artes da cidade.

Depois de alguns meses na academia, Chagall desencantou-se com a arte fútil, estetizante e cheia de bajulice ensinada à época no seu país, que tinha por objetivo agradar uma aristocracia provinciana e medíocre. O interesse do pintor voltou-se então para outras plagas, sendo a França o país mais desejado. Porém, a pobreza e a falta de um emprego detém seu sonho. E novamente o deputado Max Vinaver põe-se a postos, prometendo-lhe uma pequena pensão para ajudá-lo em suas necessidades no exterior.

Em Paris, Chagall ficou estarrecido com o Cubismo, estilo em voga à época. E são os amigos Guillaume Apollinaire e Blaise Cendrars que o estimulam a permanecer no país, onde novos movimentos e tendências desenvolvem-se. É o movimento Surrealista, de André Breton, que acaba atraindo o pintor russo, embora não o tome ao pé da letra, mas ele será considerado o responsável por fundir a poesia e as artes plásticas. Tanto Chagall quanto o Surrealismo buscam a exaltação do sonho, do inconsciente e do incoerente, jogando por terra as leis do mundo físico. O presente e o passado unem-se para formar o “agora”, não havendo mais fronteiras entre o ontem e o hoje, que coexistem no nosso inconsciente.

Apesar de seu encontro com o Surrealismo, Chagall, ao chegar a Paris, já trazia em sua bagagem uma visão poética e ilógica do inconsciente e da percepção intuitiva, que contrapunha à reflexão racional. Portanto, o Surrealismo para ele não era uma novidade, pois a busca pelo fantástico já o acompanhava desde Vitebsk. E será o seu trabalho, onde se faz presente o fantasioso, o responsável por abrir espaço em meio a um público ainda relutante quanto ao novo estilo. A cor também é libertada das regras até então impostas. Ela é meramente simbólica. “A luz física é substituída, nos tons de Chagall, pela iluminação psicológica”, assim dizem os críticos. Ao pintor russo não importam o desenho formal ou a perspectiva, a luz ou a sombra. Nada de regras. Ainda assim, não parte para o abstracionismo de um Kandinsky.

Fonte de pesquisa:
Marc Chagall/ Taschen
Gêneros da pintura/ Abril Cultural

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Klee – REVOLUÇÃO DO VIADUTO

Autoria de Lu Dias Carvalho

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O quadro […] é uma declaração de guerra contra os nacional-socialistas, que tinham conseguido reprimir toda a individualidade na Arte, sempre que esta recusou a uniformização. (Susanna Partsch)

A composição Revolução do Viaduto é uma obra do artista suíço Paul Klee, tida como sua contribuição no combate à arte fascista, tendo se transformado num dos quadros mais famosos do pintor. Embora os críticos sejam unânimes ao dizer que se trata de uma obra de cunho político e histórico, a opinião dos mesmos diverge quanto ao significado. Este tema recebeu cinco versões.

A composição, que possui forma retangular, apresenta um fundo escuro, tendendo para o violeta. Como se saíssem do fundo, doze arcos, com tamanhos e cores diferençadas, parecem caminhar, com seus pés de palhaço, desordenadamente, em direção ao observador.

A título de informação, vejamos algumas opiniões sobre os arcos:

  • Klee tinha por objetivo “mostrar as ameaças que constituem os movimentos totalitários” (visão dos críticos durante muito tempo);
  • mostram um mundo chegado à maturidade e que se vê espezinhado (Haftmann);
  • os arcos avançam “anunciando” um mau agouro ao observador;
  • mostram as retumbantes legiões castanhas (Schmidt)

Mas em 1987, Werckmeister publicou um artigo que joga por terra tais opiniões. Ele diz que a diversidade dos arcos, tanto na forma quanto nas cores, mostra exatamente o contrário, ou seja, a não conformidade com um “movimento totalitário”, que sempre prima pela uniformidade.  No quadro, os indivíduos são diferentes. Eles não querem fazer parte da ordem proposta pela revolução, que os transforma em meros números, eles fazem sua própria revolução, afirmando-se como indivíduos.

Ficha técnica
Ano: 1937
Técnica: óleo sobre fundo de óleo sobre algodão sobre moldura de cunha
Dimensões: 60 x 50 cm
Localização: Hamburguer Kunsthalle, Hamburgo, Alemanha

Fonte de pesquisa
Paul Klee/ Taschen

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Hans Holbein, o Moço – OS EMBAIXADORES

Autoria de Lu Dias Carvalho

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A composição denominada Os Embaixadores é uma obra-prima do pintor renascentista alemão Hans Holbein, o Moço (c.1497-1543) que se especializou em retratos. Foi tido como um dos melhores retratistas de sua época. Aprendeu sua arte com o pai, Hans Holbein, o Velho, sendo posteriormente aceito na Guilda dos Pintores em Basileia. Embora tenha também pintado murais, retábulos e iluminuras, tinha predileção pelo retratismo, sendo exímio nos pormenores de sua obra. Hans Holbein dá à sua tela um formato quadrado, muito usado no Alto Renascimento. Os livros e instrumentos científicos presentes na obra dizem respeito à grande cultura e atualidade dos dois retratados.

