Arquivo da categoria: Pinacoteca

Pinturas de diferentes gêneros e estilos de vários museus do mundo. Descrição sobre o autor e a tela.

Bosch – A CRIAÇÃO DO MUNDO

Autoria de Lu Dias Carvalho

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Segundo o Aurélio, um tríptico é  uma obra de pintura ou de escultura, constituída de um painel central e duas meias-portas laterais capazes de se fecharem sobre ele, recobrindo-o completamente.

Bosch criou vários trípticos, sendo O Jardim das Delícias o mais famoso deles. O Tríptico descreve a história do mundo a partir de sua criação, passando pelo paraíso terrestre e finalizando com o inferno. Os temas abordados são: Eva dando origem ao mal; o homem seduzido pelo pecado da luxúria e a sua destinação ao inferno.

As duas portas externas do Tríptico, quando fechadas, representam A Criação do Mundo, como vemos acima. Quando abertas (ver ao lado), na porta esquerda vê-se O Jardim do Éden, ao centro O Jardim das Delícias e à direita O Inferno Musical. Obras que iremos ver individualmente. A disposição do paraíso terrestre no meio significa que o pecado situa-se entre o bem e o mal, segundo a visão cristã. O Tríptico mostra inúmeros símbolos e atividades sexuais com extremada ardência.

A Criação do Mundo refere-se ao terceiro dia da criação. Logo acima,  na parte superior das janelas, aparecem duas frases em latim que significam: “Ele disse e (as coisas) foram feitas” e “Ele comandou e as coisas foram criadas”.

Na parte superior da janela esquerda, no canto, um homem idoso, usando uma tiara, encontra-se assentado sobre um trono feito de nuvens, carregando a Bíblia sobre os joelhos. Ele representa o Criador.

Uma esfera transparente traz dentro de si o planeta Terra. A presença de nosso mundo dentro de uma redoma de vidro pode simbolizar a sua fragilidade. A Terra encontra-se despovoada de animais e da espécie humana. Existem apenas formas vegetais e minerais. A Criação do Mundo está pintada em tons grises, branco e preto, significando que está inacabada e, que ainda não foi criado o homem.

 Nota: Vejam o tríptico em alta resolução no endereço abaixo:
http://www.sobrenatural.org/mensagem_subliminar/detalhar/6977/quadro_o_jardim_das_delicias_terrenas_de_bosch/

Ficha técnica da composição fechada:
Data: 1480 – 1490
Tipo: óleo sobre madeira
Dimensões: 220 x 95 cm
Localização: Museu do Prado, Madri

Ficha técnica da composição aberta:
Pintura Medieval / Óleo sobre painel de madeira / Arte Flamenga
Local de realização: Flandres – Bélgica / França / Holanda
Data: Início do século XVI (1504, provavelmente)
Artista: Hieronymus Bosch ou “El Bosco” (1450-1516)
Dimensão total: 2,20 × 3,89 m).
Procedência: Acervo de Felipe II.
Local de exposição atual: Museu do Prado, Madri, Espanha

Fontes de Pesquisa:
Gênios da pintura/ Abril Cultural
A história da arte/ E.H. Gombrich
Arte em detalhes/ Publifolha
Tudo sobre arte/ Sextante
Grandes pinturas/ Publifolha
Grandes Mestres/ Abril Coleções
Os pintores mais influentes do mundo/ Girassol

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Gauguin – DE ONDE VIEMOS? …

Autoria de Lu Dias Carvalho prop123

Gauguin deseja fazer desta obra seu último testamento filosófico, a sua suma antes da tentativa de suicídio. ((Perry T. Rathbone)

O ídolo não aparece em minha pintura como explanação literária, mas como estátua; talvez seja menos uma estátua do que o símbolo da vida animal; e também menos animal, desde que fundido com a natureza, segundo meu sonho, diante de minha cabana. Ele governa nossas almas primitivas, é a imaginária consolação do nosso sofrimento, vagos e ignorantes que somos sobre o mistério de nossa origem e destino. (Gauguin)

A composição de Gauguin De Onde Viemos? O que Somos? Para Onde Vamos? trata-se de sua maior pintura, possuindo quase 4 metros de base. É muitas vezes tida como sua obra-prima. Ele a realizou quando vivia um momento de grande angústia, tendo inclusive pensado em se matar em razão das dificuldades pelas quais passava, sem dinheiro até para comprar seu material de pintura, sem saúde e pela falta de reconhecimento de seu trabalho. Mas, antes de dar fim a sua vida, queria pintar um “grande quadro”, como relatou ao seu amigo Daniel Monfreid. A obra foi concluída em um mês, tendo o pintor trabalhado sem praticamente parar, durante esse período. Gauguin inspirou-se no Taiti para compor a sua obra. Ele disse sobre ela: “Antes de morrer, coloco aqui toda a minha energia, numa paixão cheia de sofrimento, e numa visão tão clara e sem correções, que a maturidade precoce desaparece e a vida floresce”.

No fundo da composição existe a predominância dos tons verdes. Sobre eles o artista espalhou vários personagens nativos. Alguns deles apresentam-se nus, outros seminus e alguns vestidos de corpo inteiro. A vegetação é pintada com fortes tons azuis e verdes, enquanto as figuras humanas são coloridas com cores claras. As árvores, com suas formas sinuosas e as figuras sólidas, compõem o paraíso tropical tão desejado pelo pintor, num misto de realidade e imaginação.

Um bebê dorme no chão, tendo ao seu lado três jovens que descansam. Seria a representação da vida simples e sem preocupações do paraíso. No centro da composição um jovem de corpo bem proporcionado e ereto retira uma fruta de uma árvore. O amarelo brilhante de seu corpo contrasta-se com os verdes e azuis do fundo da tela. Talvez o pintor tenha feito aqui uma alusão ao Jardim do Éden. As duas mulheres ao fundo, com o corpo todo coberto, representam a sabedoria.

A senhora idosa, com sua pele escura, destoa da vivacidade da mulher jovem ao seu lado. Na sombra ela parece estar olhando para o passado, enquanto  aguarda o fim de seus dias na Terra. A ave ao seu lado pode representar o desconhecido que a aguarda após a morte. No primeiro plano, na parte esquerda da composição, uma garota come uma fruta, enquanto dois gatinhos brincam ao seu lado. Assim como o rapaz colhendo a fruta, esta cena retrata a vida cotidiana.

A divindade presente na parte esquerda do quadro, toda em azul, simboliza o mundo do além. Ela traz os braços para cima e relembra as crenças primitivas, sendo tida por muitos como a deusa polinésia Hina que, além de representar a Mãe Terra, simboliza também a morte e a ressurreição.

O ciclo da vida é visto na pintura da direita para a esquerda, fugindo à habitualidade, pois está de acordo com a convenção oriental de leitura, iniciada da direita para a esquerda. O bebê e a anciã encontram-se nos dois extremos da tela, assim como acontece na linha da vida. Como se pode deduzir através do título da obra que se encontra na margem superior esquerda da tela, escrito em francês, as figuras estão dispostas de forma a representar o ciclo da vida:

  • o bebê dormindo (o início);
  • o jovem colhendo uma fruta (o meio);
  • a senhora idosa perto de uma ave (o fim).

No diagrama de Gauguin o quadro está assim explicado:

  • à direita (De onde Viemos) – as mulheres, as crianças, o cachorro e os símbolos da primavera representam o início da vida (De onde viemos);
  • no centro (Que Somos) – o homem se pergunta sobre o sentido da existência e procura alcançar o fruto da árvore do conhecimento;
  • à esquerda (Para aonde Vamos) – uma velha próxima da morte simboliza o final da vida. O pássaro é um aviso sobre a futilidade das palavras;
  • as duas figuras perto da árvore da sabedoria , envoltas em vestes escuras, simbolizam a tristeza trazida pelo próprio conhecimento;
  • os seres simples entregam-se à alegria de viver , numa natureza virgem que poderia ser um paraíso na acepção humana.

Curiosidade
Passando por um período precário, sem dinheiro, o pintor usou um tecido barato de saco como tela para sua composição. Nela também estão presentes elementos de outros quadros do pintor que a considera como sendo a sua obra-prima, ou seja, uma síntese de suas pinturas e sua visão do mundo. Após a conclusão da tela, Gauguin fez uma tentativa frustrada de suicídio ao tomar arsênico. Vomitou e foi levado para o hospital, onde conseguiu se recuperar, voltando à calma interior. Ele sempre pretendeu mostrar que “a natureza não é um instrumento do homem, mas sua parceira”.