O artista misturou realismo e idealização (ou enaltecimento) neste seu trabalho que se encontra entre as 50 pinturas mais famosas do mundo e tem sido descrita como “um dos mais incríveis e impressionantes retratos da arte renascentista.”. Em sua obra Holbein apresenta dois cortesãos franceses, embaixadores do rei Francisco I na corte inglesa de Henrique VIII. A eles cabia a difícil incumbência de impedir que a Inglaterra rompesse com a Igreja Romana, além de cuidar dos interesses da França. Os dois homens representam duas categorias de diplomatas, sendo identificados pelas roupas. Se fizessem uso de ternos curtos seriam embaixadores leigos. Aqueles que usavam mantos longos pertenciam ao clero. A aparência de um embaixador era muito importante, devendo ser digna de seu senhor.

O homem da esquerda é Jean de Dinteville, embaixador da França na Inglaterra, responsável por ter feito a encomenda do retrato. Jean foi um típico cavalheiro renascentista:  homem de formação humanística com interesse pela música, pintura e pelas Ciências Naturais. Está ricamente vestido com um traje secular e um casaco escuro forrado com pele. Carrega no peito uma ostensiva corrente de ouro com um medalhão da Ordem de São Miguel, muito ambicionado à época. Era a distinção francesa correspondente ao Velocino de Ouro espanhol e à Ordem da Jarreteira inglesa. A influência de uma ordem estava ligada ao número limitado de seus membros. Na ordem de São Miguel não podiam ser mais de 100 membros. Sua mão esquerda repousa na parte de cima da prateleira, enquanto a direita segura uma adaga na qual está escrita sua idade (29 anos).

Ao lado de Jan encontra-se seu amigo George de Selve, bispo de Lavaur na França. Ambos estão separados por uma prateleira. Os objetos vistos entre eles assinalam que possuem interesses comuns: música, matemática e astronomia, Ciências Naturais. Um embaixador era obrigado a dominar o latim, a língua diplomática da época, e desfrutar de uma vasta cultura que lhe permitisse conversar com cientistas e artistas. O bispo segura as luvas em sua mão direita. Traz o braço apoiado sobre um livro no qual se pode ler: “aetatis suae 25”, completando o texto com a palavra “anno”, traduzido como “25º ano de sua existência”.

Um cortinado de brocado verde ricamente trabalhado serve de fundo para os dois embaixadores. À esquerda, na parte superior da pintura, uma dobradura do cortinado deixa visível parte de um crucifixo para lembrar que os dois homens são tementes a Deus que os orienta em todos os campos da vida. Alguns estudiosos dizem que também alude à divisão da Igreja.

Em ambas as partes da prateleira estão muitos objetos. Quase todos eles possuem uma simbologia específica da época, sendo que alguns ainda não foram decifrados. No canto superior esquerdo há um globo celeste (é provável que remeta à descoberta de Nicolau Copérnico) e um quadrante solar cilíndrico, também conhecido como relógio do pastor. O poliedro apresenta vários relógios de sol e era usado em viagens.

Na prateleira de baixo estão um globo de mão (deixando em evidência os países importantes para os embaixadores), um quadrado e uma bússola sob um alaúde (naquela época a música era considerada uma arte matemática) que tem uma corda quebrada e que pode ser interpretada como os crescentes conflitos entre católicos e protestantes. Os tubos provavelmente seriam usados ??para guardar mapas. O relógio de sol marca a data de 11 de abril de 1533 (importante para ambos). Outros instrumentos científicos, usados na circum-navegação, ali também se encontram. Um livro de matemática encontra-se semiaberto por um esquadro. Um livro de hinos protestantes alemães está aberto em dois hinos luteranos.

Chama a atenção em especial uma enorme figura anamórfica (figura em perspectiva distorcida, imperceptível quando olhada de frente, mas que se revela ao ser olhada do canto inferior esquerdo) mostrando aqui uma caveira em diagonal, no primeiro plano do quadro. O crânio — insígnia pessoal de Jean de Dinteville — está presente em seu gorro. Também pode ser visto como um símbolo da finitude humana. O uso de anamorfoses ou imagens distorcidas era bem comum à época. Para a pintura do chão o artista fez uma cópia perfeita do piso do santuário da Abadia de Estminster, uma famosa obra de artesãos italianos. Tais mosaicos indicam que os dois embaixadores encontram-se de fato em solo inglês.