Ficha técnica
Ano: 1897
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 139 x 374,5 cm
Localização: Museum of Fine Arts, Boston, EUA

Fontes de pesquisa
Enciclopédia dos Museus/ Mirador
Gauguin/ Coleção Folha
Gaugin/ Abril Coleções
Gauguin/ ArtBook
Gauguin/ Taschen
Grandes Pinturas/ Publifolha

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Gauguin – AUTORRETRATO COM AURÉOLA

Autoria de Lu Dias Carvalho guin123

Esta obra de Gauguin, Autorretrato com Auréola, é tida como uma composição enigmática, onde ele expressa suas ideias sintetistas.

A composição está dividida em duas partes: uma enorme área amarela e outra vermelha. Sobre elas, Gauguin pintou seu autorretrato ao lado de duas maçãs. Ele traz, entre os dedos da mão direita, uma serpente e sobre a cabeça uma auréola.

As serpentes e as maçãs lembram a simbologia cristã. Alguns estudiosos da obra do pintor francês interpretam a composição como se Gauguin fizesse troça de si mesmo, ao se mostrar como uma grande “tentação”. A presença do halo e da serpente também podem explicitar a dualidade do pintor: pecador e santo.

É possível sentir certa tristeza presente no rosto de Gauguin. Esta obra foi feita quando ele estava prestes a deixar Paris, e partir para o longínquo Taiti.

Ficha técnica
Ano: 1819
Técnica: óleo sobre madeira
Dimensões: 79,6 x 51,7 cm
Localização: National Gallery of Art, Washington, EUA

Fontes de pesquisa
Gauguin/ Coleção Folha
Gauguin/ Abril Coleções
Gauguin/ Art Book
Gauguin/ Taschen

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Rubens – O JARDIM DO AMOR

Autoria de Lu Dias Carvalho

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A composição O Jardim do Amor, obra do pintor Peter Paul Rubens, reflete a sua felicidade depois de, aos 53 anos de idade, viúvo, casar-se com uma garota de 16 anos. Não é à toa que tantos querubins esvoaçam pela tela, pintada logo após o casamento do artista francês. Ao contrário da maioria das obras de Rubens O Jardim do Amor que também foi conhecida como A Corte dos Prazeres de Vênus, não foi feita sob encomenda, mas para o deleite do próprio pintor que recupera a sua alegria existencial ao lado de sua nova e graciosa mulher.

A composição retrata o modo de viver dos ricos da época. A cena é ambientada num jardim. À esquerda da tela um mancebo enlaça sua companheira loira pela cintura, tentando convencê-la de algo ou estão a dançar. E à direita um casal suntuosamente vestido desce as escadas em direção ao grupo de amigos. No centro do quadro um grupo animado de quatro mulheres — também ricamente vestidas — ouve as canções do tocador de alaúde. Para alguns Helene, a nova esposa de Rubens, é a mulher de azul que se abaixa levemente, tentando tocar o querubim.

As mulheres estão vestidas de acordo com a moda francesa da época: vestidos longos e rodados, com amplos decotes que deixam à vista grande parte dos ombros e do colo. A presença de espadas na composição indica que os personagens pertencem à nobreza ou à aristocracia. Inúmeros querubins — todos nus — nas mais diferentes posições adejam em volta do grupo. Um deles empurra um casal; outro se encontra no colo de uma mulher; outro espalha flores; outros parecem participar da conversa; e muitos deles voam numa imensa alegria.

De acordo com os historiadores todos os personagens femininos presentes na composição são parecidos com a nova esposa do pintor: nariz reto, olhos meio protuberantes e cabelos aloirados. O que leva a crer que o artista pintou sua esposa na companhia de suas irmãs. Os personagens masculinos também são muito parecidos e trazem as mesmas características do artista, ou seja, na composição Rubens faz uma homenagem a si e a sua esposa, embora à época, ele se mostrasse bem mais velho do que aparenta na pintura.

No canto superior direito há uma fonte, sendo que a água desce do peito da deusa Vênus que por sua vez encontra-se montada num golfinho. Ela é o símbolo da fertilidade e o animal simboliza os jogos de amor incansáveis. O escudo visto na varanda também simboliza Vênus e os anjos — tidos como irmãos de Cupido — são também filhos da deusa.

Certos historiadores acreditam que na composição O Jardim do Amor, o pintor mostra a transformação de sua esposa Helene de menina para noiva, esposa e mãe. Baseando-se nessa suposição, eles deduzem que assim se desenrola o ciclo das mudanças:

  1. a garota de pé, sendo empurrada por um cupido, está sendo convidada pelo admirador para abrir mão da timidez e se sentar;
  2. já moça, ela está assentada na grama, com a mão sobre o joelho do amado, tendo o olhar para fora da tela, olhando para o observador (no caso o pintor);
  3. já casada, ela desce orgulhosamente as escadas, acompanhada pelo marido.