Os dois personagens em estudo são bem parecidos. O bispo traz olhos menores, com pálpebras caídas sobre as pupilas. Seu olhar mostra-se menos atento do que o de seu amigo. Jean de Dinteville com seu casaco de pele mostra-se mais volumoso do que George de Selve com sua capa cruzada. Ao colocar um com o manto longo e o outro com o manto curto, o artista quis representar duas diferentes classes sociais. Embora fosse comum os retratos duplos do século XVI apresentarem os retratados lado a lado, Holbein coloca-os nas extremidades da pintura, colocando entre eles a estante dupla, cheia de livros e instrumentos, possivelmente a fim de ressaltar o interesse dos dois pelas Ciências Naturais. Todos os instrumentos estão inseridos no campo da matemática aplicada.

Obs.: A matemática era uma das principais disciplinas no Renascimento. Tinha sido obscurecida durante a Idade Média, quando a visão religiosa do mundo pairava acima das Ciências Naturais. Durante o Renascimento, porém, os homens mostraram-se curiosos para conhecer as leis físicas e matemáticas que governavam o mundo. Os pintores também eram grandes adeptos da matemática, amplamente usada em suas obras.

Ficha técnica
Ano – 1533
Técnica: têmpera sobre madeira
Dimensões: 207 x 209,5 cm
Localização: National Gallery, Londres, Grã-Bretanha

Fontes de pesquisa
Renascimento/ Taschen
Arte em detalhes/ Publifolha
Los secretos de las obras de arte/ Taschen
Enciclopédia dos Museus/ Mirador
https://artstor.wordpress.com/2013/09/13/a-closer-look-at-hans-holbeins-the-

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Klee – AD PARNASSUM

Autoria de Lu Dias Carvalho

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A composição Ad Parnassum é uma das maiores obras do artista suíço Paul Klee, que até então só compusera quadros pequenos, no qual ele trabalha com várias técnicas e princípios de composição. É também considerada a sua obra-prima, sobretudo pelo seu trabalho majestoso com a cor, fazendo parecer que os pequenos blocos de cores mutáveis flutuam acima do fundo da belíssima composição.

Ao observar a pintura, num primeiro momento, tem-se a impressão de que não passa de um grande mosaico cortado por várias linhas, que lhe dão o formato de uma casa. O artista pintou um conjunto de redes (conjunto ou estrutura que, por sua disposição, lembra um sistema reticulado) de diversas cores. Algumas trazem pontos brancos, ou se encontram revestidas de outras cores. O que dá ao cojunto a sensação de ser pintado com cores cintilantes, formando uma obra arquitetônica.

Um círculo alaranjado, composto por incontáveis pontinhos, em razão de sua cor homogênea, forma uma zona compacta. Ele se encontra à direita, situado acima do que deduzimos ser o telhado da morada de Apolo, sendo, portanto, o Sol. Embora carregada de cores brilhantes, a pintura repassa uma sensação de suavidade e tranquilidade, em razão da preponderância do azul e dos pontos brancos.

Através do título da composição é possível deduzir que se trata de uma obra com temática mitológica, pois o Monte Parnasso é uma montanha situada no centro da Grécia que, segundo a antiga mitologia grega, era a morada do deus Apolo e de suas nove musas.

Esta pintura é, sem dúvida, um grande exemplo da capacidade de Paul Klee com o pontilhismo, reveladora também de sua capacidade técnica como artista, tendo sido um grande estudioso da cor, durante toda a sua vida.

Ficha técnica
Ano: 1932
Técnica: óleo, linhas carimbadas, pontos carimbados em branco e posteriormente pintados por cima, sobre tinta de caseína sobre tela sobre moldura de cunha; moldura de madeira original
Dimensões: 100 x 126 cm
Localização: Kunstmuseum Bern, Berna, Suíça

Fontes de pesquisa
Paul Klee/ Taschen
http://www.wikiart.org/en/paul-klee/to-the-parnassus-1932

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Rivera – A OPERAÇÃO

Autoria de Lu Dias Carvalho

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A pintura A Operação é um obra do pintor mexicano Diego Rivera, feita em Paris, e um dos seus últimos trabalhos, antes de deixar a Europa. Através da organização das figuras presentes na cena, do anonimato das pessoas e de seu trabalho técnico,  tendo como temática a vida, o pintor, sem o saber, já se encaminhava para a composição de murais, o que viria a consagrá-lo posteriormente, embora se trate de uma tela pequena.