Acreditam também que as três mulheres no centro do quadro seriam uma representação das três formas de amor: o apaixonado, o sereno e o maternal que é aquele que traz o Cupido no colo.

O argumento de que a composição baseia-se numa ode ao amor está: na presença dos anjinhos com pombos que simbolizam o amor conjugal; a tocha de Himenau que é o deus do casamento; as flores nupciais; a presença do cãozinho ao lado do casal que desce as escadas e que simboliza a fidelidade; e o pavão (do qual só se vê só o pescoço, logo acima do personagem com capa vermelha) que simboliza a deusa Juno — protetora do casamento.

Curiosidades:
Na época em que este quadro foi pintado, o ideal feminino exigia que as mulheres fossem gordas, ou seja, tivessem formas arredondadas, um pescoço forte, peitos bem avantajados, mãos brancas, cabelos abundantes e encaracolados, sendo o loiro cinza a cor preferida das madeixas. Mostrar os ossos não era de bom tom.

Os jardins eram muito importantes no século XVII, pois refletiam o status social de seus proprietários. Havia quatro tipos de jardins, de acordo com a classe social do dono:

  • horta com ervas medicinais e legumes — pertencentes às pessoas comuns;
  • horta com ervas medicinais, legumes e trilhas para caminhadas — pertencentes às pessoas com melhores condições;
  • parque com grutas, pavilhões e gazebos — pertencentes aos aristocratas e ricos burgueses;
  • lagoas artificiais e residências secundárias — pertencentes aos príncipes e reis.

As pessoas consideravam bela e atraente apenas a natureza domesticada, por isso, os jardins eram repletos de fontes, balaustradas, estátuas e grutas artificiais. Ali as pessoas passavam grande parte de seu tempo, principalmente os enamorados — ocasião em que podiam ter mais privacidade. Os jardins também eram palcos para os piqueniques, serenatas e jogos pastorais.

Ficha técnica
Ano: 1632/1634
Dimensões: 198 x 283 cm
Técnica: óleo sobre tela
Localização: Museu do Prado, Madri, Espanha

Fontes de pesquisa
Enciclopédia dos Museus/ Mirador
Los secretos de las obras de arte/ Taschen
Rubens/ Abril Coleções

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Delacroix – O MASSACRE DE QUIOS

Autoria de Lu Dias Carvalho

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A pintura é a vida. É a natureza transmitida à alma sem intermediário, sem pretextos, sem regras de convenções. (Delacroix)

Delacroix pintou O Massacre de Quios como a sua segunda obra a ser exposta no Salão. Sua temática retrata um episódio tenebroso da guerra travada entre a Turquia e a Grécia, quando os turcos, com extrema crueldade, abusaram de mulheres idosas, mães e crianças, e os sobreviventes foram obrigados a deixar a ilha de Quios. Os gregos lutavam pela independência. Embora a pintura de Delacroix retratasse um fato ocorrido, o objetivo maior de sua obra é simbólico: mostrar a injustiça e a violência advindas da guerra.

Para compor a sua segunda obra a ser apresentada no Salão, o pintor visitava o Louvre, onde analisava obras de Rubens, Velázquez, Michelangelo e Andrea del Sarto para instigar sua imaginação. Ele buscava um tema impressionante, capaz de despertar grandes emoções, já tendo listado alguns, mas as informações sobre as crueldades da guerra entre turcos e gregos (em 1822) fê-lo optar por uma pintura com tal tema.

Na composição, a mobilidade dos vencidos contrasta com a movimentação dos vencedores. As vítimas da barbaridade estão petrificadas, parecem resignadas com a própria sorte. Mesmo assim, os carrascos fazem questão de mostrar sua força, como é o caso da mulher que é arrastada pelo turco em seu cavalo.

Uma das cenas mais chocantes do quadro é a que mostra a mãe morta, estendida no chão, perto de uma senhora idosa com o olhar perdido, enquanto o filhinho agarra seu seio com a mãozinha, tentando mamar. Cena baseada em um testemunho verdadeiro.

Ficha técnica
Ano: 1824
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 419 x 354 cm
Localização: Museu do Louvre, Paris, França

Fontes de pesquisa
Delacroix/ Coleção Folha
Delacroix/ Coleção Abril

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Delacroix – MORTE DE SARDANAPALO

Autoria de Lu Dias Carvalho poussin12

Muitas vezes, meus sonhos encheram-se com as formas magníficas que se agitam neste vasto quadro, ele mesmo maravilhoso como um sonho. O Sardanapalo revisto é minha juventude reencontrada. (Baudelaire)

Deitado sobre um leito soberbo, Sardanapalo dá ordem a seus eunucos e aos oficiais do palácio para degolar suas mulheres, seus pajens e, por fim, os cavalos e os cachorros favoritos; nenhum dos objetos de prazer deveria sobreviver a ele. (Explicação referente ao quadro, registrada no catálogo do Salão)

O imenso quadro de Delacroix, Morte de Sardanapalo, o terceiro a ser exposto por ele no Salão, causou um grande escândalo entre críticos e público, alegando excesso de violência, sadismo e erotismo. O pintor foi severamente criticado até mesmo por seus amigos. Alguns deles chegaram a criticá-lo, dizendo se tratar de uma “loucura criativa”.

Delacroix inspirou-se no drama escrito por Lord Byron, publicado em 1821, que conta a história de Sardanapalo, último rei assírio que, após conquistar a Babilônia, assassinar as populações vizinhas e viver todas as formas de prazer, viu-se sem motivação para continuar existindo. Achou que só lhe restava a morte. Em suma, enlouqueceu. Mas antes de se matar, Sardanapalo exigiu que seus criados queimassem o palácio e, junto com ele, todos os que ali viviam, inclusive os servos, as favoritas e os animais de estimação. Conta a lenda que ele não queria que nada do que tinha lhe proporcionado prazer, sobrevivesse a ele.

Na composição, Sardanapalo, deitado numa majestosa cama em diagonal, acompanha com indiferença e sarcasmo a consumação de suas ordens por seus eunucos e oficiais. Uma de suas concubinas encontra-se morta a seus pés. O que se vê ali é uma orgia macabra. À direita, na parte superior da tela, o fogo começa a se espalhar, devorando o aposento. Tudo acontece tal e qual descrito na profecia:

Ele mandou levantar uma enorme pira em seu palácio, empilhou todo o ouro e a prata, e cada uma das roupas do guarda-roupa real, trancou-se com suas concubinas e eunucos em uma sala, no coração da fogueira, e se abandonou às chamas junto com o seu palácio.

À esquerda do tirano enlouquecido, Aisheh, sua bailarina favorita, enforcou-se para não morrer nas mãos dos carrascos. Como ela se encontra na penumbra, faz-se necessário que o observador aguce sua atenção para vê-la, assim como a seu jovem criado, à direita do rei, com uma bandeja contendo a jarra e a taça de ouro, aguardando as ordens do tirano. Ele carrega o copo de veneno para o cruel rei.

No primeiro plano, uma das favoritas do soberano, que mais se parece com uma estátua grega, entrega-se docilmente ao agressor, prestes a apunhalá-la. Ela é uma das figuras centrais da composição. Outras mulheres já se encontram mortas, espalhadas pelo ambiente.

Objetos luxuosos espalham-se pelo aposento numa confusão generalizada. Próxima à cama do soberano está uma cabeça de elefante feita de marfim. Tudo é horror e caos, numa combinação de erotismo e tragédia

Um escravo negro puxa o cavalo árabe, predileto do rei, até sua cama, mas o animal reage energicamente. Trata-se do único ponto de resistência encontrado na composição. O cavalo está belamente enfeitado com crina trançada e rendas de ouro no corpo.

A obra de Delacroix, diante do escândalo que despertou, não foi comprada pelo Estado francês à época, mas somente quase um século depois.  Mas o pintor não era de levar a sério a opinião dos outros, o que lhe importava era a liberdade de criação exercida pelo artista. Morte de Sardanapalo é uma combinação majestosa de movimento e cor, que mostra a rejeição do pintor às formas acadêmicas.

Alguns críticos entendem que esta composição de Delacroix reflete seus problemas com as mulheres, com as quais nunca teve uma boa relação, pois delas necessitava, mas também as temia.

Ficha técnica
Ano: 1827
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 395 x 495 cm
Localização: Museu do Louvre, Paris, França

Fontes de Pesquisa
Delacroix/ Coleção Folha
Delacroix/ Abril Coleções
O segredo das obras de arte/ Taschen

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