Esta pintura tomou como base um estudo feito na clínica do Dr. Jean-Luis Faure, irmão de um amigo de Diego Rivera, chamdo Élie Faure, que era médico e historiador de arte. A cena mostra uma operação numa sala de hospital. Em torno da mesa cirúrgica, onde se encontra o paciente, um cirurgião, com o que parece ser um coração na mão direita, e seu auxiliar, um de frente para o outro, devidamente vestidos, mostram-se atentos ao trabalho. Além dos assistentes, há também a presença de espectadores, todos ligeiramente inclinados e voltados para o centro do quadro, onde se realiza a operação. Sobre o lençol branco que cobre o paciente estão três instrumentos cirúrgicos usados pelo cirurgião.

Tempos depois, em 1925, Rivera modificou a cena e incorporou-a a um mural para a Secretaria de Educação Pública, na Cidade do México.

Ficha técnica
Ano: 1920
Técnica: óleo sobre linho
Dimensões: 45 x 62 cm
Localização: coleção particular

Fonte de pesquisa
Gênios da Pintura/ Abril Cultural
http://mamfa.com/exhibition-catalogs/diego-rivera-drawings-and-watercolors

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Klee – ELIMINADO DA LISTA

Autoria de Lu Dias Carvalho

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Já não acredito que ainda haja alguma coisa a fazer. O povo é muito incompetente para assuntos concretos; demasiado imbecil neste aspecto. (Paulo Klee)

Klee, já célebre como professor na Bauhaus, em Dessau, também aqui marca presença. Diz a toda gente que lhe corre puro sangue árabe nas veias, mas é um judeu típico da Galícia. (Artigo no Jornal Die Rote Erde)

 Este espectro não iria durar muito tempo, garantíamos uns aos outros sem grande convicção. Algumas semanas depois, talvez alguns meses, os alemães terão de voltar à razão e libertar-se deste regime vergonhoso.” (Klaus Mann)

A Academia de Dusseldorfia, onde Klee trabalhava, era tida como uma fortaleza de judeus.  Os nazistas fizeram uma busca na casa do artista, enquanto ele e sua esposa Lily estavam fora. Sobre o fato de pedirem certificado de que era ariano, assim se expressou:

“Se me for exigido oficialmente, terei de apresentá-lo. Mas tomar por mim próprio uma iniciativa deste calibre, parece-me um coisa indigna, pois, no caso de ser verdade que sou judeu originário da Galícia, o valor da minha pessoa e das minhas obras não se alterará nem um milímetro. Não tenho o direito de renegar este meu ponto de vista pessoal, segundo o qual um judeu ou um estrangeiro não é, em nada, inferior a um alemão em geral e a um habitante do país, porque senão ficaria de mim uma lembrança muito estranha. Prefiro suportar certras contrariedades a ter de fazer um papel trágico-cômico, esforçando-me por obter benesses dos homens do poder.”.

No dia seguinte a esta declaração do artista, o governo nazista promulgou uma lei que excluía os não-arianos dos postos oficiais, sendo Klee obrigado a apresentar a comprovoção de sua origem para continuar como professor da Academia, mas ainda assim ele foi despedido, pois todos os funcionários “que, devido às suas atividades políticas, não ofereciam a garantia de estarem prontos a servir o Estado sem reservas e em quaisquer circunstâncias” foram jogados no olho da rua pelo regime nazista.

Ao deixar a Alemanha, Klee escreve a seu filho Felix: “[…] sou obrigado a partir. […] Nas últimas semanas envelheci muito, mas não quero que a amargura apodere-se de mim, ou então, que seja uma amargurada eivada de humor”.

A composição Eliminado da Lista é um autorretrato do artista, em que ele se apresenta de olhos fechados e lábios comprimidos, como se estivesse impedido de falar. A parte de trás da cabeça está marcada por um gigantesco X que vai até a testa e a face direita, repassando insegurança, inconformismo e amargura.

O artista fora eliminado de seu posto de professor na Academia, assim como fora eliminado o seu valor como homem e artista na Alemanha daqueles dias. Só lhe restava deixar aquele país, onde vivera por tanto tempo. O homem retratado não estava “eivado de humor”, mas debilidado, fragilizado e decaído por uma grande tristeza e desespero, como se mostra todo homem consciente, diante da brutalidade e da tirania de governos golpistas, capazes de transformar o povo numa massa de imbecis, para atingir seus fins.

Ficha técnica
Ano: 1933
Técnica: óleo sobre papel
Dimensões: 31,5 x 24 cm
Localização: Klee Museum, Berna, Suíça

Fontes de pesquisa
Paul Klee/ Taschen

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